CANTOS DO
MEU PAÍS – Sou das aves canoras das matas dessa costa atlântica
aos galhos dos voos do uirapuru pela selva amazônica, das cataratas do Iguaçu
ao encontro das águas do Pontal do Peba, de Imembuí do emboaba dos pampas à caeté
Iangaí do donatário português, dos sertões das Minas ao pantanal matogrossense,
da ilha dos manezinhos ao suor da gente do seringal acriano, da barreira do
Inferno ao Salto do Itiquira de Formosa, do Taperebá do Oiapoque à Barra do
Chuí até Ver-o-Peso, do Farol do Cabo Branco na Ponta do Seixas à Pedra da
Gávea, do Molhe de Iemanjá à cachoeira do Teotônio, da Pedra Pintada até as
Ilhas Miúdas da Ilhabela, dos aquíferos às milhas submarinas, dos xotes,
baiões, modas de viola, do samba, carimbós, frevos, da cabra cabriola, do
boitatá, dos dribles e firulas, do ar tropical e das funduras, das coisas
bonitas e as que envergonham, o meu coração pulsa pelo chão e o meu sangue
escorre pelos planaltos do cerrado ao litoral, dos agrestes nordestinos às
campanhas gaúchas, e sou de mim mesmo o que me cabe dessa Terra. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais das aqui.
Aqui é o
meu país nos seios da minha amada
nos
olhos da perdiz, na lua na invernada
nas
trilhas, estradas e veias que vão do céu ao coração
Aqui é o
meu país de botas, cavalos, estórias
de yaras
e sacis, violas cantando glórias
vitórias,
ponteios e desafios no peito do Brasil
Aqui é o
meu país dos sonhos sem cabimento
Aqui sou
um passarim que as penas estão por dentro
Por isso
aprendi a cantar, cantar voar, voar, voar
Me diz,
me diz como ser feliz em outro lugar
Meu país, música
de Ivan Lins & Vitor Martins
PESQUISA
[...]
Inegavelmente a situação da universidade
brasileira sob vários pontos de vista deteriorou bastante desde 69 pra cá. E
para isso naturalmente contribuiu muito o tipo de reforma universitária que foi
introduzida, com uma política de massificação da Universidade. Aliás, aqui no
Brasil há várias incompreensões, que já tinham ocorrido no curso secundário, e
que depois passaram para a Universidade. É bastante curioso ver como através
das décadas vão reproduzindo-se os mesmos erros. No ensino secundário houve uma
queda muito grande do nível, devido a massificação. Isso já vinha desde antes
de 64, a massificação do secundário é coisa mais antiga. Aumentou em muito o
número de alunos do curso secundário, e caiu muito o nível de ensino, foi
deteriorando-se gravemente a situação dos professores. O governo brasileiro
parece não compreender que não se pode aumentar enormemente o número de
estudantes sem providenciar também um número adequado de professores. Se não
houver uma boa preparação de professores, e também um número suficiente deles,
acaba havendo um processo de queda do nível. [...] Com quarenta e quatro aulas por semana, já não se pode mais ser um bom
professor de coisa alguma, porque se fica o tempo todo dando aula. Quando é que
vai se estudar, ler? Além do mais, fica muito cansado, sobrecarregado.
Conclusão: aumentou muito o número de alunos, mas houve uma decadência geral do
nível do ensino secundário. [...] Por
ai se vê o quanto houve de queda de nível, mesmo uma certa perda da dignidade
do diploma. Diplomas sobre os quais pesa muitas vezes a dúvida de terem sido
comprados, ou negociados de várias maneiras. [...] Aumentou-se enormemente o número de alunos, sem que houvesse uma
preparação prévia de professores também. O professor não pode ser improvisado
assim de um dia para o outro. É o tipo de homem que não se improvisa. [...]
Além disso, houve outra mazela que também
já tinha começado antigamente no secundário, e que agora passou para o ensino
superior: o alongamento excessivo dos cursos. [...] Mas há um outro problema que considero mais básico ainda do que aquele
e que começa já no primário, ou mesmo no pré-primário: o ensino todo é mal
orientado; é cada vez menos uma educação e cada vez mais uma instrução. A
educação tem uma preocupação formativa, ao passo que a instrução tem uma
preocupação mais informativa e de treinamento. [...] E o ensino brasileiro não tem realmente uma preocupação formativa, tem
uma preocupação mais informativa do que formativa. É transmitido a pessoa um
certo volume de informações, que não é a mesma coisa que um volume de
conhecimento. Então desde a escola primaria até a pós-graduação é a mesma
coisa, a ênfase está sempre sobre a aquisição de informações ao invés de ser
sobre o desenvolvimento das faculdades, digamos assim, da pessoa. [...] Essas coisas todas são completamente
esquecidas e só se dá uma formação medíocre. A formação correta poderia começar
no nível primário. [...] Os jovens
hoje em dia falam muito mal, escrever então nem se diz. É uma situação
terrível. A linguagem ficou muito pobre. Eles não sabem quase se exprimir por
meio da linguagem, usam uma meia dúzia de palavras muito ambíguas. Então tudo
isso exige realmente mudanças muito grandes em todo o sistema educacional
brasileiro. Começando pela escola primaria é indo até a pós-graduação. [...]
(trechos
de entrevista publicada na revista Trans/Form/Ação,
v. 3, p. 9—62, 1980)
[...]
Eu poderia ter-me tornado um artista,
acho que não me tornei por causa da estupidez dos cursos de desenho. Começava pela
escola primária, onde se punha um jarro de flores no fundo da sala e tínhamos de
copiá-lo. Eu detestava isso, não tinha jeito nenhum para copiar aquelas coisas
e me convenci de que não tinha capacidade nenhuma para desenhar. Antes gostava
muito, ficava desenhando muito, mas desenhava coisa da minha imaginação. Não gostava
de ficar copiando detalhes. E fiquei com esse complexo de que não era capaz de
desenhar e não desenhei mais. Só muito mais tarde, já com 30 anos, voltei a
desenhar e vi que não era tão sem jeito para o desenho como supunha. É que não
era desenho o que ensinavam, era outra coisa, eram copias forçadas, figurativas.
(trecho
de depoimento extraído da publicação Rebeldes
brasileiros: homens e mulheres que desafiaram o poder – Caros Amigos).
O pensamento
do físico e critico de arte Mário
Schenberg (1914-1990).
LEITURA
[...] O ministro da Saúde —dr.
Raimundo de Britto —pronunciava uma frase lapidar: “Para aliviar a despesa do
Tesouro Nacional devem morrer de fome dez por cento dos funcionários públicos,
nem que para isso se inclua meu filho”. Somente uma outra frase conseguiu
rivalizar com esta para gáudio do Febeapá, foi aquela que pronunciou o ministro
Juraci Magalhães:”O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. [...] A prosperidade de alguns homens públicos do
Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso
subdesenvolvimento.
Trechos
extraídos do Festival de besteira que
assola o país (Autor, 1966), de Stanislaw
Ponte Preta, pseudônimo usado pelo cronista, radialista e compositor Sérgio Porto (1923-1968). Veja mais
aqui.
PENSAMENTO DO DIA: OS DEZ MANDAMENTOS DE
PLÍNIO MARCOS
1 Onde houve
autoridade, não pode haver criatividade. 2. A arte é uma magia; a gente
aprende, mas ninguém ensina. 3. Qualquer método vira logo um sistema
burocrático. 4. As grandes sabedorias – a poesia, a magia e a arte – não pode
habitar corações medrosos. 5. Tudo se consegue com esforço; não se chega a
lugar nenhum sem caminhar. 6. A arte, de um modo geral, só faz sentido como
tribuna livre, onde se possa discutir até as ultimas consequências os problemas
do homem. 7. A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais que as armas, por
isso a arte e o ensino oficiais são sempre sufocantes. 8 para poder ver, é
preciso esquecer a religião, a educação e a ideologia. 9. Cuidado com o papo
dos velhos; geralmente o que dizem é para justificar a vida miserável que
viveram. 10. Não se prenda a nada. Esses ensinamentos eu escutei pelas trilhas
dos saltimbancos e mais de quarenta anos de andanças têm-me valido. Agora estou
mais com vocês do que vocês imaginam. E o Bobo plin vai por aí...
O pensamento do
escritor, ator, jornalista e dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999). Veja mais aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA:
Crianças pobres de Belfrod Roxo (RJ), da fotojornalista Marcia Foletto –
Prêmio Rei de Espanha.
Veja mais sobre Fecamepa & a independência de quem
mesmo, hem?, Humberto Maturana, Anton Tchekhov, Homero, Di Cavalcanti,
Marcus Viana, Salma Hayek, Madame du Barry & Viagem ao interior de um
travesseiro aqui.
E mais: Por um novo dia: Intenção, Erasmo de Roterdã, Honoré de Balzac, François
Truffaut, Vladislav Nagornov, Anna Netrebko, Fanny
Ardant, Otto Lingner, A alienação social do trabalho &
Por um
novo dia: Remissão do Sonho, Ovídio, Machado de Assis, Francis Bacon, Oswald de Andrade, Ruy Guerra, Sônia Goulart, Drica Moraes, Sarah
Bernhardt, Georges Henri Tribout, Julian Mandel, Victor de
Aveyron & Célia Lamounier de Araújo aqui.
Por um
novo dia: Abandono, Pietro
Ubaldi, Eça de Queiroz, Molière,
Bernardo Bertolucci, Joni Mitchell, Publílio Siro, Thandie Newton & Giovanni
Battista Tiepolo aqui.
DESTAQUE
Cartaz e cena do
filme Como consolar viúvas (1976),
dirigido e produzido por José Mojica Marins, contando a história de um
playboy falido que arma um plano para ganhar dinheiro, disfarçando-se de
fantasma atentando contra três viúvas.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Foto da modelo Claudia Alende (Divulgação)
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.