sexta-feira, maio 16, 2008

CHAUÍ, MATURANA, GORKI, MONTEJO, CARLOS PINTO, LITERÓTICA, MAX WEBER & EDUCAÇÃO


 
Art by Carlos V. Pinto

LITERÓTICA: AS GARRAS DA FELINA – Art by Carlos V. Pinto - Sigo à procura do teu cheiro felina de todos os aromas, sabores e versos. E quero a tua íris dilatada de brilho no olhar de breu na noite de caça. Sei que vens amestrada quando quer nas savanas do meu desejo, inupta e nua, pronta para cravar tuas garras retráveis na pele da minha febre ambiciosa. Sei que vens com o teu incenso que povoa meus sentidos. E vens de longe e já estás tão perto espreitando minhas vulnerabilidades de amante. Se não te vejo, logo percebo o teu perfume no ronronar vigoroso. Vens tão arredia e adulta e arisca no bulício macio do teu passo silencioso, do teu flexível expressar na índole carniceira que já sei prontinha para estraçalhar o meu poema esganiçado. Acuada no átimo, vens com aguda audição e olfato aguçado: um jeito Márcia Tiburi no parque exclusivo da minha alucinação. Indefeso, eu adivinho tua presença como quem flagra o iminente em riste e almejo o teu sexo como a salvação dos mortais. Não há como adiar e reajo, persigo teus passos suspensos no ar com meu faro. E adivinho a tua toca: o reduto da tigresa, onde alcanço toda amplitude da imensidão. Encorajado pela silhueta de teu dorso, circundo teu corpo, arranco as vestes, desnudo com afinco como se conquistasse o meu Brasil ideal: assimétrico e sedutor. E com o achado certeiro vou revolvendo tua intimidade completa de folhas e chilreios submersos, sinuosidades, saliências e reentrâncias: a nudez deificada. Acossada por mim vai rendendo o dorso para a minha travessia caleidoscópica no belo sexo, onde a maiêutica e a vida nascem e renascem nos encontros, desencontros e reencontros: o gozo repetido de satisfação. Sou teu. És minha. E teu desabrochar é a concha dos segredos que te fazem espectro acessível acolhido na minha loucura dionisíaca. E embriagados como imigrantes do chão estalamos nossos beijos com marca de tormento e graça e nos dizemos estranhos do mesmo anátema que se dissipa em nossas descobertas abrasadas: o amor, a paixão e o sexo. A fera e a presa: a corrente do rio na certeza de mar. Quando a febre apazigua no gozo, me deito em seu corpo – meu ideal travesseiro – para nele saber de mim, de ti e de tudo. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.


Art by Carlos V. Pinto

PENSAMENTO DO DIA – [...] O amor é a emoção que constitui o domínio de ações em que nossas interações recorrentes com o outro fazem do outro um legítimo outro na convivência [...] o amor é a emoção que funda o social [...] o central na convivência humana é o amor. [...]. Pensamento extraído da obra Emoções e linguagem na educação e na política (UFMG, 1998), do neurobiólogo chileno e criador da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, Humberto Maturana. Veja mais aqui.

O CORPO HUMANO - [...] o corpo não é uma unidade isolada que entraria em relação com outras unidades isoladas, mas é um ser originária e essencialmente relacional: é constituído por relações internas entre os corpúsculos que formam suas partes e seus órgãos e pelas relações entre eles, assim como por relações externas com outros corpos ou por afecções, isto é, pela capacidade de afetar outros corpos e ser por eles afetado sem se destruir, regenerando-se, transformando-se e conservando-se graças às relações com outros. [...] a singularidade do homem como unidade de um corpo e de uma mente é imediata – a união não é algo que lhes acontece, mas aquilo que um corpo e uma mente quando são corpo e mente humanos”. O corpo possui, assim, um papel central e imprescindível nos processos cognitivos, que envolvem, de parte a parte, a sensorialidade. [....] Trechos extraídos da obra Desejo, paixão e ação na ética de Spinosa (Companhia da Letras, 2011), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui.


A EDUCAÇÃO NA SOCIOLOGIA DE MAX WEBER - A contribuição de Max Weber está na proposta analítica das condições da produção da ciência e da carreira universitária na Alemanha, para isso utiliza-se de comparações com as condições nos Estados Unidos, pois, esse é o país que mais se contrasta com a realidade alemã Nesse seu esforço, Weber apresenta a tendência da racionalização, burocratização e a especialização cada vez maior na Alemanha. Sobre a burocratização da universidade e a comparação desta às empresas, o autor afirma que os docentes das universidades estão passando pelo mesmo processo de desapropriação de suas ferramentas e da especialização do trabalho que os artesões haviam passado com o aparecimento da indústria, apresentando contrastes na universidade, na carreira docente e na ciência. O autor pontua especificidades entre a erudição e a docência; o diletante e o perito; o líder e o professor; a ciência e a arte; o profeta e o demagogo; o acaso e a capacidade.Ele reafirma a tese do desencantamento do mundo, assinalando que o destino de nossos tempos é caracterizado pela racionalização e intelectualização e, acima de tudo pelo “desencantamento do mundo”. Precisamente os valores últimos e mais sublimes retiraram-se da vida pública, seja para o reino transcendental da vida mística, seja para a fraternidade das relações humanas diretas e pessoais. Para o autor, esse desencantamento é resultado da dominação racional-legal burocrática. Essa problemática Weber vai sistematizar em seu texto “Burocracia”, presentando as especificidades da burocracia de “tipo ideal”.educação, preocupado em indicar o tipo de formação exigida pela moderna burocracia na busca cada vez maior da eficiência e da técnica, a exigência cada vez maior de peritos na ocupação dos cargos nas estruturas públicas como das privadas, sendo os “exames especiais” e seus certificados os critérios de seleção. A idéia de formação, treinamento e educação na ocupação dos cargos nas estruturas burocráticas como a da formação do homem culto, educação para a vida, vai ser mais bem desenvolvida em “Os letrados chineses”, onde Weber apresenta como a China organizou uma estrutura de formação e educação dos ocupantes de cargos em sua burocracia. Uma das singularidades dessa formação está em seu caráter laico e literário. A relação da educação com a burocracia chinesa e o conjunto da sociedade, onde durante doze séculos, a posição social na China foi determinada mais pelas qualificações para a ocupação de cargos do que pela riqueza. Essa qualificação, por sua vez, era determinada pela educação, e especialmente pelos exames. A China fizera da educação literária a medida do prestigio social de modo o mais exclusivo, muito mais do que na Europa durante o período dos humanistas, ou na Alemanha. Essa educação dos letrados, funcionários, dava-lhes prestígio e carisma, não porque possuíam qualidades sobrenaturais, mas por dominar os conhecimentos da escrita e da literatura, legitimados pelos exames que “comprovavam se a mente do candidato estava embebida de literatura e se ele possuía ou não os modos de pensar adequados a um homem culto e resultantes do conhecimento da literatura. Aí,  Weber apresenta seus “tipos ideais” de pedagogia e sua finalidades: a pedagogia do carisma e, seu oposto, a pedagogia do treinamento e entre essas a pedagogia do cultivo assim descrita pelo autor. Com relação à pedagogia do cultivo essa tem como finalidade “educar um tipo de homem culto, cuja natureza depende do ideal de cultura da respectiva camada decisiva. E isto significa educar um homem para certo comportamento interior e exterior na vida. Os tipos ideais de pedagogia e suas diferenças são as mesmas apresentadas pelo autor nos tipos ideais de dominação, ou seja, a pedagogia do carisma esta para a dominação carismática como a pedagogia do cultivo esta para a dominação tradicional e a pedagogia do treinamento esta para a dominação racional-legal. Portanto, no campo da educação Weber também se mostra saudoso das formas pré-capitalista e pessimista em relação às formas capitalistas de sociedade. Veja mais aqui e aqui.

A HISTÓRIA DE PLATÃO BACROF – [...] Lídia dedicava um afeto muito estranho ao porteiro. Sorria-lhe amavelmente e às vezes até lhe a esmola de uma ou duas palavras insignificantes. [...] E desde esse momento, seu interesse por Platão aumentou. Não porque acreditasse ter descoberto nele um príncipe de conto de fadas, mas, simplesmente porque achava curioso conhecer os sentimentos de um homem que varria o pátio da sua casa... [...] Revelei-lhe, francamente, que Platão estava apaixonado por ela, lembrei que o primeiro amor apodera-se do coração do homem por toda a vida... Lídia estremeceu, desdenhosa; seus olhos arregalaram-se de estupefação, suas faces coraram e começou a passear, agitada, pela sala. [...] Deplorei, então, amargamente, ter contado tal coisa a Lídia, sem pensar na sua inconsciência infantil. [...] Sem dúvida, contava com a visita de Lídia. E morreu naquela noite. Cumprindo a promessa, mandei a Rostoff os livros que havia deixado. Seus cadernos de versos, ele os queimara na estufa, segundo disseram os criados, mas, entre os volumes, encontrei uma folha de papel de carta amarelada e nela, com letra corrida e o entusiasmo da adolescência estavam escritas [...]. Trecho extraído do conto A história de Platão Bacrof, do escritor e dramaturgo russo Máximo Gorki (1868-1936). Veja mais aqui.

MEU AMOR - Em outro corpo vai meu amor por esta rua, / sinto seus passos embaixo da chuva, / caminhando, sonhando, como em mim já faz tempo… / Há ecos de minha voz em seus sussurros / posso reconhecê-los. / Tem agora uma idade que era a minha, / uma lâmpada que se acende ao nos encontrarmos. / Meu amor que se embeleza com o mar das horas, / meu amor no terraço de um café / com um hibisco branco entre as mãos, / vestida à antiga do novo milênio. / Meu amor que seguirá quando me for, / com outro riso e outros olhos, / como uma chama que deu um salto / entre duas velas / e ficou iluminando o azul da Terra. Poema do poeta venezuelano Eugenio Montejo (1938-2008).


Art by Carlos V. Pinto




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