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domingo, agosto 30, 2020

BAUDELAIRE, GAUTIER, DÉLIA FISCHER, MONTESSORI, ANGELI, SÉRGIO GODINHO & BETH DA MATTA


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... LEVIANDADE DEMAIS... - Apesar dos milhares de mortos diários e do estouro de casos de reinfecção, a vida parece normalizada para muitos indiferentes. Depois de quase seis meses enclausurado, saio às ruas e as pessoas para lá para e para cá, como se nada de extraordinário acontecesse no planeta. Fiéis de todos os credos saúdam entre si e não uns aos outros, o que me chamou atenção, uma discussão entre rivais religiosos. Longe de mim os donos do que dizem não mais que farsa do berço ao túmulo, os que governam sobre aqueloutros nem tão incautos assim, teimosos que são sabidos e submetem a quem do mando a caolhice para a verdade mais absoluta. Assim o fazem como se donos de tantos outros, a se acharem doutos do destino alheio para obediência e temor dos subalternos. É assim e definem o que é permitido ou proibido de sua crença furiosa com seus castigos. Faça não, senão eles inventam no exótico de suas excentricidades sofismáveis o que possa caber no entendimento das verossimilhanças mais esdrúxulas. Ah, são eles lá coisonários e se acusam de infames, sequer ouviram Maria Montessori: As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. E guerras fazem com o seu embusteiro e apoplético credo, jurando ao deus para que haja um céu pros seus escolhidos e um inferno pros desafetos. Assim, só os asseclas e só eles são os irmãos da verdade, em fé e vida, para o bem e o certo, os demais excluídos que fervam nas caldeiras demoníacas das desgraças escatológicas. Enquanto isso, explodem escândalos no noticiário com seus guias e mentores, nem se dão conta, os seus mesmo que cometam crimes cabeludos, são santos e absolvidos na fé exclusiva. Pois é, a vida passa sob todos os seus juízos sectários, incapazes da diferença. A vida passa, eu sei, vou com Théophile Gautier: Nascer é apenas começar a morrer. E viver, uma dança transformadora e muito longe disso tudo. Vou nessa.

DOIS ESTALOS E UM MONTE DE IDEIAS – No meu recolhimento de sempre, ouvia uma bela música, imagens tantas surgiram por cenário e me davam um futuro possível da conquista embalado pelos tons. No começo um tanto disformes, depois tomavam corpo e se apresentavam reais à palma da mão. Sabia de Charles Baudelaire: A imaginação é positivamente aparentada com o infinito. Como foi a imaginação que criou o mundo, ela governa-o. A canção instrumental me embalou numa viagem imagética interminável até outra canção soar com afago: era Délia Fischer cantando bonito o Meu tempo (Tempo mínimo, 2019) e a me dizer amável & linda: Exatamente, a minha busca é essa. Busco a música, tem um acorde aqui, uma levada lá. Fico querendo entrar na música como um todo. Me vejo a cada dia mais aberta para interpretar e buscar uma visão própria, que tenha a minha marca. E do seu talento desde o Duo Fênix vou curtindo umas e tantas interpretações, a vida é outra que não esta de tanta calamidade, uma vida feita de sonhos em que viver em paz e com todos é fundamentalmente possível. Nessa também vou.

TRÊS ESTALOS & UM OUTRO OLHAR PARA AS COISAS – Ah, os meus dias, persigo tão desajeitado quanto distraído, e algo me chama atenção nas entrelinhas das coisas, isso sempre e a ponto de atentar para mínimos detalhes entre o fecundo e o necessário. É nessa hora que ouço a troça de Angeli: Quando a gente vai ficando velho, percebe que a adolescência é mais longa do que se espera. Sequer senti o tempo passar tão rapidamente, nem o envelhecimento. Ainda ontem eu pulava o muro do quintal para pegar a bola que pulou fora e a vizinha nua se bronzeando na grama, aos gritos com minha intromissão. Quantas de anteontem ou do mês passado, acho, sei lá, um dia desses aí e nem lembro. Mesmo com as dificuldades motoras, as dores nos quartos e coluna, aqueles esquecimentos imprevisíveis, mesmo assim o coração assobia como se menino entre pássaros e flores no quintal, com o Sérgio Godinho poeticamente cantando: Sem cordas que os amarrem a descoberta de novos campos. Sem memórias, livres correm velozes ou a passo, por dias soltos. Bonito esse seu Primeiro dia, assim voo e vivo. Até mais ver.

A ARTE DE BETH DA MATA
Nossa história precisa ser reescrita. Como artista e cozinheira, abri uma nova pesquisa que é a comida brasileira a partir dos índios, que têm muitas técnicas que foram apagadas da história. Aqui já havia a prática do pirão, bebida fermentada e o domínio da mandioca, por exemplo, antes dos europeus chegarem. Os povos indígenas foram muito silenciados. Há pouco conhecimento sobre sua cultura. Após essa experiência de descolonização, estou em reconciliação com quem sou de fato.
A arte da artista plástica e performática, curadora e gestora pública Beth da Matta (Judith Elizabeth da Matta Ribeiro), que também possui formação em Gastronomia e é atual diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM). Veja mais aqui & aqui.


segunda-feira, setembro 02, 2019

MUSTAFA BALEL, GAUTIER, ELIETE NEGREIROS, JANKÉLÉVITCH, GEORGIA AGUILAR, NADO RODRIGUES & CARTA DE SETEMBRO


CARTA DE SETEMBRO – Cada mês o porvir da canção e os onze mil versos virados para o leste do poema, seguem o rumo do amor, cultivando esperas por tomarem conta da semeadura das palavras na porta da cela vital. Inauguro o agora e engulo tédio e angústias, pálpebras na fechadura. Ouro e miséria apodrecem o tempo que é feito de corte, como faca na carne e fere com todos os tomentos de julho, as fisgadas de agosto e talhos de antes. Pouco importa, renasci em maio e junho não foi nenhuma manjedoura no deserto do inverno, quase abril nas águas de março. Talvez eu tenha chorado dores demais e outras punhaladas da horagá atropelando a língua na mala à espera na rodoviária ensurdecida, como se fevereiro nem desse pela folia e janeiro outro mesmo ano. Talvez tenha chorado muito, talvez. Até de alegria, não sei, talvez só por doer, ou mesmo talvez eu seja só esse doer, doendo eternamente vicissitudes de viagem. Também não sei, perdi a conta das talhaduras e a primavera raiou no tempo e com ela um setembro de mudanças no caminho anoitecido. A boa nova é que vou embora para nunca mais voltar, sem adeus, sem nada para dizer. Tanto que nem tenho mais nada, estou na arena, como se fosse o último pedaço de alma sobrevivente. Vou como quem amanhece distante e não me situo no impreciso da fronteira com seus pêndulos de ir e voltar. Sei que vou e o que me coube jamais contei: sobrevivi anos de pedras pesadas nas entranhas entrincheiradas, como se tateasse por estalos de estrelas que morressem em meu luar. Bebi o silêncio de todas as lonjuras gritantes para desembolso da vida e isso na melhor cidade entre todas que nasci: como se nada restasse, quase vivo ou morto, a evocar varridas súplicas efêmeras na colheita das vértebras contrafeitas, porque as dobras acabaram todas as venturas: esforço em vão na chuva das repentinas mordaças perfiladas que trouxeram o engano que me arrisquei por mais de duzentos males e pão em pedaços, cacos de espelhos, trapos de mulher, pernas e licores. Minha vida foi levada para onde outros ermos estão à solta: por frestas e cantos mil bocas no escuro e nacos de projeções verdadeiras e falsas, muito mais falsas nas vísceras que ficaram estrada afora, cascas da pele, unhas fragmentadas, corpo carcomido. Sou feito de ruas e dias de fome: o estopim da ameaça, o precipício quase nem se protela, a armadilha da travessia, o pedágio da resposta, o túnel e a asfixia. E não pensar mais no que se foi e eu jogado fora pela recorrente impureza, as escamas do passado, a couraça das mazelas. Para onde fui o mundo quase se dissolveu numa imundície só e ininterruptas erupções se precipitaram a ameaça de desmoronamento meses a fio se prolongando quase sem fim. Para onde vou é como se eu nascesse do nada, ou sem querer, escolhido para fazer valer a si nas mãos vazias, a decisão de seguir adiante pelas cidades invisíveis e superpostas dos Palmares, entre caetés, curibocas, mamelucos, cafuzos, mazombos, mulatos, crioulos, pardos & outros tantos mestiços arruinados na memória. Vou rebotalho a me refazer encasulado, juntando meus próprios detritos todos os dias, a reinventar a intata porcelana da felicidade pelas janelas do norte, ganchos do sul, raios do oeste, dias sem sono, ali e acolá. Vou, inteiro. O que fui nem sou mais: aprendi com os percalços tortuosos. A primavera, o Sol, a chuva, amor no coração e a precisão de sorrir. O que tive e não possuo mais, foi: só o peito aberto e o coração amante a quem chegar. Muitos caminhos, outras estradas: só um para seguir, até o brusco salto para a morte, talvez, tarde demais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: Escrever é como dar... Dar experiência, dar convicções, dar explicações, doação de si mesmo... de seu tempo... de sua cultura... de sua civilização... Carregando o passado para o futuro... Então, escrever é amar, acima de tudo, o futuro... Escrever é um modo de vida para um escritor. E essa mesma palavra escreve porta, ao mesmo tempo, em seu interior uma necessidade de um público de leitores. Como esse público cresce, o escritor prova a satisfação de seus escritos. Este é o sinal de que ele pode compartilhar suas convicções, suas experiências com muita gente... Essa é a natureza dele. Expresse-se para um público que se amplia de um dia para o outro... No entanto, todos os escritores do mundo não têm sorte nesse assunto; mais deles só podem falar com um público limitado. Pensamento do escritor turco Mustafa Balel.

ALGUÉM FALOU: [...] A moral pretende penetrar no conjunto da vida, pelo menos no plano ideal, ela tem uma característica atmosférica, universal, cosmopolita, que não distingue nem raças nem povos, mas engloba o conjunto dos homens. [...]. Extraído do Curso de filosofia moral (Martins Fontes, 2008), do filósofo e musicólogo francês Vladimir Jankélévitch (1903-1985), que na sua obra La musique et l’ineffable (Seuil, 1983), expressa sua metafísica assim: [...] porque a música não respira que no oxigênio do silêncio. O mesmo com os micro-silêncios, silêncios minutados no interior do silêncio [...] inversamente, como a treva mortal é o negro absoluto e a noite cega, da mesma maneira o silêncio mortal é um silêncio absolutamente mudo. – Silêncio mortal e divino silêncio, eles se opõem um ao outro como Indizível e Inefável [...] O interessado não saberá o segredo de sua própria morte senão no último momento; aquele que vive não sabe a hora senão no instante em que a morte chega, ou seja, no instante em que cessa de viver; pois ele não vive jamais o presente de sua morte, e, por consequência, até o instante supremo, ele ignora a data [...].

MÚSICA

ELIETE NEGREIROS – Curtindo faz tempo a música da sensacional cantora e escritora doutora em filosofia pela USP, Eliete Negreiros. Ela gravou 5 discos e escreveu 2 livros sobre Paulinho da Viola. Ela foi a musa do movimento cultural Vanguarda Paulista e. entre os álbuns gravados por Eliete Eça Negreiros, estão Outros sons (Voo Livre, 1982), MPB (Pasquim, 1983), Ângulos: tudo está dito (Copacabana, 1986), Eliete Negreiros (Continental, 1989), Canção brasileira, a nossa bela alma (Camerati, 1992) e Dezesseis canções de tamanha ingenuidade (Eldorado, 1996). Veja mais desta grande artista aqui & aqui.

NADO RODRIGUES- Também curtindo o álbum Paleolítica humana (Independente, 2015), do cantor, compositor e músico Nado Rodrigues, que desenvolve um trabalho que o firmou, por seu carisma e versatilidade, como um grande intérprete da MPB. Com seu timbre envolvente, ele apresenta canções inspiradas nos gêneros e estilos nordestinos e os cancioneiros da MPB, com uma pitada neo-pop e muita elegância. Veja mais aqui.

ARTE

GEÓRGIA GIOCONDA AGUILAR – Hoje destaco mais uma vez a arte da artista visual e escultora Georgia Gioconda Aguilar. A sua carreira começou com a pintura e, só depois contato com a obra de Lígia Clark e Helio Oiticica, entre outros, foi que passou para a escultura. A sua obra traz a discussão da matéria e sua transformação, por meio de moldes em diferentes formas com interferências e linguagem neoconcreta, traduzindo a sensação de movimento e volume, com as características marcantes da poesia e da sensualidade, e variadas possibilidades de interpretações. Veja mais da artista aqui & aqui.

A OBRA
Na luta contra a realidade, o homem tem apenas uma arma: a imaginação.
A obra do escritor, jornalista, dramaturgo e crítico literário Théophile Gautier (1811-1872) aqui & aqui.


NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...