VAMOS APRUMAR A CONVERSA? RENOVAÇÃO - Aos vinte e nove dias do mês de outubro
do ano de dois mil e quinze, hoje mais que nunca reitero o que dissera desde
março de sempre na infância de todos os amanheceres, no adolescer adulto e na
noite de novos alvoreceres da criança aos seios da mãe crepuscular por todas as
matas do engenho de açúcar, arrodeando o Una que me batizou para que eu fosse
mais que um rio a singrar a vida. Reitero mais que a crônica do coração materno
que é dela e que reconhece todos os nomes e até as inomináveis que varam
agrestes, sertões e litorais e que vão além do planalto central para fincarem a
sua alma atlântica no mais ignoto território do Pacífico. Reitero mais que a
festa de todas as deusas de todos os panteons do universo pra todas as musas
nuas e ciborgs que vigiam o futuro porque não têm nada mais que o agora. Reitero
mais que a realeza de todas as rainhas sobre todas as abelhas que lhe são
súditas no reinado de todos os voos que levam além de mim para o que sou de
mais eterno. Reitero mais que os poemas que viraram canções e dos cantaraus que
são não mais que gratidão no dia quente e na tarde de sol e que são mais que
apologias de sangue e sentimento das mãos à alma e que eternizam no vento o que
dela emana pra ser mais real. E assino embaixo com meu sangue como se fosse a
seiva da flor mais que desabrochada. E veja mais aqui e aqui.
Imagens a multiarte da pintora, escultura
e cineasta francesa Niki de Saint Phalle
(1930-2002).
Curtindo o álbum Funambola (Ponderosa Music&Art, 2007), da cantora e compositora
italizana Patrizia Laquidara.
UMA NOVA CONSCIÊNCIA PARA A
HUMANIDADE – No livro Visão holística em psicologia e educação
(Summus,1991), organizado por Dênis M. S. Brandão e Roberto Crema, destaco o
texto A visão holística: uma nova
consciência para a humanidade, da doutora em Psicologia, com formação em
Gestalt-Terapia e Transpessoal, autora do método A mutação Holística, Monique Thoenig: [...] Vivemos em um mundo atomizado em todos os
níveis. Constata-se uma atomização do individuo, uma atomização da humanidade e
do mundo. Beiramos o ponto de não retorno. No entanto, em meio a isto,
espíritos se levantam em todo o mundo, a boa vontade entra em ação. Corações se
surpreendem. Este novo olhar está no centro de nós mesmos e aí podemos
encontra-lo. É do coração que ele irradia. A Paz começa em cada um de nós. E é
ai que se deve fazê-la germinar. O amor é a necessidade fundamental de todo
ser. Nosso planeta, a Terra, é um ser vivo; é como um coração que bate no
universo – o drama fundamental da humanidade é que nem todos os corações batem
em uníssono. [...] A experiência
última permanece com o Vazio misterioso e primordial, que contém toda a
existência em germe e potencialidade. Aí já não encontramos a dualidade entre
a fonte e o rio, entre o raio e o sol. No abandono a uma força onipresente, o sim
inclui o não, já não mais opostos. O Ser renasce no espelho da morte. E eu
finalizaria com esta frase de Krishnamurti: “Então, só ao que se pode chamar de
Deus é possível existir”. Veja mais
aqui aqui e aqui.
A MOÇA TECELÃ – No livro Doze reis e a moça no labirinto do vento (Nórdica, 1985), da
escritora e jornalista ítalo-brasileira Marina Colasanti, destaco o conto A Moça Tecelã: Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando
atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.Linha clara, para
começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios
estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois
lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca
acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça
colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em
breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em
pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à
janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e
espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para
que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado
para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a
moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo
peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para
ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete.
E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila. Tecer era
tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela
própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou
como seria bom ter um marido ao seu lado. Não esperou o dia seguinte. Com
capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete
as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi
aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.
Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos,
quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta,
tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida. Aquela noite, deitada
contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar
ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem
tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear,
em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. - Uma
casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que
eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes
para os batentes, e pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe
pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou.
Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em
prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e
pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo
para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia.
Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo
da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido
escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. - É para
que ninguém saiba do tapete, - disse. E antes de trancar a porta à chave,
advertiu: -Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso
tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres
de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o
que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe
pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez
pensou como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se
enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não
fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não
precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e,
jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido.
Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu
os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu
na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava
quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta.
Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e
ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe
pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.Então, como se ouvisse a
chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre
os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
Veja mais aqui.
A UM HOMEM & OUTROS POEMAS
– No livro Mundos Oscilantes: Poesias
Completas (José Olympio, 1962), da poeta e
jornalista Adalgisa Nery (1905-1980), destaco inicialmente o
poema A um homem: Quando numa rocha porosa / Cansado te encostares / E
dela vires surgir a umidade e depois a gota, / Pensa, amado meu, com carinho, /
Que aí esta a minha boca. / Se teus olhos ficarem nas praias / E vires o mar
ensalivando a areia / Com alegria pensa amado meu / Num corpo feliz / Porque é
só teu. / Se descansares sob uma arvore frondosa / E além da sombra ela te
envolver de ar resinoso / Lembra-te com entorpecência amado meu, / Da delicia
do meu ventre amoroso. / Quando olhares o céu / E vires a andorinha tonta na
amplidão / Pensa amado meu que assim sou eu / Perdida na infindável solidão. / A
noite quando as trevas chegarem / E vires do firmamento. Também, Poema da amante: Eu te amo / Antes e depois de todos os acontecimentos / Na profunda
imensidade do vazio / E a cada lágrima dos meus pensamentos. / Eu te amo / Em
todos os ventos que cantam, / Em todas as sombras que choram, / Na extensão
infinita do tempo / Até a região onde os silêncios moram. / Eu te amo / Em
todas as transformações da vida, / Em todos os caminhos do medo, / Na angústia
da vontade perdida / E na dor que se veste em segredo. / Eu te amo / Em tudo
que estás presente, / No olhar dos astros que te alcançam / Em tudo que ainda
estás ausente. / Eu te amo / Desde a criação das águas, / desde a idéia do fogo
/ E antes do primeiro riso e da primeira mágoa. / Eu te amo perdidamente / Desde
a grande nebulosa / Até depois que o universo cair sobre mim / Suavemente. E por fim, o poema Repouso: Dá-me tua mão / E eu te levarei aos campos
musicados pela / canção das colheitas / Cheguemos antes que os pássaros nos
disputem / os frutos, / Antes que os insetos se alimentem das folhas / entreabertas.
/ Dá-me tua mão / E eu te levarei a gozar a alegria do solo / agradecido, / Te
darei por leito a terra amiga / E repousarei tua cabeça envelhecida / Na relva
silenciosa dos campos. Nada te perguntarei, / Apenas ouvirás o cantar das águas
adolescentes / E as palavras do meu olhar sobre tua face muito / amada.
Veja mais aqui.
O VOTO FEMININO – A comédia em um ato O voto feminino (1878), da jornalista e feminista Josefina
Álvares de Azevedo (1851-?),
oriunda do trabalho desenvolvino no jornal A Família que se tornou um veículo
de propaganda do direito ao voto feminino e ela publicou uma série de artigos,
nos quais afirmava que, sem o exercício desse direito pelas mulheres, a
igualdade prometida pelo novo regime não passaria de uma utopia. Inspirada no
parecer do ministro do interior, Césario Alvim, em abril de 1890, negando o
alistamento eleitoral de Isabel Matos, ela escreveu a peça teatral que foi encenada
durante os trabalhos constituintes de 1890-91, no Recreio Dramático, um dos
teatros mais populares no Rio de Janeiro daquela época. A peça apropriou-se,
numa linguagem cênica, do parecer negativo do ministro e também do artigo de um
congressista favorável ao voto feminino para criticar duramente o ridículo da
resistência masculina em aceitar a participação das mulheres na vida política. A
obra foi publicada em livro e também como folhetim nas páginas do jornal de
Josefina, de agosto a novembro de 1890. Voltou a ser reeditada na sua coletânea
A mulher moderna: trabalhos de propaganda (1891). Da peça destaco as
cenas 4 e 5 recolhidas do estudo Josefina Alvares de Azevedo: teatro e
propaganda sufragista no Brasil do século XIX, da pesquisadora e doutora em
Letras, Valeria Andrade Souto Maior: [...]
CEnA 4a. Inês e Esmeralda ESMERALDA (entra lendo um
jornal) – Que quereis fazer de uma mulher como vós inteligente, como vós ativa,
como vós ilustrada, como vós amante da pátria, e que lhe quer, pode e deve
prestar todos os serviços?! INÊS (que tem estado a prestar muita atenção) –
Sim, sim, o que querem os homens fazer de uma mulher assim? ESMERALDA – Oh!
Minha mãe, que belo artigo o do Dr. Florêncio, publicado no Correio do Povo de
ontem. INÊS – É um grande talento!ESMERALDA – Tem feito do voto feminino uma campanha
célebre. INÊS – E há de vencer. ESMERALDA – Se vencerá! INÊS – Em passando a
lei, já se sabe, hás de te apresentar para deputada. ESMERALDA – Eu, minha mãe?
INÊS – Sem dúvida. Pois não estás habilitada para isso? ESMERALDA – Sim, estou
habilitada. Mas meu marido? INÊS – Ora, o teu marido! Que se empregue em outra
coisa. ESMERALDA – É bom de dizer, a senhora sabe, que ele tem sido sempre
deputado... E não há melhor emprego do que esse. INÊS – De ora em diante serás
tu. Se lhe hás de estar todas as noites a ensinar o que ele há de dizer, vai tu
mesma dizer o que sabes. ESMERALDA – Pobre Rafael! Ele que deseja tanto
subir!... INÊS – Sobe tu. Faz-te deputada, (aparece ao fundo a criada) depois
senadora, depois ministra, e talvez que ainda possas chegar a ser presidente da
república...CEnA 5a. Inês, Esmeralda e Joaquina JOAQUINA (entrando) – Quem? O
senhor Rafael? INÊS – Não tola; a Esmeralda. JOAQUINA (admirada) – Uê! ESMERALDA
– Ora, mamãe, isso não se faz assim. INÊS – Como não; faz-se sim, senhora. E eu
hei de ser tua secretária. JOAQUINA (contente) – Que belo! Nesse tempo eu
ficarei sendo sua criada grave. INÊS – É verdade, poderás proteger essa
rapariga arranjando-lhe algum emprego razoável. JOAQUINA – Olhe, minha ama,
sabe o que eu queria ser? ESMERALDA – Diz lá. JOAQUINA – Aquele homem que anda
num carro fechado e com dois soldados a cavalo... ESMERALDA – Oh! Mulher!
Querias logo ser ministra? INÊS – Isso é impossível, Joaquina. JOAQUINA – Eu
sei lá! Queria ser uma coisa que pudesse mandar os soldados. ESMERALDA – Mandar
soldados, para quê? JOAQUINA – Para nada, não senhora. (aparte) Para mandar
prender aquele ingrato do seu Antonico que não se quer casar comigo. (sai) INÊS
(que tem estado a conversar com Esmeralda, durante o aparte de Joaquina) – No dia
em que for decretado o nosso direito de voto... [...] Veja mais aqui.
LA PELLE – O filme La pelle (1981), dirigido pela
cineasta e roteirista italiana Liliana
Cavani – que ficou reconhecida por seu filme Il portiere di notte (O
porteiro da noite, 1974), tem seu roteiro baseado no romance homônimo do
escritor, jornalista, dramaturgo e cineasta italiano Curzio Malaparte
(1898-1957), com musica de Lalo Schifrin. Este belíssimo filme tem por destaque
a sempre aplaudidíssima e cultuada, bela e encantadora atriz italiana nascida
na Tunísica, Claudia Cardinale,
estrela dos filmes de Luchino Visconti, Federico Fellini e Sergio Leone,
atuando nas últimas décadas como uma libertária de esquerda na defesa das
mulheres e dos homossexuais, bem como em causas humanitárias na valorização de
sua herança árabe. Ela escreveu sua autobiografia intitulada Moi
Claudia, Toi Claudia. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear a escultora,
desenhista, gravurista, pintora, escritora e musicista Maria Martins (1894-1973).
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa SuperNova, a partir das
21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix
MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot
Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para
conferir online acesse aqui .