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quinta-feira, julho 26, 2018

JUNG, HUXLEY, ANTONIO MACHADO, SHAW, LAURINDO ALMEIDA, GIBRAN & CARMEN TYRREL


A VOLTA DE ZÉ PEIÚDO – Imagem: a arte da artista plástica britânica Carmen Tyrrel. - Quase vinte anos depois, Zé Peiúdo botava os pés de volta nas terras de Alagoinhanduba. Ninguém o reconheceu a pisada, era quase outro, irreconhecível, embecado de gola e colarinho, uma garrafa metálica num bolso e O catecismo de Mister T – aquele da temperança do Big Shit Bôbras, no outro. A primeira providência: ter com o Zé-Corninho, a sua maior vítima. Ao encontrá-lo, travou conversa amistosa. Lá pras tantas: Sabe com quem tá falando, Zé? Desculpa, mas nunca vi mais gordo. Eu lhe conheço, cabra, sou Zé Peiúdo. Oxe, Corninho deu um salto solto e caiu em pé, as munhecas em riste, arregaçando a manga da camisa, pronto pra briga. Calma, meu amigo, não sou mais aquele, agora sou um Pastor de Jesus e vou provar. E deitou a maior lábia, tomou um gole da garrafa e Corninho só com o pé atrás. Daí a pouco o forasteiro deu um espirro e o milagre aconteceu: a casa do desconfiado era de taipa e tornou-se uma chique de alvenaria, a mais luxuosa do arruado. Vixe! Como você fez isso? Não fiz nada, é obra do senhor! Corninho com os olhos esbugalhados não acreditava no que via. Foi até a porta e ficou maravilhado: tudo novo e do melhor. Voltou-se e ficou agarrado ao agora benfeitor na maior das gratidões. Foi abraçado de quase não largar. Peiúdo depois de muxoxos e risadinhas, às despedidas, acenou, pois, tinha que continuar a sua missão. Ao arrodear a cidade, deu com um cidadão quebrando cabeça para mudar o pneu furado do carro. Permita. Enquanto o impaciente dificultoso atendia ao telefone aos esturros, ele ingeriu o líquido da garrafa e, num piscar de olhos, tudo resolvido. Ao desligar o aparelho, espantou-se com a providência: Como você fez isso? Não fiz nada, é obra do senhor! O satisfeito abraçou o estranho dizendo: Sabe com quem você está falando? Peiúdo disse apenas ser Servo de Jesus, enquanto o agraciado colocava um cartão no seu bolso, sob a recomendação de só vê-lo quando saísse. Assim fez. Já distante do local, pegou no bolso e viu: Juiz de Direito. 2x0. Mantendo sua caminhada a esmo, soube que a moenda da usina dera bronca. Foi lá, pediu que todos se afastassem e secretamente resolveu o impasse: Pronto, está tudo funcionando. O dono apareceu: Como fez isso? Não fiz nada, é obra do senhor! O usineiro arrogante perguntou quanto custava o seu serviço, negando cobrar qualquer quantia. Logo fez amizade com o ricaço. 3x0. Aí ouviu de um passante que o teto da igreja desmoronava. Foi lá, começou a remexer nas coisas e, num instante, tudo em perfeita ordem. O padre Quiba ao presenciar aquilo, saiu gritando: Milagre! Milagre! O pároco virou-se para ele: Como fez isso? Não fiz nada, é obra do senhor! 4x0. Dali viu uma correria do povo, acompanhou o pandemônio e era a ponte que ameaçava cair. Foi pra baixo dela, escondeu-se e, num instante, estava em perfeitas condições. O povo aplaudiu sua façanha. Como você fez isso? Não fiz nada, é obra do senhor! E foi obrando milagres e caridades que ele ganhou a amizade do prefeito, do delegado, do juiz, do padre, do catimbozeiro, do espírita, dos clubes de serviço e de toda população. Era o roliúde. Quem é ele? Indagavam para lá e para cá, aos elogios. Só pode ser um enviado! É um santo vestido de gente! Um anjo que caiu do céu. Ao cabo de dias, o mistério se revelava: Ah, é o Zé Peiúdo! Não pode, aquele salafrário? Não, agora é pastor duma igreja aí. Vixe! O homem agora é de vera. E passou de primavera a verão, de outono a inverno, botada e pejada na usina canavieira, e ao se aproximarem as eleições, seu nome foi cogitado, definindo-se como o favorito naquele pleito. Não tinha pra mais ninguém. Então, diante dos festejos com a sua candidatura, falou para todos que tinha uma conta para ajustar. Num comício ruidoso e discurso inflamado, lançou a candidatura de Zé-Corninho a prefeito do lugar. De novo? É reprise? E que ele, no máximo, poderia aceitar a ser vice. Ah, tá. Oxe, foi barbada, mais tivesse! Só teve um voto nulo: o do próprio Corninho que não acertou votar nele mesmo, de novo! Virou festa. Seis meses depois de assumir a prefeitura, a Câmara de Vereadores cassava espetacularmente Corninho num processo que ninguém nunca viu tramitar, para entregar o cargo ao Peiúdo, logo entronizado como Imperador, a mandar e desmandar, acoloiado com seus aliados. Pintou e bordou por três anos e meio, podre de rico, bufando e peidando. Como nem tudo dura pela vida toda, a garrafa metálica trincou e pegou fogo no bolso, queimando o catecismo, as calças e quase os seus guardados. Foi um alvoroço. Não demorou muito, ao anúncio das novas eleições, ele reeleito certo, a sorte dava uma virada e ele sabia ter chegado a hora. Sumiu de ninguém ver-lhe o rastro, assim sem mais nem menos, e da prefeitura só se ouvia sobre os salários atrasados, endividamento, afanação de saldos públicos e todo tipo de roubalheira, a ponto de instaurar uma intervenção barulhenta de findar todo mundo suspeito e envolvido na patifaria. Como é? Maior pega-pra-capar! E agora, gente? Golpe desse, ah, todo mundo paga o pato. Alagoinhanduba nunca mais foi a mesma. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e compositor Laurindo Almeida (1916-1995): Music of Brazilian Master, Master Jazz, Classical Current & Leverkusener Jazztage & muito mais nos mais de 2 milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Sem uma compreensão do desejo profundo que têm os seres humanos de se autotranscenderem, da relutância natural que experimentam em tomar o caminho duro e difícil da ascensão espiritual, e da consequente procura doe uma falsa libertação, ou em torno de um aspecto de sua personalidade, não poderemos entender a época em que vivemos ou mesmo a História em geral, a vida como foi vivida no passado e como o é em nossos dias. Por esta razão, proponho discutirmos alguns dos mais comuns sucedâneos da Graça, nos quais e através dos quais homens e mulheres têm tentado escapar da torturante consciência de serem apenas eles mesmos. [...]. Trecho de Transcendência Descendente (1952), extraído da obra Moksha (Globo, 1993), do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), título este que que em sânscrito significa “liberação”, reunindo uma coletânea de ensaios sobre experiências visionárias e com etheogenos como uma ferramenta de exploração mental e espiritual e meios de expandir os níveis de consciência. Veja mais aqui.

CONSCIÊNCIA & INCONSCIENTE – [...] O homem utiliza a palavra escrita ou falada para expressar o que deseja transmitir. Sua linguagem é cheia de símbolos, mas ele também, muitas vezes, faz uso de sinais ou imagens não estritamente descritivos. [...] O homem, como podemos perceber ao refletirmos um instante, nunca percebe plenamente uma coisa ou a entende por completo. Ele pode ver, ouvir, tocar e provar. [...] O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita, mais ou menos no ano 4000 A.C.). E esta evolução está longe da conclusão, pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo. [...] A consciência resiste, natural mente, a tudo que é inconsciente e desconhecido. [...] Ante acontecimentos desagradáveis, os primitivos têm as mesmas reações do animal selvagem. Mas o homem "civilizado" reage a idéias novas da mesma maneira, erguendo barreiras psicológicas que o protegem do choque trazido pela inovação. [...]. Trechos de Chegando ao inconsciente, extraído da obra O Homem e seus símbolos (Nova Fronteira, 2008), do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Veja mais aqui.

A VIOLETA AMBICIOSA – [...] A violeta abriu os lábios azuis e disse: “Como eu sou infeliz em meio a estas flores e como é humilde a posição que ocupo diante delas! Fez-me a natureza para ser curta e pobre... Eu vivo muito próxima da terra e não posso erguer minha cabeça até o céu azul ou voltar minha face ao sol como as rosas fazem!”... E a rosa ouviu as palavras de sua vizinha; ela riu e comentou: “Como é estranha a tua fala! Tu és feliz, embora não possa compreender tua fortuna. A natureza doutou-te de fragrância e beleza, o que não fez com nenhuma outra flor... Aparta de ti estes pensamentos, sô contente e lembra-te de que aquele que se humilha será exaltado e aquele que se exalta será esmagado”. [...] À tarde, o sol tornou-se espesso de nuvens negras; os elementos raivosos perturbaram o silêncio da existência com raios, e começaram a atacar o jardim, enviando à terra enorme chuva com fortes ventos. A tempestade lacerou os ramos e desenraizou as árvores e quebrou as hastes das flores altas, poupando apenas as pequeninas que cresciam bem junto ao coração da terra. [...]. Trecho do conto A violeta ambiciosa (Cultrix, 1967), do poeta, filósofo e pintor libanês Gibran Khalil Gibran (1883-1931).

RETRATOMinha infância: memórias de um pátio de Sevilha, / e de um horto claro onde madura o limoeiro; / juventude, vinte anos em terras de Castilha; / a minha história quero esquecer por inteiro. / Mañara, nem Bradomín hei sido / — já conheceis meu torpe alinho indumentário — / mas recebi a flecha que me apontou Cupido, / e amei quanto elas possam ter de hospitalário. / Tenho nas veias gotas de estirpe jacobina, / mas o meu verso brota de manancial sereno; / e, mais que o homem usual que sabe sua doutrina, / eu sou um homem bom, um homem sem veneno. / Adoro a formosura, e na moderna estética / cortei as velhas rosas do jardim de Ronsard; / mas não amo os enfeites da moderna cosmética, / nem sou uma ave dessas do novo gay-trinar. / Eu desdenho as romanças desses tenores pecos / e dos grilos o coro a cantar ao luar. / Procuro distinguir entre as vozes e os ecos, / e entre as vozes só escuto a que prefiro amar. / Sou clássico ou romântico? Não sei. Deixar quisera / meu verso como deixa o capitão sua espada; / famosa pela mão viril que ao alto a erguera, / não pelo douto ofício do forjador prezada. / Dialogo com o homem que sempre vai comigo / — quem fala a sós, espera falar a Deus um dia —/ meu solilóquio é prática com este bom amigo / que ensinou-me o segredo de sua filantropia. / Enfim, nada vos devo; deveis-me o que hei escrito. / A meu trabalho acudo, com meu dinheiro pago / a roupa que me cobre e a mansão que habito, / o pão que me alimenta e o leito onde me apago. / E quando chegue o dia da última viagem, / e esteja de partida a nau sem retornar, / me encontrareis a bordo ligeiro de equipagem, / quase desnudo, nu como os filhos do mar. Poema do poeta e dramaturgo espanhol Antonio Machado (1875-1939). Veja mais aqui.

PIGMALIÃO DE SHAW
[...] Liza: (Chorando.) Eu num quero. Num posso. Num é da natureza; vai mi mata. Num tumei um banho in toda minha vida; issu é, nunca tumei um banhu, di corpo intero. [...] Sra. Pearce: Bom, agora chega de chorar, vai pro teu quarto e tira a roupa. Toda! Embrulhe-se nisto (pega uma camisola de um cabide e dá a ela) e volte aqui. Vou aprontar o banho. [...] Liza: (Espantada.) Nãão! Pruquê ia tira? Pra pega tísica? A saia sim, tá bom, a saia eu tiro. Sra. Pearce: Quer dizer que você dorme com a mesma roupa suja com que anda na rua o dia inteiro? [...] Liza: Mas a sinhora nim sabi o friu qüi eu sinto – tenho hourror du friu. Já vi muita genti mourrê di friu. Sra. Pearce: A sua cama aqui vai estar bem quentinha – vou pôr um bom saco de água quente nas cobertas. [...] Liza: (Zangada) Você vai se prender, se amarrar dessa maneira com uma mulher baixa e vulgar? Pickering: (Calmo) Ele é obrigado, Eliza. (Pra Doolittle) Mas não era ela que não queria? Mudou de idéia? Doolittle: (Triste) Invergronhada, partrão. Invergronhada. A moural da crasse mérdia percisa di vítimas. Não quéu chapéu e vi ansisti meu sarcrifício, Liza? [...].
Trechos da peça teatral Pigmaleão (L&PM, 2005), do dramaturgo, escritor e jornalista irlandês Bernard Shaw (1856-1950). Veja mais aqui.

Hermilo em Palmares e Arquivo Público & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte da artista plástica britânica Carmen Tyrrel aqui e aqui
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As sacanagens de Zé Peiúdo aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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Os avós só botam a perder, Os arquétipos & o inconsciente de Carl Gustav Jung, Contraponto de Aldous Huxley, A arte de Jenny Saville & Marie Johnson Harrison, a música de Moacir Santos, Érica Garcia, Jacob de Haan & Mawaca aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.


terça-feira, janeiro 26, 2016

A MULHER NA ROMA ANTIGA, FAULKNER, SHORT, HUGO, SAFFIOTI, DU PRE, PALMA, HELENA GIANNECHINI, LENITA ESTRELA & MUITO MAIS!!!!!

TODO DIA É DIA DA MULHER: A MULHER NA ROMA ANTIGA – Com base na revisão da literatura efetuada, encontrou-se que na Roma antiga, as influencias etruscas, gregas e cartaginesas permearam a moralidade objetiva que se voltava exclusivamente para a dedicação integral desse povo para a terra e a família, o que não diferenciava, porém, de outros povos, nas condições em que as esposas e filhos constituíam o bem dos homens, quando a grande maioria das mulheres pretendia viver no casulo familiar, sob as formas do casamento que se efetivava sob três formas: conferratio, coemptio e usus. O primeiro modelo, conferratio, conferia um casamento com todo aparato cerimonioso para a construção de uma união indissolúvel entre os nubentes. No segundo modelo, ocorria a compra da noiva, ou seja, tanto no conferratio como no coemptio, a noiva saía da posse do pai com todos os seus bens e dotes para ser, a partir de então, posse do marido. Já a terceira modelagem, usus, seria um tipo de experiência entre o casal, mantendo-se a esposa pertencente à família dela e, só depois de decorrido um prazo experimental, é que passava a pertencer legal e totalmente ao marido. Entretanto, a mulher romana nesse período além de cuidar dos filhos e manter a família, deveria, também, ter papel ativo nos negócios familiares, adquirindo, por isso, uma consciência mais ampla sobre o seu papel na sociedade, vigiadas e monitoradas pelo conselho de família. Para se ter ideia, foi editada nessa época a lei oppiana que limitava os gastos das mulheres com brincos pulseiras e carruagens, visando reprimir as suas extravagâncias. Como havia constantemente guerras, elas se sujeitaram; todavia, depois da guerra, elas protestaram ruidosa e persistentemente contra o que diziam delas: teimosas e descontroladas. Cabiam aos maridos domá-las. Anos depois é que a lei foi derrubada. E mesmo que elas gozassem de uma ampla liberdade, só o podiam desde que não fizessem nada de construtivo: só gastar dinheiro, embelezar-se para os amantes, adotar religiosidade ou processar divórcio. Ou como dizia Sêneca: elas são mestras na arte laboriosa de fazer nada, vez que administravam o espelho, as criadas e os potes de cosméticos, trabalhando em pentear os cabelos ou colocar/retirar os cremes faciais ou cabelos importados da Índia para seus penteados pela ornatrix, suas joias e liteiras. O símbolo cultuado era Vesta, a deusa guardiã da lareira e do lar. As vestais eram arregimentadas com nove ou dez anos de idade, garantida a virgindade, com a promessa de mantê-la por mais trinta anos, passando os seus bens para o Estado. Houvesse qualquer derrota nas guerras ou prejuízos nos negócios do Estado, as vestais eram culpadas e condenadas porque, com certeza, haviam perdido a virgindade antes do trato. No panteão das deusas, o culto romano à Vênus, deusa da agricultura e das prostitutas que frequentavam o Circus Maximus na busca por homens excitados pelos jogos, dos bordéis ou do acampamento da Guarda Pretoriana, incluía, também, as mulheres casadas que adoravam a deusa no dia primeiro de abril de cada ano, enquanto as prostitutas no dia vinte e três de abril.  Há registro também de participação das mulheres nos ritos báquicos, como cultuando outras deusas estrangeiras que também se fizeram presentes na cultura feminina romana. Entre essas deidades estava Cibele, por conta da profecia dos Livros Sibilinos, dando conta de que Roma só se salvaria da guerra com a Grande Deusa, a Magma Mater, passando a ter uma cerimonia cuidada por sacerdotes eunucos que usavam estranhas roupagens orientais e desfilavam ao som da música de címbalos e pandeiros, flautas e cornetas. Seguiu-se o culto à deusa Ísis, uma das favoritas das mulheres romanas, até o dia que uma jovem e crédula matrona, Paulina, acreditando ter passado a noite em sagrado intercurso com o deus Anubis no templo de Ísis, descobriu que na verdade fora seduzida por um dos admiradores, resultando com a descoberta da verdade, na crucificação dos sacerdotes e a deportação de adoradores para a Sardenha. A prática do divórcio entre as romanas se dava por conta de maridos que causavam tédio às suas esposas, comprovando a difícil convivência entre eles naquela época. Exemplo disso é a conduta de Lívia que era casada com um político e que, ao se divorciar dele, casou-se com o irmão depois de uma briga entre eles. Augusto sobrinho e filho adotivo de César, divorciou da esposa Scribônia por perversidade moral sob a alegação de ela se antipatizara com uma das suas amantes, casando-se posteriormente com a adolescente e já grávida de seis meses, Lívia Drusila. Foi o imperador Augusto que introduziu penas severas contra a ofensa do adultério e, sempre, aplicadas às mulheres, com banimento, despojada dos bens que possuísse e se tornando uma ofensa criminal. Entre as mulheres de forte temperamento, registram-se os nomes de Sempronia que se envolveu na conspiração Catilina; a bela, educada e fiel Cornélia, esposa de Pompeu, e Lívia a consorte de Augusto que ajudou a estabilizar uma nova ordem. Enfim, os romanos não se importavam com o que as suas esposas fizessem, contanto que não os perturbassem. Nesse época as práticas contraceptivas utilizadas pelas mulheres envolviam resina de cedro, opobálsamo e gálbano, no hético intervalo entre o primeiro beijo e a consumação final. Como esses produtos eram bastante caros, essas práticas fracassavam e as mulheres inevitavelmente engravidavam, recorrendo à prática de aborto com poções nauseantes e contorções físicas recomendadas pelos médicos de então. Por conta disso, atribui-se aos romanos o invento do condom, usando bexigas de cabra para tal finalidade. (Luiz Alberto Machado).

Veja mais:

PICADINHO
Imagem: a arte da artista plástica britânica Carmen Tyrrel.


Curtindo o dvd A Celebration of Her Unique Enduring Gift (2007), da violoncelista britânica Jacqueline Du Pre (1945-1987).

EPÍGRAFE – Per angustia ad augusta, frase recolhida da cena do quarto ato do drama Hernani (1830), do escritor, dramaturgo e ativista dos direitos humanos francês, Victor Hugo (1802-1885), de uma frase latina que era baseada num jogo de palavras que significa por estreitos caminhos rumo às culminâncias. Veja aqui.

A MULHER, O PATRIARCADO E A ESCRAVIDÃO – No livro A mulher na sociedade de classes: mito e realidade (Quatro Artes, 1969), da socióloga, professora e militante feminista Helena Iara Bongiovani Saffioti (1934-2010), encontro que: [...] Historicamente, nas antigas guerras do patriarcado e do racismo, os vencedores, em suas conquistas no sistema dominação-exploração, as mulheres dos vencidos eram transformadas em parceiras sexuais de guerreiros vitoriosos ou por estes violentadas. Anda na época atual isto ocorre. Quando um país é ocupado militarmente por tropas de outra nação, os soldados servem-se sexualmente de mulher do que povo que combatem. [...] Na gênese do escravismo constava um tratamento distinto dispensado a homens e a mulheres. Eis por que o racismo, base do escravismo, independentemente das características físicas ou culturais do povo conquistado, nasceu no mesmo momento histórico em que nasceu o sexismo. [...] As mulheres eram preservadas, pois serviam a três propósitos: constituíam força de trabalho, importante fator de produção em sociedades sem tecnologias ou possuidoras de tecnologias rudimentares; eram reprodutoras desta força de trabalho, assegurando a continuidade da produção e da própria sociedade; prestavam (cediam) serviços sexuais aos homens do povo vitorioso. Aí estão as raízes do sexismo, ou seja, tão velho quanto o racismo. Veja mais aqui.

UMA ROSA PARA EMILY – No conto Uma rosa para Emily (Cultrix, 1962), do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949, William Faulkner (1897-1962), destaco os trechos: Quando Miss Emily Grierson morreu, toda a nossa cidade compareceu ao enterro: os homens em atenção a essa espécie de carinho respeitoso que se tem por um monumento tombado; as mulheres movidas pela curiosidade de ver o interior de sua casa, onde ninguém entrara nos últimos dez anos, exceto um velho negro, ao mesmo tempo cozinheiro e jardineiro. Era um casarão quadrado, de madeira, outrora branco, decorado de cúpulas, de flechas, balcões, no estilo pesadamente frívolo da época de 1870 [...] A casa de Miss Emily era a única, levantando sua decrepitude teimosa e faceira acima dos vagões de algodão e das bombas de gasolina. [...] Viva, Miss Emily fora uma tradição, um dever e um aborrecimento: espécie de obrigação hereditária, pesando sobre a cidade desde o dia em que, em 1894, o Coronel Sartóris (o prefeito que baixou o decreto proibindo às negras saírem à rua sem avental) a isentara do pagamento de impostos, isenção definitiva, que datava da morte de seu pai. Isto não quer dizer que a Miss Emily aceitasse a caridade. O Coronel Sartóris inventara a complicada história de um empréstimo em dinheiro, feito pelo pai de Miss Emily à cidade e que a cidade, por conveniência própria, preferia reembolsar dessa maneira. Só um homem da geração e com as ideias do Corornel Sartóris poderia ter imaginado semelhante coisa, e só uma mulher poderia ter acreditado. [...]. Veja mais aqui e aqui.

METABÓLICO – Entre os poemas do livro Reflexo (Sioge, 1977), da premiada escritora, dramaturga e roteirista Lenita Estrela de Sá, destaco o poema Metabólico: Me recuso a deglutir aquela mágoa / se me apaixono pela ideia do texto. / Prefiro sair por aí / mirar brincos africanos nas vitrines / marcar o chope, planger bandolins: / “descobrir que as coisas mudam / e que tudo é pequeno / nas asa da Pan-Air” / ou ler escritos da poeta urbana / feroz, finesse e fissura / a cabeça no punho da rede e além da calçada / Só não quero desaprender a espera / de uma alegria capaz de me prostar. Veja mais aqui.

NO PALCO A PAIXÃO: CECÍLIO SÁ 50 ANOS DE TEATRO – No livro No palco a paixão: Cecílio Sá 50 anos de teatro, da premiada escritora, dramaturga e roteirista Lenita Estrela de Sá, é desenvolvida uma pesquisa e iconografia do trabalho teatral de Cecílio Sá, diretor de teatro popular, agraciado com a Medalha do Mérito Timbira por sua relevante contribuição cultural ao Estado do Maranhão, tendo dirigido quatro grupos teatrais – Grupo Ateniense, Grupo Arthur Azevedo, Grupo Teatral renascença e Grupo Teatro Recreativo Amador do Maranhão – GRUTRAM. A obra serve como importante documento histórico acerca da atividade teatral desenvolvida no estado do Maranhão. Veja mais aqui.

THE BLACK DAHLIA – O filme The Black Dahlia (2006), dirigido pelo cineasta Brian De Palma, é baseado no romance homônimo do escritor James Ellroy, conta a história da atriz estadunidense assassinada em 1947, Elizabeth Short (1924-1947), mais conhecida como a Dália Negra, morta por razões e assassino desconhecidos. Seu corpo foi encontrado mutilado e esquartejado em um terreno baldio na cidade de Los Angeles, num crime que ficou eternizado não apenas pela brutalidade, mas principalmente por permanecer até hoje sem solução. Ela era uma jovem bonita, que estava determinada a ser famosa. O destaque do filme vai para a atriz canadense Mia Kirshner. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do escultor francês Jean-Baptiste Pigalle (1714-1785).

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritora, psicóloga, psicoterapeuta e especialista em desenvolvimento humano em empresas Lia Helena Giannechini & Além do Oceano.

 Veja aqui.


Veja as homenageadas aqui.

NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...