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quarta-feira, novembro 08, 2017

CONFÚCIO, ARNALDO TOBIAS, IGNEZ DE ALMEIDA PESSOA, JIM PETERS, MULHERES NO MUNDO & BELÉM DE MARIA

OS QUINZE ANOS DE CLARINHA – Imagem: arte do artista plástico e visual estadunidense Jim Peters.- Dois dias antes de debutar, Clarinha gritou por mim. Estacionei o veículo e ela veio às pressas com aquele seu pujante jeito de ser: blusinha de alças segurando os seios quase pulando fora e à mostra num decote acentuado, sainha curtinha cobrindo o estritamente necessário e deixando à mostra um par de coxas para lá de estonteantes e volumosas, uma juventude num rosto de riso nos olhos vivos e lindos de morrer. Depois de amanhã é meu aniversário, não se esqueça! Jamais poderia esquecer, nem que quisesse. Ao chegar à emissora, corri logo pra agenda e com letras garrafais, no dia marcado, inscrevi: aniversário de Clarinha. Envolvi-me nos afazeres e só, no dia seguinte, já de noite, lá vinha Clarinha tão bela quanto nunca, sempre com suas blusinhas de alças decotadas, sainhas minúsculas e recheio apetitoso esborrando das vestes. Para, para! Sim? Ah, me leva pra algum lugar, vai! Disse-me apressada já abrindo a porta e sentando ao meu lado no interior do automóvel. A surpresa de sua invasão não me impediu de uma olhadela na sainha dobrada ao quadril com o movimento das coxas, sem calcinha, e o decote dos seios fartos sem sutiã à mostra nos bicos dos seios empinados estufando na blusinha. Acelerei e engatei primeira pra segunda, segui a esmo rua afora. Seu aniversário é amanhã, né, Clarinha? É. A tácita resposta me deu a impressão de que não estava bem. Algum problema? Não, quero que me leve daqui pra algum lugar, só nós dois. Um restaurante? Não. Um barzinho? Não. Pra onde? Um motel! Não posso, você é menor de idade. Dê seu jeito, quero ir prum motel, me leve. Não posso. Tem de poder, eu quero. Aproveitei a aproximação de um posto de gasolina e estacionei: Não posso levá-la prum motel, você é menor de idade e seus pais são meus amigos. Tem que me levar, eu quero. Não posso. Eu quero o meu presente. Ah, seu presente eu ainda vou comprar amanhã. Quero hoje e agora. Não posso, o comércio já está fechado a esta hora da noite. Não precisa comprar, basta me dar. O que você quer? Quero um filho seu. Não posso, Clarinha, sou casado, você tem quatorze anos, é menor de idade, e seus pais são meus amigos. Eu quero meu presente agora: um filho seu! Não, Clarinha. Você não sente atração por mim? Não. Você não acha que eu mereço uma peiada e embuchar de você? Clarinha, eu tenho trinta e cinco anos, sou casado, tenho filhos. Eu quero um filho seu! Não é assim, Clarinha, sou casado, tenho responsabilidades, seus pais não me perdoarão. Ah, eu quero um filho seu, sou apaixonada por você desde minha infância, sonho com você, tenho sonhos e gozos com você todas as noites, me contorço na cama com você e me toco e gozo diversas vezes sonhando ser possuída por você, me dê esse presente, vá! Não, Clarinha, não é assim. De repente ela me agarrou, lágrimas nas faces e me beijou a boca com seu hálito de rosa dos campos, seu corpo de sedução das mil e uma noites de prazer, seus seios fartos enchendo as minhas mãos, seu sexo túrgido e nu todo se esfregando ao meu que foi retirado à força por suas mãos ágeis enveredando braguilha adentro e enrijecido pelo toque de seus dedos hábeis, apontado pra direção dos seus múltiplos prazeres e eu sufocado por seus beijos em meus lábios, faces, tronco aberto da camisa, até alcançar meu sexo sobejado pela saliva abundante de sua boca gulosa e quente, delirando ávida em me abocanhar até me provocar ereção enlouquecedora, não, Clarinha, não, mais ela felava e me arriava as calças para esfregar sua vagina em minhas pernas, ronronando louca e me apertando forte e me engolindo trêmula e traquina para que eu estertorasse o sacrifício de segurar o gozo enquanto ela atiçava labareda incendiárias com sua língua inquieta na boca faminta, não Clarinha, e me sugou e bebeu todo meu gozo como quem tivesse roubado o manjar escondido. Não, Clarinha. Não, nada, agora tenho você, se não me quer dar um filho, darei pro primeiro que cruzar e você vai ver, vou me vingar de você com o primeiro que me aparecer. Abriu a porta do carro e saiu correndo sem que eu pudesse alcançá-la. Tomou um táxi e sumiu. Segui adiante, fiz o retorno na via e fui direto em direção pra casa dela. Vi quando o táxi estacionou em frente a sua residência. Ela desceu e desapareceu lá pra adentro. Eu estava desconcertado, fui pra casa com ela perseguindo meus pensamentos. Nem consegui ir pra cama, deitei no sofá e logo dormi sonhando com as peripécias de Clarinha. O dia amanheceu e acordei com o telefone, atendi: Hoje é meu aniversário, não falte! Eu me levantei pro ritual de todas as manhãs e fui trabalhar. A cada hora o telefone: Hoje é meu aniversário, não esqueça! O dia pela tarde, noite entrante e o telefone insistente. Fui. Lá chegando, poucas pessoas, festa simples, os pais me recepcionaram alegremente, dei graças ao rever o poeta há anos que não tinha notícia, foi a minha salvação. Logo ela apareceu linda como sempre, deu-me um chauzinho de escárnio e puxou o poeta a um canto, conversaram e muito. Fui surpreendido pelos pais delas, conversamos, mais um pouco anunciei que ia embora. Não me deixaram, havia uma surpresa no ar, aguardei. Foi quando Clarinha anunciou o seu presente: o seu casamento com o poeta. Como? Ele vinte e cinco anos mais velho que ela, como pode? Os pais tão surpresos como eu, nada entendiam. O poeta no meio da saia justa deixou entender que se tratava de um arroubo dela, mas que era do seu agrado e desejo. Formalmente pediu a mão dela em casamento aos pais e me convidou para padrinho. No meio do mal-estar, depois de muito se olharem, não houve outra alternativa: todos aceitaram, não pude recusar. Seis meses depois reencontro Clarinha grávida de mãos dadas com o marido e um convite para que eu fosse o padrinho do bebê. Não deu tempo nem responder, Clarinha abraçou-me sussurrando: Você não me quis, mas esse filho é seu. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais s com o compositor alemão Carl Orff e a sua cantata Carmina Burana & Streetsong; a violinista britânica Chloë Hanslip interpretando Mozart, Cinema Paradiso de Ennio Morricone & Fantasy de Franz Waxman; o pianista Nelson Freire interpretando obras de Villa-Lobos & Debussy In Recital; e da pianista e maestro japonesa Mitsuko Uchida interpretando estudo de Debussy & concerto de Beethoven. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Quando se cultiva até o máximo os princípios de sua natureza e assim se procura exercitá-los segundo o princípio de reciprocidade, não se está longe do caminho. Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam. [...]. Trecho do Elogio da vida na dourada mediania: a doutina do meio, extraída da obra O pensamento vivo de Confúcio (Martins, 1967), reunindo os quatro livros clássicos e os cinco livros sagrados do filósofo chinês Confúcio (551 a.C. - 479 a.C). Veja mais aqui e aqui.

ESCRAVIDÃO & ABOLIÇÃO - Grande é o coração, pura e sublime é a alma de um povo humanitário, que se revolta indignado contra a praga maldita chamada escravidão. Ontem, esta palavra horrenda, abominável e ignominiosa, esta degradante e tremenda maldição se ostenta cheia de caprichos sobre as cabeças uns míseros infelizes, que viviam espalhados em todo o Brasul. Hoje, porém, a providencia divina tem protegido a causa destes desgraçados. [...] Tudo caminha e a liberdade não pode estacionar. Por ventura não são os escravos os nossos irmãos, e por que haveremos de consolar as suas aflições, quebrando os ferros tremendos em que se acham agrilhoados? Ah! É duro viverem estes míseros escravos, sem luz, sem amo, sem proteção, submergidos nas trevas profundíssimas da ignorância, chorando amargamente a sua desgraça dos seus filhinhos. Avante democratas e abolicionista. Avante republicanos corajosos. A estrada do processo é muito lnga, caminhai e será completo o vosso triunfo, uma vez que pelejais em prol de uma causa santa, de uma missão honrosa e sublime, que é arrancar das mãos impuras e sanguinolentas dos escravocratas o punhal e o chicote com que retalham as carnes de seus próprios irmãos. Texto da abolicionista Ignez de Almeida Pessoa (Penumbras, 1892), extraído da obra Suaves amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste (UFPE, 1999), organizado por Luzilá Gonçalves Ferreira, Ivia Alves, Nancy Rita Fontes, Luciana Salgues, Iris Vasconcelos e Silvana Vieira de Souza. Veja mais aqui, aqui e aqui.

BELÉM DE MARIA – O território do município era encravado ao de Bonito e teve sua divisão administrativa ocorrida no ano de 1933, quando o distrito criado por Lei municipal de 18 de setembro de 1930, passando a ser distrito de Catende, desmembrado de Palmares e Bonito. Belem de Maria foi constituído em município autônomo pela Lei estadual 3340, de 31 de dezembro de 1958, com território desmembrado dos municípios de Catende e São Joaquim do Monte, sendo instalado em 03 de maio de 1962. Administrativamente é formado pelos distritos sede e Batateira, anualmente no dia 31 de zembro comemora a sua emancipação política, em conformidade com a Enciclopedia dos municípios do interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.

MULHERES NO MUNDO - [...] o sujeito ideológico elabora um discurso que evidencia os papeis sociais desempenhos pelo homem e pela mulher, delimitando os valores e os comportamentos de cada um, os quais refletem valores e comportamentos nutridos em nossa sociedade. Apesar de muitas concepções de mundo terem sido modificadas e hoje nos deparamos com novos conceitos veiculados pelos meios de comunicação de um modo geral, ainda é prodominante a ideologia machista que define a mulher como um “ser doméstico”, que vive em prol da casa, dos filhos e do marido, isentando-se de uma vida cultural que é exterior ao domicilio familiar, porque todas as personagens femininas e adultas [...] são donas de casa ou são empregadas domésticas (com uma única exceção – a professora), e se apresentam, na grande maioria das histórias, usando avental, lenço e instrumentos de trabalho; em contrapartida, raramente aparecem se divertindo e nunca exercem qualquer atividade esportiva, cultural ou intelectual. [...]. Trecho do texto No discurso da história em quadrinho: uma revelação do preconceito no estereotipo da figura feminina, de Rosemary Evaristo Barbosa, extraído da obra Mulheres no mundo: etnia, marginalidade e diáspora (Ideia/Universitária, 2005), organizado por Nadilza Martins de Barros Moreira e Liane Schneider. Veja mais aqui.

CLARINHA DE ARNALDO TOBIAS
CAPÍTULO 1 – Acompanhei a sua roupa crescendo no varal. Do meu quintal eu assistia a esse espetáculo sob o sol e ventos. A anágua azul e a calcinha de rendas e flores bordando setembro e a primavera. Do seu quintal ela olhando para mim com a indiferença de ontem. A menina crescendo não sabia que eu escrevia poemas para ela e os guardava dentro de livros com pétalas de rosas vermelhas. CAPÍTULO 2 – A menina se fez moça e a roupa diminuiu no espço do corpo. A blusina curta mostrando o umbigo vertical com a covinha. Não vi mais anáguas azuis no varal. A sainha ou o vestido no meio das coxas róseas. Clarinha já tinha abolido o sutiã e o decote desceu oferecendo pretensamente o vértice dos seios. Um dia a surpresa foi tamanha que me invadiu o peito. Fui convidado de palavra para o seu aniversário de quinze anos. Senti o seu hálito tão perto que me subiu um calor no rosto e ela deve ter notado a minha emoção tímida. Prometi ir à festa e fu comprar uma camisa de cetim e um sapato social. Na festa (sem champanhe e de poucas pessoas). Clarinha confessou sua paixão por mim desde os nove anos. A paixão cegava os sonhos e desejos perturbáveis. O pecado consentido. Disse: Mas Clarinha, eu tenho exatamente quarenta anos. Vinte e cinco mais da sua idade. Disse-lhe: Para mim você é jovem e tão latente como o sol nascente. Respondeu-me com metáfora. CAPÍTULO 3 – Quando nos casamos no mesmo ano (sem véu e grinalda) a festa foi simples como a festa dos seus quinze anos. Clarinha não acompanhou minha idade avançando. Depois de quinze anos, ela ficou a balzaquiana mais bela do mundo e eu sessentão acometido de fortes dores na uretra. Tive de um dia submeter-me a uma inadiável cirurgia (que me impediu de fazer um filho em Clarinha) na impotencialidade sexual. Então o urologista arrancou-me a castanha da próstata deixando lá no fundo um carncer me matando de sofrimentos. Clarinha escusando-se dos meus tratos e asseios. Esquencendo o meu remédio na farmácia. Hoje a acompanho com resignação e tristeza vendo-a ter filhos com o jardinero. Pago muito bem ao rapaz para ele trazer rosas vermelhas e fazer Clarinha feliz. Satisfeita.
Conto do escritor Arnaldo Tobias (1939-2002), extraído da Panorâmica do conto em Pernambuco (Escrituras, 2007), organziado por Antonio Campos e Cyl Gallindo. (Imagem: arte do artista plástico e visual estadunidense Jim Peters). Veja mais aqui.

Veja mais:
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A ARTE DE JIM PETERS
A arte do artista plástico e visual estadunidense Jim Peters.
 

quinta-feira, julho 27, 2017

OBJETOS DE BAUDRILLARD, INGEBORG BACHMANN, CARL ORFF, CHLOË HANSLIP, NELSON FREIRE, MITSUKO UCHIDA, DOROTHY IANNONE & NITOLINO!

NITOLINO NO REINO ENCANTADO DE TODAS AS COISAS - A ideia de criação do personagem Nitolino surgiu com o convite feito pela professora e coordenadora pedagógica, Ceiça Mota, da Escola Estadual Josefa Conceição da Costa, bairro de Canaã, Maceió, para recreações com contação de história em turmas de educação infantil. O que era para ser um único momento findou em contínuas apresentações tanto para alunos da educação infantil até as quartas séries do Ensino Fundamental, com as histórias dos meus livros para crianças, como também para estudantes das demais series do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), para os quais desenvolvi atividades com literatura de cordel, tudo enquadrado ao meu projeto Brincarte nas Escolas. Assim foi ao longo de todo mês de julho em 2008, finalizando com o lançamento dos meus livros infantis Turma do Brincarte e Frevo Brincarte, e do cordel Tataritaritatá, com exposição dos meus outros livros publicados, palestras, contação e cantação de histórias. Depois disso, como eu estava recebendo inúmeros convites dos mais diversos educandários, tanto da rede pública como da rede privada de Alagoas e de outros estados, o personagem foi tomando corpo e, já no mês de agosto do mesmo ano, o Nitolino já se apresentava em colégios, associações de moradores, centros recreativos e de saúde, bem como nos mais diversos auditórios das mais variadas instituições sociais, fato que levou a criação do evento Natal do Nitolino, com o objetivo de levar livros, contação de história e promover o hábito da leitura entre crianças das áreas periféricas das cidades, bem como da participação em eventos nas Bienais do Livro, Convenções, Congressos, Palestras e em mesas de debates, fato este que levou durante os anos de 2009, 2010 e 2011, à realização de temporadas do espetáculo Nitolino no Reino Encantado de Todas as Coisas, no Teatro Linda Mascarenhas, em Maceió, concomitante ao lançamento do livro homônimo e da segunda edição do livro infantil O lobisomem zonzo, culminando com a gravação do DVD com o resultado dos espetáculos destinados aos alunos da rede pública de ensino e, posteriormente, abertos para o público em geral. Além do mais, Nitolino nada mais é que a minha eterna maneira de ser menino com a perspectiva de que ser criança é pra brincar e ser feliz; com a esperança de que este possa ser um mundo no qual as pessoas possam construir relações saudáveis respeitando uns aos outros, cuidando do planeta e reconhecendo o outro como extensão afetiva de si e de toda irmandade humana; enfim, a minha crença de que o Brasil possa ser um país melhor, mais justo e solidário, porque todo dia é dia de ser criança. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

OS OBJETOS DE BAUDRILLARD
[...] hoje os objetos tornaram-se mais complexos que o comportamento do homem a eles relativo [...] Somos continuamente remetidos, por meio do discurso psicológico sobre o objeto, a um nível mais coerente, sem relação com o discurso individual ou coletivo, e que seria aquele de uma língua dos objetos [...] O homem é reduzido à incoerência pela coerência de sua projeção estrutural. Em face do objeto funcional o homem torna-se disfuncional, irracional e subjetivo, uma forma vazia e aberta então aos mitos funcionais, às projeções fantasmagóricas ligadas a esta estupefaciente eficiência do mundo [...] É da frustrada exigência por totalidade residente no fundo do projeto que surge o processo sistemático e indefinido do consumo. Os objetos/signos na sua idealidade equivalem-se e podem se multiplicar ao infinito: devem fazê-lo para preencher a todo instante uma realidade ausente. Finalmente é porque se funda sobre uma ausência que o consumo vem a ser irreprimível.
Trechos extraídos da obra O Sistema dos Objetos (Perspectiva, 2008), do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007), defendendo que: Sou um dissidente da verdade. Não creio na ideia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Veja mais sobre:
O amor de Naipi & Tarobá, Arte e percepção visual de Rudolf Arnheim, Eles eram muitos cavalos de Luiz Ruffato, Improvisação para o teatro de Viola Spolin, a música de Vivaldi & Max Richter, a fotografia de Fernand Fonssagrives, a coreografia de Regina Kotaka, a pintura de Fernand Léger & a arte de Eugénia Silva aqui.

E mais:
Nitolino na Escola Estadual Josefa Conceição da Costa aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Duofel, três por um, A sociedade do consumo de Jean Baudrillard, Histórias extraordinárias de Edgar Allan Poe, Tristão & Isolda de Richard Wagner, a coreografia da arte de Pina Bausch, o cinema de Roger Vadim, a pintura de Alice Kaub-Casalonga & Vicente do Rego Monteiro, a arte de Miles Williams Mathis, Amores impossíveis, Poetas de Palmares & Jayme Griz aqui.
Passando a limpo, O mundo líquido de Zygmunt Bauman & muito mais aqui.
A cidade, a urbanização e as enchentes & a arte de Márcia Spézia aqui.
Reino dos sonhos, a literatura de Osman Lins, a poesia de Denise Levertov, A palavra na democracia e na psicanálise de música de Renato Borghetti, a fotografia de Laszlo Moholy-Nagy, a arte de Mike Todd aqui.
Padre Bidião, extraterrestres & novo messias, a pintura de Gino Severini & Liu Yuanshou aqui.
Aquele torneio de chimbra & a pintura de Almada Negreiros aqui.
Uma lembrança perdida no horizonte, a pintura de Inês Dourado & Mary Qian aqui.
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Livros Infantis do Nitolino aqui.
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Agenda de Eventos aqui.

A PERDA DE INGEBORG BACHMANN
Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma
cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados,
gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos. Fizemos.
E estendemos sempre a mão.
Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por
Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma
cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,
(- o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um aponta-
mento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.
De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor
mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.
Não te perdi a ti,
perdi o mundo
.
Poema Uma espécie de perda, extraído da obra O tempo aprazado (Últimos poemas 1957-1967 - Assírio & Alvim, 1992), da poeta e filósofa austríaca Ingeborg Bachmann (1926-1973).

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais com o compositor alemão Carl Orff e a sua cantata Carmina Burana & Streetsong; a violinista britânica Chloë Hanslip interpretando Mozart, Cinema Paradiso de Ennio Morricone & Fantasy de Franz Waxman; o pianista Nelson Freire interpretando obras de Villa-Lobos & Debussy In Recital; e da pianista e maestro japonesa Mitsuko Uchida interpretando estudo de Debussy & concerto de Beethoven. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ARTE DOROTHY IANNONE
A arte da artista visual alemã Dorothy Iannone.
 

sábado, janeiro 09, 2016

FONTE, GABO, WATTS, ÉLUARD, CARL OFF, BERGMAN, JOSÉ PAULO PAES, BÉJART, MONTAIGNE, BONASSI, RACHEL LUCENA & MUITO MAIS!


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: FONTE - Quando o dia amanhece em seu sorriso, tudo é festa mais que sou do meio dia, tudo vibra de eclosão na natureza, tudo brota antes árido sertão. É nela que faço meu canto e minha poesia, porque dela é a terra que se faz mar fecundo pra me inundar do verde ao azul por inteiro como amargo para descobrir o doce que não tenho: o prazer que não sou para me dar o que nem mereço. E o meu prazer é ela me comendo aos poucos pelos bagos soltos da jaqueira que lhe servisse ao paladar da predileção. E já posso ver o Sol nascer entre os seus seios pra pulsar de emoção minha planície mais que versátil de assimetria, emergindo meu vulcão da mais longínqua freguesia pra fremir na maior erupção. É aí no seu colo que se faz nascente para ser tão grande quanto queira e são meus seus dotes que me fazem vivo entre suas mãos, quando ela prefere a noite por trazerem respostas pras nossas mais loucas aventuras. E quando a manhã se faz plena no seu ventre mais que solaçoso sou adulto mais que rijo tão viril nessa fonte inesgotável de prazer. (Luiz Alberto Machado).

VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
DESEJO 
QUANDO TE VI
ARDÊNCIA 

 
PICADINHO
Imagem: Lady Love (A namorada), do poeta francês Paul Éluard (1895-1952), poema traduzido por José Paulo Paes.

Está de pé nas minhas pálpebras,
Seus cabelos estão nos meus,
Tem a forma de minhas mãos
E tem a cor dos meus olhos.
Desaparece em minha sombra
Como pedra atirada ao céu.
Está sempre de olhos abertos
E não me deixa mais dormir.
Os seus sonhos, em plena luz,
Fazem os sóis se evaporar,
Me fazem rir, chorar, rir
Falar sem ter nada a exprimir.
(Veja mais aqui).

 Curtindo a cantata Carmina Burana (Canções da Benediktbeuern, 1935/36), do compositor alemão Carl Orff (1905-1982), com Beverly Hoch, Stanford Olsen, Mark Oswald, Iwan Edwards, Face Treble Choir, Chœur de l'Orchestre Symphonique de Montréal, Orchestre Symphonique de Montréal. Veja mais aqui.

EPÍGRAFE – Stercus cuisque suum bene olet, adágio latino citado pelo jurista, político, filósofo e humanista francês Michel de Montaigne (1533-1592), que se traduz: para cada qual o seu estrume cheira bem. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O AMOR & O SEXO – No livro O homem, a mulher a natureza (Record, 1958), do filósofo e escritor inglês Alan Wilson Watts (1915-1973), encontro que: [...] O amor sexual é, acima de tudo, o modo mais intenso e dramático através do qual um ser humano estabelece união e relação consciente com alguma coisa que lhe é exterior. e, além disso, no homem, a mais vívida das expressões habituais de sua espontaneidade orgânica, a ocasião mais positiva e criadora de seu entusiasmo por alguma coisa fora do domínio de sua vontade consciente [...] O resultado do amor é um anticlímax somente quando o clímax foi provocado e não apenas recebido. Mas quando toda a experiência é recebida, o resultado chega à pessoa em um mundo maravilhosamente modificado e, não obstante, inalterado, tanto espiritual como sexualmente, pois a mente e os sentido não têm mais, então, de se abrir, por já estarem naturalmente abertos, e parece que o mundo divino não é outro senão o mundo quotidiano. [...] A pessoa é, assim, transportada do mundo do tempo do relógio para o do tempo real, onde os eventos vêm e vão em sucessão espontânea, controlados por si próprios e não pela mente. Assim como o cantor consagrado não canta uma canção, mas deixa que ela mesma se cante através de sua voz – pois de outra forma ele perderia o ritmo e forçaria o tom -, o curso da vida deve acontecer por si próprio, com uma continuidade em que o ativo e o passivo, o interior e exterior são os mesmos. Assim, encontramos, finalmente, o verdadeiro lugar do homem na natureza [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA No livro O amor nos tempos do cólera (Record, 1985), do escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) destaco o trecho: [...] as mulheres se guardavam do sol como de um contágio indigno [...] Seus amores eram lentos e difíceis, perturbados amiúde por presságios sinistros, e a vida lhes parecia interminável. Ao anoitecer, no instante opressivo da passagem para as sombras, subia dos pântanos um turbilhão de pernilongos carniceiros, e uma branda exalação de merda humana, cálida e triste, revolvia no fundo da alma a certeza da morte. [...] a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artificio conseguimos suportar o passado [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DOS CARMINA BURANA - No livro Poesia erótica em tradução (Companhia das Letras, 2006), reunida e traduzida pelo poeta, tradutor, critico literário e ensaísta José Paulo Paes (1926-1998), encontro a Canção 86 dos Carmina Burana: Não tateio / o por que anseio; / olho-te em cheio / sem receio / nem rodeio / e o que saboreio / me fascina. / Experimenta, menina, / o membro viril, / quando já senil, / é fraco, vil; / se ainda juvenil, / é papa-fina, / um utensilio / nímio, / exímio, / ágil, / grácil, / cálido, / válido, / gentil, / febril, / varonil / e coisas mil. / Após calor / celeste frescor / após verdor / alvejante flor / após candor / tem doce odor / a bonina. / Experimenta, menina... Veja mais aqui e aqui.

ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA – Entre os poemas do poeta, tradutor, critico literário e ensaísta José Paulo Paes (1926-1998), destaco Acima de qualquer suspeita: a poesia está morta / mas juro que não fui eu / eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la / imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres carlos drummond de andrade manuel bandeira murilo mendes vladimir maiakóvski joão cabral de melo neto paul éluard oswald de andrade guillaume apollinaire sosígenes costa bertolt brecht augusto de campos / não adiantou nada / em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou incerto) josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada de ferro araraquarense / porém ribeirãozinho mudou de nome a estrada de ferro araraquarense foi extinta e josé paulo paes parece nunca ter existido nem eu. Veja mais aqui e aqui.

APOCALIPSE 1.11 – A peça Apocalipse 1.11, do escritor, roteirista, dramaturgo e cineasta Fernando Bonassi, traz o Apocalipse de São João, da Bílblia, envolvendo o público que segue os personagens por vários espaços do local num percurso que termina com a opção dessa dramaturgia pelo humanismo em lugar da revelação divina. A peça completa a trilogia bíblica do autor, seguindo Paraiso Perdido e O livro de Jó. Tive oportunidade de conferir uma das apresentações no antigo prédio do DOPS, no Rio de Janeiro, em 2002, com direção de Antonio Araújo e destaque para atuação da atriz Mariana Lima. Veja mais aqui.

A FONTE DA DONZELA – O premiadíssimo drama A fonte da donzela (Jungfrukällan, 1059), do dramaturgo e cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), conta uma história situada na Suécia medieval, um conto de vingança impiedosa sobre a resposta de um pai para o estupro e assassinato de sua filha, questionando a moral, justiça e crenças religiosas. O destaque é duplo para as atrizes suecas Birgitta Valberg (1916 - 2014) e Birgitta Pettersson. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Coreografia de Maurice Béjart (1927-2007) para o Kabuki do Balé de Tóquio.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à professora carioca Rachel Lucena. Veja aqui e aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.


quinta-feira, julho 10, 2014

JANET MOCK, LOUISE MICHEL, NINA HARTLEY & VITA SACKVILLE-WEST

Curtindo a cantata Carmina Burana (1935/36), do compositor alemão Carl Orff (1905-1982), com UC Davis Symphony Orchestra, University Chorus and Alumni Chorus e Pacific Boychoir perform at the Mondavi Central at UC Davis Series. Veja mais aqui e aqui

 


A VIRGEM VERMELHA -A geminiana de Haute-Marne, filha de serviçais do Castelo de Vroncourt, foi criada pelos avós paternos que, ao falecerem, teve que se encaminhar Chaumont, com a intenção de cursar magistério. Ao se formar, ela foi impedida de lecionar por recusar-se a jurar lealdade ao imperador. As agruras levaram-na à poesia adolescente de temperamento altruísta, fundando uma escola livre em Audelocourt. A professora republicana das crianças entoava a Marselhesa entre as lições. Por pressão das autoridades, a escola é fechada. Persiste e abre outra em Clefmont, a qual sofre as mesmas perseguições. Muda-se para Paris para ensinar às moças de Montmartre, dedicando-se à política revolucionária e à solidariedade com apoio às escolas e orfanatos laicos. Seus primeiros versos emergem sob o pseudônimo de Enjolras, e da poesia surge Victorine, fruto de uma paixão poética que a expressaria como Judith, la sombre Juive e Ária, la Romaine – pintada como excepcional e tragicamente destinada. Participou ativamente do periódico O Grito do Povo e tornou-se membro da União dos Poetas, atuando no auxílio aos desempregados, reconhecendo-se blanquista. Durante a Guerra franco-prussiana ela militou contra o encarceramento de seus parceiros, além de lutar contra a fome ao criar um refeitório comunitário para as crianças. Virou então anarquista, importante communards na linha de frente, pelas barricadas, além de enfermeira sindicalista durante a batalha da Comuna de Paris, cuidando dos feridos. Vestiu uma farda revolucionária para deflagrar a bandeira negra dos seus ideais libertários, tentando livrar a mãe da prisão. A escritora feminista não foi poupada de assistir a execução de muitos dos seus, ocasião em que escreveu o seu poema Os cravos rubros. Em seu louvor um outro poema lhe homenageou: Viro Major. Ela foi, então, capturada, julgada e deportada para a Nova Caledônia e nomeada pela imprensa estatal de la Louve rouge, la Bonne Louise – controvertidamente considerada tanto santa quanto herege. No exílio ela foi acolhida pelos kanak, criando uma revista: Petites Affiches de la Nouvelle-Calédonie. O público festeja os cantos e lendas dos nativos publicadas por ela: Légendes et chansons de gestes canaques. Voltou a lecionar para crianças e adultos locais, tomando parte da revolta dos aborígenes. O retorno foi consagrado, contudo, uma vigilância aguda com sua volta pelo envolvimento entre operários, levando à prisão um tanto de vezes pela sua militância revolucionária. Mesmo assim foi contemplada com o sucesso de La Misère. Novamente presa pela repressão estatal, foi condenada e proibida de discursar em público. Vítima de um atentado, ela se recusou a prestar queixa contra o agressor, sendo taxada de louca e se expondo por conferências e manifestações públicas, até ser acometida por uma pneumonia que a levou ao túmulo sob a celebração maçônica. Veja mais abaixo e mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Sexo é minha prática. É onde eu sempre me esforço para dar o melhor de mim. Tento ser a mais honesta possível, a mais presente possível, a mais centrada possível, a mais gentil possível, a mais generosa possível, sem ser capacho.Tornei-me uma pessoa cinestésica porque sempre intelectualizo demais. E sentimentos, para mim, são um conceito. Sentimentos? Ah sim, já ouvi falar disso. Acho que a maioria das pessoas está programada para ser monogâmica por curtos períodos de cada vez. Com isso quero dizer que, quando estão apaixonados, realmente não querem nem precisam de mais ninguém. Para eles, a monogamia não é um problema. Vinte por cento das pessoas são do tipo poliamoroso ou swinger. Eles nunca serão monogâmicos e não querem ser. Os restantes 60% da população estão presos algures num espectro entre a monogamia feliz e a monogamia não feliz. Alguns porque esse foi o voto que eles fizeram e basicamente concordam com isso, e não querem ser mentirosos ou trapaceiros. Alguns ficam ativamente zangados com isso e provocam brigas. Alguns ficam insatisfeitos com isso e, embora não trapaceiem, afastam-se emocionalmente dos parceiros, dando a si mesmos o pior dos dois mundos. Alguns estão traindo ativamente, mas não abandonam o casamento. Algumas pessoas ficariam felizes em casa se pudessem ficar um pouco “estranhas” algumas vezes por ano e não deixar que isso fosse um grande problema. Eles não querem perder tudo o que construíram com seus companheiros, mas apenas querem provar algo diferente. Tenho compaixão instantânea pelos homens como seres humanos iguais. Igualmente derrotados pelo patriarcado e igualmente perdidos e errantes. Pelo menos as mulheres podem se abraçar. Pensamento da atriz, cineasta, escritora, feminista e educadora estadunidense Nina Hartley, pseudônimo de Marie Louise Hartman.

 

ALGUÉM FALOU: Não há nada mais amável na vida do que a união de duas pessoas cujo amor por um ao outro cresceu durante os anos, desde a pequena bolota de paixão, em uma grande árvore enraizada... Pensamento da escritora britânica Vita Sackville-West (1892-1962). Veja mais aqui.

 

REDEFININDO A REALIDADE - [...] Acredito que contar as nossas histórias, primeiro para nós mesmos e depois uns para os outros e para o mundo, é um ato revolucionário. É um ato que pode ser enfrentado com hostilidade, exclusão e violência. Também pode levar ao amor, à compreensão, à transcendência e à comunidade. Espero que ser verdadeiro com você ajude a capacitá-lo a assumir quem você é e a encorajá-lo a se compartilhar com as pessoas ao seu redor. [...] Já ouvi pais dizerem que tudo o que querem é “o melhor” para os seus filhos, mas o melhor é subjetivo e ancorado na forma como conhecem e aprendem o mundo. [...] Ser excepcional não é revolucionário, é solitário. Isso separa você de sua comunidade. Quem é você, realmente, sem comunidade? Tenho sido constantemente considerada um símbolo, como o tipo “certo” de mulher trans (educada, saudável, atraente, articulada, heteronormativa). Promove a ilusão de que, porque eu “consegui”, esse nível de sucesso é facilmente acessível a todas as jovens mulheres trans. Sejamos claros: não é. [...] Aquelas partes de você que você deseja desesperadamente esconder e destruir ganharão poder sobre você. A melhor coisa a fazer é enfrentá-los e possuí-los, porque eles serão para sempre parte de você. [...] Minha avó e minhas duas tias eram uma exibição de resiliência, desenvoltura e feminilidade negra. Raramente falavam sobre a injustiça do mundo com as palavras que uso agora com os meus amigos da justiça social, palavras como “interseccionalidade” e “igualdade”, “opressão” e “discriminação”. Eles não discutiam essas coisas porque estavam muito ocupados vivendo, navegando e sobrevivendo. [...] Autodefinição e autodeterminação têm a ver com as muitas e variadas decisões que tomamos para compor e caminhar em direção a nós mesmos, com a audácia e a força para proclamar, criar e evoluir para quem sabemos que somos. Não há problema se sua definição pessoal estiver em constante estado de fluxo enquanto você navega pelo mundo. [...] Não existe fórmula quando se trata de gênero e sexualidade. No entanto, muitas vezes são apenas as pessoas cuja identidade de género e/ou orientação sexual nega os padrões heteronormativos e cisnormativos da sociedade que são alvo de estigma, discriminação e violência. Desejo que, em vez de investir nestas hierarquias do que está certo e de quem está errado, do que é autêntico e de quem não é, e de classificar as pessoas de acordo com estes padrões rígidos que ignoram a diversidade nos nossos géneros e sexualidades, demos às pessoas liberdade e recursos para definir, determinar, e declare quem eles são. [...] Bondade e compaixão são irmãs, mas não gêmeas. Um você pode comprar, o outro não tem preço. [...] O equívoco de equiparar facilidade de vida com “passagem” deve ser desmantelado em nossa cultura. O trabalho começa com cada um de nós reconhecendo que as pessoas cis não são mais valiosas ou legítimas e que as pessoas trans que se misturam como cis não são mais valiosas ou legítimas. Devemos reconhecer, discutir e desmantelar esta hierarquia que policia os corpos e valoriza alguns em detrimento de outros. Devemos reconhecer que todos temos diferentes experiências de opressão e privilégio, e reconheço que a minha capacidade de me misturar como cis é um privilégio condicional que não nega o facto de experimentar o mundo como uma mulher trans (com os meus próprios medos, inseguranças e questões de imagem corporal), não importa o quão atraente as pessoas possam pensar que eu sou. [...] Esta ideia generalizada de que as mulheres trans merecem violência precisa ser abolida. É uma prática socialmente sancionada de culpar a vítima. Devemos começar a culpar a nossa cultura, que estigmatiza, rebaixa e despoja as mulheres trans da sua humanidade. [...] As palavras têm o poder de encorajar e inspirar, mas também de rebaixar e desumanizar. Eu sei agora que os epítetos têm como objetivo nos envergonhar para que não sejamos nós mesmos, para nos encorajar a mentir e a ficar em silêncio sobre nossas verdades. [...]. Trechos extraídos da obra Redefining Realness: My Path to Womanhood, Identity, Love & So Much More (Atria, 2014), da escritora, jornalista e ativista estadunidense Janet Mock. Veja mais aqui.

 

LES ŒILLETS ROUGESQuando ao negro cemitério eu for, \ Irmão, coloque sobre sua irmã, \ Como uma última esperança,\ Alguns 'cravos' rubros em flor.\ Do Império nos últimos dias\ Quando as pessoas acordavam,\ Seus sorrisos eram rubros cravos\ Nos dizendo que tudo renasceria.\ Hoje, florescerão nas sombras\ de negras e tristes prisões.\ Vão e desabrochem junto ao preso sombrio\ E lhe diga o quanto sinceramente o amamos.\ Digam que, pelo tempo que é rápido,\ Tudo pertence ao que está por vir\ Que o dominador vil e pálido\ Também pode morrer como o dominado. Poema Os cravos rubros, uma declaração de amor e carta de despedida da escritora, professora, enfermeira e blanquista francesa Louise Michel (1830-1905), apelidada de Enjolras e afamada como A Virgem Vermelha, anarquista da Comuna de Paris. Foi homenageada por Victor Hugo com poemas e personagens em seus livros, o qual, presume-se seja o pai de sua filha Victorine. Para ela os tributos do longa-metragem de 2009 do cineasta Sólveig Anspach, a Cantate da cantora Michèle Benard, a epopeia acústica Daoumi de Clément Riot, também a homenagem dos grupos musicais Louise Attaque e Les Louise Mitchels, afora tema do terceiro filme dos "grolandeses" Bento Delépine e Gustave Kervern. Veja mais aqui.

 

OUTRAS DIC’ARTES MAIS

 

Imagem: Femme nue de dos dans um intérieur, do pintor cofundador do Impressionismo francês, Jacob Abraham Camille Pissarro (1830-1903). Veja mais aqui e aqui.


MARCEL PROUST - O escritor francês Marcel Proust (1871 - 1922) desde a infância que possuía uma saúde extremamente frágil e abalada por constantes crises de asma forçando-o a uma vida cercada de cuidados, voltada para a ociosidade, leituras e atividades de escritor. A sua grande obra Em busca do tempo perdido é composta de sete partes e foi publicada entre 1913/1927, totalmente narrada em primeira pessoa e apresentado a história de uma época e de uma consciência introspectiva de observador do mundo em que vivia. A obra possui um estilo admirável recuperando reminiscência que recompõe fatos e rememorando sensações e sentimentos. O primeiro volume da coleção é No caminho de Swan que é dedicado à narração da infância e adolescência do herói. Nessa obra destacamos: “[...] Há muito de acaso em tudo isso, e um segundo acaso, o de nossa morte, não nos permite muitas vezes esperar por muito tempo os favores do primeiro. Acho muito razoável a crença céltica de que as almas daqueles a quem perdemos se acham cativas nalgum ser inferior, num animal, um vegetal, uma coisa inanimada, efetivamente perdidas para nós até o dia, que para muitos nunca chega, em que nos sucede passar por perto de uma árvore, entrar na posse do objeto que lhe serve de prisão. Então elas palpitam, nos chamam, e logo que as reconhecemos, está quebrado o encanto. Libertadas de nós, venceram a morte e volta a viver conosco”. É dele também essa expressão “[...] Deixemos a mulher bonita para homens sem imaginação [...] porque é um desperdício uma mulher bonita para um homem só”. Veja mais aqui, aquiaqui


MESTRE VITALINO – Quando fui estudar Direito em Caruaru nos anos 1980, tive a oportunidade de ter contato direto com a obra de Mestre Vitalino (1909-1963, pseudônimo de Vitalino Pereira dos Santos). Esse artesão e ceramista da arte figurativa pernambucana, retratava em seus bonecos de barro a cultura e o folclore do Nordeste, ganhando reconhecimento nacional e internacional. Tive, inclusive, oportunidade de assistir ao belíssimo poético e musical O auto das sete luas de barro, do dramaturgo e encenador Vital Santos, pelo então Grupo Folguedo de Arte Popular, atualmente Grupo Freira de Teatro Popular, narrando a trajetória do mestre do nascimento à morte. Imortalizado por sua arte, se hoje fosse vivo, o Mestre Vitalino comemoraria 105 anos de idade. Salve, Vitalino!!! Veja mais aqui.


RACHEL LEVKOVITS – Conheci a escritora, compositora, artista plástica e empresária francesa radicada no Rio de Janeiro, Rachel Levkovits por meio do Clube Caiuby de Compositores. Ela edita o blog que leva o seu nome, reunindo seus poemas e canções, entre os quais destacamos Sou, sim. E daí?: “Um dia, de todos, fico cheia / No outro, minha dor minguante / me transforma em nova / e, então, me sinto crescente. / Aí me dizem: É, ela é mesmo de lua!”. Hoje é aniversário e daqui nossos parabéns com uma modesta homenagem pra ela aqui.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis Nefelibata
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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VERA IACONELLI, RITA DOVE, CAMILLA LÄCKBERG & DEMOROU MUITO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Tempo Mínimo (2019), Hoje (2021), Andar com Gil (2023) e Delia Fischer Beyond Bossa (202...