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quarta-feira, agosto 26, 2020

CORTÁZAR, EDUARDO GALEANO, AGRIPPINA VAGANOVA, APOLLINAIRE & MARACATU


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... ANDANÇAS, ERRÂNCIAS... - Não há outra coisa a fazer do que rever o feito diante do futuro que só tenho neste exato momento, ou nenhum. Ou seja, ruminar o que fiz ou deixei de fazer. Sei, a primeira vez que larguei o pé no mundo, não lembro, acho, aos dez anos: bigodinho precoce segurando a venta sobre os beiços, uma baforada contra o vento, uma espiada pela fresta da porta de uma delas, uma lapada de dois dedos no copo, era tudo que não podia e coragem no gole, vontade além da conta – era a minha contribuição para sobrecarga da Terra. Fiz e refiz, peito estufado, menino-homem, ah, se era. Fui e tantas vezes regressei dali em diante, andejo, nariz empinado em qualquer direção, carregado de lembranças e sonhos, estrada afora, jornada de muito, até agora. Nesse curso, bem lembrou Julio Cortázar: Cada vez irei sentindo menos, e, recordando mais. A memória é um espelho que mente de forma escandalosa. Fabulação à toa, aos montes, contei no amiudado do tempo corrido, e ele também me falou das andanças de dedos na caneta pro papel: Escrever é uma luta contínua com a palavra. Um combate que tem algo de aliança secreta. De fato, rabiscos e reminiscências, outras tantas garatujas de rememorações. Acabei de crer: sou um sujeito de esquecimentos e recordações involuntárias, parece mais corda repassando fatos uns por sobre outros, imagens tantas do que fui e nem sou mais, vou nessa, muita trilha pra tirar.


DUAS PASSADAS, CAMINHOS, PARAGENS... - Quanta estrada, abundantes histórias, de umas e outras inventadas, quantos envultamentos, maiores assombrações. Oriunda das crendices, coisas que foram ficando, e no meio de algumas delas identificadas patranhas emergentes. Na maior parte, metáforas cuspidas da sabedoria. Disso Eduardo Galeano me disse: Os contadores de história, os contadores de história, só podem contar enquanto a neve cai. A tradição manda que seja assim. Os índios do norte da América têm muito cuidado com essa questão dos contos. Dizem que quando os contos soam, as plantas não se preocupam em crescer e os pássaros esquecem a comida de seu filhotes. Sim, só aqui não tem neve e a coisa pinta assim no pingo do meio dia. Já vi gente contar cada uma de parar o tempo, a correnteza do rio, tudo paralisado, e a gente tremendo de medo. Com efeito, de menino até crescido, no pé do ouvido, lá barulhava recorrentes narrativas dos da terrinha – coisas de antanho, do arco da velha -, da minha avó esquecida do acalanto, malsinações, encantamentos, dos aboios dos vaqueiros e das toadas dos matutos sabidos, coisa da boa dos prazeres da Literatura de Cordel e dos alfarrábios do Cascudo. Ah, coisa mais maior de grande no coração.

TRÊS PEGADAS, DESTINOS, VISAGENS... – Imagem: a bailarina e pedagoga russa Agripina Yakovlevna Vaganova (1879-1951), pelo fotógrafo tcheco František Drtikol (1883–1961) – Sou muitas histórias, sim sou, daquelas indefinidas, intermináveis – coisa de quem tomou água de chocalho, de soltar lorota de manhã e bater a língua nos dentes tarde afora, emendar tagarela noite adentro e no final ainda perguntar: quer outra, ah, hahahahahaha. É muita corda prum Pinóquio da ventriloquia, feito Nitolino no Circo Itinerante. Ainda conto inúmeras, para cima e para baixo, indo e voltando, quase infinitas porque ainda tenho não sei quantas ainda para contar. Como aquela em que ela, tal Agrippina Vaganova, linda, nua, maravilhosa, bailou no meu prazer. Coisa de jamais esquecer! Ah, ela, para sempre inesquecível! Mesmo que Guilhaume Apollinaire insista no verso: Vamos passando, passando, pois tudo passa / Muitas vezes me voltarei / As lembranças são trompetas de caça / Cujo som morre no vento. Vamos, vamos mesmo, vambora. Dos passos nódoas de um enorme passado, fuga da memória e paisagens limítrofes, ave de arribação. Qual o quê, as mãos expressam o dia do desiderato, o que sou nesta terra que me fez. No meu corpo as dores de moedas inválidas, excesso de chão na sola dos pés, caminhos, destinos, paragens. A gente tem que ir, fomos feito pra isso, seguir e viver. Carpe diem! Até mais ver.

MARACATU DE BAQUE SOLTO
Apesar da pobreza em que há tanto tempo se debate o Nordeste, do ponto de vista da Cultura do nosso Povo tem uma força que me comove e alenta. [...] e chama que temos o dever legal aos que se seguem, renovada e recriada para expressar nosso país, nosso povo e nosso atormentado e glorioso tempo.
Trechos do prefácio de Ariano Suassuna para a obra Maracatu de baque solto (Quatro Imagens, 1998), de Pedro Ribeiro e Maria Lucia Montes, tratando sobre a cana, os brincantes, a festa, maracatu e maracatus, no cenário dos municípios de Carpina, Nazaré da Mata, Aliança, Igaraçu, Vicência, Tracunhaem, Pau d’Alho, Araçoiaba, Glória do Goitá, Lagoa de Itaenga, Feira Nova, Lagoa do Carro, Buenos Aires, Chã da Alegria, Goiana, Itaquitinga e Condado, em edição bilíngue e fartamente ilustrado. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


terça-feira, maio 23, 2017

O CAPITALISMO DE JOHN GRAY, O TEATRO DE HERMILO, A PINTURA DE NELINA MOSHNIKOVA & CIRCO ITINERANTE

CIRCO ITINERANTE - Hoje tem espetáculo? Tem sim, senhor! Às oito horas da noite? Tem sim, senhor. Pé na estrada, rumo afora, o circo chegou! Ora, vambora! A vida é uma bola que rola sem parar. Respeitável público! E a música ataca, tudo é luz, tudo é mistério. Tem gente pendurado em todo espaço e lugar. Não pode chover, se chover a festa vai acabar! Quem não foi é porque ficou, não sabe o que vai perder! Prossegue o desfile de abertura, saltimbancos, palhaçadas, viva o domador! A vida é um sonho a se realizar. As feras metem medo até quem está no poleiro! E todos caem na gaitada com o maior dos clowns mais fuleiro! A moça bonita e a equitação, a malabarista jeitosa em exibição, a magia e o ilusionismo, saltadores exímios! No picadeiro os funâmbulos e os uniformes impecáveis, tudo acontece ao rufar dos tambores! Todas as acrobacias, palhaços impagáveis nas presepadas passam por lutadores! Lá vem o engolidor de espadas e a mulher que cospe fogo! Tudo é um jogo, vale jogar, ganhar ou perder. A vida é uma escola pra se aprender. É hora da linda equilibrista e o pas de deux a cavalo, ou da bailarina formosa no arame e o globo da morte! Tudo é pantomina, do gongo ao badalo: tudo é sonho, tudo é real. A contorcionista que se enrola, o faquir por cima das brasas, ou a moça e o rapaz trapezista nas cordas, prontos pros saltos mortais! Tudo isso é bom demais! E toda zoada vai do começo ao fim das funções, quem viu, viu; quem não viu, não vê mais. A trupe sumiu num quadro de Chagall. Foram proutras plagas, estrearam noutro arraial. Tudo parece uma lenda de Picasso, ou atração de Ópera Bufa. Na hora do vamos ver não tussa, nem vá atrapalhar. Mas arriaram a lona e zarparam, ficou na memória iluminada tudo que mostraram. A vida é uma brincadeira, só vale mesmo é brincar. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

O CAPITALISMO DE JOHN GRAY
[...] A espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa com desastres climáticos e a escassez de recursos. [...] Os seres humanos diferem dos animais principalmente pela capacidade de acumular conhecimento. Mas não são capazes de controlar seu destino nem de utilizar a sabedoria acumulada para viver melhor. Nesses aspectos, somos como os demais seres. Através dos séculos, o ser humano não foi capaz de evoluir em termos de ética ou de uma lógica política. Não conseguiu eliminar seu instinto destruidor, predatório. No século XVIII, o Iluminismo imaginou que seria possível uma evolução através do conhecimento e da razão. Mas a alternância de períodos de avanços com declínios prosseguiu inalterada. Regimes tirânicos se sucederam. A história humana é como um ciclo que se repete, sem evoluir. [...] A crença moderna na possibilidade de melhoria gradual acompanha uma visão da história bastante diferente daquela do mundo antigo. Na Grécia e em Roma, na Índia e na China, por exemplo, a história era compreendida em termos cíclicos como a ascensão e a queda de civilizações. Avanços na ética e na política eram reais e valia a pena lutar por eles, mas eles sempre seriam perdidos no curso das próximas gerações – enquanto o conhecimento pode crescer ao longo do tempo, o ser humano permanece o mesmo. As falhas inerentes e incuráveis do animal humano sempre prevalecerão em qualquer civilização avançada. Como eu coloquei no The silence of animals, a civilização é natural para os seres humanos – mas também é a barbárie. [...].
Trechos extraídos de Como viver juntos (Temporada, 2015), do escritor e filósofo britânico John Gray, autor da obra Falso amanhecer: os equívocos do capitalismo global (Record, 1998), na qual sustenta que as sociedades de todo o mundo estão sendo forçadas a participar de uma experiência de engenharia social com as falsas expectativas de um livre mercado libertador, em particular a idéia de que só quando se permite que o mercado opere sem qualquer controle governamental é capaz de trazer prosperidade e estabilidade. Para o autor, este culto ao livre mercado sem obstáculos - como é promovido pelo FMI e o Banco Mundial - resultará, na maior parte dos países, em um misto de anarquia e concentração de riqueza e irresponsabilidade, criticando duramente as políticas neoliberais e a desregulamentação do mercado tida para ele como irreversível e cruel, levando a uma efetiva destruição dos estados nacionais e a uma catástrofe social. Foi o que aconteceu em países como a Inglaterra e a Nova Zelândia, onde aumentaram a miséria, a insegurança, a delinquüência e até mesmo o índice de dissolução de casamentos.

Veja mais sobre:
Renascido da segunda morte, João Ternura de Aníbal Machado, Modernidade líquida de Zygmunt Bauman, Comunicação em prosa moderna de Othon Moacir Garcia, a música de Jacob de Haan, a charge de Andy Singer, a arte de Niki de Saint Phalle & Chris Cozen aqui.

E mais:
Em mim & Primeira Reunião, O anão de Pär Lagerkvist, Os últimos dias de Paupéria de Torquato Neto, a música de Camille Saint-Saëns & Waltraud Meier, A mais forte de August Strindberg, Gainsbourg de Joann Sfar & Lucy Gordon, a pintura de Carl Heinrich Bloch & a arte de Lena Nyman aqui.
Fecamepa & a corrupção ineivada aqui.
O culto da rosa & Crônica de amor por ela, As mil e uma noites, Figura de dança de Ezra Pound, A educação e o problema da inovação de Dermeval Saviani, a música de Almeida Prado, o pensamento de Heráclito de Êfeso, A Cleópatra de Vittorio Alfrieri, o cinema de Gilian Armstrong & Cate Blanchett, a fotografia de Alfred Cheney Johnston, a pintura de Washington Maguetas & a arte de Myrna Araújo aqui.
Eu te amo & Crônica de amor por ela, Filosofia da práxis de Adolfo Sánchez Vázquez, Futuro cidadão de José Craveirinha, A vida é um sonho de Calderón de la Barca, o cinema de Alejandro Amenábar & Nicole Kidman, a música de Laura Finocchiaro, a pintura de Darel Valença Lins, A pequena sábia, Rogério Manjate & a poesia de Moçambique, a arte de Fatima Maia, Doro & o dia de são nunca aqui.
Por você & Crônica de amor por ela, Do caos ao cérebro de Gilles Deleuze & Félix Guattari, a música de Khadja Nin, a poesia de Alexandre Dáskalos, Safo & Rodolfo Garcia Vázquez, a literatura de Erika Leonard James, a arte de Regina Silveira, O cinema de Sam Taylor-Wood & Dakota Johnson, a arte de Eduardo Schloesser & Kel Monalisa aqui.
Cobiça & Crônica de amor por ela, o pensamento de Buda, As moças de Montesquieu, A desconhecida de Ciro Alegría, A natureza de Lucrécio, a música de Magda Tagliaferro, A farsa quixotesca de Cervantes, o cinema de Vicente Escrivá & Millie Perkins, a arte de Jussanam Dejah, a pintura de Emerico Imre Toth & Charles Robert Leslie aqui.
Ponte sobre águas turvas & Crônica de amor por ela, Clara dos Anjos de Lima Barreto, A barca da América de Dario Fo, o teatro de Luigi Pirandello, Ciberarte de André Lemos, Presente de Regine Limaverde, o cinema de Bigas Luna & Aitana Sánchez, a fotogravura de Tracey Moffatt, a pintura de Rui Carruço, a música de Consuelo de Paula & Ana Terra aqui.
Poemas & canções da Crônica de amor por ela aqui.
Fecamepa: quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel Tataritaritatá & livros infantis aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

TEATRO DE HERMILO BORBA FILHO
A peça teatral Sobrados e Mocambos (Civilização Brasileira, 1972), do escritor e dramaturgo Hermilo Borba Filho (1917-1976), é uma transposição cênica da obra homônima de Gilberto Freyre, mostrando a formação e declínio da sociedade patriarcal. A peça foi encenada pela Cia. Teatro de Seraphim, com direção de Antônio Cadengue. Veja mais aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
Imagens: arte da pintora ucraniana Nelina Trubach Moshnikova.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja os vídeos aqui & mais aqui e aqui.
 

quinta-feira, julho 30, 2015

QUINTANA, ANÍBAL, CAGE, SOURRIAU, GNERRE, BERTOLUCCI, VISTONTI, TRÍPLICE DEUSA INCA & CIRCO ITINERANTE!




Nude Woman with Veil, do pintor ítalo-brasileiro Eliseu Visconti (1866-1944). Veja mais aqui.


Curtindo Sonatas and Interludes for Prepared Piano + A Book of Music for Two Prepared Pianos (1946-48), do compositor, teórico musical, escritor e anarquista John Cage (1912-1992), performance de Joshua Pierce ao piano (Tomato Records). Veja mais aqui.

LINGUAGEM, PODER E DISCRIMINAÇÃO – O livro Linguagem, escrita e poder (Martins Fontes, 2009), do antropólogo e linguísta Maurizio Gnerre, aborda temas como perspectiva histórica e linguística, gramatica normativa e discriminação, considerações sobre o campo de estudo da escrita, as crenças e dúvidas sobre a escrita, escritas alfabéticas e não-alfabeticas, a escrita e o estudo da linguagem, posições teóricas e contribuições de psicólogos e antropólogos. Do livro destaco o trecho: No quadro defiticitário e deformado da educação brasileira, é lugar-comum alarmar-se diante da fragilidade do desempeno verbal – sobretudo, escrito – do conjunto de seus protagonistas, não apenas discentes. Entretanto, raras vezes esse alarme evolui claramente para uma avaliação crítica séria e abrangente dos problemas de diferentes ordens manifestados nessas área. Geralmente, ele tende a diluir-se nas fórmulas bem conhecidas do conformismo didático de técnicas supostamente motivadoras e criativas. A evitar atitudes desse tipo, é preciso atentar, pelo menos, para uma exigência básica: a adoção de um ponto de vista não-convencional sobre a linguagem, sua natureza, seus modos de funcionamento, suas eventuais finalidades, suas relações com a cultura e as implicações complexas que ela mantem com a ideologia. É preciso partir de uma concepção de linguagem que não a confine a uma coletânea abritária de regras e exceções, e, tampouco, a um rígido bloco formalizado, imune às variações e diferenças existentes nas situações concretas em que a linguagem se torna, de fato, um processo de significação [...]. Veja mais aqui.

A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE – No livro A Morte da Porta-Estandarte e Outras Histórias (José Olympio, 1969), do escritor, professor e homem de teatro Aníbal Machado (1894-1964), encontro o conto homônimo do qual destaco o trecho a seguir: [...] O crime do negro abriu uma clareira silenciosa no meio do povo. Ficaram todos estarrecidos de espanto vendo Rosinha fechar os olhos. O preto ajoelhado bebia-lhe mudamente o último sorriso, e inclinava a cabeça de um lado para outro como se estivesse contemplando uma criança. Uma Escola de Samba repontava no Mangue. Ainda se ouviam aclamações à turma da Mangueira. Quando o canto-foi-se aproximando, a mulata parecia que ia levantar-se. E estava sorrindo como se fosse viva, como se estivesse ouvindo as palavras que o assassino agora lhe sussurra baixinho aos ouvidos. O negro não tira os olhos da vitima. Ela parecia sorrir; os curiosos é que queriam chorar. A qualquer momento ela poderia se erguer para dançar. Nunca se viu defunto tão vivo. Estavam esperando esse milagre. Ouvia-se uma canção que parece ter falado ao criminoso: Quem quebrou meu violão de estimação? Foi ela... Ainda apareceram algumas mães retardatárias rondando de longe a morta. A morta não tinha mãe nem parentes, só tinha o próprio assassino para chorá-la. É ele quem lhe acaricia os cabelos, lhe faz uma confidencia demorada, a chama pelo nome: - Está na hora, Rosinha... Levanta, meu bem.... É o “Lira do Amor” que vem chegando... Rosinha, você não me atende! Agora não é hora de dormir... Depressa, que nós estamos perdendo... O que é que foi? Você caiu? Como foi?... Fui eu? Eu?... Eu, não! Rosinha... Ele dobra os joelhos para beijá-la. Os que não queriam se comover foram-se retirando. O assassino já não sabe bem onde está. Vai sendo levado agora para um destino que lhe é indiferente. É ainda a voz da mesma canção que lhe fará alguma coisa ao desespero: Quem fez meu coração seu barrão,  foi ela...  [...] Veja mais aqui e aqui.

A TERRA, NOTURNO & AH, SIM, A VELHA POESIA – No livro Nova antologia poética (Codecri, 1981), do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994), destaco, primeiramente, o seu poema A Terra: As fronteiras foram riscadas no mapa, / a Terra não sabe disso: / são para ela tão inexistentes / como esses meridianos com que os velhos sábios a recortavam / como se fosse um melão. / É verdade que vem sentindo há muito uns pruridos, / uma leve comichão que às vezes se agrava: / ela não sabe que são os homens… / Ela não sabe que são os homens com as suas guerras / e outros meios de comunicação. Também o belíssimo Noturno: Nem tudo está / mudado: / durante o sono / o passado / em cada esquina põe um daqueles lampiões. / E os autos, minha filha, esses ainda nem foram inventados... / Só essa velha carruagem rodando rodando / sobre as pedras irregulares do calçamento. / Essa velha carruagem que passa, noite alta, pelas ruas, ... / E ao fundo do teu sono há uma lamparina acesa / - das que outrora havia ao pé de alguma imagem. / Ela arde sem saber como a parede é nua. / Mas / há um cigarro que se fez em cinza à tua / cabeceira – sem simbolismo algum – um toco / de cigarro apenas... Por fim, Ah, sim, a velha poesia: Ah, sim, a velha poesia.../ Poesia, a minha velha amiga... / eu entrego-lhe tudo / a que os outros não dão importância nenhuma... / a saber: / o silêncio dos velhos corredores / uma esquina / uma lua / (porque há muitas, muitas luas...) / o primeiro olhar daquela primeira namorada / que ainda ilumina, ó alma, / como uma tênue luz de lamparina, / a tua câmara de horrores. / E os grilos? / Não estão ouvindo lá fora, os grilos? / Sim, os grilos... / Os grilos são os poetas mortos. / Entrego-lhes grilos aos milhões um lápis verde um retrato / amarelecido um velho ovo de costura os teus pecados / as reivindicações as explicações – menos / o dar de ombros e os risos contidos / mas / todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte / as explosões de cólera / o ranger de dentes / as alegrias agudas até o grito / a dança dos ossos... / Pois bem, / às vezes / de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que / parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que / tem por isso mesmo um sabor total: eternamente esse / gosto de nunca e de sempre. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O ESPAÇO TEATRAL – No livro Chaves da estética (Civilização Brasileira, 1973), do filósofo francês Étienne Souriau (1892-1979), encontro o texto O cubo e a esfera, do qual destaco o trecho seguinte: Tenho a intenção de pôr, em poucas palavras, o princípio de uma discussão possível, apresentando, a proposito do espaço teatral, duas concepções diferentes, não só da realidade cênica, mas até de toda a arte teatral. Talvez, até, estas duas concepções revelem duas formas de espírito diferentes; e se esta morfologia dos espíritos teatrais (espectadores, atores, autores) me leva a falar de espíritos esféricos ou espíritos cúbicos, peço desculpa, antecipadamente, desta terminologia bizarra. [...] Parto do princípio de que em todas as artes, sem exceção, mas singularmente na arte teatral, trata-se de apresentar, de por em patuidade, todo um universo: o universo da obra. Em patuidade: uso de um termo filosófico um tanto raro que não deve perturbar-vos: designa a existência brilhante, que se manifesta poderosamente nos espíritos. Um universo em presença brilhante... um universo apresentado no seu pleno poder de nos emocionar, de nos transtornar, de nos impor a sua realidade, de ser, para nós, durante uma ou duas horas, toda a realidade. [...] Portanto, uma vez mais, deve ser-nos presente todo um universo, mas posto, sustentado, evocado por um núcleo central, por essa pequena porção de realidade realizada, se assim pode dizer-se, que se nos coloca sob os olhos e de que o punctum saliens, o coração batendo vivo, o centro ativo, é o grupo momentâneo dos atores em cena. Mas como obter essa presença total, essa vida comum de todo o universo da obra, a partir desse pequeno coração palpitante, desse ponto central presente e atuante de que o essencial é uma mínima constelação de personagens? É aqui que se apresenta, dois processos (evidentemente, estilizo, simplifico, tomo os dois casos mais puros e mais extremos, na sua mais evidente oposição). Primeiro processo: o que chamo de cubo. [...] E passemos, agora, ao princípio esférico. Ver-se-á que é completamente diferente. É outro o seu dinamismo prático e estético (bem entendido que uma vez mais estilizo, exagero até o caso piro e extremo). [...] Veja mais aqui.

OS SONHADORES – O drama Os sonhadores (The Dreamers, 2003), do cineasta e roteirista italiano Bernardo Bertolucci, é baseado no romance The Holy Innocents (Os inocentes sagrados), de Gilbert Adair, contando a história de um jovem estudante americano que está na Fraça em 1968, num intercâmbio e que, em suas idas à cinemateca, conhece um casal de gêmeos que compartilham da mesma paixão pelo cinema. O casal convida o jovem para um jantar quando descobre que eles possuem um relacionamento estranho, quando os pais viajam e eles iniciam um triângulo que envolve jogos psicológicos e sexuais sobre a temática do cinema. O destaque do filme fica por conta da belíssima atriz e modelo francesa Eva Green que ficou internacionalmente com este filme. Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Hoje é dia da Tríplice Deusa Inca: Mama Kila, Mama Ogllo e Mama Cocha.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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terça-feira, julho 27, 2010

CIRCO ITINERANTE, LEON URIS, RUPERT BROOKE, CONDILLAC, P. D. JAMES, ZILDA PAIM, ALEJANDRO ARREPOL, A CIDADE & AS ENCHENTES


A arte do artista chileno Alejandro Arrepol.

CIRCO ITINERANTE – Dez anos se passaram da enchente devastadora, toda população traumatizada com a tragédia. Seguiam sonâmbulos entre o que sobraram das ruínas, escombros. Alimentavam-se do que aparecesse: areia, excrementos, cascas, folhas, frutos e o que desse na fome por comestível. Vagavam por noites e dias. De repente surgira a tropa do exército que desfilara garbosamente com suas armas e pompas, repetindo o evento todos os dias por mais de vinte e um anos de continências e disciplina. Acompanhavam o passeio das ruidosas botas com a correria dos quepes e cavalarias, exibicionismos e ordens cumpridas cegamente. O que faziam aqueles soldados e graduados de todas as patentes, não se sabia; não perdiam tempo em saber, nem se davam conta do que poderia ser. Viam e viviam, apenas, como podiam: plateia hipnotizada. Assim como chegara, a tropa escafedera. E a população insone, catatônica, arrodeando os limites da localidade. Deu-se com o passar do tempo a chegada de um circo um tanto diferente, festeiro como se fosse um bloco carnavalesco. Na primeira ala um bando de saltimbancos de todas as travessuras, a bulir com um e com outro daquela comunidade alheia. Entre os truões uma esbelta acrobata que a cada rodopio se transformava numa contorcionista que se esticava como se de borracha, ou se comprimia reduzindo-se a minúsculas formas de bola chutada pelos bufões, logo se tornando uma firme equilibrista em pé sobre os ombros dos mambembes perfilados que findava numa corda esticada, faceira funâmbula com malabarismos e já trapezista a dar salto solto para lá e para cá e aterrissar fazendo escala para hipnose dos presentes. Uma leva de histriões fizeram-na desaparecer para dar vez a um palhaço que largava piadas com adivinhas e todos se encantavam com seus mirabolantes trava-línguas, paródias e jogos de palavras, levados por outros burlescos personagens para o mágico, exímio ilusionista que se passava por faquir, engolidor de fogo, e se envultava e tornava a aparecer como o gênio da lâmpada de Aladim, ou cavaleiro da Távola Redonda, ou sábio de Shangri-lá e todos caíam no frevo por arlequins e colombinas, uma festa dionisíaca de plena liberdade que durou cerca de trinta anos. Isso quando em pleno meio dia deu-se o retorno barulhento da tropa do exército com seu desfile de armas e pompas, botas e continências, e todos voltarem ao embotamento insone de nunca mais sorrir. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.


DITOS & DESDITOS - O verdadeiro órfão é aquele que não recebeu educação. Pensamento do filósofo francês Étienne Bonnot, abade de Condillac (1714-1780) o maior expoente de uma teoria radicalmente empirista do funcionamento da mente a que se costuma referir desde então como sensualismo. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Muitas vezes não temos tempo para dedicar aos amigos, mas para os inimigos temos todo o tempo do mundo! Pensamento do escritor estadunidense Leon Uris (1924-2003).

ISTO É SANTO AMARO – [...] De repente, a fatalidade transformou a alegria em dor, o entusiasmo em sofrimento, o riso em pranto. Uma pavorosa explosão abalou a terra, de uma só vez detonaram todos os fogos. Cruel fatalidade que envolveu no luto, na orfandade e na miséria mais de uma centena de irmãos. [...]. Trecho extraído da obra Isto é Santo Amaro (Academia de Letras, 2005), da educadora, historiadora, folclorista e pintora Zilda Paim (1919-2013).

OS FILHOS DOS HOMENS – [...] A generosidade é uma virtude para os indivíduos, não para os governos. Quando os governos são generosos, é com o dinheiro de outras pessoas, a segurança de outras pessoas, o futuro de outras pessoas. [...] Se, desde a infância, você trata as crianças como deuses, na idade adulta, elas são passíveis de agir como demônios. [...] Não sou tirana, mas não posso me dar ao luxo de ser misericordiosa. O que for necessário, eu farei. [...] Eu sabia que o que eu sentia era inveja ou arrependimento, não por algo perdido, mas por algo nunca alcançado. [...]. Trechos extraídos da obra The Children of Men (Faber&Faberm 19922) um romance distópico do escritora inglesa P. D. James - Phyllis Dorothy James, Baronesa James de Holland Park (1920-2014).

OS MORTOSDe humanas alegrias e cuidados / foram tecidos estes corações. / Prontos para o prazer, foram lavados / pela tristeza prodigiosamente. / O tempo deu-lhes bondade. O poente / foi seu, e a aurora, e as cores que há na terra / Ouviram música, e aventuras viram; / o sono conheceram, e a vigília; / amaram; orgulhosos se partiram, / cercados de amizades, e sentiram / a repentina comoção do espanto; / sentados, muita vez a sós ficaram; / tocaram flores, faces e peliças, / e todas essas coisas se acabaram. / Águas há que se riem, assopradas / pelos ventos mudáveis e que são / pelo céu vivo, ao dia, iluminadas. / Depois, com um gesto, a geada faz parar / ondas que dançam e a beleza a errar, / e deixa um resplendor alvo e contínuo, / um brilho recolhido, uma amplidão, / uma paz luminosa sob a noite. Poema do poeta britânico Rupert Brooke (1887-1915).



 A URBANIZAÇÃO E AS ENCHENTES - O processo de urbanização brasileiro apresenta uma série de problemas detectados ao longo de seu desenvolvimento nas últimas décadas. Tais problemas urbanos têm acarretado outros tantos problemas que vão desde a ocupação desordenada da área urbana, bem como levado a ocorrências de alagamentos e enchentes que causam danos a população. È sob tal observância que o presente artigo aborda a questão da urbanização e das enchentes, tratando acerca da visualização de como ocorreu a urbanização no Brasil, no Nordeste e em Alagoas nas últimas décadas, para identificar a relação entre o processo de urbanização e as enchentes ocorridas. A urbanização, segundo Pedrosa (2010, p. 14) é “[...] caracterizada pela alta densidade demográfica, é reconhecidamente um processo histórico inevitável” e que pelas transformações ocorridas, tem apresentado inúmeros problemas para a coletividade. Tal fato se prende à observação de Peplau (2005, p. 1), ao assinalar que  Com a urbanização, intensificaram-se as transformações do uso e ocupação do solo, causando efeitos diretos sobre os recursos hídricos no meio ambiente antrópico, alterando o ciclo hidrológico. [...] O processo de ocupação urbana ainda resulta em aumentos da demanda por água e da carga poluidora, alteração na sedimentologia, rebaixamento de reservas subterrâneas e mudanças no micro-clima local. Verifica-se, portanto, que tais transformações ocorridas no processo de urbanização que antes vista pela distinção entre a distribuição populacional urbana e rural, passando à utilização da noção de população agrícola e urbana, constatando o processo migratório de trabalho rural com fixação de residência nas cidades. Nesse processo, a urbanização foi se formatando com o nascimento e crescimento das cidades na diversa área territorial brasileira, tendo a instalação de empreendimentos agroindustrial, como mola propulsora do desenvolvimento econômica nos setores primário, secundário e terciário. Nesse sentido, observa Brito et al (2010, p. 4) que: [...] as migrações internas fizeram um dos elos mais importantes entre as profundas mudanças estruturais e a expansão urbana [...] A análise da evolução da população urbana segundo os diferentes tamanhos de cidades contribui, decisivamente, para a explicação do grande ciclo da expansão urbana no Brasil, já que expressa não só o processo de crescimento da população urbana, mas, também a sua redistribuição entre cidades de diferentes tamanhos. Essa modernização rural flagrada nas mais diversas regiões agrícolas do país, procedeu um processo excludente com alijamento e expulsão da camada mais pobre da população, proporcionado a migração destes para as periferias das cidades. Por conseqüência, em razão da baixa absorção do setor industrial da mão-de-obra disponível por exigência de qualificação, o setor terciário por não apresentar garantia de estabilidade e baixa remuneração, tem contribuído com o inchamento das cidades que sofrem com a favelização, refugiando os que são estornados das atividades agroindustriais. Saliente Brito et al (2010, p. 4) que: O ciclo de expansão da urbanização pode ser compreendido dentro do processo mais amplo de constituição das grandes regiões metropolitanas [...] Essas regiões desde a sua criação, até os dias atuais, sofreram inúmeras transformações com a incorporação de novos municípios. Como esta decisão é da competência das Assembléias Legislativas, muitas vezes, a delimitação de uma região metropolitana obedece muito mais a critérios políticos. Esse movimento migratório tem aumentado de volume nas últimas décadas, quando uma população de excluídos passa a dar volume nas regiões periféricas do aglomerado urbano, que não dispõe de infra-estrutura como saneamento básico, escolas, sistema de transporte coletivo, serviços de saúde, energia, entre outros, provocando a pobreza no espaço urbano pela ausência de oportunidades. Tal quadro desfigura a cidade com moradias irregulares, muitas localizadas em terrenos íngremes ou às margens de charcos e córregos, e que acomodam o contingente migratório sem escolaridade nem qualificação profissional, que vivem de subempregos sazonais ou da informalidade. Neste sentido, entende Valente (2010, p. 3) que: [...] a urbanização desconectou o homem do seu ambiente natural e ele não sabe mais, como os antigos sabiam, que um pequeno córrego vem "daquela cabeceira", ou seja, os cursos d'água não têm origem em si mesmos e são produtos de uma parte da superfície, chamada bacia hidrográfica. Cada um tem a sua, pro menor que seja. Este contingente populacional se torna vulnerável às ocorrências ambientais, enfrentando o risco de desmoronamento e enchentes nos períodos chuvosos. Em conseqüência disso, Peplau (2005, p. 8) chama atenção para o fato de que: Com a ocupação urbana, o sistema natural de drenagem fluvial e pluvial da localidade é modificado, necessitando adequações. Essas intervenções deveriam ser projetadas levando em consideração a integração geral do sistema de infraestrutura urbano, a partir do mais elementar compartimento, como o lote, por exemplo. De modo geral, a ocupação da maioria das cidades, ocorreu sem um planejamento eficaz, que contemplasse satisfatoriamente a questão da eficiência da drenagem das águas pluviais e fluviais urbanas. Este é um quadro resultante da rápida urbanização brasileira que tem por conseqüência o aumento do tamanho dos subúrbios dentro do processo de conurbação, formando um cenário excludente e carregado de problemas que provocam a ineficiência do poder público na satisfação de atendimento dos serviços públicos necessários para essa concentração populacional. Diferente não é o quadro da realidade do Nordeste brasileiro, registrado por Manuel Correia de Andrade (apud FERNANDO, 2010, p. 1) As cidades surgiram nas encostas, pois se procuravam a proximidade com os rios, temiam a invasão das águas durante as enchentes, enchentes sempre violentas pela rapidez com que se apresentavam e pela excessiva oscilação do débito dos rios, de vez que estes, tendo a maior extensão dos seus cursos nas áreas semi-áridas do Agreste e Sertão, possuem a irregularidade típica dos rios de caatinga. Irregularidade expressas pela ausência d’água no leito durante o estio e pelo transbordamento para a várzea, alagando e encharcando os canaviais, na estação das chuvas.
A URBANIZAÇÃO NO NORDESTE - A região nordestina, a exemplo de toda realidade territorial brasileira, não apresenta quadro diferente, tendo como supremacia econômica a instalação de empreendimentos destinados ao setor sucroalcooleiro e a agroindustrial. Nesta região, entende Para Lubambo et al (2010, p. 1) que: [...] no Nordeste um processo de urbanização de rapidez e intensidade significativas. No entanto, os processos de crescimento econômico e de desenvolvimento social dessa mesma região têm sido profundamente heterogêneos e descontínuos entre as áreas que atingem. [...] Por resultante, caracteriza- se um novo espaço regional, onde se distinguem os eixos diferenciados, marcados por aglomerações e centros com dimensões e perfis urbanos os mais variados, além de novas tendências no desenho da rede de cidades.
A URBANIZAÇÃO EM ALAGOAS - O Estado de Alagoas está dentro desta realidade nordestina, configurando o seu quadro de urbanização, identicamente problemático pelo quadro que se apura com a revisão da literatura realizada. Os diversos municípios alagoanos apresentam problemas que são detectados na grande rede municipal brasileira, sofrendo com as mudanças ocorridas no processo de urbanização brasileiro, sintomaticamente vítimas das ocorrências ambientais que provocam desmoronamentos e enchentes que levam a tragédias noticiadas nos últimos anos pela imprensa nacional.
AS CONSEQUENCIAS DAS ENCHENTES – As consequências das enchentes mereceram considerações de Peplau (2005, p. 17) que se expressou: As inundações urbanas, cuja principal causa é a má gestão do espaço urbano, trazem consigo uma série de problemas associados a diversos fatores influentes no cotidiano da população. O ciclo dos prejuízos é grande e de difícil mensuração, afetando grande número de pessoas, atividades produtivas, bens capitais e meio ambiente. No entanto, sem parâmetros de mensuração ou escala de valor está a vida de milhares de pessoas que faleceram e virão a sucumbir vítimas das enchentes, este configurado como o quadro (figura 6) mais dramático e triste do problema, pois a maioria dessas mortes poderiam de alguma forma ser evitadas. As ocorrências das enchentes se dão, conforme o autor mencionado, acarretando a invasão do passeio público, ruas, avenidas, casas, propriedades ou pelas as encostas desprovidas de proteção; causando transtornos e prejuízos diversos, tanto pela força da água pluvial e das chuvas, quanto pela sua contaminação. Essas enchentes, conforme Pedrosa (2010, p. 19), causam diversos problemas e prejuízos à população urbana: Os prejuízos com as enchentes estão muito longe de ser a soma dos valores dos objetos da população, atingidos pela inundação. Na literatura nacional há registros de diversos casos de enchentes, com elevados prejuízos em vidas humanas e econômicos. As enchentes das áreas ribeirinhas são ricamente documentadas nos textos técnicos de hidrologia, constatando-se que a ocupação do leito maior do rios,por vezes, torna-se bastante amarga para as populações que ali residem. Registra, portanto, o autor, que as enchentes marcantes nos processos hidrológicos urbanos se dão por causa do processo de urbanização, dando-se por conta do aumento da quantidade de sedimentos e lixo, resultando no assoreamento dos canais, galerias e sarjetas, alteração da qualidade das águas pluviais e dos corpos receptores do sistema de drenagem, problemas com água potável e alteração dos parâmetros climáticos. Considera mais Pedrosa (2010) que as enchentes ocorrem por um processo natural, mas que por ocupação da várzea traz grandes prejuízos aos moradores locais, além de elevar os níveis das enchentes a jusante, decorrentes da obstrução do escoamento natural. As razões dessas ocorrências, segundo Peplau (2005, p. 1), porque: As enchentes acontecem naturalmente de modo periódico, devido a chuvas intensas aliadas a condições favoráveis de solo e conformação morfológica, levando os rios e canais preferenciais de escoamento a extravasarem o seu leito menor inundando as várzeas e depressões. [...] Devido à impermeabilização dos solos, as respostas hidrológicas nas áreas urbanas são sensivelmente modificadas, sendo os principais efeitos o aumento do escoamento superficial (vazão máxima e volume), a antecipação dos picos de vazão e a diminuição da infiltração, acarretando inundações e alagamentos. Consequência disso, foi o desastre trágico ocorrido ultimamente na Zona da Mata de Alagoas e Pernambuco, que, segundo Fernando (2010), ocorreu por razões que envolvem questões ambientais degradadas pelos fatores socioeconômicos que se encontram no latifúndio canavieiro e no empobrecimento da população causada pela concentração de terras e rendas. Em nota assinada pela Associação dos Geógrafos Brasileiros (FERNANDO, 2010), as enchentes ocorridas atingiram municípios pernambucanos e alagoanos, alguns deles ainda hoje em estado de emergência e outros em calamidade pública. A catástrofe provocou transbordamento de rios, sangramento de barragens, destruição de cidades e plantações, interrupção do fornecimento de energia elétrica, serviços hospitalares, telefone, segurança e abastecimento de água, entre outros serviços essenciais. Marques (2010) registrou o posicionamento do chefe do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o professor Ricardo Sarmento Tenório, ao afirmar que a chuva não teria força para causar a destruição vista nas cidades alagoanas. Registra mais que na visão do pesquisador, a tragédia alagoana poderia ser evitada se não houvessem construído as cidades e efetuada a sua urbanização no leito de rios que possuem hoje bacias totalmente degradadas. No entanto, a respeito Dias et al (2002, p. 23) se expressa: Os impactos ambientais negativos da ocupação humana sobre áreas problemáticas representada por áreas de riscos ambientais sobre potenciais para expansão urbana refletem na qualidade do ambiente que o homem habita e dele depende, resultando num problema de ecologia urbana com impactos socioeconômicos graves. Estes impactos afetam os parâmetros básicos (solos, geomorfologia, geologia, declividade, etc.), bióticos (vegetação e fauna) e antrópicos (infraestrutura urbana). As atividades humanas, transformando o ambiente natural em ambiente construído, têm resultado em desequilíbrios ambientais, acarretando impactos ambientais nos ecossistemas. Mediante todo exposto, atribuem os engenheiros anteriormente mencionados, conforme Fernando (2010, p. 1), que esta tragédia tem por causa: [...] o resultado de uma desigual ocupação do espaço, aliado aos fatores sociais, a falta de investimentos nas cidades da zona da mata, bem como a não existência de uma articulada rede de prevenção de catástrofes naturais no território nacional, capaz de prevenir fenômenos meteorológicos com mais precisão e eficiência, dando tempo à defesa civil alertar e divulgar medidas cautelares aos moradores das cidades ribeirinhas vem prejudicar mais gravemente os trabalhadores e os mais pobres que vivem na região. É com este pensamento e avaliação que nós, da Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Recife, nos solidarizamos ao povo Pernambucano e Alagoano apontando o real culpado pelo os estragos, o latifúndio da cana de açúcar e não apenas a grande quantidade de chuvas. Entre as causas podem ser assinaladas também a ausência de gestão e planejamento urbano, ausência do serviço de defesa civil nos municípios, gerenciamento das bacias hidrográficas, entre outras. Na busca por soluções, Valente (2010, p. 5) aponta: Nas áreas urbanas, a parte da chuva que inevitavelmente se transforma em enxurrada, pode ser retida por meio de caixas de coleta em casas, prédios, galpões industriais, para uso posterior em limpeza, irrigação de jardins etc,; coleta de enxurradas ao longo de estradas; piscinões. Se tais soluções são meras utopias, tudo bem, restando-nos aceitar, com resignação, as repetidas notícias anuais sobre danos à vida e ao patrimônio, como se tudo fosse mera fatalidade! Por esta razão, assinala Peplau (2005, p. 1) que:  O desafio ante as enchentes provocadas pela urbanização requer do poder público ações planejadas e integradas com o aparelhamento urbano, com intervenções estruturais (obras de melhoramento em geral) e não-estruturais (práticas de gerenciamento com políticas e ações para uma melhor convivência com as enchentes) de modo a prevenir, disciplinar e mitigar inadequações de uso e ocupação do solo urbano. Como medidas preventivas, Brasil (2010) tem procurado informar a população dos vários tipos de inundações, suas causas e conseqüências danosas, atribuindo, pontualmente, a questão urbana como uma das causadoras das enchentes, carecendo de educação popular e mudança na cultura da gestão urbana, com a elaboração de Plano Direito de Desenvolvimento Municipal, fiscalização das áreas inundáveis e de risco, elaboração de plano de evacuação com sistema de alarme, implantação de esgotamento de águas servidas e coleta de lixo domiciliar, indicação de áreas seguras para construção com base no zoneamento, bem como planejamento, fiscalização eficiente e eficaz com base na criação de um corpo legal que contemple tais incidências. Observa-se pelo estudo realizado, que a população urbana alagoana vem sendo de forma intermitente vítima das enchentes, a exemplo do que ocorreu em São José da Lage, em 1969, e que vem se repetindo ano após ano vitimando o espaço urbano, especialmente as populações ribeirinhas. Tais acontecimentos exigem a instalação de uma equipe multidisciplinar, envolvendo profissionais especialistas das áreas de urbanização, meteorologia e hidrografia, visando apresente um diagnóstico capaz de possibilitar uma leitura geral do problema e apresente o seu respectivo prognóstico.
CONCLUSÃO - Observou-se com o estudo realizado que a causa das enchentes que ocorreram em Alagoas e Pernambuco são causadas, entre outros fatores, pelo processo desordenado de urbanização que ocorreu nas últimas décadas em todo país. Neste sentido, se faz necessário que se envidem esforços na gestão urbana dos municípios, baseada em ações de planejamento que possibilitem coibir ou erradicar o problema em Alagoas.
REFERENCIAS
BRASIL. Inundação: conheça o desastre. Brasília: Ministério de Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2010.
DIAS, José Eduardo; GOMES, Olga; COSTA, Maria Sandra; GARCIA, José Miguel; GOES, Maria Hilde. Impacto ambiental de enchentes sobre áreas de expansão urbana no município de Volta Redonda/Rio de Janeiro. Revista Biociências,Taubaté, v.8, n.2, p.19-26, jul.-dez.2002.
FERNANDO, Robson. As causas reais das enchentes da zona da mata nordestina. Arauto da Consciência, 2010.
LUBAMBO, Cátia; CAMPELLO, Ana Flávia; ARAÚJO, Maria do Socorro; ARAÚJO, Maria Lia. Urbanização recente na região Nordeste: dinâmica e perfil da rede urbana, 2010.
PEDROSA, Valmir. O controle da urbanização na macrodrenagem de Maceió: Tabuleiro dos Martins, 2010.
PEPLAU, Guilherme. Influência da variação da urbanização nas vazões de drenagem na bacia do rio Jacarecica em Maceió – AL. Recife: UFPE, 2005.
BRITO, Fausto; HORTA, Claudia; AMARAL, Ernesto. A urbanização recente no Brasil e as aglomerações metropolitanas. NRE/SEED/PR, 2010.
MARQUES, Maikel. Origem da destruição. Gazeta de Alagoas, 2010
VALENTE, Osvaldo. Enchentes e urbanização. IETEC, 2010; Veja mais aqui.




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