Ao som dos álbuns
Anavitória (2016), O tempo é agora (2018), N (2019), Cor (2021) e Esquinas
(2024), do duo musical Anavitória, formada em 2014, dupla formada pela
cantora, atriz, compositora e multi-instrumentista Ana Caetano (Ana Clara Caetano Costa) e pela cantora e
atriz Vitória Falcão (Vitória Fernandes Falcão).
Uma vez o amor... ou a maldição de
Kalypso!... - Era uma vez e só agora, quantos desastres: o
milagre da vida aos solavancos. Sequer cogitava: fui condenado ao naufrágio
pelas moiras. Podia ser, talvez a pior coisa do mundo - dilacerado pelos
dilemas com os farrapos de tudo que ficou para trás. Havia me perdido das rotas
e fiquei à deriva por uma novena. A sobrevivência por calafrios e frêmitos
imensuráveis: havia sofrido uma devastação demolidora, maior adversidade. A
sorte fora do alcance, ali pereceria inevitavelmente. Inesperadamente, uma bela
sílfide sedutora materializou-se; engatinhava nua para me salvar do precipício
de Poelenburgh. Confiei nos seus gestos generosos, deram-me a impressão duma
sacerdotisa guardiã de sagrados mistérios. Refeito da agonia, ela
recepcionou-me descalça, já com as vestes de Westall. Tomou-me pelas mãos e me
guiou por uma espetacular paisagem: era o éden terrestre. A entrada da sua
morada era cercada por um bosque com uma fonte e, para quem nunca usufruiu de
milagres caídos do céu, ali era tudo colossal. Adentramos numa gruta profunda
com amplos salões abertos para jardins paradisíacos, um bosque sagrado com
grandes árvores e fontes sinuosas entre a relva. Logo fui envolvido pelas fragrâncias do cedro, sândalo e zimbro
que dali emanavam. Pude ver ninfas em todas as dependências e cantavam enquanto
fiavam e teciam. Fui, enfim, acolhido em sua morada. Acomodou-me, estava
exausto. Logo senti seu vulto ao meu redor e lambeu minhas feridas, acariciou
minhas contusões, serviu-me ambrosia. Onde estou? Ogígia. Sim? Você naufragou,
Odisseu. Quem? Você penou demais, perdeu a memória, relaxe. E quedei inebriado
por um sonho enfeitiçante. Despertei com o perfume de suas carícias benfazejas.
Quem é você? Sou Kalypso, a ninfa do mar. Sabia: o seu nome escondia a deusa
fiandeira e o seu poder sobre a vida e a morte de todos os seres e coisas. Sua
beleza encobria a prisioneira da Titanomaquia. Seus olhos ocultavam o banimento
das Oceânides e a solidão eterna. Não
resisti à sua tentação. Fui impelido aos regalos e em seus braços nus muito
apetecia a vida flutuante nas nuvens. Nossos corpos
eclipsaram embalados pelo amor na Gruta de Brueghel. Ela espalmada sobre mim,
como se eu fosse as águas de Oxer. E em mim mergulhou como na cena de Vecchiato
por muitos dias e noites infindas. Repleta de satisfação, ela estirou o braço e
alcançou uma estrela de 6 pontas para me presentear: era a promessa de me
seguir aonde fosse e por todos os confins. E mais: prometeu a juventude eterna
e a imortalidade. Escolheu-me por consorte e ao violino me embalou seminua na
pose de Baecker. E me ofertou as costas na pose de Golovin, na Isle de
Draper, na verdade seminua com as vestes de Styka. Enquanto tecia e fiava, ela
cantava e me seduzia como na Odisseia de Homero. Passados sete anos e, numa
tarde mormaçada, me dissera que Poseidon acalmara a sua ira. Nada entendia, nem
queria entender. Saímos do meu refúgio na ilha e ela me levou pelo Estreito de
Gibraltar, extremo norte marroquino. Ao chegarmos ao monte de Jbel Musa, suas
vestes eram pentimentos reveladores, um caleidoscópio de minhas vivências
passadas. O que tudo aquilo queria dizer? Disse-me atender o pedido de Athena
e, abruptamente, a vi enfurecer-se, afastando-se à beira da loucura, a ponto de
tentar se matar. Que foi que houve? Socorri. Fitou-me compenetrada: Sou
imortal, só sofro a saudade de amor não correspondido. Não é verdade!
Revelou-me sua maldição, o coração partido de divindade abandonada. Como? Não
recorreu aos feitiços e obrigou-se a me despedir de nossos filhos: Nausítoo,
Nausínoo e Latino. O que é isso? Ofereceu-me jangada e provisões, um retorno em
segurança. Por que? Caí na real: eu não era Odisseu nem Telêmaco de Fénelon. Então, depus meu confiteor:
Sapere aude e Horácio apareceu para me mostrar o ônfalo: Aqui é o centro
da Terra, a ilha de lugar nenhum. E desapareceu imediatamente. Ela então
mostrou-me a ponta aguda do infinito: estava condenado à esperança. Obstinei e
me perdi pela grandeza do sonho: pensei por ela e todas as coisas. Seja lá o
que for, a cada um a sua provação e um grande amor. Até mais ver.
Violeta Parra: Não chore quando o sol se for, porque as lágrimas não deixarão você ver as estrelas... Somente o amor com sua ciência nos torna tão inocentes... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Anne Rice: Ignore qualquer perda de
coragem, ignore qualquer perda de autoconfiança, ignore qualquer dúvida ou
confusão. Siga em frente acreditando no amor, na paz, na harmonia e em grandes
realizações. Lembre-se de que a alegria não é estranha a você. Você está vencendo
e é forte. Ame. Ame primeiro, ame sempre, ame para sempre... Veja mais
aqui & aqui.
Heather Thomas: O que a escrita
faz é permitir que você crie o mundo inteiro, crie uma história inteira, um
ponto de vista, uma mensagem, uma experiência... Criar algo completamente
diferente acontecendo... Veja mais aqui.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
AFIRMAÇÃO - Eu acredito no viver. \ Eu acredito no
espectro \ dos dias Beta e do povo Gama.\ Eu acredito no brilho do sol. \ Em
moinhos de vento e cachoeiras, \ triciclos e cadeiras de balanço. \ E eu
acredito que sementes tornam-se brotos. \ E brotos tornam-se árvores. \ Eu
acredito na mágica das mãos. \ E na sabedoria dos olhos. \ Eu acredito na chuva
e nas lágrimas. \ E no sangue do infinito. \ Eu acredito na vida. \ E eu vi o
desfile da morte \ marchando pelo torso da terra, \ esculpindo corpos de lama
em seu caminho. \ Eu vi a destruição da luz do dia, \ e vi vermes sedentos de
sangue \ sendo adorados e saudados. \ Eu vi os dóceis tornarem-se cegos \ e os
cegos tornarem-se prisioneiros \ num piscar de olhos. \ Eu andei sobre cacos de
vidro. \ Eu admiti meus erros e engoli derrotas \ e respirei o fedor da
indiferença. \ Eu fui trancafiada pelos injustos. \ Algemada pelos
intolerantes. \ Amordaçada pelos gananciosos. \ E, se tem alguma coisa que eu
sei, \ é que um muro é apenas um muro \ e nada além disso. \ Ele pode ser posto
abaixo. \ Eu acredito no viver. \ Eu acredito no nascimento. \ Eu acredito na
doçura do amor \ e no fogo da verdade \ E eu acredito que um navio perdido, \ conduzido
por navegantes cansados e mareados, \ ainda pode ser guiado à casa \ para
atracar.
AMOR - Amor é contrabando no Inferno, \ porque amor
é um ácido \ que corrói grades. \ Mas você, eu e amanhã \ damos as mãos e
fazemos promessa \ que a luta irá multiplicar. \ A serra possui duas lâminas. \
A espingarda possui dois canos. \ Nós estamos grávidas da liberdade. \ Nós
somos uma conspiração.
Poemas da
escritora e ativista estadunidense Assata Olugbala Shakur (JoAnne
Deborah Byron – 1947-2025), que foi ex-membro dos Panteras Negras (BPP) e do
Exército de Libertação Negra (BLA).
O CANTO DA PRAÇA -
[...] As palavras
podem ser tudo [...] A expedição que resgatou esse material era formada por
curiosos, de boa vontade, mas sem qualquer conhecimento arqueológico
especializado. Por isso, não chegaram a anotar direito o local de sua
descoberta, que permanecerá ignorado para sempre. Outra coisa que também nunca
foi devidamente esclarecida a respeito desse achado é a sua época. É claro que
tudo foi cuidadosamente estudado. Quando a caixa chegou, os sábios foram
chamados a examiná-la e resolveram levar tudo — caixa e conteúdo — para seus
gabinetes de trabalho, para que pudessem analisar a descoberta com todos os
recursos de que dispõem. Fizeram os testes de carbono, carvão, açúcar e
diamante. Mas os resultados foram, no mínimo, desconcertantes. Acabaram
chegando à conclusão de que havia objetos de épocas tão distintas que se
tornava impossível precisar a ocasião exata em que tinham sido enterrados. Na caixa
havia recortes de jornal, velhos pergaminhos, máscaras de carnaval, um filme de
Carlitos, uma flauta de madeira, uma caixa de lápis de cor, sapatilhas de balé,
um lenço bordado, um violino, um sintetizador, um cavalo de carrossel, um cocar
de índio, uma máquina fotográfica, uma caixinha de música, revistas em
quadrinhos, uma pombinha de barro. Na tentativa de compreender o significado de
todos esses objetos, os sábios consumiram semanas em ininterruptas discussões e
especulações. Como não chegaram a nenhuma conclusão, decidiram introduzir todo
o conteúdo da caixa, além da própria embalagem, numa engenhoca fantástica que
estão desenvolvendo, uma espécie de aparelho mágico, máquina mirabolante,
instrumento maravilhoso, algo assim. Mesmo com o risco de destruir tudo na
experiência. Só que não se destruiu. Construiu. Quando a engenhoca foi ligada,
nela se acenderam luzes belíssimas, dela saíram vapores de perfumes deliciosos,
em volta dela se ouviram sons que só podem ser as tais harmonias celestiais de
que tanto se fala. E, de repente, por uma abertura da máquina, como se ela
fosse uma mulher parindo, saiu um livro. [...]. Trechos extraídos da obra O
canto da praça (Salamandra, 1993), da escritora, jornalista, professora e
pintora Ana Maria Machado (Ana Maria Martins Machado), autora de obras como Alice e Ulisses (1984),
Aos quatro ventos (1993), A audácia dessa mulher (1999), Canteiros de Saturno
(1991), Contra corrente (1999), Democracia (1983), O mar nunca transborda
(1995), Para sempre (2001), Recado do nome (1976), Tropical sol da liberdade
(1988), Um mapa todo seu (2015) e Vestígios (2021), entre outros. Veja mais
aquí.
ANDAR ENTRE
LIVROS - [...] não deixei
de confiar nos livros como os melhores colaboradores dos professores na
educação leitora e literária de seus alunos. A leitura de livros é o ponto de
intersecção entre leitura, literatura infantil e juvenil e ensino de literatura
[...] esclarecer as discussões, as interrogações e os critérios que
influenciaram a presença, a seleção e a leitura de livros nas aulas [...] Interessa-nos
a escola como instituição que outorga um sentido específico à leitura de obras
[...] Também nos interessam os leitores como pessoas, que desenvolvem suas
capacidades e competências literárias [...] nos interessam os livros da
perspectiva de seu apoio a esse percurso [...]. Estimular a leitura e planejar
o desenvolvimento das competências infantis são os dois eixos da tarefa escolar
no acesso à literatura. [...] deve responder à conexão entre a capacidade de
recepção e de produção literária, entre a recepção do texto e a elaboração de
um discurso analítico e valorativo sobre ele, entre a interpretação do leitora
e os conhecimentos que a tornam possível, entre a educação linguística e a
educação literária, entre os aspectos linguísticos e os aspectos culturais que
configuram o fenômeno literário ou entre a literatura e os restantes sistemas
artísticos e funcionais que existem nas sociedades atuais. A leitura de obras
literárias integrais é uma atividade que se situa no centro da tarefa de
alcançar esses objetivos do modo mais amplo possível, tanto em profundidade
quanto em extensão social. E o desejo de todos é que os ivros e os professores
trabalhem juntos para consegui-lo. [...]. Trechos extraídos da obra Andar entre
livros: a leitura literária na escola (Global, 2007), da premiada professora
espanhola Teresa Colomer, coautora da obra Ensinar a ler, ensinar
a compreender (Penso, 2003). Veja mais aqui, aqui & aqui.
FESTIVAL USINA
GASTRÔ
ITINERARTE –
COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:
Veja mais sobre
MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.