A ESPERA DE BIA, ARIANA – Imagem: arte by Ísis Nefelibata - É noite e eu
respiro o meu segredo e a minha solidão nessa casa vazia. Apenas este espelho é
testemunha de tudo, e tudo que vejo refletido é a menina que se escondera em
algum recanto esquecido dentro de mim e que hoje resultou numa mulher fatigada
que confere seu jeito procurando dela a ânima linda de ontem para se iluminar.
Não, não é mais a mesma, eu sei, nunca mais fora a mesma, o tempo assim fizera
agora ajeitando as flores do jarro, removendo a poeira impregnando tudo e que
pesam nos ombros, ajeitando a pulseira, alisando a face, escondendo com as mãos
os cabelos que já se insinuam esbranquiçados, os brincos, o batom, o estojo de
maquiagem, sabendo que não adianta querer me embelezar, ele, por certo, não
virá. A noite é apenas descoberta por uma simples vela no castiçal de madeira,
a minha única companhia enquanto escuro está todo o mundo ao meu redor. Onde
estará ele? Sei lá, já perdi a conta de esperar. Só me resta olhar essa face
lívida e cansada na frente do espelho enquanto tento solfejar qualquer canção
de amor e depois me enrolar no lençol, o travesseiro, a fronha, a minha
repetitiva existência, até adormecer e não mais acordar... Ah! espelho, só você
flagra a minha lágrima, o batom borrado, as rugas indesejáveis, penteando os
cabelos, apascentando minhas feras que botam as garras de fora dentro de mim.
Você, espelho, consegue ser o caleidoscópio da minha vida passada a limpo: o
noivado que findou trágico, o casamento que acabou antes da hora e o namorado
que se esqueceu de voltar no meio da fantasia. O lado bom disso, são as minhas
filhas e a dor de ser mãe que não passa, vigilante, noites e dias e dias e
noites. Os sonhos, ah! os sonhos de felicidade, a vida dura doendo no peito, a
esperança de sempre. Olho para ontem e vejo... ah! não quero lembrar. Olho para
o amanhã e sei que tudo vai se repetir parece que da mesma forma de sempre. Pos
é, nesse rosto realçado pela sombra que me atormenta e pela luz da vela que me
falagra, está tudo o que me resta das cirurgias, dos dias de choro, dos dias de
riso solto, do ventre ardendo de prazer e me reduzindo à lembrança do namorado
que não voltou nunca mais. Não dá para ver-me prendendo as mãos entre as pernas
e o sexo. Tudo, tudo é muito difícil. Vou rabiscar uma carta, mandar um mail,
discar no telefone para algum número, não, eu sei, não adianta, a vida está
fazendo a sua parte. Ah! se eu pudesse rever a infância mimada, a adolescência
agitada, tudo muito riso e muita felicidade. Agora, sozinha no quarto e nesta
casa juntando as jóias nenhuma, algumas bijouterias, o diadema, algumas lembranças
risíveis do passado, o castiçal molhado de puras lágrimas, o botão da flor como
se estivesse nas feiras livres onde tudo está a granel: desejos, vassouras,
verduras, panelas, pratos, talheres, gavetas, toalhas, tudo na carne da unha
infestando-me de recordações no alvoroço de minha inquietação. Eu me espremo
sozinha, passo o perfume na face, a fragrância na pele, tudo guardado esperando
por quem nunca vem. Eu fico só no meio dessas tranqueiras foleadas, brincando
de mentirinha que ainda sou amada. Ah! Quantos prazeres guardo embaixo da saia?
Quanta volúpia nasceu da minha boca e da minha língua? Quanto frenesi acendi
com meu corpo os prazeres do homem que insiste em não voltar? Eu me joguei de
cabeça nesse amor e ele tarda e teima sem retorno. Estou só, toda esperança no
peito, as mãos sentidas ávidas por afagá-lo enquanto eu morro supliciada com o
desejo arraigado de alcançar elevadas alturas orgásmicas, o bom-gosto dos
suntuosos lugares, o fausto do refinamento, a nobreza da fuga sentimental
enquanto lições e tribulações são o línquido azedo da taça da vida que queima a
minha ânsia interior e fujo do sórdido e da vulgaridade. Eu tenho o compromisso
na palavra como jura de fogo no toque dos metais: eu amo. Eu sei, sou
dominadora, sou imponentemente afável, às vezes impaciente com a demora, e me
enganando ao fazer algo como ir decorando a casa, adornando o corpo, risonha
para mim, teimosa por querer sempre sem que a piedade apaziguasse, e
despetalando a rosa bem-me-quer, mal-me-quer. Ele me quer, eu sei, não vem e
quem lhe chama na noite escura debruçada numa fria madeira do móvel a fitar
duma vela que denuncia o meu ser no espelho, onde eu percebo o meu olfato
aguçado do seu cheiro se aproximando, minha audição aguda ouvindo seus passos
ao meu encontro, e à noite minha íris abre-se para buscar-lhe a imagem alhures
na querência que venha, e se não vier boto prá fora minha sanha de suçuarana,
andando na ponta dos pés como uma felina furiosa, na minha espinha flexível e
poderosa, feroz, eu trêmula, pálida de raiva escondendo a saudade nos olhos e
vingança de esganá-lo ao primeiro contato. É, ele não vem nunca e quando chega
eternamente exausto, regiamente maduro, estupidamente tímido, enquanto eu
balanço fogosa, tremendo na base com uma a chuva de uivos de loba e o meu amor
numa areia movediça como se fosse o meu maior pecado lanhando meu dorso, o
grande amor que aciona as palpitações do corpo, a luxúria da carne quando eu
saio das trevas sem dar-me conta, abrindo o vestido, nua e deslumbrada, o cetro
dele a me seduzir, eu voluptuária enfermeira, rameira particular, passeando por
paisagens fenícias, Veneza, Berna, o lago Zurique e Edinburgh durante o seu
beijo e o seu afeto. Eu me desmanchando atenta, zelosa, delirante, sem pose, a
sua posse, o meu espanto com o formigamento na epiderme, o apetite e o deleite
da matéria em movimento, na minha alcova onde somos iguais na forte atração
recíproca, ah! como esqueço de mim e entrego-lhe tudo o que sou, eu com meu
peito que se estufa de alegria, cheia de meneios fazendo-me flor quando faz de
mim seu saxofone, servindo-me orvalhada ao seu ter, cheia de graça, deitada ao
seu colo e mexendo todos os seus meridianos. Sou sua oferenda, a sua taça
erguida, porque ele é como se fosse um deus e eu como uma mercadoria cobiçada, invadida
até nos pensamentos, possuída toda pelo seu hálito de álcool e cigarro, a sua
cara de Aretino safado, com seu hedonístico jeito obsceno de me cativar, seu
refinado sondar, seu galante jeito de me descobrir, como um Diderot lúbrico, um
Voltaire lascivo, um Mirabeau fanático, um Marquês de Sade indomável, a me
chamar de Vênus arrancando-me a camisola, empurrando-me violentamente o seu
cordão de São Francisco, a sagrada serpente que me leva ao orgasmo e à
revelação espiritual, revolvendo minhas entranhas com suas mãos buliçosas,
precitando-se de mim. Ah! eu sempre fora a sua plantação regada de carinhos e
quando dou as costas, eu sei, ele me morde o ombro com uma sede de séculos. Ah!
mas sua presença é algo além de minhas forças, enlouqueço e definho enquanto
ele desenguiça minha máquina sobejando meus líquidos divinos e me enterrando
sua gula profana, ah! quantas vezes se afogou em mim como quem mergulha águas
prazeirozas, fazendo com que eu conheça todos os seus músculos, todas as
mentiras, toda luxúria de um homem apaixonado se acercando dos meus ouvidos com
seus gritos lancinantes de prazer; depois sentir-lhe o membro viril tocar entre
as minhas pernas; e despejar o sêmen dele na minha mão, no meu rosto, na minha
boca, nos meus seios, no meu ânus, minha vagina, minhas coxas, braços, pernas,
labuzada toda para ser dele que se aproveita disso, atingindo a vulva, o útero,
fecundada a fonte e todos os meus rios. Parece insaciável mordendo o meu
pescoço e arrepiando-me ao seu contato até que mergulha no meu decote e
descobre o meu pudor de santa, o meu pecado de puta de que fui sua janta, café
da manhã, ceia, almoço e sobremesa; fui sua cama, mesa e banho; sua barba,
cabelo, bigode e pentelho; fui bebida e sobejada; servida e seviciada; amada,
comida e rejeitada; santa e demoníaca; panacéia e veneno; pronta para a carícia
e o escalpelo; puxada pelos cabelos, partida em bandas, cuspida e escarrada;
banida e enjaulada como a cobaia e a punição; seduzida e estrupada; fui o
clímax da sua satisfação e a maldição dos tempos; fui jurada de morte e de
cortes vitimada; gloriosa e sucumbida; desejada e maldita; adorada demais e a
costela desprezada; fui égua em sua cavalgadura e senti seu peso nas minhas
costas, na dor de perder-me a alma e o senso no coito anal, quando depois de
gozar se estendia do lado enquanto eu lhe punha para dormir o sono dos justos,
alisando o seu sexo. E depois ir embora sem ao menos dizer adeus, até logo, o
beijo derradeiro, deixando o meu sorriso em sua carne; e eu sem sossego
amarrando o bode onde podia, delirante para não deixá-lo ir nunca mais, mas
fora, e eu ficara e continuo a me espremer sozinha, a vela apagada e eu choro a
noite no travesseiro. Daqui a pouco o sol se levanta e eu tenho que sorrir para
a vida. © Luiz Alberto Machado.
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MUSA TATARITARITATÁ: ELAS FAZEM POESIA & SEXO!!!! – Imagem: Tentação, foto de PostScriptum. - Gentamiga, reuni no blog Crônica de amor por ela – o bloguerótico Ela nua é linda -, as mais recentes produções das poetas & escritoras eróticas. Elas mandam ver: fazem poesia & sexo. Confiram o time campeão de Musas Tataritaritatá: Joyce Mansour, Lya Luft, Glaura Silva Alvarenga, Hilda Hilst, Elizabeth Barret Browning, Mariza Lourenço, Ethel Feldman, Clevane Pessoa de Araujo Lopes, Juracy Ribeiro, Sueli Fajardo, Sarinha Freitas, Liria Porto, Branca Tirollo, Ana Cristina Pozza, Livia Tucci, Van Luchiari, Sonia Delsin, Regina Rodrigues, Beth Joy, Lih Meine, Silvia Mara, Vera Linden, Marieta Dobal Campigli, Nilza Menezes, Lucia Nobre, Elen Viana, Luli Coutinho, Mirita Nandi, Diana Balis, Sandra Salgado, Candy Saad, Marta Rodriguez, Sandra Fayad, Grace Fares, Mirtes Waleska Sulpino, Rosa Pena, Soninha Porto, Vera Salbego, Vilma Orzari Piva, Paula Lee, Tania Tomé, Jade Dantas, Helena Cristina, Carla Toscano, Gina Costa, Larissa Marques e muito mais mulheres versejando o amor e o sexo! Confira aqui.
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