QUEM OLHA PROS OUTROS NÃO VÊ A SI MESMO – Imagem:
arte da pintora sul-africana Deborah
Poynton. - Houve um tempo em que acreditava em tudo. Acreditei no que
diziam, no que expressam olhares verdadeiros, até em mentiras, gostava disso,
gostava porque, naquela hora, tudo era verdadeiro. Acreditei nas horas, não sei
quantas outras, sei que era, nisso acreditei. Acreditei no espaço, era longe;
quando mais ia, mais demorava chegar. Fui. Léguas, quanta distância. Chegava
cansado, satisfeito. Não era o que eu esperava, nem precisava. Bastava ter ido,
aprendido que ir muitas vezes é mais que voltar. E voltei, muitas vezes, perdi
a viagem e não me cansei de saber que ir é voltar quando a gente não quer.
Tantas vezes cheguei na porta fechada, peito aberto. Chorei, força da
expressão; deveria sorrir para saber o tamanho da besteira: nada melhor que rir
do que não tem o menor sentido. Foi e entornei risos e lágrimas. Quantas vezes
apesar de certo, aquiesci; quantas vezes completamente equivocado, perdi a vez
de compreender. Errei, muito. Horas muitas de incompreensão. Queria invulnerável,
dono de todas as razões. E jurava: um dia acerto. Quanto mais teimava, mais
errava. Com o tempo aprendi com minhas falhas, até amei minhas fraquezas. Não
por autocomiseração, mas por ver-me humano, indesculpavelmente humano,
deliciosamente humano. Foi quando aprendi a amar. Até então eu não amava a mim,
amava qualquer coisa, ou nada. Pensava que amava, eu que me iludia e só me
valia do prazer. Errar fazia parte de mim, para aprender. Pisava na bola e me
ria. Nisso eu me reconhecia: era qualquer coisa fora do convencional, assim eu
era. O que valia era ser eu mesmo. Estava cansado de ser quem eu admirava, de
ser outro que não eu próprio. Assim me fiz. Reconheci meus erros, dei topada a
torto e a direito, me ria. Mas cobrei de mim o infalível. Foi quando me
descobri que não era super-herói. Tudo era só o que queriam de mim, o indefectível.
Não era eu, mas me esforçava, queria ser o melhor, o maior de todos. Quando me
descobri frágil, meu mundo caiu. Sou apenas um ser humano. Queria ser
super-herói, além-do-homem. Olhei no espelho, sou apenas o que sou. Nada mais.
Isso não sou eu, certo ou errado, liso ou endinheirado, pronto para assumir
meus erros e seguir em frente. Quem olha pros outros não vê a si mesmo. Nada
mais, sou apenas o que sou, nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio
Tataritaritatá: especiais com as Cartas Celestes 1 e 8, Sonata 1 for guitar
& o Concerto Fribourgeois do pianista e compositor de música erudita Almeida
Prado (1943-2010); o Quartet
piano nº 1 op 25 Brahms, Concerto nº5 Vieutxtemps & Israel Phylarmonic
Zubim Mehta da premiada violinista alemã Viviane Hagner; Ter Pezzi per
pianoforte do compositor, professor e musicólogo Hans-Joachim
Koellreuter; e Sonata for cello & piano nº 1 op 38 de Brahms, Grand Tango de Astor
Piazzolla, Água e Vinho de Egberto Gismonti & O canto do cisne negro de
Villa-Lobos, da violoncelista francesa Ophélie Gaillard. Para conferir é só ligar o som e curtir.
A ALEGRIA DE ENSINAR – Ensinar é um exercício de imortalidade. De algum a forma
continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da
nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais. [...] Agora o que
desejo é que você aprenda a dançar. Lição de Zaratustra, que dizia que para se
aprender a pensar é preciso primeiro aprender a dançar. Quem dança com as idéias
descobre que pensar é alegria. Se pensar lhe dá’ tristeza e porque você so sabe
marchar, como soldados em ordem unida. Saltar sobre o vazio, pular de pico em pico.
Não ter medo da queda. Foi assim que se construiu a ciência: não pela prudência
dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Todo conhecimento começa com o
sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca
da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas do
corpo, com o a água brota das profundezas da terra. Como Mestre só posso então lhe
dizer uma coisa: “Conte-me os seus sonhos, para que sonhemos juntos!” [...]
O menininho sonhava. Como Deus, que do nada
criou tudo, ele tomou o nada em suas mãos, e com ele fez o seu carrinho.
Imagino que, também como Deus, ele deve ter sorrido de felicidade ao contemplar
a obra de suas mãos...Trechos da
obra A alegria de ensinar (Ars Poética,1994),
do psicanalista,
educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui e
aqui.
ELOGIO DA MÃO - [...]
O artista que corta a madeira, martela o
metal, molda a argila, talha o bloco de pedra, traz até nós um passado do
homem, um homem antigo, sem o qual não estaríamos aqui. Não é admirável vê-lo
em pé, entre nós, em plena era mecânica, esse sobrevivente obstinado da era das
mãos? Os séculos passaram por ele sem alterar sua vida profunda, sem fazê-lo
renunciar a seus modos antigos de descobrir o mundo e de inventá-lo. Para ele,
a natureza ainda é um receptáculo de segredos e de maravilhas. É ainda com as
mãos nuas, frágeis armas, que ele tenta furtá-los, para fazê-los entrar em seu
próprio jogo. Assim recomeça, perpetuamente, um formidável outrora, assim se
refaz, sem se repetir, a descoberta do fogo, do machado, da roda, do torno de
olaria. Num ateliê de artista, estão inscritas por toda parte as tentativas, as
experiências, os presságios da mão, as memórias seculares de uma raça humana
que não esqueceu o privilégio de manipular. [...] Nerval conta a história de uma mão amaldiçoada que, separada do corpo,
corre o mundo para fazer das suas. Não separo a mão nem do corpo nem do
espírito. Mas entre espírito e mão, as relações não são tão simples como as que
se dão entre um patrão imperioso e um servidor dócil. O espírito faz a mão, a
mão faz o espírito. O gesto que não cria, o gesto sem devir provoca e define o
estado de consciência. O gesto que cria exerce uma ação contínua sobre a vida
interior. A mão arranca o tato à passividade receptiva, organiza-o para a
experiência e para a ação. Ela ensina o homem a possuir o espaço, o peso, a
densidade, o número. Criando um universo inédito, deixa sua marca em toda
parte. Mede-se com a matéria que ela metamorfoseia, com a forma que ela
transfigura. Educadora do homem, a mão o multiplica no espaço e no tempo.
Trecho extraído da obra A vida das formas:
seguido elogio da mão (Zahar, 1983), do historiador e teórico
francês Henri Focillon (1881-1943), analisando
as formas de espaço na matéria, no espírito e no tempo, revelando o que de
ilusório existe na distinção entre forma e conteúdo e mostrando-nos que a Arte
é mais que uma simples sucessão de estilos e momentos.
SEM DESTINO – [...] Só em Zeitz percebi mesmo que o cativeiro
tem a sua rotina, que o verdadeiro cativeiro não passa, no fundo, de um
quotidiano cinzento. [...] Não tardei
muito a perceber que as opiniões favoráveis ouvidas ainda em Auschwitz acerca
da instituição dos “Arbeitlager”, se baseavam, forçosamente, em informações
exageradas. [...] Trecho da obra Sem
destino (Presença. Lançamento, 2003), do
escritor húngaro e prêmio Nobel de Literatura de 2002, Imre Kertész (1929-1016),
narrando a história de um jovem judeu que se vê subitamente afastado da
família e é levado para campos de concentração de Auschwitz situações de
desumanidade, de grande crueldade, perpetrados por parte do comando nazista.
Veja mais aqui.
CÂNTICO 17 DE CECÍLIA – Tu tens um medo: /
Acabar. / Não vês que acaba todo o dia. / Que morres no amor. / Na tristeza. / Na
dúvida. / No desejo. / Que te renovas todo o dia. / No amor. / Na tristeza. / Na
dúvida. / No desejo. / Que és sempre outro. / Que és sempre o mesmo. / Que
morrerás por idades imensas. / Até não teres medo de morrer. / E então serás
eterno. Poema extraído da obra Cânticos
(Moderna, 1981), da escritora, pintora, professora e
jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui e aqui.
FILOSOFIA: CONVERSA SEIS
& MEIA
Aconteceu
nesta quinta (14/09), no Restaurante O
Nordestão, o Café Filosófico: Conversa às seis e meia, com a temática: Por que
filosofar no século XXI?
Veja
mais:
A arte
de Lucebert aqui.
A arte
musical de Viviane Hagner aqui.
&
A FLOR DE LUCIAH LOPEZ
Meu
coração se contrai e se expande em resposta ao Amor que me invade com as cores
da primavera. É a flor que sai do ventre e traz consigo as línguas faladas e as
línguas mortas que distraem a palavra feita da saudade que te reveste. Eu
mencionei o seu nome enquanto a seiva corria pelos veios e ranhuras das folhas
e pétalas e a elas ajuntei os pensamentos que a voz do meu coração soprou nos
meus ouvidos. Nitidamente ouvi o que perdura entre nós -, o seu riso. A
espontaneidade da sua risada obedece as curvas habituais no vermelho dos seus
lábios e é tudo que eu preciso para me vestir de primavera ao bel-prazer de
quem ama e se permite amar.
Prosa poética da poeta, artista visual e
blogueira Luciah Lopez.
A ARTE DE DEBORAH POYNTON
A arte da pintora sul-africana Deborah Poynton.