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domingo, outubro 10, 2021

TRAPIELLO, KOI-GUERA, EDISCA & DORA ANDRADE, GILDA OSWALDO CRUZ, JOSÉ LUIZ PASSOS

 

 

TRÍPTICO DQP – A vida e o que será morto... - Ao som do álbum Meus caros pianistas - O piano de Claudio Santoro (Biscoito Fino, 2001), da pianista Gilda Oswaldo Cruz. - A vida e o trâmite entre a tarde quase noite, a solidão e eu sequer me dei conta de que estava à procura de algo que não sei. Sei, no de repente, ouvi Aristófanes: O amor é uma forma de procurar por nós mesmos. E isso para quem fora antes de tudo a soberba da completude de um rotundo autossuficiente, de quádruplas pernas, braços e orelhas, dupla faces e genitálias, desassossegado agora por não saber decifrar o mito da androginia e ter sido dividido ao meio pelos deuses e atormentado pelo pavor do envenenamento – ora, onde não a peçonha da destrutividade, se me via atravessado pelos horrores e a inanição, metido nos teoremas de Kurt Gödel: condenado à falta e à busca por reencontrar o que perdi, se é que não me desconstruí de vez na vida, se não me falta a capacidade constante de me refazer a cada instante. O que sei de mesmo, só nenhuma certeza e com tudo por terra. Ainda assim, lá vou eu incompleto e errante, a testemunhar Alcestis no Banquete de Fedro: morrer por amor para salvar o outro. Na verdade, era como se autodevorasse na milenar cerimônia totêmica, a perpetuar a eucaristia, o canibalismo, sim, a angústia do lobo e a perturbação da gula, outros tantos paradoxos. Coisa estranha isso de se pensar e entender. Ali mesmo presenciei o espetáculo da Edisca (1997). Eita! Logo a bailarina Dora Andrade apontou pro Koi-Guera, o genocídio dos Jangurussu de Caucaia. Sabia tratar-se do morticínio de todas as nações indígenas do meu país, ao mesmo tempo em que sentia, noutra instância desconhecida, a ressurreição dos meus caetés que vinham soturnos a mim para que entendesse o real abraço e o que a falta dada pelo outro no equívoco do acolhimento dos dagora. Ali como hoje senti meus pedaços se esfacelarem, tornando-se objetos estéticos, e minhas entranhas eram só a decomposição sinistra para satisfazer a quem não sei, mas que eram mesmo ready-mades de Duchamp pulsantes ainda apesar do meu dilaceramento. Eles, os meus, me viam e me mostrava isso e mais eviscerava ao ser descartado pela indiferença, e mais desmembrado a me derramar ao abandono do desdém na poeira do esquecimento. Eles comigo, não estava enfim só. Ao que me restava, logo a grata surpresa de não me esvair de vez, porque surgiu do nada o escritor José Luiz Passos a me saudar no meio da tragédia: ... para mim, a principal diferença é a mediação da distância.... A distância não é apenas um dado factual da minha situação... é parte de uma temática da minha ficção, que é sobre espaços ou tempos distantes que não são meus. Assim eu sabia o que não era eu nem meu, ele também, e sequer sabia lá o que devia dizer, ao que ele me contou da sua Catende que muitas vezes fui danado para lá folgar do lazer e ócio, das moças lindas que enamorei e tive quantas noites de dias ensolarados, e me contou das Ruínas de linhas puras, d’O sonâmbulo amador e do Nosso grão mais fino, e mais do Romance com pessoas, do Marechal de costas, da Antologia fantástica da República Brasileira e d’A órbita de King Kong, e a conversa era boa de se perder os ponteiros do relógio e qualquer ponto de chegada ou saída, até sermos surpreendidos pelo escritor espanhol Andrés Trapiello que nos instou dalgo que sequer imaginávamos: Seria um crime desaparecer porque ali, todos os domingos, acontece algo muito importante: a ressurreição de uma parte da cidade representada nos seus vestígios, que são ressuscitados através de um rito secular: a barganha, que se aperfeiçoou ao longo do séculos... O que para mim era o meu lugar e a vizinhança da Mata Sul pernambucana, para ele era a Madrid dele, cada qual a sua cidade e afetos. E eu ali jamais poderia sacar se a humanidade havia perdido a capacidade de amar, enquanto eu insistia ainda em não morrer entre o lixo e o letal, portas arrombadas e sucatas aos monturos. Eles se foram e fiquei só.

 


Em outras palavras... - Imagem: a arte da artista e escritora francesa Valentine Hugo (1887–1968). – Da minha parte sabia que aquilo tudo era só por um momento, tudo passaria, todos passarão, restaria sozinho e com os pensamentos vagando caleidoscópicas lembranças. Desacompanhado é o meu exercício diário, mesmo que muita gente transite ou mesmo orbite minha loucura, há de escapar inevitavelmente. De resto, não mais Lolita, agora outra como se fosse a Mademoiselle da Fala, memória (Alfaguara, 2014), de Nabokov: Ela gastara toda a sua vida em se sentir desgraçada; essa desgraça era seu elemento natural; suas flutuações, profundidades cambiantes, só isso dava a ela impressão de movimento e vida. O que me incomoda é que a uma sensação de desgraça, e mais nada, seja insuficiente para tornar uma alma imortal. Minha enorme e amorosa Mademoiselle está muito bem na terra, mas é impossível na eternidade... E me confidenciou enquanto conferia com o olhar toda a situação ao redor: Inicialmente, eu não tinha consciência de que o tempo, tão ilimitado à primeira vista, era uma prisão. Ao examinar minha infância (que é a coisa mais próxima do prazer de examinar a própria eternidade) vi o despertar da consciência como uma série de flashes espaçados, com intervalos entre eles diminuindo aos poucos até se formarem claros blocos de percepção, fornecendo à memoria um apoio escorregadio... Ora, tudo que me dissera parecia mais ler em minha mente, inteiramente confuso com os últimos acontecimentos, seguir adiante, vez que era tudo isso que me ocorria ali e em todo momento. Ah, não, apenas a memória, assim seguia.

 


Viver e a solidão, solitude... - Imagem: a arte da artista argentina Liliana Maresca (1951- 1994) – Um outro enredo a cada instante e as narrativas emergem, era eu agora solitário escriba Theodore no torpor das minhas emotivas cartas pessoais. Sempre gostei de escrever meus garranchos e eis-me agora enredado na trama de Her (2014) do Spike Jonze, curtindo as perdas e danos de quem estava de caras com o término de um devastador relacionamento amoroso. Ali eu me valia de uma desconhecida, que me encantou com as suas feições da atriz estadunidense Amy Adams: O amor é uma forma de insanidade socialmente aceitável. A vida é curta, e todos merecemos um pouco de felicidade. Longe de discordar eu assentia sabendo da cilada de Samantha que se passava pela Scarlett Johansson e sorria satírica e efusivamente com o futuro do pretérito de Fabos fanáticos do mico Coisonário, dando baixa com o extermínio dos meus vivos e mortos, e eu a me perguntar aflito quanto valia a vida na festa da escola de tiro, a pontaria de uma arma inexorável pelas queimadas pantaneiras, amazônicas, sertanejas e litorâneas, balas que cruzavam e eu doía a me desvencilhar disso tudo, quase sem escapatória e o terror era mais que real. Ela então me acolheu dentro de si, e guardou meu desamparo na sua amável deificação. Mais que grato, para ela cantei o Amor: maior a dívida do seu penhor porque o amor é mútua condecoração. E nela adormeci o prazer da vida. Até mais ver.

 

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terça-feira, setembro 25, 2007

HERMES, SINCLAIR, VALIDIVAR, GIBBONS, MARLY VASCONCELOS & MUITO MAIS!!!



ESCALAVRADURA - Era junho de 1986, plena Copa do Mundo. Minha filha havia se tornado a vencedora do concurso escolar da Rainha do Milho. Meu filho fazia dois dias que estava meio febril e ficara com a vó para que eu pudesse ir aos festejos juninos da filha. Tomei umas e outras, soltei pilhérias e fiquei feliz. Lá para as tantas, bastante manguaçado, voltei pra casa e arriei na cama o sono dos que veem o mundo girar em torno do sol. Ao cochilar, a mãe me acorda porque o menino estava vomitando a casa toda. O vômito era sangue coagulado. Às carreiras peguei o carro e levei-o pro hospital. Por sorte era um médico amigo de infância quem atendeu. O coração pela boca. Depois de uma hora, o meu amigo me aconselhou a levá-lo pra Recife. E ajeitou comigo o banco traseiro do meu carro com balão de oxigênio e soro, zarpei dali na hora. Cheguei no IMIP toda equipe médica já esperava. Levaram-no para UTI. Eu tive que bancar um apartamento no hospital próximo da UTI, para que a mãe ficasse perto do filho vez que não podíamos entrar nas dependências médicas da unidade de tratamento intensivo. Dois dias nisso, nenhum diagnóstico. Só um médico com jeitão de acadêmico teve coragem de, aos prantos, falar comigo: - Ele está com uma hemorragia estomacal crônica e aqui não vai dar jeito. Tem que levar para o Barão de Souza Leão.  - Hospital público, Deus-me-livre! Mas tinha que ser, pois, era o único que podia recebê-lo naquele estado. Nenhum médico do IMIP escondia a cara de choro toda vez que se aproximavam de mim. E o pior: não conseguiam dizer nada, no máximo bater no meu ombro. Uma ambulância levou-nos pro outro hospital. Lá a equipe médica se agitou. Exigiram dez exames de sangue dele em laboratórios diferentes. Eu fiz uns em Recife, Arnaldo conseguiu uns dois em João Pessoa, Rodolfo conseguiu mais uns em Maceió, e a corda da solidariedade deu para em dois dias mais trazer todos os exames requeridos. Quando entreguei tudo, ao cabo de duas horas estava eu e a mãe ao lado de uns vinte e cinco médicos. Diagnóstico: leucemia mieloidal. - Que porra é nove? -, disse eu. - Uma espécie terrível de câncer no sangue. Aqui não trata, talvez em Minas Gerais, ou São Paulo, mas certo mesmo, só nos Estados Unidos onde pode fazer transplante de medula. O transplante, só nos Estados Unidos. Tem dinheiro para isso? Quando ele perguntou fiquei com a cara de tacho mais deslavada e com uma interrogação maior que o prédio do hospital. A mãe desmaiou na hora quando o médico começou a dizer os riscos, como ele teria que viver dali por diante, assim e assado. - Quais as chances? -, perguntei. - 0,01%. - Puta-que-me-pariu, porra! Os médicos me acalmaram, enquanto outros tentavam reanimar a mãe. Eles queriam uma autorização para aplicar uma droga enquanto eu levantava a dinheirama para a viagem. Só me deram uma semana para conseguir e já davam por certa que só nos Estados Unidos que teria jeito. Antes, porém, queriam uma pessoa compatível para fazer o transplante. Mais um dia e chegaram com o resultado de que a minha filha era compatível. Tinha então que correr. E muito. Vendi um carro, dois terrenos, meu pai me deu cinco mil, meu sogro mais cinco mil, saquei umas poupanças e fiquei com uma tuia de dinheiro vivo no bolso. Era sexta-feira e precisava chegar no hospital para encontrar a mãe, a avó e Elita que se revezavam no plantão. Cheguei finzinho da tarde pronto para na segunda ir pro consulado dos Estados Unidos providenciar a viagem. Já no sábado, quando cheguei no hospital os médicos pediram nova autorização para aplicar uma outra droga com o objetivo dele aguentar até que eu resolvesse as coisas todas no consulado. Os efeitos dessa droga eram devastadores a ponto de despelar e cair o cabelo. Foi quando lembrei do horror de meu filho quando passei no vestibular de Direito e fiquei careca. Tinha que fazer alguma coisa. Então subi, fui até ele e disse que ia raspar de novo a cabeça. Ele perguntou-me o motivo e eu disse que ele também ia raspar comigo. Ele abriu os olhões e disse que assim, assim. Não havia sinais nele de doença, nem parecia que estava com aquela enfermidade porque cantava, bulia com os outros meninos da UTI, pegava na bunda das enfermeiras, era muito buliçoso e peraltinha. Quando ele concordou, eu saí para comprar uns pijaminhas para a viagem e estadia no exterior. Mas como uma coisa ruim não vem sozinha, ao cruzar o sinal e entrar na Agamenon Magalhães, meu carro atravessa a pista e finda empancado no meio-fio. Sem saída liguei para Gulu que me socorreu com um guincho. Diagnóstico do carro: rompeu a roda. Era hora do jogo do Brasil, tudo fechado. O guincho levou para uma oficina, por sinal, a única aberta no bairro recifense do IPSEP. Lá conseguimos uma única loja de peças que resolveu vender a peça. Quando voltamos, o mecânico falou que o Brasil ia começar a jogar e só lá pras seis horas da noite que o carro estaria pronto. Tudo bem, fazer o que, hem? Arnaldo chegou e me levou pra casa dele. Assistimos ao jogo que eu fingia acompanhar onde, o Brasil perdeu nos pênaltis para a França de Platini – a partir disso o Brasil nunca mais ganhou pra França. No horário acertado, cheguei à oficina, paguei o conserto, peguei o carro e fui apanhar meu primo Wadson para render a mãe no hospital. Era meu dia de plantão. Cheguei lá umas oito horas da noite e a mãe do meu filho se foi com Wadson para a casa da minha tia Nadeje, que era o nosso quartel-general, e fiquei com o menino que perguntava sobre o jogo, quem ia ser campeão, como é que é isso, aquilo, aqueloutro, até que ele teve uma convulsão, agitou-se, agarrou-se em mim e, depois de um certo tempo, descansou. Dormia tranquilamente. Cansadíssimo, baixei a cabeça e fiquei com ele. Vieram as enfermeiras, medicaram, examinaram e se foram. Já passava da meia noite quando ele dormia tranquilo e eu deitei a cabeça na cama dele. Daqui a pouco uma moça chegou perto de mim e disse que ele tinha parado de respirar. Fiquei atônito, chamei as enfermeiras que tentaram reanimar. Conseguiram, ele se agarrou em mim e descansou. Pouco tempo depois, parou de respirar de novo. Aí vieram novas tentativas para reanimá-lo. Correria medonha, enfermeira, médicos, tudo. Maior escarcéu e nada dele recobrar os sentidos. Depois de horas de tentativas, o médico bate no meu ombro e me dá os pêsames. Nunca chorei tanto na vida. Não conseguia dizer nada, fiquei em estado de choque. Via que as enfermeiras arrumavam os panos da maca, envolvendo meu filho e fazendo dele um pacote. Aquilo me indignou. Fiquei revoltado com a transformação do meu filho num embrulho qualquer. O médico retornou e me pediu que seguisse pro necrotério. Desci, telefonei para a mãe dos meus filhos e não soube dizer nada, estava eu aos prantos. Ela chegou. Choramos juntos e, na mesma hora, acertei o carro fúnebre e determinei ida para Palmares onde seria enterrado no mesmo dia. Chegamos em Palmares perto das dez horas e o corpo dele foi velado no Cepred. Às três horas da tarde, sepultei. E me tranquei três meses dentro de casa, curtindo a vida com a minha agora única filha Patrícia. Nessa clausura eu me perguntei com o pé enfiado na jaca: o que é vida? Contava com vinte e seis anos, demitido do banco e com um futuro incerto e nada promissor. Vambora. Vamos aprumar a conversa aqui.

Imagem: a arte do escultor e pintor francês Jean-Léon Gérôme (1824-1904). Veja mais aqui e aqui.

Curtindo o álbum Out of Season (Interscope, 2002), da cantora britânica Beth Gibbons & do músico britânico Paul Douglas Webb. Veja mais aqui.

EPÍGRAFE -  Talvez a maior parte de nossa insatisfação com a vida venha do fato que nossas buscas da felicidade são numerosas demais. Cada coisa procurada, em si, parece clara como cristal, na alegria que nos trará. Porém, coletivamente elas se depreciam mutuamente e diminuem nosso entusiasmo por qualquer uma delas, como uma variedade de obras de arte empilhadas, trecho extraído do livro Sussurros do eu interior (Renes, 1976), do filósofo e escritor místico Sâr Validivar (1904-1987). Veja mais aqui e aqui.

POIMANDRESNo livro Corpus Hermeticum: discurso de iniciação & A Tábua de Esmeralda (Hemus, 1978), de autoria atribuída pelos neoplatônicos, místicos e alquimistas ao deus egípcio Thoth e identificado como o deus grego Hermes Trismegistus, formado por quarenta e dois livros subdivididos em seis conjuntos, tratando da educação dos sacerdotes, dos rituais do tempo e de geologia, geografia, botânica, agricultura, astronomia, astrologia, matemática, arquiteturas e de hinos em louvor aos deuses. Da obra destaco o trecho denominado Pomandres: Um dia, em que comecei a refletir acerca dos seres e que meu pensamento deixou-se planar nas alturas enquanto meus sentidos corporais estavam como que atados, como acontece àqueles atingidos por um sono pesado pelo excesso de alimentação ou de uma grande fatiga corporal, pareceu que se me antolhava um ser de um talhe imenso, além de toda medida definível, que me chamou pelo meu nome e disse: “Que desejas ouvir e ver, e pelo pensamento aprender e conhecer?” E eu lhe disse: “Mas tu, quem és?” – “Eu”, disse ele, “eu sou Poimandres, o Noüs da Soberania absoluta. Eu sei o que queres e estou contigo em todo lugar”. E eu disse: “Quero ser instruído sobre os seres, compreender sua natureza, conhecer Deus. Oh! Como desejo entender!” Respondeu-me ele por sua vez: “Mantém em teu intelecto tudo o que desejas aprender e eu te instruirei”. A essas palavras mudou de aspecto e, subitamente, tudo se abriu diante de mim em um momento, e vi uma visão sem limites, tudo tornou-se luz, serena e alegre, e tendo-a visto apaixonei-me por ela [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

BABBITT – No romance Babbitt (1922), do escritor estadunidense e prêmio Nobel de Literatura de 1930, Sinclair Lewis (1885-1930), uma sátira da vida cotidiana americana no início do século XX, em seu comportamento conformista, principalmente da classe média, destaco o trecho: [...] A bruma compadecia-se das construções caducas das gerações precedentes: o edifício dos correios, com a sua mansarda de telhas lisas esbeiçadas, os minaretes de tijolo vermelho das velhas casas pesadonas, as fábricas de janelas embaciadas e fuliginosas, os prédios de madeira cor de lama. A cidade estava cheia dessas caricaturas arquitetônicas, que as galhardas torres cinzentas iam expulsando do centro comercial. Nas colinas mais distantes resplandeciam casas novas, que eram, na aparência, ninhos de riso e de sossego. [...]. Veja mais aqui.

VERBUM & SILÊNCIO – Entre os poemas da poeta e jornalista Marly Vasconcelos, destaco inicialmente Verbum: Uma época escrevi estórias com tanta ansiedade / que não podia comer uma maçã./ Não havia tempo para o detalhe./ Palavra, eu fui palavra. / Poderás avaliar o que é ser palavra? / Fecha os olhos e compõe com tuas lembranças / um território exaurido e descarnado, /             pasto de animais melancólicos, / lagoas, cacimbas secas. / Na terra, debaixo da oiticica, um monte de ossos. / Preço que paguei sendo palavras. E também o poema Silêncio: Atenta para a água que ressoa nos aquários, / o caminhar de passos harmoniosos, / pálpebras que baixam lentamente. /Tudo prenuncia o silêncio. Veja mais aqui.

A QUANTAS ESTAMOS: SANGUE NOVO – No livro Como não escrever uma peça (Lidador, 1968), do escritor e critico de teatro estadunidense Walter Kerr (1913-1996), destaco o trecho O método cansado: Nenhuma forma dramática, boa ou má, tem vitalidade perene. O grande teatro grego, com os seus heróis delicados, sua estrutura escassa e seu coro lírico, esgotou sua inspiração em menos de oitenta anos. O teatro elisabetano, com sua estrutura desenfreadamente complexa e seu realismo poético ruidoso, esgotou as energias em menos de cinquenta e cinco anos. O período áureo do teatro francês, englobando toda a obra profissional de Corneille, Molière e Racine, durou quarenta e dois. Estes foram impulsos dramáticos primordiais, os mais fecundos e mais dinâmicos que conhecemos. Impulsos menores conseguiram arrastar-se por mais tempo, possivelmente graças à pura inercia. Levou quase sessenta anos para que a comedia sentimental inglesa do século dezoito desaparecesse. Mas Plauto e Terêncio não contam com mais de quarenta anos entre os dois e a comedia inglesa da Restauração estava liquidada em vinte e cinco. O que estou querendo dizer é que chega o momento em que todo estilo dramático e, portanto, todo modelo útil se desintegra e desaparece. Se bem que o teatro tenha assistido há bastante tempo, nenhuma das suas manifestações – nenhum grupo de convenções, nenhuma noção do que seja um tema adequado para o palco – conseguiu sobreviver mais do que o mais velho espectador. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

JUNEBUG – O drama comédia Junebug (Retratos de família< dirigido por Phil Morrison, conta a história ocorrida na região sul estadunidense, e o jeito simples de seus habitantes que sempre encantaram com uma sofisticada marchand, que se casa e vai conhecer os pais do marido, quando se vê no meio de estranhos desconfiados que não pretendem recebê-la como membro da família, com a única exceção da esposa do irmão mais novo dele George, que se encanta com ela e decide tratá-la como sua mais nova amiga de infância. O destaque do filme é para atriz e cantora estadunidense Amy Adams. Veja mais aqui

VEJA MAIS:
O amor entre os animais, As trelas do Doro, Sêneca, Aretusa, Reri Grist & Bernadette Peters aqui
Karen Horney, Manuel Castels, Carmen Miranda, Mônica Waldvogel, Amelinha, Edson Cordeiro & Branca Tirollo aqui
A primavera de Ginsberg, Ludwig van Beethoven, Roberto Crema, Jane Austen, Olavo Bilac, Teatro Medieval, Regina Pessoa, Victor Brecheret, Ana Terra, Antonio de la Gandara & Flavia Daher aqui.

FECAMEPA (Charge do Ivan Cabral que diz: CPMF no bolso dos outros é refresco! ) Deu no Capital Gaucha: "O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), convocou sessões extraordinárias para terça, 25, às 12h, às 17h e à noite, a fim de iniciar um 'esforço concentrado' para concluir a votação, em primeiro turno, da proposta de emenda à Constituição que prorroga a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até o final de 2011. Estão previstas sessões pela manhã, à tarde e à noite também na quarta e na quinta-feira". (Leia mais)E também: "INVESTIGAÇÃO TRIBUTÁRIA PODE UTILIZAR DADOS DA CPMF - Para entendimento do Superior Tribunal da Justiça (STJ) é permitido o uso de dados da CPMF para investigar supostas práticas de crime contra a ordem tributária.E foi dessa prática que o STJ se utilizou em julgamento ocorrido neste mês, que rejeitou o pedido de Habeas Corpus do ajudante de pedreiro Márcio Marques de Miranda, indiciado em inquérito policial". (Leia mais)Por causa disso, todo mundo agora quer saber qual o verdadeiro significado para a sigla CPMF:O compositor & engenheiro Felipe Cerquize trouxe logo 3 definições:CPMF - Congressistas no Planalto Metendo-nos a Faca ou  Caso de Polícia Merecedor de Perícia ou Cachaporra Parlamentar Magistralmente FornicanteAí o Percy Castanho, presidente do Clube dos Compositores do Brasil: Centenas de Políticos Mamando Felizes O ator Manuel Lima trouxe essa: Corrupção Permanente e Muitas Falcatruase a lindamiga Roserlei Martins Alves foi mais contundente: cu de pobre muito fodidoPor isso já se manifestaram: o artista plástico e ator Rolandry Silvério, Cosme Custódio, Ana Lúcia Félix e muita gente que está reunida num balaio só do Fórum do Guia de Poesia.  E mais aqui
  
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da atriz e cantora estadunidense Amy Adams.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: desenho do escritor de quadrinhos francês Yannick Corboz
Veja aqui e aqui.



NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...