REFLEXÕES DE METIDO EM CAMISA DE ONZE VARAS E CHEIO DE NÓ
PELAS COSTAS! – Pronde vou, só prova de fogo, sempre! Não há escapatória.
Chaveco no ouvido: Não fique parado, não pare nunca! Oxe! Levo na boa, como se
fosse um xote de passagem, toca gaita! É preciso saber o que fazer: Se chegar tarde
não abro! Agora, deu! Não morro de leseira, não choro na parede, não vivo no
cinema, a arma no escuro. Nenhuma. Virar a página, já virei um tanto de vezes; a
viuvez e o legado ao rés do chão, sob as glórias de vis guerras arrivistas e repugnantes,
sacudidas de bestialidades, decadência e degenerações. A culpa na história,
qual cartório se no cabeçalho só tem algarismos em caracol. Vôte! A ocasião
mais parece um beliscão, quase visceral a consumir a paciência. O que viceja,
levo por conciensível. Coexistir com a solidão duradoura, o que me resta a recompor
o que desmoronou da diversidade humana, enquanto busco a conexão com a
ancestralidade. Visível solidão de Lucrécio, a história é apenas um rol de
misérias e crimes, a culpa adiante e o que é bom fica tão próximo quanto
distante. Eu de esguelha saco a cavilação enquanto suporto as dores da alma no
corpo. Para quem correu ladeira acima e se esqueceu dos freios na hora de
descer e se lascar, quase pulo no abismo. Para quem desavisado escolheu
qualquer caminho de sorte na vida e chorou na rampa, subiu no telhado e bateu
biela, digo e não me faço de rogado: a vida dá muitas voltas. Ah, como dá! Veja
mais aqui, aqui, aqui & aqui.
DITOS
& DESDITOS - A vocação da arte é extrair-nos da nossa realidade diária, levar-nos a uma
verdade oculta e de difícil acesso - a um nível que não é material, mas
espiritual. Para ser internacional, primeiro você precisa ser local... Quando você pega uma árvore que está
enraizada no solo e a transfere de um lugar para outro, a árvore não dará mais
frutos. E se isso acontecer, a fruta não
será tão boa quanto estava em seu lugar original. Esta é uma regra da natureza. Acho que se eu tivesse saído do meu
país, seria igual à árvore... Desde o meu primeiro filme, qual foi a minha
concentração, a minha inspiração, foi que eu não queria narrar nada, não queria
contar uma história. Eu
queria mostrar algo, queria que eles fizessem a sua própria história a partir
do que estavam vendo. Pensamento do cineasta, poeta, roteirista, fotógrafo e produtor iraniano Abbas
Kiarostami (1940-2016), premiado pelos filmes Gosto de cereja
(1997), O vento nos levará (1999), Like someone in love (2012), Copie conforme
(2010), Chacun son cinema (2007), Tickets (2005), Dah (2002), ABC Africa (2001),
entre outros. Veja mais aqui.
ALGUÉM
FALOU - Algumas pessoas nunca enlouquecem. Que vidas
verdadeiramente horríveis eles devem levar. O indivíduo bem-equilibrado é
insano. Nenhuma dor significa o fim da sensibilidade; cada uma de nossas
alegrias é uma barganha com o diabo. A diferença entre a Arte e a Vida é que a
Arte é mais suportável. Pensamento do escritor alemão Charles Bukowski
Jr (1920-1994). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
GAIA &
O AVISO FINAL – [...] Somos a elite inteligente entre a vida animal na Terra e quaisquer que
sejam os nossos erros, [a Terra] precisa de nós. Esta pode parecer uma afirmação
estranha, depois de tudo o que disse sobre a forma como os humanos do século XX
se tornaram quase num organismo de doença planetária. Mas [a Terra] levou 2,5 mil milhões
de anos para desenvolver um animal que pudesse pensar e comunicar os seus
pensamentos. Se formos extintos, ela terá poucas
chances de evoluir outra. [...]. Trecho extraído do livro The
Vanishing Face of Gaia: A Final Warning (Penguin,
2010), do pesquisador e ambientalista inglês James Lovelock (1919-2022),
cujo pensamento expressa: Tenha em mente que é arrogância pensar que sabemos como salvar a Terra: o
nosso planeta cuida de si mesmo. Tudo o que podemos fazer é tentar
nos salvar. Vivemos numa época em que as emoções e os
sentimentos contam mais do que a verdade, e há uma vasta ignorância da ciência.
A Terra pode estar viva: não como os antigos a viam – uma Deusa senciente com
um propósito e visão – mas viva como uma árvore. Uma árvore que existe
silenciosamente, nunca se movendo, exceto para balançar ao vento, mas
conversando interminavelmente com a luz do sol e o solo. Usando luz solar, água e nutrientes
minerais para crescer e mudar. Mas tudo feito de forma tão
imperceptível que para mim o velho carvalho no gramado é o mesmo de quando eu
era criança. A consideração analítica e a consideração
intuitiva da vida não podem ser harmonizadas da mesma forma que a medida do
primeiro está subordinada ao segundo. É o segundo, e notamment o
sentimento de beleza e de compaixão que me enferma, que desacopla o sentido da
totalidade de mesmo que celui des equilíbrios e do limite. A consideração intuitiva é a
condição da sabedoria sem laquela, a consideração analítica pode conduzir a
excessos suicidas. A análise dos fenômenos dados à
força sobre o eu, ela permite dominar a natureza, mas ela não fere nenhuma
indicação de quantos limites são convenientes para atribuir a esta força.
Gaia, a meu ver, não é uma mãe amorosa e tolerante com delitos, nem uma donzela
frágil e delicada em perigo por causa da humanidade brutal. Ela é severa e durona, sempre
mantendo o mundo aquecido e confortável para aqueles que obedecem às regras,
mas implacável na destruição daqueles que as transgridem. Veja mais
aqui.
TRILOGIA
SUJA DE HAVANA - [...] A vida não é longa o suficiente para desfrutar e compreender tudo ao mesmo
tempo. Você tem que decidir o que é mais
importante [...] É vertiginoso pensar o quão grande é o mundo, ou
perceber o quão pequeno você é [...] Cuba pode ser
o único lugar no mundo onde você pode ser você mesmo e mais do que você mesmo
ao mesmo tempo [...] Um homem pode cometer muitos
pequenos erros e não há nada de errado com isso. Mas se os erros são grandes e pesam
sobre ele, sua única solução é parar de se levar a sério. É a única forma de evitar o
sofrimento – o sofrimento, prolongado, pode ser fatal. [...] Gosto de
ser belicoso, como bom filho de Ogum. Quando me virem tranquilo, é que já estou
apodrecendo. [...] Nós nos afastamos rapidamente. Depois do Parque Maceo, há um trecho
do Malecón que é território exclusivo de bichas e tortilleras. Cem metros gay. Amor livre. Se continuarmos caminhando em
direção ao Vedado tudo muda. Os gays são uma fronteira entre a
agitação do poder negro e a relativa calma do Vedado. Ele parece mais sedado. Mas não é assim. Tudo está contaminado. Em suma, somos todos mestiços. Aqui a agitação é clandestina. Basta arranhar um pouco a superfície
e ela explode, com a mesma brutalidade. Chegamos a uma pizzaria ao lado do
Hotel Saint John. Pizzaria iluminada e limpa, com
pouca gente e ar condicionado. Ah, que paz! Aqui você paga em dólares e é um
lugar barato, mas inacessível à máfia que se esfaqueia por dez dólares por aí. [...] Trechos
extraídos da obra Dirty Havana Trilogy (Faber & Faber; 2002), do escritor, pintor e jornalista
cubano Pedro Juan Gutiérrez.
DOIS
POEMAS – PERFÍDIA. Neste jardim de Adão \ a maçã não é proibida \ os vivos e os mortos a mordem \ então ele joga fora imediatamente \ ou oferece a satanás \ É assim que muda de mãos \ jogando fora porque \ foi roído ele joga para os vermes \ eles vão honrá-la \ porque neste éden incerto \ onde vivem os desumanos do mal está coberto. PERENE AMOR - Seu amor
é uma fonte de sensações \ que causam ao meu ser \ o gozo divino eles incitam prazer, \ paixões fazendo meu ser tocar o céu \ Seu amor, encha meu mundo de ilusões \ faz minha alma brincar de prazer \ que no seu paraíso plácido mais \ Tem sido mais da minha vida \ que eu te adoro. \ Seu amor está batendo bem \ na minha existência sequência \ de passado e presente \ amanhã flutuante \ para descobrir disso e muito \ mais meu espírito \ está ciente \ omissão boba \ que conseguimos evitar \você retorna como a luz do sol nascente \ você reivindica \ o que é eternamente seu \ Eu retribuo nosso amor perene. Poemas da
escritora mexicana María Gloria Carreón Zapata.