sexta-feira, agosto 30, 2019

GILBERTO FREYRE, JULIO CORREA, REMBRANDT & SASKIA, EVELYNE AXELL & CARLA VAN DE PUTTELAAR


SASKIA AMADA DO QUE FUI – Era a descoberta do amor, uma vez e nunca mais. Era ela, ao lado do tio: a deusa de Leeuwarden, a imagem do fascínio. Eu já vivia lá no canal Amstel, e ela sorriu por baixo da aba de um amplo chapéu de palha: seus lábios brilhavam mais que a grandeza do ouro, seus olhos brilhavam mais que o Sol radiante. Em sua mão uma flor, excelsa ternura, exaltada generosidade. E eu era apenas a sua pele fresca e brilhante, os lábios sutis e sensuais, pequenos dentes perolados, face cheia de reluzente inteligência, tão astuta e constante, juventude eterna. Tudo nela era como um veludo vermelho e dourado, voluptuoso, à luz do dia, a água fluindo, as íngremes escadas de madeira, seus movimentos apressados. Eu nunca fui páreo para uma linda mulher de família rica respeitada, só um reles rebelde, tropical Niágara, que saí do Lácio para a vida: o puro prazer de viver. Era ela toda para mim e foi contra todas as convenções na flor da idade e me fez feliz. Ela com todas as poses: a pentear os cabelos, deitada na cama, dormindo, sonhando, o olhar provocante no pátio, exultante à janela, ah, infinidade de nuances, era ela, a compreensão da mente e dos olhos. Ah, minha Saskia, mulher destemida, educada, o meu diário: todo meu afeto, memórias, vida, a minha arte humana roubada dos céus para os filhos dos homens, a noite da alegria, a eterna fé e coragem. Ah, como adorava Saskia, minha musa amada, deusa esvoaçante. Era ela a minha Flora, deusa das flores; a minha Danae nua na cama, a minha Betsabea com la lettera di David, a minha Andromeda Chained to the rocks, o meu asteroide iluminado, a minha noiva judia: a sua mão na minha, o gesto de adoração. Todas elas e mais tantas que é ela e só ela no meu coração. Deu-me tudo: a alma do cronista de todos os rostos humanos. E nela conheci a ascensão e o declínio. Sobrevivi a todos que amava, a minha luz subitamente perdida nos ares, as trevas, difamações, e eu com camponeses, pescadores, velhos moradores; e sem ela, cego, fracassado, envelhecido prematuramente: o meu sorvedouro de dívidas, o funeral da reputação, tristeza, privações, o grande silêncio da minha solidão devastadora, da minha tristeza destrutiva. Só ela vive no meu coração indigente que tudo ganhei e perdi, nem ela está mais aqui. Sou apenas meu rosto invernal, alma solitária. Empobreci, reduzido a nada e sem ela. Desconsolado, sou cônscio da minha própria mortalidade. Vivo apenas dela, para ela, nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] as canções de berço portuguesas, modificou-as a boca da ama negra, alterando nelas palavras; adaptando-as às condições regionais; ligando-as às crenças dos índios e às suas. Assim a velha canção "escuta, escuta, menino" aqui amoleceu-se em "durma, dur-ma, meufilhinho", passando Belém de "fonte" portuguesa, a "riacho" brasileiro. Riacho de engenho. Riacho com mãe-d'água dentro, em vez de moura-encantada. O riacho onde se lava o timãozinho de nenê. E o mato ficou povoado por "um bicho chamado carrapatu". E em vez do papão ou da coca, começaram a rondar o telhado ou o copiar das casas-grandes, atrás dos meninos malcriados que gritavam de noite nas redes ou dos trelosos que iam se lambuzar da geléia de araçá guardada na despensa - cabras-cabriolas, o boitatá, negros de surrão, negros velhos, papa-figos. [...] E havia o papa-figo, homem que comia fígado de menino. Ainda hoje se afirma em Pernambuco que certo ricaço do Recife, não podendo se alimentar senão de fígados de crianças, tinha seus negros por toda parte pegando menino num saco de estopa. E o Quibungo? Este, então, veio inteiro da África para o Brasil. Um bicho horrível. Metade gente, metade animal. Uma cabeça enorme. E no meio das costas um buraco que se abre quando ele abaixa a cabe-ça. Come os meninos abaixando a cabeça: o buraco do meio das costas se abre e a criança escorrega por ele. E adeus! está no papo do Quibungo. [...].
Trechos extraídos da obra Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal (Livros do Brasil, 1957), do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987). Veja mais aqui, aqui & aqui.

A POESIA DE JULIO CORREA
A PRÓDIGA - Eu a conheci uma noite, doce e tentadora, / Como uma fruta no tempero. / Risos acariciando aleatoriamente / Um presente tão celestial. / De sua boca fluiu / em excitação louca / sua risada musical, / docemente infernal. / Quando a vi, fingi / uma sacerdotisa, / rainha da alegria, / de amor, de riso / e prazer; / alguns Messalina / par carnal e divino, / de feitiço irresistível / isso para muitos Claudios / fez o amor enlouquecer. / Depois de quatro anos eu achei mentirosa / para se proteger do frio em uma porta, / e vi sobre sua boca desbotada / um sorriso morto, / e olhando nos olhos dela / Eu vi um arrependimento / que sede de perdão / colocar erva-doce / inutilmente triste com o fatal / Distribuidor do bem e do mal.
MATERIAL DE MARIONETES – Ele fez o marionetista como vinte fantoches. / Por muitas noites, / em frente ao pobre retábulo, / para o príncipe, a rainha e o arlequim e o diabo, / feito de madeira encontrada aleatoriamente, / as pessoas humildes e boas aplaudiram incessantemente. / Eles disseram na vila, / dos bonecos: -Todos, bons artistas são; / e o marionetista, também com essa ideia, / Ele sentiu seu coração dançar alegremente. / Ele foi beijar suas marionetes e dormiu em paz / em uma calma doce, / amarrou os fios / dos fantoches à sua alma. / E o marionetista acordou de seu sonho de paz / e ele ouviu os bonecos gritarem em coro: / -Nós somos homens, sim, senhor, e também / Ser artista é um desperdício, / Sr. marionetista: você passa, boa noite - / e quebrando os fios os fantoches deixaram. / O deserto é o retábulo. / O príncipe, a rainha e o arlequim e o diabo, / o rei com sua coroa, / ouro falso brilhante / e aquela Polichinela que a fez rir tanto, / Eles foram embora. Com choro / chora o marionetista: -É um andaime / este meu retábulo; / Eu sinto que eles te matam, oh, coração, frio, / de um resfriado que quebra você / em pedaços de lágrimas, em pedaços de morte! / Oh malditos fantoches, você roubou sua sorte / ser artistas, ser capaz de fazer arte! / Oh! fantoches, fantoches, / fantoches, amaldiçoados, / perdido à noite / De todo o anônimo, de todo o esquecimento. / Eu te fiz de tarugos, / Eu coloquei em você todas as minhas preocupações, / e você era meus carrascos, / e você até me abandonou ... o mesmo que algumas crianças.
Poemas do poeta paraguaio Julio Correa (1890-1953).

A ARTE EVELYNE AXELL
A arte da artista pop belga, Evelyne Axell (1935- 1972), conhecida por suas obras psicodélicas e eróticas, autorretratos em plexiglas que misturam os impulsos hedonistas e pop dos anos 1960. Veja mais aqui.

A OBRA DE REMBRANDT
A obra do pintor e gravador holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669), com destaque para sua obra dedicada à sua amada Saskia van Uylenburgh (1612-1642) aqui e aqui.
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A ARTE DE CARLA VAN DE PUTTELAR
A arte da série The Rembrandt Series (Rembrandt House Museum in Amsterdam, 2016), da fotógrafa & artista plástica holandesa Carla Van de Puttelaar. Veja mais aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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