MISSIVA DO ESCONJURADO
Ôi, mãe!!! Espia eu aqui, visse? E não se abufele com a ausência desse seu filho desnaturado.
A senhora sabe: é uma correria danada na garupa da sobrevivência para não cair morto em qualquer lugar ermo, porque pra gente só sobra assando-e-comendo, mais nada. Só desastre mesmo. E isso desde pirrototinho quando aprontava das minhas peraltices cabeludas, quase comendo todo seu juízo.
Pois eu sei que a senhora virou santa desde minhas travessuras infantis, meus disparates adolescentes e minhas errâncias de adulto. Por isso mesmo que a senhroa dizia que eu era mesmo seus pecados. Nada não.
Agora, metendo as mãos pelas pernas como sempre, quase tenho uma piloura de tanto estresse se não quase estourasse as coronárias antes. Por isso vou driblando os revestrés e cantando Itinerância com a minha pontaria vesga de Cantador pela vida para saltar as vicissitudes adversas, desatando cada nó-cego, tudo numa reação em cadeia, chega penso que a gente é um alvo arrodiado de bronca por todos os lados. É cada chapuletada no toitiço findando no escanteio das possibilidades, com o trauma de viver infincado num verdadeiro buraco negro. Nem tei nem bei: boiando na Alfa do Centauro, avalie.
Realmente, mãe, o Brasil num tá pra gente, não. Nunca teve. Tive uma esperançazinha quando saí da Faculdade com a Carta Cidadã no peito. Já se passaram tantos anos e o que deu? Imagine o que será de mim... a cagada daqui vem de tempos remotos, desde a invasão dos perós. Pá! De lá pra cá, só contramão braba. E os remendos são piores cada dia que se passa.
A coisa só anda certa no reino da Carochinha ou nas previsões do Doro que são pinóias de lascar. No mais, é só banda voou.
Os projetos? Ah, já pelejei demais, mas nunca fiz nada que prestasse. Estou na lona, a vida é só arrependimentos. O que vale é a presepada. Por causa disso eu vou errando mais do que devo.
Mas, mãe, saiba: estou com saudades.
Não leve essa minha distância na conta da ingratidão. É a labuta que é braba mesmo.
A senhora sabe que mora no meu coração e que um dia, quem sabe, Deus dará e eu vou poder estreitar nosso convívio, né?
Receba desse troncho-das-costas-ocas liliputiano aquele beijão melado no coração e saiba que escapando aqui e ali eu vou gritando: mãêêêêêêê!!!!!!!!!!!!! Eu quero a minha mãe!!!!!!!
Fui!
DITOS &
DESDITOS – Pela
primeira vez, o espaço em que vive o homem privado se contrapõe ao local de
trabalho. Organiza-se no interior da moradia. O escritório é o seu complemento.
O homem privado, realista no escritório, quer que o interieur sustente as suas
ilusões. Esta necessidade é tanto mais aguda quanto menos ele cogita estender
os seus cálculos comerciais às suas reflexões sociais. Reprime ambas ao
confirmar o seu pequeno mundo privado. Disso se originam as fantasmagorias do
“interior”, da interioridade. Para o homem privado, o interior da residência
representa o universo. Pensamento do filosofo alemão Walter
Benjamin (1892-1940). Veja mais aqui.
UMA CARTA - Palmares,
30/04/31. Manuel, um amigo veio avisar-me que hoje, às 10 horas, no café do
Milhaço, realizou-se uma sessão para a leitura de um artigo em que me reduziam
a zero... disse-me mais o amigo que um dos presentes, ironicamente – obrigado,
Cyrineu – disse: “Vocês querem escangalhar o Jasseli!” Eu não admiro a
fecundidade do rotundo jornalista que, sem escolher melhor local, faz mesmo nos
cafés em público, a sua (dele) diligência... Ora, Peixoto, esta gente anda
diesorientada. Em, lugar de cuidar da vida, anda a dar importância a quem de
covardade retaliopu com a vida sem mais considerações... Há, pois, ao meu ver,
nisto tudo, um pouco de medo. Porque, se em nada mais sou; se, politicamente,
nada valho aos que, então, tanto artigo tanto cavaco. Eu não respondo, salvo se
me atacarem a honra que, então, não escolherei armas para defesa. Eu já disse e
repito: nada quero de política! Trabalho pelos meus ideais, pelo desenvolvimento
da minha terra. O melhor de meu esforço, quatro anos de labor dedoqieo a
Palmares, minha amada terra. Eu digo o que penso e penso o que digo, dou vivas
aos meus ideais, grito: viva o Brasil. Viva a prátria livre. Nunca, porém, dei
vivas a coletoria. Dura veritas, sed veritas. Se eu for levado a escrever eu
mostro que, quando quero, sei ser fornalista. Para a minha defesa, teinho
documentos, como você sabe, importantes. Argumentos irrespondíveis, Deus louvado,
não me faltam. E se preciso for, tiver de descer deste à ironia, nestes campos,
então, arrazo os nossos protuberantes jornalistas. Ora bolas! Às vezes, a gente
é forçado a tirar a mácara da modéstia e mostrar que, na humildade, também se
esconde um espirito culto. A mediocridade sempre foi atrevida, audaciosa. Não é
de agora que os que procuram viver bem com os seus pensamentos são conduzidos
pela via da amargura. Neste caso, Peixoto, toco conforme a música. Serei Cristo
ou mefistofeles. Estou com a revolução, mas acima de tudo, estou com o que
penso. E desejo: 1) Volta ao regime constitucional para avaliarmos o país da
crise financeira que atravessamos. 2) Extinção da negação “chefe político”. 3)
Moralidade administrativa (neste ponto, Pernambuco vai otimamente e Palmares
também); 4 Magistratura e polícia independentes. Com homens cultos e educados –
não somente instruídos – afindo, sem distinção, dentro da lei. 5) Liberdade de
pensar ressalvados os excessos. 6) Governo democrático, socialista e
trabalhista. Não que as “massas” governem. As “massas”, sabemos todos, são
inconstantes e incapazes. Forme-se uma “elite” de trabalhistas, de todas as
classes, que dentro de um programinha moderno, faça o “governo”. 7) Fomento da
agricultura, ao mesmo tempo que redução da importação de maquinismo. A maquina
tem sido o fator exclusivo do desequilíbrio financeiro do mundo. 8) Redução,
tanto quanto possível, dos latifúndios. 9) Extinção de toda e qualquer lei de
arrocho. 10) Simplificação de impostos, como redução da maquina burocrática.
11) Desenvolvimento da instrução popular, gratuita e primaria, e da instrução profissional.
12) Organizações de partidos definidos: democráticos, liberais, comunistas,
fascisyas, etc. Tudo isto, Peixoto, sem comunismo. Como tem a França, a
Inglaterra. Amem. São Francisco de Campos, o ensino católico obrigatório. Contra
isto eu protesto. Escreva quem quiser, onde me encontrarem, ai estarei com os
meus pensamentos. Morro de forma, vou fora e cárcere, mas não traio a minha consciência.
Quem pensa e age assim, tem dieitos, que lhe não podem ser negados. Creia-me,
são poucos dias que permanecerei em Palmates ainda e sempre. Miguel Jasseli.
Carta do professor, advogado de formação,
teatrólogo, ator e animador cultural Miguel Jasseli (1902 - 1964), em papel timbrado Atheneu
Pernambucano, sendo também fundador da Sociedade de Cultura de Palmares, em
1932.
AGORA CHEGOU A
VEZ, VOU CANTAR – A mulher foi e ainda é, na imagética da música popular brasileira, o
motivo inspirador fundamental. Cantou-se a feminilidade em todas as suas
nuances, conceitos e de todas as maneiras: forma, cheiro, cor e sabor. Ela é
descrita nos mínimos detalhes. Seu caráter, sua personalidade, seu jeito de
ser, falar, calar, sorrir, chorar, pensar, andar e olhar. Sem contar o estigma
da espera, que rima amor com dor. Feliz, amarga, dengosa, sublime, leviana, ela
não passa de uma mulher. [...] Desmorona-se
o conselho maquiavélico de que “a sorte é mulher e, para dominá-la, é preciso
bater0lhe e contrariá-la”. Uma maioria cada vez mais representativa de mulheres
faz seu destino e encontra o caminho de sua libertação. Olhando nos olhos dos
homens, dizem não ao tempo passado e descobrem que podem ter identidade no
futuro. [...] As Marias de agora
trazem no corpo uma marca. “Possuem a estranha mania de ter fé na vida”. Com o
passar dos dias, param de fazer tudo igual e vão se desfazendo as desigualdades
entre mulheres e homens. Criaram uma nova esperança. A de amar e não ter a
vergonha de ser feliz. Trechos extraídos da obra A musa sem máscara: a
imagem da mulher na música popular brasileira (Rosa dos Ventos, 1992), da escritora,
pesquisadora, produtora cultural, consultora e palestrante Maria Áurea Santa
Cruz. Veja mais aqui.
OBSERVAÇÃO - O retrato
move-se / na sala / observa a paisagem / sob a lua azul / consumindo as hortênsias
/ dos jardins / O retrato move-se / na moldura de prata / observa as serpentes
/ e os demônios / observa a filha / despertando o azul do poema / O retrato imóvel
/ observa o pouso das estrelas / adormece nas mãos azuis / do infinito. Poema
da poeta e professora Lourdes Sarmento.
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mais sobre:
Salgadinho: de riacho pra esgoto, Boaventura de Sousa Santos, Imre Kertész, Friedrich
Schiller, Millôr Fernandes, Ennio Morricone, Gustav
Machatý, Emílio Fiaschi, Joseph Mallord William Turner &
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Lamarr aqui.
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A musica
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Tataritaritatá aqui.
Cidadania
e dignidade humana aqui.
Literatura
de Cordel: O cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros aqui.
Direitos
adquiridos aqui.
A arte
de Tatiana Cobbett aqui.
Tortura,
penas cruéis e penas previstas na Constituição Federal de 1988 aqui.
Literatura
de Cordel: Emissários do inferno na terra da promissão, de Gonçalo Ferreira da Silva aqui.
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CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
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CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
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