VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
SALGADINHO E A PSICOLOGIA AMBIENTAL
– Na última segunda feira, dia 23 de novembro, apresentamos o projeto de
estágio sobre a temática Psicologia
ambiental: a arte na educação e direitos das comunidades do Riacho Salgadinho –
Maceió – AL, perante a professora Daniella Botti Rosa, resultado de estudo
grupal dos granduandos do curso de Psicologia, do Centro Universitário Cesmac,
exigência da disciplina Estágio Básico II. Na ocasião fizemos apresentação da
problemática, justificativa e objetivos de pesquisa e referencial teórico
alusivo ao Meio Ambiente, à Psicologia Ambiental e a realidade encontrada da
nascente à foz do riacho Salgadinho, articulando conteúdos com o papel da atividade
artística – teatro, música e literatura -, na conscientização dos direitos e
deveres, da responsabilidade e da sustentabilidade, da necessidade de na
manutenção de um meio ambiente saudável e equilibrado, enfim, da necessidade de
se instaurar uma verdadeira Revolução Copernicana ao Contrário para efetivar a
supremacia dos interesses públicos, o princípio da dignidade humana e do
exercício da cidadania. Com a realidade encontrada, chegamos a indagação: por
que tratar do Riacho Salgadinho se a fonte secou? Questionamos, portanto, se a população
limítrofe daquele recurso hídrico extinto merecia viver submetida às condições
de um esgoto daquela magnitude a céu aberto. E debatemos as causas e consequências
de dano ambiental, notadamente sob a ótica da promoção e prevenção da saúde da
população maceioense. A nossa perspectiva se encontra voltada no trabalho
inicial com a comunidade da nascente, por meio de atividades artísticas com
conteúdos da Educação Ambiental, Direito Ambiental e Psicologia Ambiental,
procurando a conscientização da necessidade de mudança de comportamento e da
aquisição da consciência dos direitos e, respectivamente, dos deveres da
população na promoção de um ambiente saudável e equilibrado para todos. O
projeto iniciou no mês de março de 2015, com previsão de encerramento das
atividades no mês de julho de 2016. Enquanto isso, vamos aprumar a conversa
aqui e aqui.
Imagem Nus, do artista plástico holandês Antonius Bernardus Kelder (1894-1972)
Curtindo Piano
Sonatas D. 960 & 664 / Moments Musicaux Import,
do compositor austríaco Franz Schubert
(1797-1828), performance do pianista e compositor alemão Wilhelm Kempff (1895-1991).
O HOMEM E SEU
LIVRE-ARBÍTRIO – No
livro Autodomínio e o destino com os
ciclos da vida (Renes, 1975), do famoso Rosacruz, escritor, ocultista e
místico Dr. Ph.D Harvey Spencer Lewis (1883-1939),
trata de assuntos com o problema do autodomínio, ritmo cósmico e os ciclos da
vida, o ciclo da alma e da vida, ciclos da reencarnação, entre outros assuntos.
Da obra destaco o trecho do capítulo O homem e seu livre-arbítrio: [...] Os nossos atos resultam de causas
anteriores, ou somos dirigidos em todos os nossos passos, por influencias
externas, como as vibrações Cósmicas, os impulsos mentais do exterior ou
tendência do eu interior e do ambiente? Em outras palavras: a vida que vivemos
será de fato efeito do nosso ambiente e de impulsos invisíveis sobre os quais
não temos domínio e por meio dos quais também nos são apresentadas certas
oportunidades e tentações que aceitamos e utilizamos, ou que rechaçamos e
abandonamos? [...] O homem tem
livre-arbítrio, direito de escola, seja para trabalhar em harmonia com o ritmo
das leis universais, seja para escolher entre o bem e o mal. Mas o resultado de
sua escolha virá inevitavelmente, como resultado da manifestação da lei da
compensação. Aquele que escolhe acertadamente e age em harmonia com as leis
chega a ser senhor do seu destino, ao passo que aquele que fracassa na escola e
age em desarmonia com a lei, torna-se escravo da sorte e vítima de um destinado
criado inconscientemente. Veja mais aqui.
OS MAIAS – O romance Os Maias (1888), do escritor português Eça de Queiroz (1845-1900), conta a história de uma família ao
longo de três gerações, envolvendo um caso de amor incestuoso. Da obra destaco
o trecho: Pedro e Maria, no entanto, numa
felicidade de novella, iam descendo a Italia, a pequenas jornadas, de cidade em
cidade, n'essa via sagrada que vae desde as flores e das messes da planicie
lombarda até ao molle paiz de romanza, Napoles, branca sob o azul. Era lá que
tencionavam passar o inverno, n'esse ar sempre tepido junto a um mar sempre
manso, onde as preguiças de noivado teem uma suavidade mais longa... Mas um
dia, em Roma, Maria sentiu o appetite de Paris. Parecia-lhe fatigante o viajar
assim, aos balouços das caleças, só para ir ver lazzaroni engolir fios de
macarrão. Quanto melhor seria habitar um ninho acolchoado nos Campos Elyseos, e
gozarem alli um lindo inverno de amor! Paris estava seguro, agora, com o
principe Luiz Napoleão... Além d'isso, aquella velha Italia classica
enfastiava-a já: tantos marmores eternos, tantas madonas começavam (como ella
dizia pendurada languidamente do pescoço de Pedro) a dar tonturas á sua pobre
cabeça! Suspirava por uma boa loja de modas, sob as chammas do gaz, ao rumor do
boulevard... Depois tinha medo da Italia onde todo mundo conspirava. Foram para
França. Mas por fim aquelle Paris ainda agitado, onde parecia restar um vago
cheiro de polvora pelas ruas, onde cada face conservava um calor de batalha,
desagradou a Maria. De noite accordava com a Marselheza; achava um ar feroz á
policia; tudo permanecia triste; e as duquezas, pobres anjos, ainda não ousavam
vir ao Bois, com medo dos operarios, corja insaciavel! Emfim demoraram-se lá
até a primavera, no ninho que ella sonhára, todo de velludo azul, abrindo sobre
os Campos Elyseos. Depois principiou a fallar-se de novo em revolução, em golpe
d'estado. A admiração absurda de Maria pelos novos uniformes da garde-mobile
fazia Pedro nervoso. E quando ella appareceu gravida, anciou por a tirar
d'aquelle Paris batalhador e fascinante, vir abrigal-a na pacata Lisboa
adormecida ao sol. Antes de partir porém escreveu ao pae. Fôra um conselho,
quasi uma exigencia de Maria. A recusa de Affonso da Maia ao principio
desesperara-a. Não a affligia a desunião domestica: mas aquelle não affrontoso
de fidalgo puritano marcara muito publicamente, muito brutalmente, a sua origem
suspeita! Odiou o velho: e tinha apressado o casamento, aquella partida
triumphante para Italia, para lhe mostrar bem que nada valiam genealogias, avós
godos, brios de familia - deante dos seus braços nus... Agora porém que ia
voltar a Lisboa, dar soirées, crear côrte, a reconciliação tornava-se
indispensavel: aquelle pae retirado em Bemfica, com o rigido orgulho de outras
edades, faria lembrar constantemente, mesmo entre os seus espelhos e os seus
estofos, o brigue Nova Linda carregado de negros... E queria mostrar-se a
Lisboa pelo braço d'esse sogro tão nobre e tão ornamental, com as suas barbas
de Viso-rei. -Dize-lhe que já o adoro, murmurava ella curvada sobre a
escrivaninha acariciando os cabellos de Pedro. Dize-lhe que se tiver um pequeno
lhe hei de pôr o nome d'elle... Escreve-lhe uma carta bonita, hein! E foi
bonita, foi terna a carta de Pedro ao papá. O pobre rapaz amava-o. Fallou-lhe
commovido da esperança de ter um filho varão; as desintelligencias deviam
findar em torno do berço d'aquelle pequeno Maia que alli vinha, morgado e
herdeiro do nome... Contava-lhe a sua felicidade com uma effusão de namorado
indiscreto: a historia da bondade de Maria, das suas graças, da sua instrucção,
enchia duas paginas: e jurava-lhe que apenas chegasse não tardaria uma hora em
ir atirar-se aos seus pés... Com effeito, apenas desembarcou, correu n'um trem
a Bemfica. Dois dias antes o pae partira para Santa Olavia: isto pareceu-lhe
uma desfeita - e feriu-o acerbamente. Fez-se então entre o pae e o filho uma
grande separação. Quando lhe nasceu uma filha Pedro não lh'o participou –
dizendo dramaticamente ao Villaça «que já não tinha pae!» Era uma linda bébé,
muito gorda, loira e côr de rosa, com os bellos olhos negros dos Maias. Apesar
do desejo de Pedro, Maria não a quiz crear; mas adorava-a com phrenesi; passava
dias de joelhos ao pé do berço, em extasi, correndo as suas mãos cheias de
pedrarias pelas carninhas tenras, pondo-lhe beijos de devota nos pésinhos, na
rosquinha das côxas, balbuciando-lhe n'um enlevo nomes de grande amor, e
perfurmando-a já, enchendo-a já de laçarotes. E n'estes delirios pela filha,
brotava, mais amarga, a sua colera contra Affonso da Maia. Considerava-se então
insultada em si mesma e n'aquelle cherubim que lhe nascera. Injuriava o velho
grosseiramente, chamava-lhe o D. Fuas, o Barbatanas... Pedro um dia ouviu isto,
e escandalisou-se: ella replicou desabridamente: e deante d'aquella face
abrazada, onde entre lagrimas os olhos azues pareciam negros de colera, elle só
poude balbuciar timidamente: - É meu pae, Maria... Seu pae! E á face de toda a
Lisboa tratava-a então como uma concubina! Podia ser um fidalgo, as maneiras
eram de villão. Um D. Fuas, um Barbatanas, nada mais!... Arrebatou a filha, e
abraçada n'ella, romperam as queixas por entre os prantos: - Ninguem nos ama,
meu anjo! Ninguem te quer! Tens só a tua mãe! Tratam-te como se fosses
bastarda! A bébé, sacudida nos braços da mãe, desatou a gritar. Pedro correu,
envolveu-as ambas no mesmo abraço, já enternecido, já humilde; e tudo terminou
n'um longo beijo. E elle, por fim, no seu coração, justificava aquella colera
de mãe que vê desprezado o seu anjo. De resto, mesmo alguns amigos de Pedro, o
Alencar, o D. João da Cunha, que começavam agora a frequentar Arroios, riam
d'aquella obstinação de pae gothico, amuado na provincia, porque sua nora não
tivera avós mortos em Aljubarrota! E onde havia outra em Lisboa, com aquellas
toilettes, aquella graça, recebendo tão bem? Que diabo, o mundo marchara,
sahira-se já das attitudes empertigadas do seculo XVI!. [...]. Veja mais
aqui.
AMEAÇAS & OUTROS POEMAS – O livro Clau (Imprensa Universitária, 1992) ), do escritor, jornalista e
sociólogo Alberto da Cunha Melo
(1942-2007), destaco, inicialmente o poema Ameaças: Toda vez que subo / nessas minhas / altitudes máximas / (além do nível
do bar) / e mergulho de cabeça, / tripa e tudo / nessas minhas / profundidades
(também) máximas / (além do nível do lar), / o rosto de Clau / está lá em cima
/ e lá em baixo / me deslumbrando, sozinho! / — Quem é Clau? / (pergunta um
burríssimo / PHD em Estética) / e ninguém pode salvar / seus pobres alunos.
Também o poema Sugestões: Quero
dezembros, / sou louco por dezembros, / e por uma mulher / chamada Cláudia, / filha
de Oxum, / a de cabelos montanhosos, / de longa paciência / para suportar / minha
vontade de morrer; / quero dezembros de verdade, / fins de dezembros, / com as
pessoas correndo / atrás / de suas almas perdidas. Ainda o poema Nobrezas: Vista-se de jambo, / a cor imã / do sangue
velho, / e das frutas / caindo abandonadas / no lamaçal / da delícia degradada,
/ porque este traje / de machucada mortalha / tem a cor da vida / que vamos,
juntos, / ressuscitar. Por fim, o poema Aliados: Enquanto discutíamos / eu e Clau, / o cerco lá fora, / ouvíamos Chopin,
/ em plena clareira / da mata amazônica; / e lá fora havia / um certo gigante /
de barro queimado, / que tramava e bebia; / mas Chopin, revoltado, / tocava o
“Noturno” / e tudo dormia. Veja mais aqui.
O TEATRO DE LOPE DE VEGA - O dramaturgo e poeta espanhol Lope de Vega (1562-1635), reuniu
poesias da mocidade no Cancionero general (1600) e depois os sonetos das Rimas
humanas (1602) e das Rimas sacras (1614). Depois vieram as poesias narrativas,
a prosa e os dramas. São muito numerosas as comédias, peças de grande
comicidade e de construção engenhosa, algumas pertencentes até hoje aos
repertórios, como Amar sem saber a quem, La dama boba, Os milagres do desprezo,
O mais impossível, O cão do jardineiro, entre outras. Por conta de sua obra extensa
e valorizada, ele teve uma vida endeusada e todos os dramaturgos o imitavam. Os
autos e as comédias mitológicas desse autor não podem comparar, em valor, com a
de outros autores, mas entre duas comédias de santos encontram-se duas que
ainda hoje chamam a atenção pelos elementos autobiográficos dos enredos e pela
possível interpretação psicanalítica, La Buena guarda e A fiança satisfeita.
Além do mais, ele é o criador do teatro nacional espanhol, da sua forma
dramática e da sua mistura de elementos trágicos e cômicos, de elementos
eruditos e populares. Escolheu temas de todas as épocas e de todas as nações,
mas hispanizou-se de tal maneira que o teatro de Lope de Vega é o espelho fiel
da sociedade espanhola do século XVII. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CARAMURU – A comédia Caramuru – a invenção do Brasil (2001), dirigida por Guel Arraes,
conta a história de Diogo Álvares, artista português, pintor talentoso,
responsável por uma das lendas que povoam a mitologia brasileira — a do
Caramuru. Antes, porém, Diogo é responsável por uma confusão envolvendo os
mapas que seriam usados nas viagens de Pedro Álvares Cabral. Contratado por Dom
Jaime, o cartógrafo do rei, para ilustrar o precioso documento, ele acaba sendo
joguete de uma francesa, Isabelle, que vive na corte em busca de ouro, poder e
bons relacionamentos. Ela rouba-lhe o mapa e o artista é deportado. Na viagem,
Diogo conhece Heitor, um degredado cult, quase precursor do que hoje em dia se
conhece como mochileiro. Como muitas caravelas que se arriscavam, a de Vasco de
Atahyde naufraga. Mas Diogo consegue chegar ao Brasil e o infortúnio acaba
sendo um auxílio para dar início à história de amor entre ele e Paraguaçu, a
índia que conhece ao chegar ao novo mundo, ao paraíso bíblico sonhado. Mais
tarde, a história do náufrago iria se espalhar, assim como a lenda de que ele
foi o primeiro rei do Brasil. O romance entre o descobridor e a nativa é, de
fato, a história do triângulo amoroso entre Diogo, Paraguaçu e sua irmã Moema.
Os três viviam em perfeita harmonia, sob os olhares do cacique Itaparica. Algum
tempo depois, Diogo viaja para França para ser "condecorado" rei.
Apaixonadas, Paraguaçu e Moema mergulham no mar atrás da caravela, mas só
Paraguaçu chega à embarcação. Ela e Diogo continuam sua história de amor, com
todos os impactos da cultura europeia na vida de uma linda índia. Veja mais
aqui.
A arte do desenhista e ilustrador
estadunidense Paul Murry
(1911-1989).