A arte da educadora e artista plástica estadunidense Betty Dodson.
A LÍNGUA
NO ÁTRIO DAS DELÍCIAS - Imagem:
Oral sex (1968),
da educadora e artista plástica estadunidense Betty Dodson. – De repente eu me
vejo boca cheia com a minha língua beija-flor friccionando a ignição do eflúvio
mais que saboroso do teu isósceles invertido que goteja tesão no encontro das
coxas de tua nudez de janelas abertas e portas escancaradas. Não me furto, nem
posso; nem pestanejo, muito menos. E vou avançando sobre a cachoeira dos prazeres
de tua orquídea apetitosa para a libação exploradora do ventre até o âmago
deslumbrante de fruta boa madura, bainha do néctar de toda flora possível,
fruteira das maravilhas, roseiral de todos os perfumes. Vou determinado com
garra, ímpeto e loucura pelo depósito de luxúria com meus ósculos de paixão e
ela doida varrida, beijando, lambendo, chupando a drupa deiscente na dilatação
da vulva aflorada. E pela baga suculenta vou perquirindo as entranhas de cheiro
bom e provocante da tua terra, perscrutando teus segredos mais recônditos e
mais crescendo com meus arrojos pelas estalactites do gozo, pelas estalagmites
do cio, além da cratera de um vulcão em perene erupção de volúpia. Revolvo tudo
me lambuzando nesse repasto opíparo, na fartura do mel das tuas entranhas como
quem garimpa delícia no esconderijo da tua alma de gazela atilada, enquanto
faço-me glutão, dono absoluto, no átrio das delícias, para guardar os teus
sabores e cheiros na saliva da carne. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...]
O que importa é perceber que a existência
mesma dessas obras, a sua proliferação, a sua implantação na vida social
colocam em crise os conceitos tradicionais e anteriores sobre o fenômeno artístico,
exigindo formulações mais adequadas à nova sensibilidade que agora emerge
[...] Trecho extraído de Máquina e
imaginário: o desafio das poéticas tecnológicas (EdUSP, 1993), do pesquisador
Arlindo Machado.
O ANIMAL METAPHISICUS DE ARTHUR SCHOPENHAUER (1788 –
1860) – “O homem é o único animal capaz
de espanto, o único ser vivente que conhece a morte e se pergunta acerca do
significado do universo e de sua própria vida”. (Arthur Schopenhauer, A
necessidade metafísica). Veja mais aqui e aqui.
A POESIA – Ninguém ignora que a poesia é
uma solidão espantosa, uma maldição de nascença, uma doença da alma. Pensamento
do escritor, cineasta, dramaturgo, desenhista e
ator surrealista francês, Jean Cocteau (1889-1963). Veja mais aqui e
aqui.
CELSO FURTADO E A ATIVIDADE DO PESQUISADOR – “São muitas as motivações de um pesquisador.
Mas o fundamental é ter confiança na própria imaginação e saber usá-la. Essa
confiança significa a percepção de que se pode intuir uma realidade da qual se
conhece apenas um aspecto, à semelhança do que faz um paleontólogo. O valor do
trabalho do pesquisador traduz, portanto, a combinação de dois ingredientes:
imaginação e coragem para arriscar na busca do incerto. Isso me leva a fazer a
seguinte afirmação: a ciência é construída por aqueles que são capazes de
ultrapassar certos limites que hoje são definidos pelo mundo universitário. Daí
a tendência ao predomínio dos produtos enlatados que estão na base do prestigio
do saber acadêmico. Por motivos que não cabe abordar agora, muitas pessoas de
talento se frustram no mundo universitário”. (Celso Furtado, O capitalismo
global). Veja mais aqui e aqui.
O QUEIJO E OS VERMES – A
obra O queijo e os vermes do historiador judeu-italiano, Carlo Guinzburg, publicado em 1976 com
tradução de Maria Becinia Amoroso com
posfácio de Renato Janine Ribeiro, relata o cotidiano e as ideias do moleiro
Menocchio perseguido pela Inquisição, abordando desde a aldeia, o primeiro
interrogatório, de Concordia a Porrogruaro, luteranos e anabatistas, os livros,
o funeral de Nossa Senhora, o pai de Cristo, o dia do Juizo Final, Mandeville,
pigmeus e canibais, queijos místicos e reais, o monopólio do saber, as palavras
de Fioretto, entre outras interessantes narrativas. Veja mais aqui.
A arte da educadora e artista plástica estadunidense Betty Dodson.
A vida pode ser colorida.
Pode até parecer acromática,
possuir textura lisa ou rugosa.
Em preto e branco,
ou nas cores de uma aquarela,
a vida pode ser poesia e prosa:
estilo lírico, irônico, prolixo
- sem estilo algum - .
Estática, estética,
etílica,
típica ou atípica
: a vida, pincelada à sua moda - .
Decida
: você é o artista da sua vida
e com um pouco de cor poderá transformá-la;
com bom-humor, moldá-la,
para que fique mais bela.
-*-
que te desmanches suave
na mistura de seivas
que sua um final de tarde
se o suco da chuva
sucede à seca do pôr-do-sol
que te diluas [som]
em cromáticos semitons
e se acaso a lua
oscilar tua firmeza
nas ressacas
que a maré provoca
: que te dissolvas
: na certeza das águas mansas
na serena dança das ondas
na branda espuma de um poema
seja essa paz no horizonte
uma efervescente
saudade sua
que por ocaso
me inclua
-*-
eu te amo
pouco e mundo
eu te amo
segundo e há tempos
amo sim e sem-razão
sensatamente amo não
amo senão quando
quem sabe um dia
então
eis que
de modo algum
eu te amo
entretanto amo:
toda via
tal vez
por tanto
com tudo
e tão
[só mente
se]
-*-
VIÚVA NEGRA
para cada boca
que me sorve
sirvo
o mesmo veneno
vario
conforme o beijo
a dose de ar
cênico
-*-
PANTOMINA
prefiro o gesto, à palavra
sou mais o não dito, subentendido
no jeito mundo que ele me toca
me toca fundo
essa cena muda
me deixa úmida
in loco
-*-
molda-se
- justo –
aos meus desmandos
adapta-se
ao feudo
de meus medos
avassala
meus domínios
doma
meus demônios
mina
minha desmedida
insânia
....
ganha
meu reino
abandona a rima
em ruínas
-*-
meu amado
tem nome
sobrenome
endereço fixo
rg cpf cnh
título disso e daquilo
cartão de banco
de crédito
de ponto
o que mata
nesse cara [vivo]
é o atestado de óbvio
: casado
[aos tantos dias
de tal ano
se uniram
em matrimônio
fulana - ela –
e beltrano
- esse elemento
cheio de números
inúmeros papéis
e - naturalmente –
ao meu conjunto
não pertence]
-*-
DÉCOUPAGE
Uma tênue essência tua
sobrepõe-se à minha pele
envolvendo-me as partes nuas.
Camada a camada,
a matéria, acomodada, estende-se
por minhas estalagens,
adulterando a paisagem.
Culmina, besuntando-se da resina
que de minha boca escoa.
Esta escama que aplicaste
- sobrepele que de mim destoa –
é a roupagem que ora me veste.
Esta colagem que me forra
- e que a mim se adere –
é minha segunda pele:
tua imagem decomposta.
Sob a casca esconde-se
o que nos funde,
o que nos alastra,
o que nos une,
o que nos afasta.
Sobre a derme processada,
o passado dormente:
estampado,
estagnado,
embalado no presente.
-*-
A ARTE DE CHORAR-TE
Ontem chorei. Chorei, como choro quase sempre. Nem sempre, um choro molhado. Ontem chorei um choro estrangulado, ressequido, mais sentido que muito pranto derramado.
Ninguém notou que eu chorava convulsivamente. Não houve testemunha do meu quase-afogamento na secura.
Lágrimas aliviam, lavam a alma. Lágrimas são solventes, dissolvem mágoas. Lágrimas são coadjuvantes, no processo de abrandar a dor. E lágrimas são aparentes, rolam soltas, irrefreáveis, pela face. Dificilmente representam um monólogo. Os olhos incham, há vermelhidão. Lágrimas são, também, protagonistas. Meu choro seco, não, mas é melhor artista.
Ontem chorei a seco. Tratei amargura como roupa fina. Tecido que requer cuidado redobrado. Sequei minha tristeza à sombra de mim mesma. Depois, a passei a vapor. Temperatura amena, como prescreve a etiqueta.
Ninguém notou que retirei as nódoas e alisei os vincos de meu coração mendigo. Assim como ninguém percebe o estado de penúria em que se encontra: esmolando, mas pedindo pouco. O suficiente para sobreviver.
Ontem chorei. Atravessei o dia, invadi a noite, transcorri madrugada sem conter o choro. Já era hoje, eu chorava. Ainda choro.
Ninguém notou. Nem a fronha de meu travesseiro – cúmplice de meus pensamentos, minha melhor amiga -, perfumada e enxuta, permaneceu, indiferente ao choro que só eu sei, chorei.
No travesseiro ao lado, molhado de suor, marcas de uma noite bem dormida. Tranqüila e úmida, notei.
VALÉRIA TARELHO – A poeta e advogada paulista Valéria Tarelho já participou de diversas antologias publicando seus trabalhos, a exemplo da Antologia Com Licença da Palavra (Ed. Scortecci, 2003, poesia) Antologia Brasileira de Poetas Contemporâneos, vols. 1 a 7, da CBJE, dentre outras. Atua, como colaboradora no portal valedoparaiba.com, seção de poesia e no site Escritoras Suicidas.
MUSA DA SEMANA
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de cada um de nós, Italo
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