quarta-feira, outubro 01, 2025

ASSATA SHAKUR, ANA MARIA MACHADO, TERESA COLOMER & USINA GASTRÔ

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Anavitória (2016), O tempo é agora (2018), N (2019), Cor (2021) e Esquinas (2024), do duo musical Anavitória, formada em 2014, dupla formada pela cantora, atriz, compositora e multi-instrumentista Ana Caetano (Ana Clara Caetano Costa) e pela cantora e atriz Vitória Falcão (Vitória Fernandes Falcão).

 

Uma vez o amor... ou a maldição de Kalypso!... - Era uma vez e só agora, quantos desastres: o milagre da vida aos solavancos. Sequer cogitava: fui condenado ao naufrágio pelas moiras. Podia ser, talvez a pior coisa do mundo - dilacerado pelos dilemas com os farrapos de tudo que ficou para trás. Havia me perdido das rotas e fiquei à deriva por uma novena. A sobrevivência por calafrios e frêmitos imensuráveis: havia sofrido uma devastação demolidora, maior adversidade. A sorte fora do alcance, ali pereceria inevitavelmente. Inesperadamente, uma bela sílfide sedutora materializou-se; engatinhava nua para me salvar do precipício de Poelenburgh. Confiei nos seus gestos generosos, deram-me a impressão duma sacerdotisa guardiã de sagrados mistérios. Refeito da agonia, ela recepcionou-me descalça, já com as vestes de Westall. Tomou-me pelas mãos e me guiou por uma espetacular paisagem: era o éden terrestre. A entrada da sua morada era cercada por um bosque com uma fonte e, para quem nunca usufruiu de milagres caídos do céu, ali era tudo colossal. Adentramos numa gruta profunda com amplos salões abertos para jardins paradisíacos, um bosque sagrado com grandes árvores e fontes sinuosas entre a relva. Logo fui envolvido pelas fragrâncias do cedro, sândalo e zimbro que dali emanavam. Pude ver ninfas em todas as dependências e cantavam enquanto fiavam e teciam. Fui, enfim, acolhido em sua morada. Acomodou-me, estava exausto. Logo senti seu vulto ao meu redor e lambeu minhas feridas, acariciou minhas contusões, serviu-me ambrosia. Onde estou? Ogígia. Sim? Você naufragou, Odisseu. Quem? Você penou demais, perdeu a memória, relaxe. E quedei inebriado por um sonho enfeitiçante. Despertei com o perfume de suas carícias benfazejas. Quem é você? Sou Kalypso, a ninfa do mar. Sabia: o seu nome escondia a deusa fiandeira e o seu poder sobre a vida e a morte de todos os seres e coisas. Sua beleza encobria a prisioneira da Titanomaquia. Seus olhos ocultavam o banimento das Oceânides e a solidão eterna. Não resisti à sua tentação. Fui impelido aos regalos e em seus braços nus muito apetecia a vida flutuante nas nuvens. Nossos corpos eclipsaram embalados pelo amor na Gruta de Brueghel. Ela espalmada sobre mim, como se eu fosse as águas de Oxer. E em mim mergulhou como na cena de Vecchiato por muitos dias e noites infindas. Repleta de satisfação, ela estirou o braço e alcançou uma estrela de 6 pontas para me presentear: era a promessa de me seguir aonde fosse e por todos os confins. E mais: prometeu a juventude eterna e a imortalidade. Escolheu-me por consorte e ao violino me embalou seminua na pose de Baecker. E me ofertou as costas na pose de Golovin, na Isle de Draper, na verdade seminua com as vestes de Styka. Enquanto tecia e fiava, ela cantava e me seduzia como na Odisseia de Homero. Passados sete anos e, numa tarde mormaçada, me dissera que Poseidon acalmara a sua ira. Nada entendia, nem queria entender. Saímos do meu refúgio na ilha e ela me levou pelo Estreito de Gibraltar, extremo norte marroquino. Ao chegarmos ao monte de Jbel Musa, suas vestes eram pentimentos reveladores, um caleidoscópio de minhas vivências passadas. O que tudo aquilo queria dizer? Disse-me atender o pedido de Athena e, abruptamente, a vi enfurecer-se, afastando-se à beira da loucura, a ponto de tentar se matar. Que foi que houve? Socorri. Fitou-me compenetrada: Sou imortal, só sofro a saudade de amor não correspondido. Não é verdade! Revelou-me sua maldição, o coração partido de divindade abandonada. Como? Não recorreu aos feitiços e obrigou-se a me despedir de nossos filhos: Nausítoo, Nausínoo e Latino. O que é isso? Ofereceu-me jangada e provisões, um retorno em segurança. Por que? Caí na real: eu não era Odisseu nem Telêmaco de Fénelon. Então, depus meu confiteor: Sapere aude e Horácio apareceu para me mostrar o ônfalo: Aqui é o centro da Terra, a ilha de lugar nenhum. E desapareceu imediatamente. Ela então mostrou-me a ponta aguda do infinito: estava condenado à esperança. Obstinei e me perdi pela grandeza do sonho: pensei por ela e todas as coisas. Seja lá o que for, a cada um a sua provação e um grande amor. Até mais ver.

 

Violeta Parra: Não chore quando o sol se for, porque as lágrimas não deixarão você ver as estrelas... Somente o amor com sua ciência nos torna tão inocentes... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Anne Rice: Ignore qualquer perda de coragem, ignore qualquer perda de autoconfiança, ignore qualquer dúvida ou confusão. Siga em frente acreditando no amor, na paz, na harmonia e em grandes realizações. Lembre-se de que a alegria não é estranha a você. Você está vencendo e é forte. Ame. Ame primeiro, ame sempre, ame para sempre... Veja mais aqui & aqui.

Heather Thomas: O que a escrita faz é permitir que você crie o mundo inteiro, crie uma história inteira, um ponto de vista, uma mensagem, uma experiência... Criar algo completamente diferente acontecendo... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

AFIRMAÇÃO - Eu acredito no viver. \ Eu acredito no espectro \ dos dias Beta e do povo Gama.\ Eu acredito no brilho do sol. \ Em moinhos de vento e cachoeiras, \ triciclos e cadeiras de balanço. \ E eu acredito que sementes tornam-se brotos. \ E brotos tornam-se árvores. \ Eu acredito na mágica das mãos. \ E na sabedoria dos olhos. \ Eu acredito na chuva e nas lágrimas. \ E no sangue do infinito. \ Eu acredito na vida. \ E eu vi o desfile da morte \ marchando pelo torso da terra, \ esculpindo corpos de lama em seu caminho. \ Eu vi a destruição da luz do dia, \ e vi vermes sedentos de sangue \ sendo adorados e saudados. \ Eu vi os dóceis tornarem-se cegos \ e os cegos tornarem-se prisioneiros \ num piscar de olhos. \ Eu andei sobre cacos de vidro. \ Eu admiti meus erros e engoli derrotas \ e respirei o fedor da indiferença. \ Eu fui trancafiada pelos injustos. \ Algemada pelos intolerantes. \ Amordaçada pelos gananciosos. \ E, se tem alguma coisa que eu sei, \ é que um muro é apenas um muro \ e nada além disso. \ Ele pode ser posto abaixo. \ Eu acredito no viver. \ Eu acredito no nascimento. \ Eu acredito na doçura do amor \ e no fogo da verdade \ E eu acredito que um navio perdido, \ conduzido por navegantes cansados e mareados, \ ainda pode ser guiado à casa \ para atracar.

AMOR - Amor é contrabando no Inferno, \ porque amor é um ácido \ que corrói grades. \ Mas você, eu e amanhã \ damos as mãos e fazemos promessa \ que a luta irá multiplicar. \ A serra possui duas lâminas. \ A espingarda possui dois canos. \ Nós estamos grávidas da liberdade. \ Nós somos uma conspiração.

Poemas da escritora e ativista estadunidense Assata Olugbala Shakur (JoAnne Deborah Byron – 1947-2025), que foi ex-membro dos Panteras Negras (BPP) e do Exército de Libertação Negra (BLA).

 

O CANTO DA PRAÇA - [...] As palavras podem ser tudo [...] A expedição que resgatou esse material era formada por curiosos, de boa vontade, mas sem qualquer conhecimento arqueológico especializado. Por isso, não chegaram a anotar direito o local de sua descoberta, que permanecerá ignorado para sempre. Outra coisa que também nunca foi devidamente esclarecida a respeito desse achado é a sua época. É claro que tudo foi cuidadosamente estudado. Quando a caixa chegou, os sábios foram chamados a examiná-la e resolveram levar tudo — caixa e conteúdo — para seus gabinetes de trabalho, para que pudessem analisar a descoberta com todos os recursos de que dispõem. Fizeram os testes de carbono, carvão, açúcar e diamante. Mas os resultados foram, no mínimo, desconcertantes. Acabaram chegando à conclusão de que havia objetos de épocas tão distintas que se tornava impossível precisar a ocasião exata em que tinham sido enterrados. Na caixa havia recortes de jornal, velhos pergaminhos, máscaras de carnaval, um filme de Carlitos, uma flauta de madeira, uma caixa de lápis de cor, sapatilhas de balé, um lenço bordado, um violino, um sintetizador, um cavalo de carrossel, um cocar de índio, uma máquina fotográfica, uma caixinha de música, revistas em quadrinhos, uma pombinha de barro. Na tentativa de compreender o significado de todos esses objetos, os sábios consumiram semanas em ininterruptas discussões e especulações. Como não chegaram a nenhuma conclusão, decidiram introduzir todo o conteúdo da caixa, além da própria embalagem, numa engenhoca fantástica que estão desenvolvendo, uma espécie de aparelho mágico, máquina mirabolante, instrumento maravilhoso, algo assim. Mesmo com o risco de destruir tudo na experiência. Só que não se destruiu. Construiu. Quando a engenhoca foi ligada, nela se acenderam luzes belíssimas, dela saíram vapores de perfumes deliciosos, em volta dela se ouviram sons que só podem ser as tais harmonias celestiais de que tanto se fala. E, de repente, por uma abertura da máquina, como se ela fosse uma mulher parindo, saiu um livro. [...]. Trechos extraídos da obra O canto da praça (Salamandra, 1993), da escritora, jornalista, professora e pintora Ana Maria Machado (Ana Maria Martins Machado), autora de obras como Alice e Ulisses (1984), Aos quatro ventos (1993), A audácia dessa mulher (1999), Canteiros de Saturno (1991), Contra corrente (1999), Democracia (1983), O mar nunca transborda (1995), Para sempre (2001), Recado do nome (1976), Tropical sol da liberdade (1988), Um mapa todo seu (2015) e Vestígios (2021), entre outros. Veja mais aquí.

 

ANDAR ENTRE LIVROS - [...] não deixei de confiar nos livros como os melhores colaboradores dos professores na educação leitora e literária de seus alunos. A leitura de livros é o ponto de intersecção entre leitura, literatura infantil e juvenil e ensino de literatura [...] esclarecer as discussões, as interrogações e os critérios que influenciaram a presença, a seleção e a leitura de livros nas aulas [...] Interessa-nos a escola como instituição que outorga um sentido específico à leitura de obras [...] Também nos interessam os leitores como pessoas, que desenvolvem suas capacidades e competências literárias [...] nos interessam os livros da perspectiva de seu apoio a esse percurso [...]. Estimular a leitura e planejar o desenvolvimento das competências infantis são os dois eixos da tarefa escolar no acesso à literatura. [...] deve responder à conexão entre a capacidade de recepção e de produção literária, entre a recepção do texto e a elaboração de um discurso analítico e valorativo sobre ele, entre a interpretação do leitora e os conhecimentos que a tornam possível, entre a educação linguística e a educação literária, entre os aspectos linguísticos e os aspectos culturais que configuram o fenômeno literário ou entre a literatura e os restantes sistemas artísticos e funcionais que existem nas sociedades atuais. A leitura de obras literárias integrais é uma atividade que se situa no centro da tarefa de alcançar esses objetivos do modo mais amplo possível, tanto em profundidade quanto em extensão social. E o desejo de todos é que os ivros e os professores trabalhem juntos para consegui-lo. [...]. Trechos extraídos da obra Andar entre livros: a leitura literária na escola (Global, 2007), da premiada professora espanhola Teresa Colomer, coautora da obra Ensinar a ler, ensinar a compreender (Penso, 2003). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

FESTIVAL USINA GASTRÔ

&

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ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.

 



ASSATA SHAKUR, ANA MARIA MACHADO, TERESA COLOMER & USINA GASTRÔ

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