QUEREM
ME MATAR!!!!! - Duas razões incontestáveis deram ao Doro
motivo suficiente para que chegasse a uma conclusão drástica e trágica na sua
vida. A primeira, num chamego medonho, aos fungados no cangote e xambregado
miudinho no maior rastapé com uma distinta reboladeira salão adentro, eis que, de
supetão, dona Marcialita pegou-lo no flagra com tudo dele dentro da botija da
moça! Um escândalo! Findou caçarolada com mãozada de pilão no quengo do rapaz,
vitimado por um chute bem dado na bunda dele, de quase se desmantelar com dor
no osso do mucumbu: - Ela quase me arrebenta os quibas! Sacudido à força no
meio da rua, começou a desconfiar que os brucutus irmãos dela queriam desforra
de arrancar sua pele fora. Coisa de louco. Ah, a segunda e não menos grave, foi
que ele cheio dos quequeos inventou de recuperar sua popularidade com o
eleitorado que andava minguado pras suas bandas, num comício relâmpago em cima
dum tamborete, arreando a lenha na reputação do prefeito e, por extensão,
esculhambando a patota das autoridades locais que viviam mancomunadas feito
lambecus do chefe da administração municipal. O negócio ficou feio dele se ver
aos empurrões duns brutamontes que, na verdade, queriam capá-lo por ordem
superior. Pé na bunda, meu. Sem parentes nem aderentes, passou a viver na rua
caçando lugar seguro pra dormir. Eram sonos sobressaltados, agonias noturnas
assaltando seus sonhos, vivendo carregado de sofreguidão. Sabia que estava
sendo perseguido, não conseguia identificar quem. Pra onde fosse, tinha a
certeza de que alguém estava com ele em mira, seguindo todos os seus passos. Incomodava
não conseguir sacar qual o inimigo, tinha sempre a percepção de que era o alvo
e que, a qualquer momento, investiriam contra ele. Dia após dia nesse estado e
foi se tornando a sua paranóia. Desconfiado, seguia digitígrado e espaventado pelos
cantos hora que fosse do dia ou da noite, furtivamente encostado às paredes, com
a bola dos olhos dum lado pro outro, ligado em tudo e se precavendo de qualquer
tocaia. Que desassossego. Quase não conseguia mais dormir, assustando-se até
com seu próprio ronco. Tanto é que certa noite, ele aos gritos: - Querem me
matar! A cidade inteira acordou com seus berros. Deram-lhe um imprensado dele
ficar completamente transtornado: - Não me mate, agora não! Oxe, o cabra estava
desmiolado, todo mijado e cagado de medo. – Esse tá doido! Leva pra
Tamarineira! Dia desse mesmo vi-lo passar denunciando que a Nasa queria
capturá-lo por suas descobertas ocultas. Coitado, dizem que a política comeu
seu juízo e agora vai ter de esperar a outra, porque nessa eleição, ele já está
impugnado por antecipação: tornou-se inimputável! E ele: - Pelo menos não sou
filho da outra, só tô enjeitado. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais das Trelas do Doro aqui e aqui.
Curtindo o álbum Praia Lírica, um tributo à
canção cearense dos anos 70 (Brazilbizz, 2011), da cantora, compositora e
jornalista Mona Gadelha.
PESQUISA:
[...] Como um
jogo, a preocupação é uma maneira imatura de se lidar com as dificuldades. O
preocupado geralmente entra num círculo vicioso: vai e volta várias vezes ao
mesmo tema sem chegar a lugar algum (ao final, no entanto, pode desenvolver uma
úlcera). Repete inutilmente seu problema; ensaia diversas alternativas sem se
decidir por nenhuma; enumera todas as possíveis consequências de cada
alternativa várias vezes. O preocupado talvez se sinta culpado por não fazer
alguma coisa construtiva, assim ele faz alguma coisa: preocupa-se. Em termos
psicológicos, a preocupação está relacionada à ansiedade que resulta de uma
sobrecarga de emoções reprimidas (por exemplo, a hostilidade com ou sem
qualquer ameaça externa). O preocupado crônico se sente aflito sem saber o quê
o está incomodando realmente. As pressões internas de emoções reprimidas nem
sempre precisam de estímulos externos para produzir essa condição de
desconforto. É um dos altos preços que pagamos pela repressão emocional.
Trecho extraído da obra Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?: insights a respeito do autoconhecimento,
do crescimento pessoal e da comunicação interpessoal (Crescer, 1989), do professor
e jesuíta humanista estadunidense John
Powell.
LEITURA
A
minha vida foi sempre assim / me fecharam um porta / eu abria outra / me
fecharam uma porta / eu abria outra / me fechavam uma porta / eu abria outra /
a minha vida foi sempre assim / só abrindo as portas que não tem fim.
As
portas de ouro que se vão abrindo, poema extraído
da obra Hora aberta: poemas reunidos
(Vozes, 2003), do poeta, advogado e professor universitário Gilberto Mendonça Teles, que tive
oportunidade de entrevistar em 2003. Veja aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
[...] De tanto
ver, a gente banaliza o olhar – vê... não vendo. Experimente ver, pela primeira
vez, o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é: o que nos cerca,
o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa
retina é como um vazio. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém
lhe perguntar o que você vê no caminho, você não sabe. De tanto ver, banaliza o
olhar. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio
do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o porteiro. Dava-lhe bom
dia e, às vezes, lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o
porteiro faleceu. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima
ideia. Em 32 anos nunca conseguiu vê-lo. Para ser notado, o porteiro teve que
morrer. Se, um dia, e, seu lugar estivesse uma girafa cumprindo o rito, pode
ser, também, que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e baixa
a voltagem. Mas há sempre o que ver: gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não
vemos. Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de
ver pela primeira vez, o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que raramente vê
o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Nossos olhos se gastam
no dia a dia, opacos... é por aí que se instala no coração o monstro da
indiferença.
Vista cansada, crônica extraída da obra Bom dia para nascer (Folha de São Paulo, 1993), do jornalista e
escritor Otto Lara Resende (1922-1992), a quem o dramaturgo Nelson
Rodrigues homenageou no título de uma de suas peças: Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária. Veja mais aqui.
IMAGEM
DO DIA
Cenas da peça teatral Vooyeur
(Sólo puedes mirar), escrito pela atriz espanhola Patrícia Jordá,
encenada pelo Teatro Infanta Isabel.
Veja mais sobre Coágulos, coágulos, Marilena Chauí,
Sacha Guitry, António Nobre, Antonin
Artaud, Anton Bruckner, Dominique Ingres, Pola Ribeiro, Angeli &
Literatura Infantil aqui.
E mais: Matizes, Eurípedes, Jean de La Fontaine, Luís da Câmara Cascudo, Woody
Allen, Gustave Courbet,
DESTAQUE
Há sede de sedas, / de verbos, de versos. / Bastam-nos
os sons / das unhas nas sedas, / de arrulhos nos versos, / de bêbados verbos / que
entornam-me o cálice, / derramam metáforas, / embebem-me o poema. / As musas
que me dessedentem.
Sede e seda, poema do escritor, jornalista e professor Luiz
de Aquino Alves Neto, editor do blog Pena & Poesia.
CRÔNICA DE
AMOR POR ELA
Female nude – fiogure 4, by Carmen Tyrrell.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.