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terça-feira, junho 19, 2018

CALVINO, DAZAI, CHICO BUARQUE, MERLEAU-PONTY, JOSÉ RIZAL, RIBEMONT-DESSAIGNES & MIGRANTES


DESMANTELO SÓ PRESTA GRANDE – Imagem: Silence (1915), do pintor, escritor e dramaturgo francês Georges Ribemont-Dessaignes (1884-1974). - A função começou cedo no domingo, bastou o pé-de-serra ditar o ritmo das horas logo de manhãzinha. Umas aos outros se achegando com alvoroço: É hoje! Estalos de tampas das garrafas, assados no fogareiro, correria pra lá e pra cá arrumando as coisas, lapadas de dois-dedos amargando na garganta, viradas de copo na lavada, caretas, tinindos, papo vai, papo vem: É hoje que vou lagar a jega! A coisa passou de chegança pra pandemônio: Vamos nessa, Brasilzilzilzil!, gritou um exaltado. Ninguém revidou, só aplausos e torcida. Uma risadagem aqui, uma pilhéria ali, e a coisa foi tomando ares incontroláveis. Não era nem meio-dia e o movimento ganhou pressão. Gente até de um olho só se amontoava como podia puxando tamboretes, aglutinando mesas, cada qual dimensionando o seu espaço: Arreda, vai! Aqui sou eu! No fundo havia uma esfuziante confraternização, abraços, beijos, apupos, enxerimentos, provocações e ameaças veladas. O rastapé já se insinuava, a poeira comia no centro com o arrastado dos solados. Segura o trupé, gente!, berrou o sanfoneiro castigando no dedilhado, a zabumba e o triângulo só na marcação. Rodadas de saias, encoxamentos, fungados e uma exigência de respeito: Para tudo! Atenção, mundiça, respeito no salão que isso é de família! E tudo voltava ao normal com o baticum comendo no centro. Daí a pouco a coisa fervia com o mormaço da tarde. Suores na pegação, odores de festança, comes e bebes, embeiçadas, arregueiros de plantão, o fuá corria solto e tudo na santa paz. Havia chegado a hora, ajeitaram a tevê em cima da mesa, ninguém aí porque ainda era hora dos hinos. Ao apito do juiz, imperou o silêncio, olhos grudados, nem um pio – cachorro que latisse ou bicho que aparecesse com o menor zumbido, era enxotado -, só Galvão balançando as besteiradas e aumentando a tensão. Unhas roídas, pernas inquietas, maior concentração para não se perder o mínimo lance. Alguns minutos e a explosão: gol! Dá-lhe, Brasil! Uma ovação. Ah, pelo jeito esse será de lavagem! Não foi, passou-se o tempo, acusaram o juiz de ladrão, os jogadores de pernas-de-pau, o técnico de burro, enfim, duzentos milhões de torcedores dando pitaco em cada jogada. Findou o primeiro tempo e o alívio instalou-se por ali. Filas no banheiro, pedidos renovados e aos montes, empolgações e ranzinzices: Quero só ver a lapada agora! Ufanidades à flor da pele: Essa vai ser de lambuja! Segura a onda, comboio de corno, que a coisa recomeçou! É agora! Não foi. Nem bem começou o segundo tempo, gol contra: Isso é a porra, meu! Placar empatado: Vamos partir com tudo! E foi, não deu. Os minutos passavam e os nervos aflorados: Esse timeco é só de faro! Se fosse o Sport já tava dez a zero! Deixa de pacutia, alesado! Ôxe, o Sport num ganha nem prum time de várzea, tinha que ser o meu Santa Cruz pra dá uma goleada medonha! Vixe, nenhum docês sabem nada, se fosse o Náutico já tinha mandado os gringos pra casa! E a coisa esquentou, entrou em ebulição: Aparta! Acalmaram os ânimos ainda remoendo e a bola ia e vinha e nada de entrar: Isso é a cega Dedé! Eu mesmo vou torcer agora pros gringos! Cala boca, fresco! Fresco é seu pai! Fecha o bico, viado! Puta é a sua mãe! Pulha pra lá, desaforo pra cá, deu-se a arenga e o pau cantou: cachaça, tapa e gaia! Segura o pencó, putada! Pega esse corno da gaia mole! Facas e canivetes empunhadas, bastou um pipoco de bala, correu todo mundo. E o jogo findou empatado pra prejuízo de todos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do escritor, teatrólogo, compositor, músico e cantor Chico Buarque: Carioca, Na carreira, As cidades & Le Zenite ao vivo & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] a experiência da percepção nos põe em presença do momento em que se constituem para nós as coisas, as verdades, os bens: que a percepção nos dá um logo em estado nascente, que ela nos ensina, fora de todo dogmatismo, as verdadeiras condições da própria objetividade: que ela nos recorda as tarefas do conhecimento e da ação. [...]. Trecho extraído de A linguagem indireta e as vozes do silêncio (Martins Fontes, 1991), do filósofo fenomenólogo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Veja mais aqui.

SEIS PROPOSTAS PARA O PRÓXIMO MILÊNIO[...] A mente do poeta, bem como o espírito do cientista em certos momentos decisivos, funcionam segundo um processo de associações de imagens que é o sistema mais rápido de coordenar e escolher entre as formas infinitas do possível e do impossível. A fantasia é uma espécie de máquina eletrônica que leva em conta todas as combinações possíveis e escolhe as que obedecem a um fim [...] que futuro estará reservado à imaginação individual nessa que se convencionou chamar de “civilização da imagem”? [...] Na sua sabedoria e pobreza molisanas, o doutor Ingravallo [...] sustentava, entre outras coisas, que as catástrofes inopinadas não são jamais a consequência ou o efeito, como se costuma dizer, de um motivo único, de uma causa singular: mas são como um vórtice, um ponto de depressão ciclônica na consciência do mundo, para as quais conspirava toda uma gama de causalidades convergentes [...]. Trechos extraídos da obra Seis propostas para o próximo milênio (Vozes, 2000), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Veja mais aqui.

A MULHER DE VILLON – [...] ― Quando a guerra começou, e os bombardeios passaram a ficar mais perigosos, ainda assim continuamos em Tóquio. Não tendo filhos nem outros motivos para nos deslocarmos para o interior, decidimos continuar o negócio até que nos caísse uma bomba na cabeça. Se mantivéssemos nosso negócio até o fim da guerra, ainda que sofrendo, teríamos enfim um alívio. Por isso, acabamos produzindo álcool ilícito, por pouco tempo, apenas o suficiente para reabastecer nosso estoque. E, ainda que por pouco tempo, não tivemos muita dificuldade — até um pouco de sorte. Mas essa vida sempre prepara algo de ruim para nós. É como dizem, para cada sun de felicidade, há um shaku de maldade. É realmente uma verdade. Se, em um ano, você tiver um dia, ou mesmo meio dia, sem nenhum problema, pode se considerar uma pessoa de sorte. [...] ―Senhora, esta foi a única vez, de todas, que recebemos algum dinheiro dele. Desde então, ele só vem, há três anos, nos enganando e empurrando com a barriga sem pagar sequer um tostão. Bebeu todo o nosso estoque de álcool quase sozinho, secou tudo, é inacreditável! Então, sem nem perceber, comecei a gargalhar. Não sei exatamente qual era a graça, mas não consegui me segurar. Confusa, cobri a boca, mas, ao olhar para a senhora com o canto do olho, percebi que, estranhamente, ela também ria. E então seu marido também, sem outra opção, esboçou um riso triste. [...] Novamente, de algum lugar na história toda, alguma graça pareceu ter se apossado de mim, e eu ri em voz alta, não conseguindo me segurar. Gargalhava, enquanto a senhora deu um leve sorriso, ficando com o rosto vermelho. Eu, sem conseguir parar de rir, comecei a pensar mal de meu marido e me veio um sentimento estranho e engraçado ao mesmo tempo, e comecei a chorar, enquanto seguia rindo. Lembrei de um de seus poemas, ―Gargalhada dos frutos da civilização, e pensei se não era a esse sentimento que ele estaria se referindo. [...]. Trechos extraídos de La Femme de Villon (Rocher, 2005), do escritor japonês Osamu Dazai (1909-1948). Veja mais aqui.

MEU ÚLTIMO ADEUS - Adeus, Pátria adorada, região de sol querida. / Pérola do mar de Oriente, nosso perdido Éden! / Vou te dar alegre a triste e murcha vida. / E fosse mais brilhante, mais fresca, mais florida, / Também para ti daria, a daria para teu bem. / Em campos de batalha, lutando com delírio / Outros te dão suas vidas, sem dúvidas, sem pesar; / O lugar não importa: cipreste, laurel ou lírio. / Cadafalso, campo aberto, combate ou cruel martírio. / São iguais quando as pedem a Pátria e o lar. / Eu morro quando vejo que o céu se colora / E o fim anuncia o dia atrás, lúgubre capuz; / Se carmesim necessitas para ter tua aurora, / Verte meu sangue, derrama-o em boa hora / Doura-o com o reflexo de sua nascente luz. / Meus sonhos quando apenas moço adolescente, / Meus sonhos quando jovem já cheio de vigor, / Foram te ver um dia, joia do mar de Oriente, / Com olhos sem lágrimas, de testa reluzente / Sem cenho, sem rugas, sem mancha de rubor. / Sonho de minha vida, meu ardente anseio, / Salve! Grita a alma que logo irá partir! / À tua liberdade caio feliz sem receio! / Morrer pra dar-te vida, morrer em teu seio / Encantada terra, a eternidade dormir. / Se sobre meu sepulcro vieres brotar um dia, / Entre espessa erva, simples e humilde flor, / Aproxima teus lábios e beija minha alma / Que sinta no rosto embaixo da tumba fria / De tua ternura o sopro, de teu hálito o calor. / Deixa a lua me ver com luz tranquila e suave, / Deixa que a alva envie resplendor fugaz, / Deixa gemer o vento com seu murmúrio grave; / Se baixar e pousar sobre minha cruz uma ave, / Deixa que entoe seu lindo cântico de paz. / Deixa que o sol ardente as chuvas evapore / E ao céu voltem puras com meu clamor de adeus, / Deixa que um ser amigo meu fim precoce chore / E nas serenas tardes quando por mim alguém ore / Ora também, oh Pátria, por meu descanso a Deus! / Ora por todos quantos morreram sem ventura, / Por quantos padeceram tormentos sem igual, / Por nossas pobres mães que gemem sua amargura, / Por órfãos e viúvas, por presos em tortura / E ora por ti que vejas tua redenção final. / Quando noite escura envolve o cemitério / E só, apenas mortos ficam velando ali / Não perturbes repouso, não perturbes mistério; / Talvez acordes ouças de cítara ou saltério / Sou eu, querida Pátria, sou eu que canto a ti. / E quando minha tumba de todos esquecida / Já não tiver cruz nem pedra que marque seu lugar, / Deixa que a are o homem, que espalhe com inchada / E minhas cinzas, antes que retornem a nada, / O pó do teu tapete permite que vão formar. / Então nada me importa que me ponhas no olvido; / Teu céu, teus montes, prados e vales eu cruzarei / Vibrante e limpa nota serei ao teu ouvido, / Aroma, luz, cores, rumor, canto e gemido / Sem cessar a essência de minha fé ecoarei. / Minha Pátria adorada, dor de minhas dores. / Querida Filipinas, ouça o último adeus, / Aí te deixo tudo, meus pais e meus amores. / Vou aonde não há escravos, verdugos, opressores. / Aonde a fé não mata, aonde quem reina é Deus. / Adeus, pais e irmãos, pedaços de minha alma, /Adeus amigos da infância do perdido lar, / Deem graças que descanso do fatigante dia. / Adeus, doce estrangeira, minha amiga e alegria! / Adeus, queridos seres, morrer é descansar. Poema do escritor, jornalista, oftalmologista e revolucionário nacionalista filipino José Rizal y Alonso (1861-1896).

O MIGRANTE
O documentário O migrante (2007), direção de Beto Novaes, Francisco Alves e Cleisson Vidal, com edição de Luiz Guimarães, apresenta as condições trabalhistas desumanas de cortadores de cana e mostra a hipocrisia do discurso da “modernidade” no campo brasileiro e expõe realidade dos migrantes nordestinos. É o resultado de parceria entre quatro universidades federais; a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tendo sido lançando Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em 2007, e exibido em uma série de eventos posteriores. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.


XV Fórum do Forró & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte do pintor, escritor e dramaturgo francês Georges Ribemont-Dessaignes (1884-1974).
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O cinema brasileiro aqui e aqui.
&
Ad captandum vulgus, Aprender a viver de Luc Ferry, a literatura de Salman Rushdie, o balé de Allison DeBona, a pintura de Renata Brzozowska & a poesia de Léa Marinho aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.
 

sexta-feira, julho 12, 2013

LUKÁCS, GASSEL, RIZAL, DAZAI, RENIA SPIEGEL & LITERÓTICA

DOIS POEMETOS DE AMOR DEMAIS PARA ELA – I – BEIJU - Ela dá de ombros e eu só escombros nos assomos dela. É quando revela secreta, peito nu, alma aberta, toda delícia, verdadeira sevícia no meu bocejo. Ela me dá um beijo e se mostra atiçada e vem toda ouriçada pra cima de mim. E assim acende o beiju abalando Bangu e toda redondeza. E se faz minha presa e, também, a caçadora, a total predadora e rendida de graça. Quando meu beijo perpassa, ela rasteja lagartixa que bem muito se espicha sobre meu território. E no seu envoltório, se arrasta, rasteja, arrebata, viceja e me faz mais feliz. II - GULA VORAZ - Quando ela quer, em mim se advinha: o ventre em colher larga a sianinha. Ela então se aninha, ficando de conchinha, em marcha-à-ré. É quando ela quer, olhos de oásis. Nada mal-me-quer, nem para análise. E quando ela quer e seus lábios de espera vencem a primavera e todo verão. Tudibão! E quando ela quer de manhã - que mulher! - ela cunhã vem com todo terém, manda ver. Benzadeus, seu ser: uma gracinha. Quando as linhas da sua palma envolvem minhas mãos até minha alma. E logo de chegada dá logo um treino: me beija como quem quer me dar todo o seu reino, ah que talento nato. E me faz de novato, marinheiro de primeira viagem. E cai na vadiagem de invadir meus recantos. Dou-lhe asa enquanto ela se faz mais mulher. É quando mais ela quer com o dorso agoniado. E dos seus flancos alados se faz deusa que dança. Balança estrutura, lança, vence e apura, convence e arromba todas as fechaduras, sou todo seu por abrigo. E diz que esse é o castigo, domado da vontade ao postigo que vai dar na sua inquietude de quem perdeu latitude, tudo o mais e que só eu sou todo seu ademais. Zas-trás! Grudo nela, ah, tudo nela a ver comigo. E maldigo, erramos a conta, nem damos conta que arrasou geral. No mais alto astral ela se esparrama e se lambuza na lama do meu corpo, verdadeiro mar revolto que nunca foi tão maravilhoso eito, nunca antes do maior proveito, que jamais dissipasse toda permanência e, por coincidência, lavasse o fogo na face e mais se debatesse quando irrompesse o gozo, a única atmosfera. É ela na vera toda louvada e lavada grata e sem nexo. Até ser no meu sexo crucificada. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aquiaqui.

 


DITOS & DESDITOS - Aquele que muito ama também tem muito que sofrer. Os que estão morrendo não precisam de remédios, os que ficam, sim. O exemplo pode encorajar outros que apenas temem começar. O gênio não tem país. Floresce em todos os lugares. O gênio é como a luz, o ar. É a herança de todos. Morro sem ver a aurora iluminar minha terra natal. Você que tem que ver, dê as boas-vindas - e não se esqueça daqueles que caíram durante a noite! Pensamento do escritor, jornalista, oftalmologista e revolucionário nacionalista filipino José Rizal y Alonso (1861-1896). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU - Contanto que eu possa fazê-los rir, não importa como, eu ficarei bem. Se eu conseguir, os seres humanos provavelmente não se importarão muito se eu permanecer fora da vida deles. A única coisa que devo evitar é me tornar ofensivo aos olhos deles: Eu devo ser nada, o vento, o céu. Pensamento do escritor japonês Osamu Dazai (1909-1948), Veja mais aqui.

 

ARTE, ESTÉTICA & SOCIEDADE – [...] Se estamos em condições de reconhecer o percurso do gênero humano e utilizá-lo para nosso desenvolvimento individual, devemos isto à arte, às realizações do reflexo artístico; do mesmo modo, não seriamos capazes de avançar individualmente se nosso desenvolvimento não estivesse fixado, interpretado, criticado pela nossa memória individual e pela consciência que emerge desta base. [...] As forças sociais que o artista apreende, figurando o seu caráter contraditório, devem aparecer como traços característicos dos personagens representados, ou seja, devem possuir uma intensidade de paixão e uma clareza de princípios que não existem na vida burguesa cotidiana; e ao mesmo tempo, devem se manifestar como características individuais de um indivíduo concreto. [...]. Trechos extraídos da obra Arte e Sociedade: escritos estéticos 1932-1967 (EdUFRJ, 2009), do filósofo, crítico literário e pensador marxista húngaro Georg Lukács (1885-1971), que em outra de suas obras, Introdução a uma estética marxista (Civilização Brasileira, 1970), acrescenta que: [...] A vida reproduz sempre o velho, produz incessantemente o novo, a luta entre o velho e o novo penetra em todas as manifestações da vida [...] Já que a arte representa sempre e exclusivamente o mundo dos homens, já que em todo ato de reflexo estético o homem está sempre presente como elemento determinante, já que na arte o mundo extra-humano aparece apenas como elemento de mediação nas relações, ações e sentimentos dos homens, deste caráter objetivamente dialético do reflexo estético, de sua cristalização na individualidade da obra de arte, nasce uma duplicidade dialética do sujeito estético, isto é, nasce no sujeito uma contradição dialética que, por sua vez, revela também o reflexo de condições fundamentais do desenvolvimento da humanidade. Trata-se aqui da relação entre homem e humanidade. [...], Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

CORPO PORNOGRÁFICO – […] O corpo não obriga o espírito, ele o dá um contexto de expressão […] Eu invisto sobre a zona da carne, invisto e conquisto o que eu não poderia ter feito sem o músculo, o prazer viril do vigor. Eu quero uma afirmação mais absoluta, ainda jovial, um culto de mim, uma existência revolta frente aos outros, tangível, inevitável, visível, dessa visibilidade que salta aos olhos — vontade de dominação sexual que se exprime, cola na pele, nas formas. [....] Possuída da necessidade de modificar meu corpo pela potência, de criar para mim uma armadura de sedução de beleza dura e severa [...]. Eu encontrei instantaneamente em certos autores o compartilhamento espontâneo dessa característica de certa volúpia: Mishima, Montherlant, Nietzsche [...] Não saber aprender era uma faca de dois gumes que, nessa idade, me salvava do pior. A postura inconfortável da debilidade era um desastre menor do que a aprendizagem fastidiosa para meus impulsos mais íntimos. Conhecer a história da humanidade numa idade muito tenra era aceitar esses preceitos contra minha identidade e me acusar de uma existência anti-natural, invertida, culpada e que deveria ser consertada. Eu preferia não ouvir, para que as mensagens me contaminassem o menos possível. [...] Eu escrevo uma poética moderna de corpos andróginos e eu utilizo meus deleites. Ele nunca foi sujeito, esse corpo de mulheres viris na nossa literatura ou na nossa filosofia. Sua criação é contemporânea, ela soa como a chegada de um desejo por muito tempo impossível. É o motivo da festa ser considerável — cada vez que esse corpo se encontra em uma confrontação sensual — e não cessa de procurar para si uma ilustração retumbante. Nós chegamos a quebrar as clivagens, não somente nas estruturas de pensamento mas naquelas dos corpos, e o mundo finalmente se organiza para abrigas esses novos eventos. Como prova, começam a aparecer nas diferentes notícias esportivas, no interior de nossas casas, sobre as telas de tv, essas mulheres do futuro. [...] A ação disciplinada do corpo se esmigalha com o envelhecimento, a alma é que importa ser trabalhada. É o que permanece. Eu me confronto com essa dificuldade de exprimir corpo e palavras. Nos corpos como nos livros estão confinadas energias. Podemos nos perguntar se o que faz sentido hoje terá sentido amanhã. Antigamente tínhamos por perspectiva a perenidade das obras. Hoje, conhecemos a sucessão de seus mortos, nos vimos mitos desmoronarem e se instalarem montanhas efêmeras substituídas por outras, também falsas. A reflexão sobre o corpo e o texto fala também sobre a ambição: se o instinto quer que deixemos nossos traços na areia do mundo, precisamos nos confrontar com o que mina a validade desse instinto, o ultrapassar contínuo da vida. Nos resta apostar sobre um eternal humano que se revisitará através de nós, que se amará e se trairá nos retratos que o mostramos, essas imagens que nos nutrem. [...] Por que eu escolhi uma escrita que passa pelo simbolismo do sexo? Para que o pensamento tenha esse lado hard, para que ele faça parte de uma fantasmagoria estética [...] Eu acaricio esse corpo volumoso no texto, eu acaricio escrevendo meus músculos salientes. Eu acaricio o ombro, a nuca, o peitoral. Eu acaricio a pele firme, dura e tenra. Eu acaricio sua constrição em torno da fibra muscular, eu acaricio as veias que passam, atravessam o corpo, emergem em certos locais e depois mergulham no invisível, na opacidade da carne. Viva aparência que eu não hesitarei em exibir para gozar dela. Eu apareço ainda, escrevendo esse texto sem espelho, na ausência de espelhos mirando entretanto através dos conceitos uma imagem do meu corpo no que ele se assemelha a esse mesmo corpo real, físico. Beleza sem transparência do sangue que percorre o azul das veias. Beleza no rigor sombrio do músculo. E no traçado negro, anguloso das formas como um desenho em ponta seca que dirá somente a língua do desejo, onde cada figura será expressão de vontade, de fome, de tentação, de apetite, onde tudo seria reino da carne e o império colossal da distração regozijante. E quem diz prazer diz amplitude, força, maestria de onde explode o gozo. [...]. Trechos extraídos da obra Construction d’un corps pornographique. (Cercle d’Art, 2005), da escritora e fotógrafa Nathalie Gassel. Veja mais aqui.

 

UM POEMA - Mais uma vez a vontade de chorar toma conta de mim \ Quando me lembro dos dias que costumavam ser \ As tílias, a casa, as cegonhas e as borboletas \ Longe... em algum lugar... muito longe para os meus olhos \ Eu vejo e ouço o que sinto falta \ O vento que costumava embalar velhas árvores \ E ninguém mais me diz \ Sobre a névoa, sobre o silêncio \ A distância e a escuridão fora da porta \ Eu sempre vou ouvir essa canção de ninar \ Veja nossa casa e lagoa colocadas por \ E tílias contra o céu... Poema extraído do Diário (1942-2012), da escritora polonesa Renia Spiegel (1924-1942), impressionante narrativa da vida de um jovem judeu durante a Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas invadiram a Polônia e os soviéticos pelo leste, deportando, aprisionando e assassinando judeus nas cidades como Przemsyl, onde Spiegel viveu e morreu. Sua história ficou conhecida devido ao seu diário pessoal, escrito entre seus 15 e 18 anos, onde conta a experiência de ser uma adolescente e viver na cidade, onde a situação do povo judeu rapidamente se deteriorou após a invasão. Ela foi levada para a rua junto dos pais de Zygmunt e eles foram executados a tiros em 30 de julho. Os pais e a irmã de Renia sobreviveram à guerra e emigraram para os Estados Unidos. Ela começou a escrever o diário em 31 de janeiro de 1939, quando tinha 15 anos de idade, com quase 700 páginas que foram mantidas em segredo e foi feito em um caderno escolar costuradas juntas. Em seus escritos, fala de seu dia a dia na escola, a vida em família, a dor de ficar separada da mãe, seu namoro com Zygmunt Schwarzer, o medo crescente da guerra e o medo de se mudar para o gueto. No diário constam escritos e pensamentos, desenhos e poemas, dos quais destaco mais os trechos: [...] Meu querido diário, meu bom e amado amigo! Passamos por momentos terríveis juntos e agora o pior momento está sobre nós. Eu poderia sentir medo agora. Mas Ele não nos deixou, e nos ajudará hoje. Ele vai nos salvar. Ouça, ó, Israel, salve-nos, ajude-nos. Você me manteve a salvo de balas e bombas, de granadas. Ajude-me a sobreviver! E você, minha querida mamãe, reze por nós hoje, reze muito. Pense em nós e que seus pensamentos sejam abençoados. [...] Poemas são algo extraordinário e único, eles conectam almas e enobrecem, elevam o amor. O passado não se foi há muito tempo; está presente em nossos corações, em nossas ações e nas lições que ensinamos a nossos filhos [...].

 

PROGRAMA DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 14 de julho, a partir das 10hs na Cidade FM 87,9,  traz as comemorações de mais de 3 mil membros no grupo do programa no Facebook com muitas atrações, confira: Taiguara, Toquinho & Vinicius & Maria Creuza, Adriana Calcanhoto, Vangelis & Jon Anderson, Chico Buarque, Paul McCartney, Vinicius Cantuária, Emerson & Lake & Palmer, João Bosco, Banda de Pau e Corda, Oswaldo Montenegro, Djavan, Vanessa da Mata, Jimi Cliff, Maria Gadu, Rita Lee, Coldplay, Mariza Monte, Kenny G, Evanescence, Renato Russo, Caetano Veloso, Beto Guedes, Milton Nascimento, Elba Ramalho, Paula Fernandes, Sonia Mello, Roberta Sá, Marquinhos Cabral, Ozi dos Palmares, Mácleim, Taís Feijão, Fred Cury & Reynaldo Moysés & Companhia Original Soul of Blues, Claudia Jung, Eduardo Knaip & Sandra Regina Alves Moura, Adilson Ramos & Hermê Teixeira, Paulynho Duarte, Luiz Vieira & Mauro Henrique Salles, Charlie Bronw Junior, Barry White e Luciano Pavarotti, Nico Fidenco, Dalida e Alain Delon &  muito mais! Participe, comente, curta online & abrilhante a nossa festa neste 14 de julho, na programação da Cidade FM 87,9, a partir das 10hs. Veja mais aqui.

SERVIÇO:
O que? Programa Domingo Romântico.
Quando? Neste domingo, 14/07, a partir das 10hs.
Onde? Cidade FM Apresentação Meimei Corrêa.
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