quinta-feira, junho 26, 2014

ISABELLE STENGERS, BAUDELAIRE, MANN, AUTRAN DOURADO, GIL & OUTRAS MÚSICAS


 

O QUE SOU & NÃO, CONTRADIÇÕES... – (Imagem: capa do álbum Contradições, do músico e produtor Gilber T) – O que era não mais e o que serei não sei. Se o céu azul se faz negro, o Sol brilha e amarelo a vida com quem sabe que, se não deu certo, não era errado pensar e agir doutra forma. O dia ensolarado muitas vezes foi mais breu que a madrugada, sequer tinha pra onde ir. O calor na fervura da emoção tantas vezes era banho de água fria, mais que gelo antártico no coração. O que de líquido e certo tivera, umbral no meio da mata que nem lá mais existia, levando no peito arame farpado de todas as horas. Ao chegar ao topo não era monte nem beira-mar e as ondas eram lufadas que empurravam pro precipício. Assim cada ano por muitos instantes espremidos e nem sabia o que era da esquina no meio do alvoroço. Fui de ontem pro amanhã, pelo certeiro por sobre pedras falsas, sabia lá que a ponte era móvel e o rodízio era feito redemoinho de dias... Eu sorria e a chuva era o choro da remissão. E refazia o trajeto como se nunca tivesse por ali passado e retomando outras ideias como se fosse possível colher cada flor no meio da correria. Saía do quintal pro meio de longa e larga avenida, nem dava pra ouvir o alarido das ameaças, o psiu por alarde ou o sinal vermelho. Teimava em trilhar quaisquer ousadias, lá longe o circo dos horrores com seus desfiles por todos os lados das ruas e semblantes. O que não dava pra atravessar eu cortava caminho e quase feliz com a criançada aos pulos na saída da escola, a sirene abrindo portões e um tanto de gente fugindo pelo ladrão. Eu não estava e a sorte era não reconhecer ninguém, tão estrangeiro quanto quem nunca nascera sonhando viver. Outras atrações adiante repletas de ondas intermináveis com luzes mais caleidoscópicas. Era um espetáculo que pisava lágrimas, dores e espremidos. No meio da multidão uma sereia acenava e era tão linda como um dia de festa. Com o dedo apontando tocou meu coração como se fosse um feitiço para me fazer feliz. Pegou-me pelas vísceras a levitar sobre uma montanha russa repleta de tapetes mágicos, contornando monumentos, perigos e golpes de estado. Sorria cabelos nas nuvens e me contava histórias de antanho em que mortes e vitórias sangrentas eram comemoradas pra felicidade dos que são poderosos enterrando quem não tivesse onde cair morto. Soube que eu era um dos vencidos gozando do último pedido nas mãos dela e a vi tão cruel quanto bondosa, com a nudez do beijo final da viúva negra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.


 

PENSAR & VIVERSe aprender a pensar é aprender a resistir a um futuro que se apresenta como óbvio, plausível e normal, não o podemos fazer nem evocando um futuro abstracto, do qual foi afastado tudo o que está sujeito à nossa desaprovação, nem referindo-nos a um futuro distante. causa que poderíamos e deveríamos imaginar estar livres de qualquer compromisso. Resistir a um futuro provável no presente é apostar que o presente ainda fornece substância para a resistência, que é povoado por práticas que permanecem vitais mesmo que nenhuma delas tenha escapado ao parasitismo generalizado que as implica a todas. Pensamento da filósofa e historiadora belga Isabelle Stengers.

 

QUAL É A VERDADEIRA? - Conheci uma certa Benedita que enchia a atmosfera de ideal, cujos olhos resplandeciam o desejo da grandeza, do belo, da glória e de tudo aquilo que faz crer na imortalidade. Mas essa menina milagrosamente era bela demais para viver muito tempo; assim, ela morreu alguns dias depois que a conheci, e fui eu mesmo que a enterrei, num dia em que a primavera agitava seu incensório até nos cemitérios. Fui eu que a enterrei, bem lacrada em um caixão de uma madeira perfumada e incorruptível como as arcas da Índia. E, como os meus olhos permaneciam plantados no lugar onde estava enterrado o meu tesouro, vi subitamente uma pequena pessoa que se parecia muito com a defunta, e que, esperneando na terra fresca com uma violência histérica e bizarra, dizia, explodindo de rir: "Sou eu a verdadeira Benedita! Sou eu, uma famosa canalha! E, como punição a sua loucura e cegueira, você me amará assim, como eu sou!". Mas, furioso, respondi: "Não! não! não!". E, para melhor marcar minha recusa, bati o pé tão violentamente na terra que minha perna afundou até o joelho na recente sepultura, e, como um lobo pego na armadilha, permaneço preso, talvez para sempre, na vala do ideal. Texto do escritor, tradutor, crítico de arte e poeta francês, Charles Baudelaire (1821-1867). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.
(Metáfora, Gilberto Gil)

GILBERTO GIL: 72 ANOS DE MÚSICA E POESIA – O multiartista Gilberto Gil está na minha vida desde minha infância. Como eu disse, aos 7 anos de idade, fui embalado pela sua “Domingo no Parque”. Depois disso, toda sua interpretação e obra musical desfilou na minha preferência: poesia & canções. Tive a oportunidade de vê-lo no palco por diversas vezes nos seus mais diversos shows e álbuns, constatando que: se tem Gil, tem festa e poesia. Sempre saio encantado das suas apresentaçõ0es. Daqui minha festa & parabéns: Salve Gilberto Gil. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – Já dizia Autran Dourado na sua belíssima “Novelas de aprendizado”: “[...] Apesar da dificuldade de aquisição de um livro numa pequena cidade do interior brasileiro, meu pai tinha uma relativamente boa biblioteca, pelo menos em número, eu não saberia julgar. Na sua maioria livros de Direito (eu não sei por que tão numerosos, apesar de meu pai ser juiz; depois fiquei sabendo – quanto menos respeito tem um país às leis, maior a sua literatura jurídica) [...]”. Veja mais aqui.


LUIZA POSSI – Lembro bem quando vi a cantora Zizi Possi grávida maravilhosamente cantando a belíssima canção “Luiza” do Tom Jobim: “Vem cá Luiza, me dá tua mão, o teu desejo é sempre o meu desejo [...] que eu guardei somente pra te dar Luiza...”. A mãe antevia na lindeza da música toda a beleza da sua filha, hoje a cantora e compositora Luiza Possi Gadelha. Belíssima voz, lindíssima expressão e que de mãe pra filha fui sendo envolvido pelo talento dessa jovem cantora que hoje comemora 30 anos de idade. Eu me deliciei mesmo quando ela gravou “Logo eu” do parceiramigo Sonekka Osmar Lazzarini & Zé Edu Camargo. Parabéns, Luiza, muito sucesso procê é o desejo do seu fã.

THOMAS MANN – Essa recolhida do livro “Tônio Kroeger” do escritor alemão Thomas Mann (1875-1955), na tradução de Maria Deling: “[...] A experiência fê-lo saber que era o amor, apesar de ter certeza que o amor deveria trazer-lhe muita dor, tormentos e humilhações, e que além disso destruía a paz e deixava o coração transbordar com melodias sem que encontrasse sossego para dar forma a alguma coisa e tranquilamente forjar uma peça inteiriça. Assim mesmo aceitava-o, entregava-se completamente e zelava por ele com as forças de sua alma, pois sabia que o amor enriquecia e dava vida e ele ansiava por ser rico e vivo em vez de na tranquilidade forjar algo concreto...”. Veja mais aqui.


CÉLIA DEMÉZIO – O Clube Caiubi de Compositores desde sempre (e bote ano nisso!) me proporcionou surpresas agradabilíssimas. Sempre encontro coisas muito legais pra curtir. Dessa vez, estava catando coisas na rede e fui conferir melhor o trabalho lítero&musical da cantora, poeta e compositora Célia Demézio. Curti as canções de sua autoria e suas performances no Grupo Noir: “Trocadinhos”, “Suando frio”, “Que cena era aquela”, “Ok” (uma parceria dela com Jorge Mendes), entre outras, até chegar na sua “Sorrisos crônicos” que me levou pro primoroso blog homônimo onde catei pérolas como “Do lado avesso”, “Hssssssss”, “O caminho do cinema”, “VampKlauss”, “Re-Seios” e o belíssimo “Poema para Iporanga”, tudo isso que ela vinha publicando desde 2007. Tudo um primor. Parabéns duplos: pro trabalho artístico e pela nova idade hoje: feliz aniversário!!!!!


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O cis, o efêmero & eu aqui.

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