sexta-feira, junho 27, 2008

CANTADOR, FELLINI, BOURDIEU, ANNA KINGSFORD, GOULD, POÉTICA & VERNANT


CANTADOR


Letra & música de Luiz Alberto Machado

A vida passa em cada passo do caminho
Vou passarinho professando a minha fé
Vou bem cedinho pela estrada que se espalma
O Nordeste em minha alma
Nos catombos do trupé
Vou Severino percorrer légua tirana
Com toda aventura humana
No solado do meu pé.

Sou cantador
E carrego no canto
Minha vida no manto
Que reveste o valor
Pra onde eu for
Eu me valha do encanto
Pra chegar em qualquer canto
Com a verdade do amor.

Vou com meu canto em cada canto lado a lado
Vou com cuidado afinando o meu gogó
Sem ter espanto, todo só de luz armado
Tino aceso e aprumado
Evitando um quiprocó.
Vou confiante, entre o céu e a terra, a ponte
No destino do horizonte
Vou bater até no sol.

Sou cantador
E carrego no canto
Minha vida no manto
Que reveste o valor
Pra onde eu for
Eu me valha do encanto
Pra chegar em qualquer canto
Com a verdade do amor.

Digo bem alto e minha crença toma abrigo
Sem ter asilo na redoma do mundão
Sigo o sermão no rumo a rota do estradeiro
Assuntando o paradeiro
Na melhor entonação.
Passo nos peitos a ficar comendo orvalho
Se cantar é o meu trabalho
Deus me dê toda canção.

Sou cantador
E carrego no canto
Minha vida no manto
Que reveste o valor
Pra onde eu for
Eu me valha do encanto
Pra chegar em qualquer canto
Com a verdade do amor.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


DITOS & DESDITOS - A origem dos mitos: As pessoas falam, contam histórias. O mito era, para os gregos, uma maneira, entre outras, de compreender como o mundo foi feito; e, contando histórias para os outros, justificavam o prestígio de certos personagens de suas famílias, de coisas muito diversas. Não há o mito, há relatos, há narrações, é como eles falam. Os homens narram, eles narram coisas; quando não há escrita, narram oralmente, eles as transmitem por tradição oral, e é isso que chamamos de mito. Pensamento do historiador, professor e antropólogo francês Jean-Pierre Vermant (1914-2007). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Como é tranquilo fugir da responsabilidade e por uma guerra e pela violência depositando-a em nossos antepassados carnívoros. Como é conveniente culpar o pobre e o faminto por suas próprias condições, para não ter de culpar nosso sistema econômico ou nosso governo por seu terrível fracasso em assegurar uma vida decente para todas as pessoas. Claro que tentar manter um intelectual afastado da literatura resulta quase tão bem como recomendar castidade ao Homo sapiens, o mais atraente dos primatas. Assim que pude andar, fui direito à biblioteca médica de Harvard e digitei mesotelioma no programa de pesquisa bibliográfica do computador. Uma hora depois, rodeado da mais recente literatura sobre o mesotelioma abdominal, compreendi, em choque, a razão de me ter dado aquele conselho tão humano. A literatura não podia ser mais clara de uma forma brutal: o mesotelioma é incurável, com uma média de mortalidade ao fim de oito meses depois da detecção. Fiquei atordoado durante 15 minutos, depois sorri e disse de mim para mim: por isso não me queriam dar nada para ler. Então, felizmente, a minha mente voltou à vida. A virtude não está no meio. A evolução é muito similar à história. Não é possível prever como ela irá se desenrolar – e merecimento conta muito pouco no resultado final. O futuro da evolução é também fruto do seu passado, e não um caminho determinístico na direção da sobrevivência das espécies mais bem adaptadas. A beleza da natureza está nos detalhes; a mensagem, nas generalidades. Pensamento do paleontólogo, biólogo evolucionista e historiador da ciência estadunidense, Stephen Jay Gould (1941-2002). Veja mais aqui.

A DIETA DA VIDA PERFEITA - [...] Quantas vezes, por exemplo, não ouvimos as pessoas falarem com toda a autoridade de convicção sobre os "dentes caninos" e o "estômago simples" do homem, como certa evidência de sua adaptação natural à dieta da carne! Pelo menos, demonstramos um fato; que, se tais argumentos são válidos, aplicam-se com força ainda maior aos macacos antropóides - cujos dentes "caninos" são muito mais longos e mais poderosos que os do homem ... E, no entanto, com a exceção solitária do homem, não há um desses por último, que em condições naturais não se recusa absolutamente a se alimentar de carne! M. Pouchet observa que todos os detalhes do aparelho digestivo no homem, assim como sua dentição, constituem "tantas provas de sua origem frugívora" - uma opinião compartilhada pelo professor Owen, que observa que os antropoides e todo o quadrumana derivam sua alimentação de frutas, grãos e outras substâncias vegetais suculentas e nutritivas, e que a estrita analogia existente entre a estrutura desses animais e a do homem demonstra claramente sua natureza frugívora. Essa é também a opinião de Cuvier, Linnæus, professor Lawrence, Charles Bell, Gassendi, Flourens e um grande número de outros escritores eminentes. [...]. Trechos extraídos da obra The Perfect Way in Diet (Kegan Paul, Trench & Co., 1881), da médica, escritora e mística britânica Anna Kingsford (1846-1888). Veja mais aqui.

RAZÕES PRÁTICAS - [...] E, além do prazer, sempre um tanto lento, de saber do que se trata, o que ganhamos com essa análise histórica do que quer ser vivido como uma experiência absoluta, estranha às contingências de uma gênese histórica? [...]. Trecho extraído da obra Razões práticas: sobre a teoria da ação (Papirus, 2011), do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Veja mais aqui e aqui.

POÉTICA – [...] A mensagem poética está à flor da pele, e vai provocar efeitos que se assemelham às causas. Obra em progressão permanente. Tem muito a dizer e, diante de alguns, não diz quase nada. Exige a coincidência de emotividade. Extraído da obra Arte e comunicação (AGIR/MEC, 1972), do jornalista, escritor, teatrólogo, professor, historiador e crítico de arte Celso Kelly (1906-1979). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A VIAGEM E VIAJAR – [...] Não se pode contar uma viagem sem antes realizá-la. Quando muito se poderá dizer que se tem a intenção de fazer esta viagem. Mas, se soubéssemos desde o princípio o que nos espera, minuto por minuto, nunca sairíamos. [...]. Trecho extraído da obra Entrevista sobre cinema (Civilização Brasileira, 1986), do cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993). Veja mais aqui e aqui.



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