terça-feira, dezembro 28, 2010

CZESŁAW MIŁOSZ, MIRANDA JULY, MARIA DE MEDEIROS, JEANNE GAGNEBIN & LITERÓTICA



PRIMEIRO ENCONTRO, A ENTREGA QUENTE NO FRIO DA NOITE - Imagem: arte by Konstantin Razumov - Era dia dos namorados e eu solitário num quarto de hotel. A tarde caia e eu estava pelando de frio sem nada pra fazer. Resolvi tomar umas e outras no restaurante para esquentar os nervos e a carcaça. Nessas horas, o melhor a fazer é não pensar em nada, só deixar levar pela intuição. E fui. Desci e quando lá cheguei, logo dei por falta do note book, o que me fez retornar aos aposentos. Nossa, que coisa?! Sempre me esqueço das coisas, ô cabecinha tonta essa minha de confundir sonhos com realidade, andar todo atrapalhado e nunca dar uma dentro de certeiro. De volta, já no elevador, dei de cara com uma elegante e simpaticíssima mulher que me saudou com um riso mais que acolhedor. - Tudo bem? -, disse-lhe afetuosamente. - Ótimo! -, respondeu-me com ar de espalhafato rolando um lance. Ajudei a colocar suas malas ali, quando ela me disse: - Terceiro, por favor. Cliquei na tecla desejada e ficamos nos fitando desajeitadamente. Parece que algo ocorria no ar, de nós termos de nos desfigurar na maior das embatucadas situações. Ela sempre risonha e amável se arrumando no compartimento com as malas e bolsas. Eu tentando ajudar. Cheio de pernas e mãos, eu mais atrapalhava. - Obrigada -, respondeu-me compreensiva como quem sacasse minha intenção solidária. - De nada. Chegou o andar dela, segui levando suas malas até o seu apartamento. O 305. Lá adentrei e depositei sua bagagem num canto próximo da cama. - Oh, como posso agradecer? -, perguntou-me solícita. - Nada, foi um prazer ajudá-la. Vou pro restaurante, qualquer coisa estarei ao dispor no 501. - Ah, é? - É. - Então daqui a pouco passo por lá. - Espero. - Obrigada e até daqui a pouco. - Até daqui a pouco. Saí sentindo que ela queria me beijar, aquela impressão que a gente fica de não se dar o luxo à licenciosidade, mas a timidez não me deixou o atrevimento ir até tão longe no primeiro contato. Logo me lembrei do note book e fui buscá-lo no apartamento. Ao me apossar dele, rumei pro restaurante, refiz todo trajeto, elevador, escadarias, batentes, portas e gentes e lá chegando pedi uma cerveja. A garçonete simpática derramou o líquido numa tulipa enorme. - Quer comer alguma coisa? Está aqui o menu. - Obrigado, por enquanto só a cerveja. Abri o note book e fiquei vasculhando os arquivos para rascunhar algum texto. Sorvi de um gole só todo líquido da tulipa e já enchia mais para nova talagada. Comecei a repassar algumas sugestões de versos que eu havia esboçado, tentando ali encontrar a melhor forma de expressar a metáfora. Fiz e refiz muitas vezes, mas nenhuma das formas encontradas me satisfazia. Fiquei entretido com isso longo tempo e já estava na segunda cerveja quando ela chegou toda altaneira numa saia vermelha que lhe pronunciava as formas, uma blusa colada no corpo denunciando seus seios quase pulando fora, um batom combinando com a saia, uma maneirice dócil que explorava sua brancura fascinante. - Olá? - Olá! -, respondi-lhe com surpresa agradável e acentuada. - Sou Késnia e você? - Luiz Alberto Machado. - O escritor que vai fazer uma palestra agora de noite? Uau! Pela primeira vez me sento ao lado de uma pessoa importante. Nem respondi, estava com as faces queimando, totalmente ruborizado, todo encabulado e tomando um gole para me recompor. - Que coisa! Venho participar do congresso e logo estou com o palestrante da noite! Hum... isso é muito bom. Mais sem ter como dizer, titubeando demais, num esforço descomunal ainda disse-lhe: - Servida? -, apontando para a cerveja. - Não, prefiro vinho. Chamei a garçonete que anotou o pedido. - Diga-me uma coisa: você é também do Nordeste? - Sou pernambucano e moro em Maceió. - Que bom, também sou nordestina com muito orgulho. De São Luis do Maranhão. Adoro Recife, nunca fui a Maceió. Mas sei que tem praias lindas. - É, são muito belas as praias pernambucanas e alagoanas. Disse-lhe insinuando o olhar pelo decote dela que me sugava pros seios espremidos no sutiã vermelho que combinava com o batom e a saia. A sua pele branca transpirava sensualidade e eu não conseguia dizer nada, só balbuciar algumas frases e ingerir os goles da cerveja. Era uma sedução proposital. E eu me enovelando na volúpia como se jogando dentro de um redemoinho. O aquecedor do restaurante incomodava dela ficar inquieta, afogueada e mais lúbrica, ao que sugeri que fôssemos para o lado de fora, onde o frio imperava. Seguimos para lá e ela sentou-me ao meu lado maravilhada com o final da tarde. Na verdade era um lindo crepúsculo, um espetáculo. - A sua palestra começa que horas? -, perguntou-me interessada. - Está marcada para as 19 horas. - Nossa, já são quase 6 da tarde, preciso me embonecar para vê-lo. Aí sorveu o vinho e esvaziou o copo, despedindo-se. - Vou me aprontar. Preciso estar nos trinques para ouvi-lo. A gente se vê lá no auditório. Antes de sair sapecou um beijo carinhoso nas minhas faces, dizendo: - Lindão. Chego já por lá. Fiquei observando o seu andar manemolente, seu corpo assimétrico e voluptuoso. O seu rebolado me enfeitiçou, parece que ela mais me provocava propondo loucuras orgíacas e libidinosas. Eu, na minha, já com idéias mirabolantes revirando o quengo, tudo de coisas de beijos, fodas, sacanagens e muita curtição. Fiquei aturdido quando me dei conta de que devia me aprontar também. Chamei a garçonete, paguei a conta e zarpei pro banho. Aquele trajeto todo refeito me deu estímulo para um banho frio dos bons, daqueles que gosto. Não sou achegado a uma água quente, prefiro fria mesmo. Entrei de vez embaixo do chuveiro e a frieza aplacou minha tesão. Logo me enxuguei, me enrolei na toalha e fui escolher meu figurino. Nunca tive muita paciência para isso. Peguei a primeira camisa que vi, o palitó, uma calça, meias, lenço e o sapato. Logo estava pronto e perfumado além da conta. O relógio marcava 18;40hs. Desci até o auditório do hotel. Lá já se encontravam muitas pessoas. Fui recepcionado pela promotora do evento que me encaminhou para um canto reservado dos cômodos. Uns 20 minutos depois, ouvi uma voz feminina daquelas de locutoras sensuais falando minha biografia. Logo me identifiquei, ninguém sabe mais de mim que eu mesmo. A diferença era que a coisa era mais afetada, elogiosa demais, ou era impressão minha. Ela me anunciou e subi ao palco. Fui levado por uma jovem bela até a tribuna e lá segurei os nervos e danei-me a falar. Não demorou muito e encontrei com o olhar a Késnia toda radiante na platéia. Foi aí que me amostrei e danei blá blá blá pra cima. Quando menos espero, já uma hora e meia decorrida, dei por finalizada. Aplausos eclodiram e a locutora abriu o microfone para a platéia que me sabatinou por mais duas horas e meia. Pensei que não terminasse mais. Findado o debate, agradeci e saí de lá descendo a escada para a platéia. Sou de misturar no fim dessas coisas. Sair do holofote pro anonimato me dá certa satisfação. E também receber os gentis afetos dos presentes, faz bem pro coração. Mesmo que venham carregados de falsidade, bajulações e outras fraquezas menos decentes. Vou na boa e nem aí. No meio do tumulto, Késnia se aproximou exultante. Beijou-me novamente as faces e me deu os parabéns. Havia um batalhão de gente com meus livros para eu autografar. Uma movimentação que me saía do controle. Tinha que dar um jeito de ficar perto dela. Os demais me puxando daqui e dali, e eu puxando Késnia para onde me levassem. Logo me arrumaram uma cadeira e mesa. E eu com Késnia do lado. Quando ela ameaçava sair, eu lhe segurava pela mão e pedia que esperasse que autografaria o livro dela ao final com dedicatória especial. Ela me dizia que ia buscar água pra gente, eu assentia. Trouxeram-me um champanhe e bebi. - Quer mais água? -, perguntou-me Késnia. - Não, champanhe mesmo. Quando terminaram os autógrafos, pedi o livro de Késnia para garranchar alguma dedicatória. - Vamos sair, você autografa quando a gente chegar noutro lugar -, pediu-me com jeito carente. - Vamos. Ela me puxou pelo braço e fui seguindo seus passos. Quando saímos do hotel, ela me perguntou para onde iríamos? - Não sei, você conhece essa cidade? - Não. -, disse-me ela. - Eu também não. Ela pediu um táxi e disse pro motorista: - Leve-nos pro lugar mais romântico daqui. Entramos no banco de trás e eu fiquei olhando as paragens enquanto ela tagarelava nos elogios sobre a minha palestra. - Parabéns! Excelente a sua palestra. - Obrigado. Dali mais um tempo o taxista parou num restaurante muito movimentado. Paguei a corrida e descemos. Na primeira mesa que encontramos, nos aboletamos, fomos atendidos por um garçom bastante gentil que nos serviu a bebida requerida por nós: eu de cerveja, ela de vinho. O frio imperava. Ela estava com aquela blusa decotada que me provocava os sentidos, coberta por um casaco elegante, uma saia longa, salto alto e muito mais bela do que percebera no primeiro momento. Reclamou do frio e mais se aproximou de mim. Bebeu do vinho e ficamos ouvindo as músicas românticas que tocava alto ali. - Eu adoro essa música -, disse-me quando a cantora interpretou “Todo sentimento” do Cristóvão Bastos e Chico Buarque. - É uma belíssima canção. Foi quando ela deitou a cabeça no meu ombro e ficou solfejando a canção no pé do meu ouvido. Outras canções vieram e ela assim, ora solfejando, ora tomando vinho, ora sussurrando no meu ouvido. Eu lhe passei o braço sobre os ombros para que ela melhor se acomodasse em mim. E ficamos assim curtindo. - Deu fome! -, disse-me com um jeito de quem tinha perdido as forças. - Quer jantar aqui ou em outro lugar? - Outro lugar. - Que tal no restaurante do hotel? - Ótimo. Vamos. Paguei a conta e pegamos outro táxi de volta para o hotel. Quando chegamos no restaurante o ambiente estava ameno. Ela logo pegou o cardápio fez o pedido dela e exigiu que eu fizesse o meu. Fizemos e continuamos a tomar cerveja e vinho. Com o silêncio do hotel pudemos conversar melhor e pela claridade também pude perceber quão linda ela era daquela forma meio cansada, meio exaltada, com sua branquitude que me tocava na alma. Bebemos, conversamos, viramos piadistas picantes, jantamos, ela bebeu umas 8 taças de vinho e eu já estava na terceira cerveja. Depois de nos encantarmos com todo fascínio do momento, ela avisou que ia dormir. - Vamos? -, disse-me com certo ar de desolada. - Vamos, eu lhe acompanho. Paguei a conta e saímos juntos, ela toda encolhida de frio e eu ao seu lado, não me fiz de rogado, e lhe abracei até seguirmos pro seu apartamento. Chegando lá, ela me fitou profundamente e disse: - Foi uma noite maravilhosa. - Maravilhosíssima. Obrigado pela companhia. - Eu que agradeço companhia tão importante! -, disse ela toda meiga. Foi nessa hora que ela pegando as chaves, virou-se para porta e voltou-se de repente para mim com um beijo abrasador. Eu me agarrei nela e curti tudo o que foi possível desse momento. Demoradamente. Deliciosamente. - Vem -, chamou-me abrindo a porta. Entrei e ela me agarrou mais safada, mais entregue. E eu lhe beijei tateando todo seu corpo, contornando seus seios e quadris, tomando pé de toda situação de sua geografia corporal. Ela me puxou e caímos na cama e eu beijando seu rosto e corpo, enquanto desatacava sua blusa e saia. Ao divisar seu ventre, arranquei-lhe a calcinha e beijei-lhe a púbis, lambi sua vagina e chupei seu grelo até a urrar de prazer. Danei a língua dentro dela e fiquei ali o tempo todo sorvendo sua delícia úmida até ela gritar de gozo. Ao gozar, ela me empurrou de lado e ficou sôfrega tentando equilibrar a respiração. Levantei-me e fui até a varanda fumar um cigarro. No último trago ela chegou perto, respirou na minha nuca, beijou-me os ombros e me virou para vê-la completamente nua naquela noite enluarada. Ela alisou meu tórax, passou a língua na minha pele e foi descendo até alcançar meu pênis refeito para a guerra: duro e em riste. - Lindo esse seu pênis! Disse isso e começou a beijá-lo com todo afeto de sua alma. Eu enrubesci e me deixei levar por sua provocação hábil. Logo começou a lamber e a engolir todo meu caralho, suspirando a cada chupada, ronronando com a felação e eu desmaiando de prazer. Ela mais se agigantava com movimentos mais bruscos dos lábios, língua e mãos. Ela engolia e tornava a engolir minha pica, deixando-me louco. Friccionava com fervor com meu pau entre as suas mãos, enquanto lambia e chupava enlouquecidamente. Mais ágil, mais frenética, mais bruscamente ela buscava o meu gozo que já expelia as primeiras gotas do meu sêmen, até jorrar por inteiro minha vida toda na sua boca. Eu quase morro de prazer e ela como faminta insaciável continuava lambendo, mordiscando, beijando, chupando lentamente até nada sobrar de mim naquela noite de dia dos namorados. © Luiz Alberto Machado.. Veja mais  aqui, aquiaqui.


DITOS & DESDITOSBrasil: Esse país ainda é a maior reserva de seres humanos do mundo. Isso é resultado da minha educação como um todo. Cresci na Áustria, antes da revolução. Meu pai sempre viajou muito. E fui educada nesse espírito de viagem, de várias línguas, de não ter medos de outras culturas. Pensamento da atriz, cineasta e cantora portuguesa Maria de Medeiros. Veja mais aqui & aqui.

ALGUÉM FALOU: Era um ato de devoção. Um pouco como escrever ou amar alguém — nem sempre achamos que vale a pena, mas, de alguma forma, não desistir disso faz um sentido inesperado depois de um tempo. Pensamento da escritora, atriz, cantora e artista estadunidense Miranda July.

LEMBRAR, ESCREVER, ESQUECER – [...] A imagem da literatura como sendo uma linguagem bela, mas vazia, que precisa de "recheio filosófico" para não se reduzir a uma brincadeira tão graciosa quanto fútil, tem seu oposto simétrico numa representação da filosofia como "pura" atividade intelectual, séria, profunda, complicada e incompreensível para o comum dos mortais (que, aliás, passa muito bem sem ela, o que torna questionável sua reiterada importância). Nesta estranha atividade, reservada a poucos, a comunicabilidade não importa tanto. Até no próprio meio filosófico, por exemplo na academia, reina certa desconfiança em relação aos aspectos formais mais apurados de uma palestra oral ou de um texto escrito de filosofia. Geralmente, estes aspectos são vistos como concessões ao público, ornamentos estilísticos prescindíveis, ou, ainda, como algo meramente metafórico ou meramente retórico. Ora, a afirmação implícita da existência de uma dimensão "meramente metafórica" ou "meramente retórica" repousa numa concepção acrítica, dogmática e mesmo trivial das relações entre pensamento e linguagem: como se o pensamento se elaborasse a si mesmo numa altivez soberana sem o tatear na temporalidade das palavras que, no entanto, o constitui. Dito de maneira mais simples: a concepção da literatura como algo belo, mas ornamental, superficial, supérfluo, e a concepção da filosofia como algo verdadeiro, mas difícil, incompreensível e profundo, esses dois clichês complementares perpetuam, no mais das vezes, privilégios estabelecidos e territórios de poder no interior de uma partilha, social e historicamente constituída, entre vários tipos de saber. Assim, os escritores e os poetas poderiam se dedicar ao sucesso e ao entretenimento, enquanto os filósofos continuariam aureolados pela busca desinteressada da verdade. [...]. Trecho extraído da obra Lembrar escrever esquecer (34, 2006), da filósofa, escritora e professora suíça Jeanne Marie Gagnebin. Veja mais aqui e aqui.

AMOR - Amor significa olharmo-nos / Como se olha as coisas não familiares, / Pois somos apenas uma entre milhares. / E quem assim se olha, mesmo sem saber, / De muitas mágoas o coração vai proteger. / E chama-o de antigo o pássaro e a árvore. / Então sim, quer desfrutar de si e de tudo / Para que tudo brilhe no clarão da plenitude. / E não importa não saber ao que servir, / Nem sempre serve melhor quem sabe. Poema do escritor polonês e Prêmio Nobel de Literatura de 1980, Czeslaw Milosz (1911-2004). Veja mais aqui.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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