FUI ALI, JÁ VOLTEI, ÓI EU AQUI TRAVEIZ – Imagem: art
by Russell Kaplan – Fui ali, mas já
voltei. Demorei um tiquinho, num foi? Pois é, imprevistos acontecem. Desde
semana passada meio sumido, involuntariamente. Todo dia a gente muda em alguma
coisa. No meio disso, tem mudanças que são mais custosas, às vezes no de
repente, atendendo interesses alheios, até mesmo despropositais. São essas
mudanças que pegam a gente às vezes de calças curtas – ou com elas arriadas, o
que é muito pior, né não? -, ou quando são propostas no amiudado e a gente
projeta em cima da risca e quando vai ver na real, não é nada daquilo que se
havia pensado ou planejado. Nem digo, muito às avessas. Tem gente que muda de
cara, de cabelo, de pele, eu mesmo já mudei tantas vezes por dentro, que nem
sei se sou o mesmo que aparento ser: parece que a cara e todo resto permanecem
o mesmo – baixim, buchudim, tronchim e bunitim, só um pouco mais gasto de uso
-, eu só mudei de mesmo por dentro, ah, isso sim. Coisas assim e me rio muito.
De casa, um tanto de vezes: já fui dali prali e depois pracolá, andejo que sou,
corri mundo metido e cheio das pregas. Aprendi uma coisa: terra boa é o lugar
que se vive, raízes, vínculos, afetos. Eu mesmo sempre fui lá meio que
deserdado, desgarrado à-toa. Com a graça de Deus tudo vai bem, ainda não sei o que
não tem volta. Já mudei muitíssimas vezes minha regra, a ponto de não saber que
regulamento de verdade rege o meu viver, nenhum. Sei que uns – como eu - pelejam
e nada, outros até sem fazer nada sai tudo bom: coisa de um milhão que nem vale
duzentos, acho. Pra mim o ter tem que ter gosto de vontade nos peitos, puxado
na conquista, é que nunca soube direito o que é de mão beijada. Sei que tem
gente de ganhador aberto, bunda pra lua. Na hora de acertar, seus princípios
austeros, nem dá o dedo a torcer, fecham a cara em má decência. Enfim, no fim
dá certo. Tudo dá certo mesmo no fim, quer queira, quer não. Para mim, o bom
mesmo seria um jeito de ser menos custoso, destá, cada qual seus percalços. Mas
nem ligo, pensar demais atrapalha viver, vou de cara, na horagá. An-han! Seja
lá meio dia, seja meia noite, apátrida e ultramundos meus sempre fui e não mais
sou de mim, tenho o que perdi. Quem bebeu das águas do Una sabe do que estou
falando: o ânimo de quem procura, um alvo é sempre um sentido, não importa
qual, coisas de sentir e que não se pode negar: o mundo sem valor, aquele feito
das coisas que são boas porque são boas, mais nada, fazem bem ao coração, à
vida sem cerimônia ou explicação. Coisas que fazem sorrir e que acontecem sem
mais nem menos. Essas são mais duradouras, porque são invendáveis. As coisas
compráveis em moeda líquida e certa, no tome lá dê cá, ou na valsa de não sei
quantas prestações, me parecem efêmeras, logo se vão, vida útil
pré-determinada. Até as amizades que se parecem acertadas, negociadas, compadrios
feitos nas conveniências, logo se vão entre os dedos da gente nem saber como
foi que a amizade virou intriga, porque não se sabia o interesse, que havia o
dares e tomares, o útil pra mim que dou. Basta ter precisão que quando procura
ver não sobrou um pé de gente. Melhor pra quem não tem nada, ter pelo menos, a
cortesia, a boa intenção. Ah, sermos o sentido e medida de valor das coisas,
mesmo que o sentido e a medida noves fora nada de tão módica ou inexistente,
coisas assim, que são boas só porque são, nada demais ou carente, que não haja
um centavo que seja de valia. Como pode? Ventos no eucalipto e a desordem do
mundo, tudo de pernas pro ar, as correntes dos rios, a plantação, o pomar, nenhuma
correspondência. Hoje tudo tem preço e prazo de validade, meu coração sangra,
folgo feliz quando encontro um amigo que havia se perdido pelas esquinas do
mundo. Alegro e não participo da festa dos luminosos. Para quê? Tudo foi em vão
até agora, rebanhos, apenas, cegos furores, espasmos de ontens, eternidades
sonhadas, apenas mesmo, soma de zeros no instinto social, inevitável caduco que
retorna sem um final no nada esboroando o perecimento. Nada, nada. Por isso só
as amizades forjadas na simpatia, no afeto, sem interesse, sem moeda de troca,
persistiram e vão intactas com o tempo. Quando vi só escombros, uma rosa
resistia florescer no concreto armado: era um amigo que acenava, de verdade. Parecia
renascer da destruição, salvando-se de ser condenado à mesmice, ou votado à
dominação. Em suma: só o desejo de viver e de novo. Os rios trazem de volta
tudo que já foi em forma de outra vez, outras águas de Heráclito, mordendo a
cauda, ou se alimentando dos próprios excrementos. Ou o marido pródigo Eulálio da
prosa de Rosa que voltava sem mais nem menos da capital pros cafundós dos gerais,
tudo certo, o desplanejado. O eterno retorno de Nietzsche: nunca chore por mim,
não chore não. E o peito aberto cantando pra seguir a canção e a cada qual a
sina de agora, desatino vadio da ilusão. O apito do trem me apressa a hora,
marcando o compasso do meu coração. Cada rosto se expõe na dor que chora,
quando o peito é varrido pela paixão. Já é tarde, estou indo, eu vou embora, é
que o choro arrocha o nó da canção de quem vai se entregar, seja em qualquer
lugar, aonde a sorte vier. Perdão dos amores desfeitos na tora, arrancados no
véu da contramão, fizeram outono na minha história, atraindo abandono e
distração. Pelas ruas ganhei a pose e o disfarce, o abraço e o perigo da
delação. Para a vida ofereço a outra face e pra morte celebro a confissão de
quem vai se entregar, seja em qualquer lugar, aonde a sorte vier. Vou, uma
palavra diz tudo, não explica nada. Vou ali, volto já, até amanhã, quem sabe. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
PLANEJAR
É PRECISO
– Tudo que se deseja realizar na vida precisa ser planejado nos mínimos
detalhes. Quando não se planeja direito, a coisa sai entronchada. Só sai mesmo
endireitado, quando usamos da imaginação, visualizamos os mínimos detalhes do
que desejamos e nos pomos a planejar, definindo o que se quer, o porquê, quais
os objetivos e metas, o disciplinamento de execução, coordenação dos meios e
recursos utilizados para atingi-los, enfim, conceber aquilo que se quer antes
mesmo que ele exista de fato. Por isso, planejar é preciso. Ver detalhes aqui.
O MUNDO
MARAVILHOSO DO LIVRO
– Quantos livros maravilhosos eu viajei mundo afora na imaginação: Alice,
Gulliver, Mobu Dick, muitas e tantas aventuras. Veja mais aqui.
VIDAS
SECAS & SEM TERRA
- [...] Vidas secas além de antecipar o
que realmente aconteceria nos anos que se seguiram, continua a alertar aos
novos movimentos, sobre a precarização das possibilidades de conscientização
das famílias fabianas. O movimento que hoje envolve os trabalhadores rurais não
tem sua base nos necessitados da seca que, como ação coletiva, possuem no final
do século vinte, apenas o saque como proposta. Continuam migrando isoladamente
para os lugares que, esporadicamente, oferecem alguma oferta de emprega, ou se
colocam à margem nas cidades, continuando a viver como os sem. Concluir uma
etapa na concepção dialética é, necessariamente, recomeçar. Recomeço aqui
significa acompanha essa etapa da história dos sem terra, e a representação que
a literatura fizer dessa nova forma de subjetivação, procurando desvelar a
antecipação trazida pela arte como possibilidade. Trecho extraído de A representação metafórica dos caminhos do
campesinato na década de trinta: os desejos de sinhá Vitória e a construção
autoral de Graciliano Ramos em Vidas secas (Ufal, 1999), de Belmira
Magalhães.
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A
EDUCAÇÃO & O FUTURO -
[...] A Humanidade deixou de constituir
uma noção apenas biologia e deve ser, ao esmo tempo, plenamente reconhecida em
sua inclusão indissociável na biosfera: a Humanidade deixou de constituir uma
noção sem raízes: está enraizada em uma “Pátria”, a Terra, e a Terra é uma
Pátria em perigo. A Humanidade deixou de constituir uma noção abstrata: é
realidade vital, pois está doravante, pela primeira vez, ameaçada de morte; a Humanidade
deixou de constituir uma noção somente ideal, tornou-se uma comunidade de
destino, e somente a consciência desta comunidade conduzi-la a uma comunidade
de vida; a Humanidade é, daqui em diante, sobretudo uma noção ética: é o que
deve ser realizado por todos e em cada um. Enquanto a espécie humana continua
sua aventura sob a ameaça da autodestruição, o imperativo tornou-se salvar a
Humanidade, realizando-a. Na verdade, a dominação, a opressão, a barbárie
humanas permanecem no planeta e agravam-se. Trata-se de um problema
antropo-histórico fundamental, para o qual não há solução a priori, apenas
melhoras possíveis, e que somente poderia tratar do processo multidimensional
que tenderia a civilizar cada um de nós, nossas sociedades, a Terra. Sós e em
conjunto com a política do homem, a política de civilização, a reforma do
pensamento, a antropo-ética, o verdadeiro humanismo, a consciência da
Terra-Pátria reduziriam a ignomínia no mundo. [...]. Trechos extraídos da
obra Os sete saberes necessários à educação
do futuro (Cortez/Unesco, 2000), de Edgar
Morin.
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NATUREZA
HUMANA, PSICOLOGIA & EDUCAÇÃO - [...] Não existe uma natureza humana definitiva, estável, como quer a
psicologia corrente; ela vai se constituindo histórica e socialmente pela luta
do homem com o ambiente, pela interação entre os indivíduos, pelo trabalho,
pela educação. [...]. Trecho extraído da obra Psicologia educacional: uma avaliação crítica (Brasiliense, 1984),
de José Carlos Libâneo. Veja mais aqui.
SOCIEDADE
E DIREITO
- A vida em sociedade implica,
necessariamente, a existência de relações entre seus membros. As pessoas mantêm
umas com as outras relacionamentos de várias espécies e de natureza diversa.
Algumas dessas relações são objeto de regulamentação pelo Estado, que edita
normas de conduta, cuja obediência é imposta a todas as pessoas. O Direito é,
pois, um fenômeno humano e social. [...]. Assim, entre os homens ocorrem relações de natureza vária- de amizade,
de cortesia, de religião, de negócios, etc. Quando uma dessas relações é
regulada pela vontade da lei, qualifica-se de relação jurídica. O desrespeito a
uma norma criada pelo Estado acarreta sempre uma sanção, que será mais ou menos
severa, de acordo com a natureza da norma violada e do bem por ela tutelado.
[...]. Trechos extraídos da obra Direito
e processo: influência do direito material sobre o processo (Malheiros,
2003), de José Roberto dos Santos Bedaque. Veja mais aqui.
SOCIEDADE
E PESQUISA SOCIAL
- [...] Cientistas sociais e cidadãos
comuns utilizam rotineiramente não somente mapas, mas uma grande variedade de
outras representações da realidade social – alguns poucos exemplos aleatórios
são filmes documentários, tabelas estatísticas ou as histórias que as pessoas
contam umas às outras para explicar quem são e o que estão fazendo. [...] Pessoas numa variedade de disciplinas
intelectuais e campos artísticos pensam saber algo sobre a sociedade que vale a
pena contar para outros, e elas usam uma variedade de formas, mídias e meios
para comunicar suais ideias e descobertas. Estudos comparativos destas maneiras
de representar conhecimento sobre a sociedade mostram os problemas comuns que
todas as representações envolvem e as diferentes soluções que as pessoas
desenvolvem para situações diferentes. [...]. Trecho do ensaio Falando sobre a sociedade, extraído da
obra Métodos de pesquisa em ciências
sociais (Hucitec, 1999), de Howard Becker. Veja mais aqui.
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