A arte do pintor e ilustrador austríaco Franz von Bayros (1866-1924). Veja mais
abaixo.
Imagem: Foto de Kate Winslet. Veja mais aqui.
POR VOCÊ
“M´amour,
m´amour o que é que eu amo e onde estás?” (Ezra Pound)
“...por
você vou roubar os anéis de Saturno” (Rita Lee)
Por você tenho estado a levitar incólume
pelas nuvens mágicas do amor, a cantar o Exagerado de Cazuza para orbitar
contumaz toda flor de sua emanação. Por você tenho dedicado todo infrene teor
do meu verso lascivo, toda meta da minha perseguição da felicidade, todo meu
corpo, minha alma, idéias e pensamentos e já não consigo distinguir o que é meu
de seu nessa correspondência para lá de imantada pelos nossos mais aderentes
desejos. Por você sigo perseverante a desafiar de
deus, do mundo e de tudo, a fazer da minha crença apenas a sua deificação. Por você vou rompendo barreiras porque
recito de cor um a um dos cinco mil versos d´Os Cantos de Pound enquanto aliso
a corcova de suas ancas miríficas onde perco todos os pontos cardeais
afiançando a valia de todos os seus atributos. Por você subestimo convenções porque
quero passear de mãos dadas e trocando beijos apaixonados no meio do espetáculo
da aurora boreal até a austral e vê-la seguir com o meu monograma tatuado no
seio como o distintivo do nosso amor. Por você vasculho o universo de sua
compleição, faço surf no tsunami de suas carnes, viro goleador no Maracanã do
seu ventre, percorro a nado todo Amazonas de suas águas profundas, faço happy
hour na lua dos seus seios, enfrento a fera do seu desejo exaltado e recolho de
sua mais absoluta e íntima graciosidade todos os acepipes exatos da minha
esfomeada vontade de você. Por você todo limite usurpado no fogo
insano do prazer a ponto de não haver extintor de incêndio capaz de apagar a
feroz volúpia de possuí-la a mais das suas dimensões angulares. Por você toda exata e possessa como uma
naja de capuz estufado, premida pela necessidade excitante de ver-me enveredar
por seu olho pidão, por seus lábios bons de beijar, pelos seios de todos os
sabores, pelas pernas carnudas, nádegas voluptuosas até o ventre ávido com nuto
pro concúbito. Por você terei o muito de todo tudo,
porque na paixão, o que for demais além da infinitude, para o querer, ainda é
muito pouco. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS – Há duas maneiras fáceis de se mover pela
vida: acreditar em tudo ou duvidar de tudo. Ambos nos evitam de pensar. Uma das
origens óbvias do desacordo entre os humanos é o uso de ruídos em lugar das
palavras. Deus pode perdoar seus pecados, mas seu sistema nervoso não.
Pensamento do filósofo, cientista e engenheiro polonês Alfred Korzybski
(1879-1950).
ALGUÉM FALOU: O que
não tem mais vontade nem mais gosto do que a vontade e o gosto alheios, pode
ser tido como verdadeiro escravo. Fazer poesia é confessar-se. Pensamento
do poeta e dramaturgo alemão Friedrich Gottlieb Klopstock (1724-1803).
A FUGITIVA – [...] Você se tornou
aquilo que todos os assistentes sociais que sempre se preocuparam com você
temiam. Seu temor mais profundo. Uma prostituta viciada. [...] A verdade dói, não dói? [...] Sou como aquelas
bonecas russas. Têm o formato feminino, são feitas de madeira e têm motivos
pintados nelas. Uma linha as corta ao meio. Você tira as duas metades e dentro
encontra uma outra boneca, com exatamente os mesmos motivos, apenas menores.
Você as desmonta, uma a uma, e sempre encontra uma por baixo – até que chegue
ao miolo, a sólida mulher de madeira com seus motivos agora obscuros. Sempre me
surpreendo e me desaponto quando não há mais bonecas multiplicando-se, sem fim,
até a última, tão pequena que se tornaria microscópica. [...]. Trechos extraídos da obra A fugitiva: o diário de uma menina
de rua (Scipione,1997),
da escritora canadense Evelyn Lau. Veja mais aqui.
POEMA SOBRE OS MEUS DIREITOS - Mesmo hoje eu preciso dar uma volta e arejar
/ minha cabeça em relação a esse poema que é sobre porque eu não posso / sair
sem trocar de roupa de sapato / a postura do meu corpo meu gênero minha
identidade minha idade / meu status como mulher sozinha à noite/ sozinha na
rua/ sozinha não é o problema/ o problema é que eu não posso fazer o que eu
quero / fazer com meu próprio corpo porque eu tenho o gênero / errado a idade
errada a pele errada e / suponha que isso não fosse aqui na cidade mas lá na
praia / ou longe no interior e eu quisesse ir / pra esses lugares sozinha
pensando em Deus/ ou pensando / sobre filhos ou pensando sobre o mundo/ tudo
isso / revelado pelas estrelas e pelo silêncio: / eu não poderia ir e eu não
poderia pensar e eu não poderia / ficar lá / sozinha / como eu precisava estar
/ sozinha porque eu não posso fazer o que eu quero com meu próprio / corpo e / quem
neste caralho arrumou as coisas / desta forma? / e na França eles dizem que se
o cara penetrar / mas não ejacular então ele não me / estuprou / mesmo se eu
der uma facada nele e gritar / e implorar pro filho da puta e mesmo depois que
eu esmagar / a cabeça dele com um martelo e mesmo se depois disso ele / e seus
bróder me estuprarem mesmo depois disso / dizem que eu consenti e não houve / estupro
porque finalmente você entende finalmente / ele me foderam porque eu estava
errada eu estava / errada de novo por estar ali/ errada / por ser quem eu sou /
o que é exatamente como na África do Sul / penetrando na Namíbia penetrando em
/ Angola e isso significa quero dizer... como você sabe se / Pretória ejacula
como vai ser a evidência a / prova da monstruosa e ditatorial ejaculação na
Terra Preta? / e se / depois da Namíbia e depois de Angola e depois do Zimbábue
/ e se depois de todos meus antepassados e antepassadas resistirem até mesmo / à
autoimolação das vilas e se mesmo assim / depois disso perdermos o que os
garotões vão dizer? eles vão / alegar que consenti?: / Você tá me entendendo?:
nós somos as pessoas erradas / com a pele errada no continente errado e por que
/ caralhos as pessoas estão sendo razoáveis sobre isso? / e de acordo com o
Times essa semana / lá em 1966 o Serviço Secreto Americano decidiu que eles
tinham um problema / e o problema era um homem chamado Nkrumah então eles / mataram
ele e antes dele teve Patrice Lumumba / e antes dele teve meu pai no campus / da
universidade de elite que eu fazia e meu pai com medo / de entrar no refeitório
porque ele disse que ele / estava errado a idade errada a pele errada a
identidade / de gênero errada e ele estava pagando minhas mensalidades e / antes
disso / era meu pai quem dizia que eu estava errada que / eu devia ter nascido
menino porque ele queria um/ um / menino e que eu devia ter a pele mais clara /
e que eu devia ter um cabelo mais liso e que / eu não devia ser tão paqueradora
e em vez disso eu devia / ser apenas/ um menino e antes disso / era minha mãe
sugerindo cirurgia plástica pro / meu nariz e aparelho pros meus dentes e me
dizendo / pra deixar esses livros pra lá para deixá-los pra lá em outras / palavras
/ Eu estou muito ciente dos problemas do Serviço Secreto Americano / e dos
problemas da África do Sul e dos problemas / das empresas petroleiras e os
problemas da América / branca em geral e os problemas dos professores / e dos
religiosos e da polícia e dos assistentes / sociais e em particular de Mamãe e
de Papai/ eu estou muito / ciente dos problemas porque esses problemas / tornam-se
/ eu / Eu sou a história do estupro / Eu sou a história da rejeição de quem eu
sou / Eu sou a história do aterrorizante encarceramento da / minha pessoa / Eu
sou a história de ameaças espancamentos e infinitos / exércitos que são contra
qualquer coisa que eu queira fazer com minha mente / e meu corpo e minha alma e
/ quer isso seja sobre andar de noite / ou sobre o amor que eu sinto ou / sobre
a santidade da minha vagina ou / a santidade das minhas fronteiras nacionais / ou
a santidade dos meus líderes ou a santidade / de cada um dos meus desejos / que
eu conheço por causa do meu particular idiossincrático / inquestionavelmente
solteiro e extraordinário coração / Eu fui estuprada / por- / que eu tenho tido
o gênero errado a idade errada / a pele errada o nariz errado o cabelo errado a
/ necessidade errada o sonho errado a geografia errada / a roupa errada eu / Eu
tenho sido o que estupro significa / Eu tenho sido o problema que todo mundo
tenta / eliminar por penetração / forçada com ou sem evidência de secreção mas/
que esse poema seja inconfundível / ele não é consentimento – eu não dou
consentimento / a minha mãe a meu pai aos meus professores / à polícia à África
do Sul à periferia / ao bairro rico à empresa aérea aos vagabundos / com
pau-duro nas esquinas aos tarados espiando de dentro dos / carros / Eu não
estou errada: Errada não é meu nome / Meu nome é meu meu meu / e eu não posso
te dizer quem fez as coisas assim nessa porra / mas eu posso te dizer que de
agora em diante minha resistência / minha simples, diurna e noturna
autodeterminação / pode muito bem custar a sua vida. Poema
da premiada poeta, professora e ativista afro-caribenha June Jordan.
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