BAMBAQUERÊ NO
ELASTÉRIO - Por
volta de 1983 a correria era grande, trabalho, faculdade, preparativos pro
show. Já havia lançado o meu segundo livro de poesia, o A intromissão do Verbo.
Também o Grupo III Produções Artísticas, sob a direção de José Manoel Sobrinho,
fez a leitura do meu segundo texto teatral A viagem noturna do sol, na sala
Clênio Wanderley, na Casa da Cultura de Recife. Nem os atores gostaram do
texto, imagine. José Manoel como era teimoso, preparava a direção de um show
meu com participação especial de Augusto César. Preparava porque não fosse eu
acometido por um acidente brabo, a coisa ia dar para lá de certo. Certa manhã
eu saí de casa ainda ressacado da correria e da cerveja, quando perdi a
paciência de esperar o ônibus Pinheiros sempre atrasado e sem hora para passar,
e desci a avenida até o cruzamento com a rua Arquiteto Luis Nunes. Cheguei na
guarita e fiquei conversando com uns vizinhos enquanto aguardava a condução.
Eis que dois automóveis entabacados e fizeram o maior embucetamento! Era o
cruzamento entre as duas vias e colidiram. Um deles me pegou quando eu estava
escorado num poste e embaixo da marquise. O carro errou o poste e me acertou.
Por sua vez, eu arrastei mais uns três comigo. Fiquei com a cara enfiada na
lama entre o meio-fio e o asfalto. Socorreram os outros porque me deram por já
falecido, amém. Não sei quanto tempo depois, eu me virei querendo berrar. Foi
que me socorreram e me jogaram numa maca no Hospital da Restauração. Lá, pelo
que pude ver, tinha mais de quinhentas macas jogadas ao abandono, embaixo de
umas bocas de ar condicionado que engelharam meus dedos e me prepararam para
uma tuberculose. Ia morrer de qualquer jeito. Cheguei lá no monturo por volta
dumas oito horas da manhã e só uma hora da tarde foi que me atenderam, quando a
assistente social do banco chegou com meus familiares. Começaram a me examinar,
tiraram raio X, costuraram a ponto cru um samboque atrás da minha orelha
esquerda – a anestesia não pegava porque eu ainda estava com aquele famoso bafo
de cachaça peculiar. O médico providente antes de costurar o talho, mandou
retirar todas as mulheres do recinto porque sabia que eu ia me estuporar todo.
E foi: ele cerzia meu juízo e eu comia a mulher dele, a filha dele, a mãe dele
e o cu dele e de todos os que estivessem por ali. Uma dor da porra! Depois
disso, enrolaram meu braço esquerdo numa tipoia para lá de malfeita e me arrastaram
para ambulância que findou me metendo dentro do carniceiro Neuro. Quando
cheguei lá, às carreiras me sacolejaram para uma enfermaria, fizeram uma
bandagem apertada no meu braço esquerdo e me deixaram lá com a cabeça zunindo,
o braço doendo e o mundo reduzido a um velho que estava deitado de lado e só
mexia os olhos. Do outro lado, um sujeito nu com uma bala na nuca e cheio de
soro e sangue por todo o corpo. Anoiteceu e a bicharada comeu a noite toda:
insetos e viados. Era cada mutuca que levantava uns calombos doloridos na minha
carne. Os viados – nada contra, mas que fui maltratado, fui! - eram os
enfermeiros que chegavam na maior risadagem perguntando se eu não queria mijar.
Como estava com o braço esquerdo inutilizado, eles queriam fazer a festa
comigo. E fizeram: e me levaram pro banheiro, arrearam meu pijama, pegaram no
pingolim, esperaram eu mijar e depois ficaram acariciando meu membro e ainda
diziam: - Não reclame, nem faça nada, deixe com a gente senão você se fode. Coitado
de mim, eles brincaram com meu mijador um bocado de tempo, mesmo eu
desminlinguido com a cabeça rodando de um zoadeiro sem fim e sem força pra
fazer nada. Eles amolegavam tanto que quando viram que eu não levantava nada,
iam embora para lá de chateados. Dois dias depois abandonado ali, comecei a
espernear até que meus parentes puderam entrar e eu convencê-los de que queria
sair dali urgentemente. A assistente social contrapondo o meu desejo alegou
que, por se tratar de acidente do trabalho, se eu saísse o banco não teria mais
nenhuma responsabilidade comigo. Ainda mais tinha a ameaça médica de que eu
poderia endoidecer a qualquer momento. Bem, doido sempre fui. Uma loucura a
mais, não faria a menor diferença. Saí assim mesmo. Foram três meses e meio de
fisioterapia na clínica de fraturas. E ainda fui levado pela polícia para depor
sobre o acidente: - Eu estava de costas, escorado num poste, embaixo da marquise
da guarita de passageiros. Quando dei fé, só ouvi o barulho da frenagem e
depois de um tempo, me acordei ensanguentado deitado no asfalto, foi o que vi. Escapei
dessa, quase bato as botas de verdade. Ponto final. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Do princípio ao sem-fim (2006), da cantora Sandra Duailibe. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – Os
eruditos são aqueles que leram livros; mas os pensadores, os gênios, os
iluminadores do mundo e os promotores do gênero humano são aqueles que leram
diretamente no livro do mundo, trecho do filósofo alemão Arthur
Schopenhauer (1788-1860). Veja mais aqui e aqui.
COMUNHÃO – O educador, cientista e escritor checo
Comenius - Jan Amos
Komenský (1592-1670), é autor de diversas obras, entre elas Labirinto do Mundo (1623), O Anjo da Paz (1667) e A
Única Coisa Necessária (1668), entre outras, das quais destaco o trecho: Queremos que os seres humanos, individual e
coletivamente, jovens ou velhos, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, homens ou
mulheres, possam ser plenamente educados e se tornar seres humanos realizados.
Queremos que sejam perfeitamente instruídos e informados, não apenas sobre um
ou outro ponto, mas também sobre tudo o que permite ao ser humano realizar
integralmente sua essência, aprender a conhecer a verdade, não ser enganado por
falsos pretextos, amar o bem e a não ser seduzido pelo mal, fazer o que deve
ser feito e evitar o que precisa ser evitado, falar com sabedoria de tudo em
com todos, e nunca se desviar de seu objetivo maior, que é a felicidade.
Veja mais aqui.
TRÊS
CIDRAS DE AMOR – No
livro Literatura oral no Brasil
(Itatiaia, 1984), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), no
qual destaco a narrativa das Três cidras de amor: Um príncipe andando à caça encontrou três cidras e abriu a primeira
quando teve sede. Apareceu uma formosa menina, pedindo água e morreu por não a
beber. O mesmo sucedeu à segunda. A terceira, ainda mais bonita, viveu porque o
moço lhe deu água. Levou-a para o palácio e como estivesse despida fê-la subir
a uma árvore e esperar que ele voltasse, trazendo roupa. A moça ficou oculta
entre a folhagem dos ramos. Uma preta veio encher a cantarinha d’água e, vendo
refletida na fonte a face da moça encantada, julgou ser a própria e fritou,
quebrando o pote: - menina tão bonita não deve andar a carregar água. A moça
riu e a preta, avistando-a, acariciou-a muito, indo catar0lhe a cabeça e
meteu-lhe um alfinete num ouvido, transformando-a em pomba. Quando o príncipe
voltou e viu a negra, feia e preta, perguntou pela moça. – Sou eu, príncipe,
que fiquei crestada pelo sol! O príncipe levou-a e casou com ela. O hortelão do
rei quando regava as flores, viu uma pomba branca que perguntava pelo rei e
pela preta Maria. O hortelão respondia e a ave se queixava de viver perdida. O
rei, sabendo do fato, mandou armar um laço de fita para pegá-la. Inutilmente.
Substituíram-no por um de prata e só se deixou cair em um de ouro. O rei
começou a afaga-la e deparando a cabeça do alfinete, puxou-o, tirando-o. A moça
desencantou, sendo reconhecida. Mataram a preta e viveram felizes para sempre. Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
ILUSÃO – Entre os poemas da escritora,
pedagoga, psicóloga e professora Wanderlúcia Welerson Sott Meyer, destaco o seu belíssimo poema Ilusão: Há muito deixei de correr atrás das borboletas / São
encantadoras, mas dificilmente criam laços... / Não estabelecem vínculos. / Prefiro
observá-las / Inebriar-me com a desenvoltura de suas asas / Deixá-las livres
para que sigam seu destino. / Enquanto contemplo / Entrego-me aos sonhos... / Indagação
sincera... / Como seria se permanecessem ao meu lado? / Encantariam com sua
beleza? / Ou se converteriam em realidade? Veja mais aqui e aqui.
DAS
AMOROSAS AO MOGLI - A
atriz de teatro, cinema e televisão Júlia
Lemmertz, estreou sua carreira de atriz ainda criança, tendo feito a sua
primeira atuação no cinema, aos cinco anos de idade, ao lado da mãe, no filme As
amorosas (1968). Mais tarde, em 1971, atuou no filme Cordélia, Cordélia.
Ela começa no teatro com a Lição de Anatomia (1982) e seguem-se Gemini (1983),
O que o mordomo viu? (1986), Orlando (1989), Viagem ao centro da terra (1992),
Hamlet (1993), Eu sei que vou te amar (1994), As três irmãs (1999), Molly Sweeney
(2006), Rastro de Luz (2009) Maria Stuart (2010), entre outras. No cinema
atuou nos filmes As aventuras de Mário Fofoca (1982), Patriamada (1984), Mal
Star (1984), A cor do seu destino (1986), Lua de cristal (1990), Vaidade
(1990), Amor materno (1993), Jenipapo (1995), Glaura (1997), Mangueira, amor à
primeira vista (1997), A hora mágica (1998), Um copo de cólera (1999), Até que
a vida nos separe (1999), Amor que fica (1999), Tiradentes (1999), Nelson Gonçalves
(2001), Joana e Marcelo, amor (quase) perfeito (2002), Poeta de sete faces
(2002), Acquária (2003), Cristina quer casar (2003), As três Marias (2003),
Jogo subterrâneo (2005), Gatão de meia idade (2006), Onde andará Dulce Veiga?
(2007), Mulheres sexo verdades mentira (2008), Meu nome não é Johnny (2008),
Bela noite para voar (2009), Do começo ao fim (2009), Amor? (2011) e Mogli, o
menino lobo (2016). Também fez muito sucesso na televisão participando de
diversas novelas. Veja mais aqui e aqui.
FEMME
FATALE – O filme de
suspense Femme Fatale (2002), dirigido pelo cineasta estadunidense Brian De Palma, é
baseado no livro de James Ellroy e conta a historia de uma mulher que depois de
enganar seus parceiros foge
com diamantes. Sete anos depois ela muda de nome e se casa com o embaixador dos
Estados Unidos e passa a morar na França. Mas os fantasmas de seu passado
voltam a atormentá-la quando um fotógrafo tira uma foto sua. O destaque do
filme é para a atriz e modelo estadunidense de origem holandesa Rebecca
Romijn. Veja mais aqui e aqui.
VEJA MAIS:
As trelas do Doro, Doris Lessing, Maria Martins, Jean-Claude Brisseau, Virginie Legeay, Octave Tassaert & Jade da Rocha aqui.
Martin Buber, Julio Verne, Abelardo e Heloisa, Pier Paolo Pasolini, Vangelis, Gustave Courbert, Rick Wakeman & Arriete Vilela aqui.
Wolfgang
Amadeus Mozart, Bronislaw Malinowski, Lendas Africanas, Silvio Rabelo, Bertrand
Bonello, Anna Wakitsch, Sharon Bezaly, Paul Gustave Doré, Ju Mota, Jaci Bezerra
& Ivoneide Lopes aqui.
FECAMEPA - Gentamiga do meu Brasil do piriri-pororó!Depois que o Governo Federal respondeu minha crôniqueta "Quando o troço da CPMF entra no oba-oba do ora veja!" (veja detalhes no post abaixo), parece que a coisa mais se assanhou! Afinal, a intenção é uma; a destinação, é outra. É ou não é? Pergunto: se tem CPMF por que a saúde está em petição de miséria? Só tem saúde no Brasil quem pode usufruir de uma previdência privada. E os outros? ou melhor: e a grande maioria dos brasileiros, hem? Hum.... me responda quem for capaz.Pois bem, mais gente se manifestou a respeito e registramos as palavras de:Sônia van Dijck, escritora, poeta e professora universitária Antonio Washington de Almeida Gondim, professor universitárioSilas Correa Leite, poeta Revista Veja e mais:Celso Corrêa de Freitas, Carmen Sodré, Manoel Lima, Ligia Tomarchio, Floro Dória, Marcus Aranha, Eloy & Sally, Gorete Oliveira e Walter Medeiros (veja mais manifestações nos posts abaixo).Para ver tudo que já foi manifestado é só checar no Fórum do Guia de Poesia. E mais aqui.
Mulher nua, do pintor,
artista gráfico e ilustrador estadunidense Edward
Hopper (1882-1967). Veja mais aqui.