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terça-feira, janeiro 26, 2021

PUSHKIN, ARIADNA GIL, DÁMASO ALONSO, MANUEL LOPES, ALLEGRAIN, JACQUELINE DU PRÉ & OLARIA OCRE

 

 

TRÍPTICO DQC: UMA VEZ E SEMPRE, PAISAGENS DO SILÊNCIO – Ao som de Te Deum, do compositor João de Deus de Castro Lobo (1794-1832), com a Orquestra de Câmara e Coral Pró-Música de Juiz de Fora sob a regência de Nelson Nilo Hack – Meu coração é Fátima desde menino e ela caçula nas presepadas da gente – Eu&Maikim&Marcelo os danados do último quarto que só paravam de trelar com os bregues de Sônia&Deínha, porque Carma ria & Pai Lula mangava. Quando não era Beco contando histórias do outro mundo e ela corria menina para nossa risadagem e crescia moça feita pra brincar com Genésio-a-mulher-do-vizinho e foi um tempo tão bom de nunca mais voltar. Ela aprendeu o Tempo de amar pelos Madrigais e outras das vozes de Marquinhos, até o Porto Solidão que a gente quase chorou Sob o céu de Palmares. Hoje esse dia nublado do ano da graça de já nem sei quanto, revejo a entrevista e arte porque Heitor & Pablo cresceram tanto de se agigantarem e não sobrou quase nada do que éramos para conversar com Paulo e ficarmos só da lembrança de retratos e risos, enquanto releio os originais de Relicário das lembranças, com as poéticas de amor da alma de poeta com a gente da minha terra nas noites ensolaradas. Quase ouço Antonio Callado: Quando Deus nos encaminha àquilo que temos capacidade de amar com maior verdade, está nos encaminhando a ele próprio. Sem dúvida Ovídio: Não é a arte que faz vogar os barcos rápidos com o auxílio da vela e do remo? Que guia na carreira os carros ligeiros? A arte também deve governar o amor… Não abandona em meio caminho tua amante, desfraldando sozinho tuas velas. É lado a lado que se arriba ao porto, quando soa a hora da volúpia plena e, vencidos a um só tempo, jazem a mulher e o homem lado a lado. Foge ao medo que apressa, à obra furtiva. E de lá distante Sêneca: Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte. De resto, Kant: Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena... Hoje sou Fátima no coração mais do que nunca e é dela o que fomos para o que seremos no amanhã de nem saber.

 


DOIS: CEGO SEM GUIA & A DOIDA DA HORA – Imagem: Nude Bathing Venus Statue, do escultor francês Christophe-Gabriel Allegrain (1710-1795), ao som do Cello Concerto, de Dvořák, com a violoncelista britânica Jacqueline du Pré & a London Symphony Orchestra, regência de Daniel Barenboim. – Quem vem lá? Era Zé cego às voltas com Sadoida da beira do rio que corria aos ventos, saia solta na cabeça, segurando uma enfieira de caranguejos. Essa doida é minha sina! E lá ia ela pisando na palha da cana e por cima dos pés da macaxeira, Ô doida aluada boa! Ah, se eu visse! E remexia nos flandres de lata a deitar no chão para sentir as pisadas dos pés das moças cheirosas, virada de copo do vinho de jurubeba do mundo rodar e ele: Vem cá, minha nega. E mais se ajeitava para ela, chega enchia a tripa gaiteira e tome póin, póin, a cair na punheta resmungando: Vem cá, minha linda, vem cá! Tome uma garapa, mô fio, pressas coisas passar! Ah, destá, tu me paga, desgraçada, vou botar no teu toba de tu chega gritar, ah, se vou, sou bagaço de gente, mas sei fazer direitinho, visse? Bastava ela passar da feira com perdas e ganhos de cada tolda a pedir quero disso e daquilo e ninguém dava trela, só Zé Cego que dizia: Vem cá, Sadoida, vem cá que te dou tudo, mulher! E ela respirava fundo, prendia o fôlego e falava fanhosa: Tu vai me dar o que, hem? Vem cá que te dou de tudo no frevo, levo pro maracatu, a gente cai no xaxado, casa, comida e roupa lavada! Eu, hem, vai só me enrolar! Vou não, sua catraia, vem cá, segura o baião que eu quero foder você todinha, quenga! E ela se ria e chegava pra perto ralando coco para fazer beiju: Eu quero beiju e beijar tu, mulher! E mais ria com um caldo de cana: Toma! Ô coisa boa! E ele puxava enquanto ela espremia nas coxas desnudas o milho para as pamonhas e canjicas do seu paladar, com os guardados tudo de fora: Deixa eu ver? Mas você é cego, ora! Vejo só em pegar. E pegava mãos buliçosas, enquanto ela oferecia um refresco de limão: Beba aqui! E ele deitava entre as pernas dela e sorvia o caldo que escorria do rego dos peitos pelo umbigo até o encontro dos lábios dele no sexo dela feito uma bica estrepitosa de ais e uis a fazer cosquinha no pinguelo dela de chega quase ter um piripaque de se tremer toda com o bico dos peitos empinados e toda arrepiada na pele fresca: Chega pra cá, minha doçura! E ele largava a viola e se esfregava nela que revirava os olhos, pegando no bico da chaleira e cheia de choques de quase clarear tudo, arriada na vara dele a bulir feito quem vai trotando pra cima e pra baixo, Ai, meu Jesus! E ele a usá-la na faca cega, gemedeira boa: Chupa o melaço do meu pau, vai! E ela chilepte com cada beiçada dele quase sumir de vez, era uma pisa de linguada dele gritar alto, era cada bocada dele chega se esvair inteirinho: É disso que eu gosto! E ela: Eu também, eita chambrego bom! E era cada peiada dela apitar mais que usina na safra, cada tacada como quem passa ferro e manda ver nas dentadas, era cada empurrada dela ficar doidinha demais da conta e a pedir mais e tome lapada de cabo a rabo, u-hu! Vira cá esse pé de rabo que eu quero fazer uma feira boa, vai! E ali os dois se engalfinhavam e findavam estirados no terreiro a passar pelos dias sem nem saber que dia era e o fim do mundo a cada instante: Não peida, homem, que isso é feio, piada de mau gosto! E ele se ouriçava de deixá-la pingando nas partes de baixo e mais que elevada à vigésima potência: Sou lá arraia-miúda, vou lhe estrompar, cachorra da moléstia! Ai como é bom! Não vá emprenhar, sua besta! E depois ficavam por ali como quem não quer nada, um à cata um do outro, até o dia que ele desconfiou: ela deixava os guenzos lamber suas intimidades afogueadas chega gemia sem conta e ele ouvi-la dengosa: O que é isso? O cão rosnou e quase mordeu sua mão: Isso é traição. Que é que é isso, velho? Sou mais tua não! Pouco importa! E ela se foi. Ele ficou triste feito no poema de Alexander Pushkin: Amar? Para quê? Por um tempo, não vale a pena. E, para sempre, é impossível. Abatumado, saiu de perto e foi para longe, tudo ficou tão quase, ela tornou-se de pedra no seu coração: Salve a vida que ao pó voltaremos.

 


TRÊS: LÍRICAS DA BELLE EPOQUE – Imagem: cena da atriz espanhola Ariadna Gil na comédia dramática Belle Epoque (1993), do cineasta Fernando Trueba, ao som de Johnny Smith Plays (1955), do compositor estadunidense Jimmy Van Heusen (1913-1990) – Vinte palavras trocadas e uma noite, digo uma vez e sempre, ela de farda, bigode desenhado sobre os lábios, quepe de ordens a me fazer vestes de mulher ao seu mando. Lá estava eu saia longa, blusa de rendas, salto alto e um bote à deriva do seu querer. Puxa-me pela mão e me leva pra dança: um tango e todos os olhos inquiridores no salão. Ela abusava mandona e pisava meus pés, sou-lhe mais que servil, tímido e contido, faço suas vontades. Leva-me pra rua e me quer só seu, indignada com o beijo de uma das quatro filhas charmosas do fazendeiro, e ela a quem me tem por anarquista desertor espanhol na terra solitária, o desafio era ali dela porque amo a viúva Clara, a sonhadora Rocio, a ingênua caçula Luz e ela, a lésbica Violeta... Não pode, Fernando! Pode. Art nouveau e saias, o êxodo rural e o divertimento dos cabarés, o telefone e o telégrafo sem fio, a bicicleta e o cinema, o avião e o automóvel, os cafés-concertos e as óperas, e aos sonhos daquela noite ela me leva pra fora, ganhamos às ruas e ela me oprime com um beijo ao pé da escada: Suba! E lá vamos para o sótão repleto de feno, ela me empurra, caio deitado no feno e desabotoa o blusão expondo a blusa negra por baixo, arreia as calças e monta sobre meu sexo catado entre suas mãos e cavalga, corpo a corpo e a outra metade que sou todo dela, e se serve de mim, apossada, imperiosa, me obriga deitado a servi-lhe de refém e vou mãos aos seios, blusa levantada, seminua e goza feliz para recitar Tempo de vida do poeta espanhol Dámaso Alonso (1898-1990): Peguei em minhas mãos / um punhado de terra. / O vento da terra estava soprando. / A terra voltou à terra. / Você me segura em suas mãos, eu / sou a terra. / O vento sopra / seus dedos, há séculos. / E o pequeno punhado de areia / - grão por grão, grão por grão - / o grande vento o leva embora. E lhe respondo com Cais do poeta cabo-verdiano Manuel Lopes (1907-2005): Nunca parti deste cais / e tenho o mundo na mão! / Para mim nunca é demais / responder sim / cinquenta vezes a cada não. / Por cada barco que me negou / cinquenta partem por mim / e o mar é plano e o céu azul sempre que vou! / Mundo pequeno para quem ficou... E mais me beijou e mais se satisfez, digo uma vez e sempre: é ela na noite que sou o dia que é dela. Até mais vez.

 

OLARIA OCRE & MESTRE BAIXINHA



O livro Olaria Ocre (Independente, 2008), de Joelson Gomes, Manoel Dantas Suassuna e Roberta Guimarães, artistas que ocuparam a Olaria do Baixinha, de Tracunhaem, e fundiram suas obras em um único objeto gráfico encadernado, condensando imagens e informações produzidas durante a estadia. A obra foi elaborada por uma equipe editorial, conduzida pelo designer Carlós Amorim, com a apresentação do material produzido pelos artistas e pela fotógrafa, em formato de livro, e texto de Luzilá Gonçalves, além das análises dos críticos de arte estrangeiros Mónica Carballas e Kevin Power. Veja mais aqui e aqui.


 


quarta-feira, janeiro 18, 2017

SÊNECA, JEAN FAUTRIER, LIAH SOARES & O MUNDO NO CORAÇÃO


O MUNDO PAROU PRO CORAÇÃO PULSAR - Imagem: arte do pintor e escultor francês Jean Fautrier (1898-1964) - Ninguém sabe como se dera o fato daquele menino ser tão austero de juntar até migalhas: seixos, gibis, figuras de álbuns, bolas de gude, borboletas aos montes grudadas em páginas de cadernos, rótulos de cigarros, capas de revistas masculinas e outras tantas coisas curiosamente organizadas e escondidas embaixo do colchão ou da cama. Até cada moeda amealhada era tão bem guardada que ninguém sabia o que ele dela fazia. Suspeitou-se de ser acometido por colecionismo, vez que achados e ganhados eram apropriados, tão bem guardados e reunidos às escondidas pelos cantos do seu fechadíssimo quarto. Quase ninguém sabia de nada, só quando davam conta da presença de estranhos pelos corredores da casa, tratando disso ou daquilo com ele. Com o passar do tempo as suas esquisitices nem mais chamavam atenção. Crescendo a olhos vistos, emanava de si um ar misterioso, pelo qual não permitia ninguém ousasse saber de sua vida. Assim foi do primário pro ginasial, daí pro colégio até a faculdade com a mesma singular estranheza enigmática. Formou-se de forma tão discreta de ninguém dar por conta de um graduado, da mesma forma que só deram fé que ele havia arribado de casa fazia tempo e ninguém percebera, só caíram as fichas quando ele já se tornara promissor empresário de sair estampado nas manchetes dos jornais. Danou-se! Ao repararem suas atividades, não se surpreenderam que se tratava dum sujeito que se levantava de madrugada pros seus afazeres, só se recolhendo depois da meia noite sem dar um pio durante todo dia. De fato, dormia pouco, quatro horas no máximo o que, pra ele, já era um desperdício. Da mesma forma com a fala, restringindo-se sempre a um sim ou não no máximo. Do mesmo jeito que se parecia invisível, não comparecia pras reuniões familiares, muito menos esboçava laços de afeto com quem quer que seja. Vivia sim única e exclusivamente do seu trabalho e em silêncio, concentração máxima conferida no relógio, prazos cumpridos, relatórios elaborados, conferência de tudo, sem esboçar o menor ruído de respiração. Dele se via apenas que cada hora uma atividade, tudo agendado, esquematizado quantitativamente até o lazer: jogar xadrez. De tão mecânica racionalização, ele já no automático com o futuro traçado nos mínimos detalhes, até as vicissitudes previstas entre as metas e os riscos, tudo esquemática e racionalmente planejado estrategicamente, desde os investimentos à maximização dos negócios na bolsa de valores, aplicações e dividendos. Quando incomodado por curiosos achegados, resposta seca: - Use o cérebro! E só, saindo sem a mínima reverência nem se despedir. Na dele e em todas as ocasiões tinha interpretação para tudo, juízo inderrogável, opinião insofismável, decisões inarredáveis. Só não previra o dia em que teve um piripaque: cirurgia dera-lhe pontes de safena ao coração. Foi quando pela primeira vez acordou com os olhos numa janela ensolarada de um quarto nunca visto, ouvindo o barulho da passarada do lado de fora. Gostou da novidade auditiva, como também do cheiro de folhas e terra molhada, e de que havia o dia depois da noite, nada disso nunca antes sentidos. E muito mais descobrira ali estirado sem poder mover-se por dias. Aí inaugurou a saliva na boca desejando o cheiro que vinha de uma frondosa mangueira e começou a perceber sabores, olores e cores que jamais sequer imaginava existissem. Caiu em si e se vivia não sabia o que era a vida, teve o mundo que parar pra que seu coração realmente pulsasse. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo o talento musical da cantora, compositora e musicista Liah Soares.

Veja mais sobre:
Por você na Crônica de amor por ela, Safo, Gilles Deleuze & Félix Guattari, Autran Dourado, Regina Silveira, Khadja Nin, Alexandre Dáskalos, Sam Taylor-Wood, Erika Leonard James, Eduardo Schloesser, Dakota Johnson & Kel Monalisa aqui.

E mais:
Darcy Ribeiro, Autran Dourado, Damaris Cudworth Masham, Loius Claude de Saint-Martin, Juan Orrego-Salas, Irina Vitalievna Karkabi, Doença & Saúde aqui.
Farra do Biritoaldo aqui.
Educação Ambiental aqui.
Albert Camus, Maceió, Robert Musil, Denys Arcand, Jools Holland, Eugene Kennedy, Pál Fried, Sandu Liberman, Lady Gaga, Anna Luisa Traiano, Gestão do Conhecimento & do Capital Humano aqui.
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Educação por água abaixo pra farra dos mal-educados aqui.
Depois da tempestade nem sempre uma bonança aqui.
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A teoria de Anthony Giddens & a Introdução à estética de Ariano Suassuna aqui.
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A croniqueta de antemão aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
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DESTAQUE: OS GRILHÕES HUMANOS DE SÊNECA
[...] Todos os homens têm seus grilhões, embora eles sejam mais frouxos e mais leves em uns do que em outros; vive melhor aquele que apanha seus grilhões e os carrega, do que aquele que os arrasta.
Pensamento do tragediógrafo e filósofo estoico latino Lúcio Aneu Sêneca (4ac-65). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor e escultor francês Jean Fautrier (1898-1964)
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: 
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


domingo, janeiro 31, 2016

MULHER & SOLIDARIEDADE, JOYCE, MOLIÈRE, SÊNECA, DILERCY, NILZA AMARAL, JULIA CRYSTAL, CLAUDINHA CABRAL & MUITO MAIS!!!

TODO DIA É DIA DA MULHER: SOLIDARIEDADE - Quando publiquei aqui as histórias de Gersoca, Samira, Sulina, Derluza, Elvira, Gilvanícila e Sulamita, não previa que tantos mails e mensagens me chegassem, dando conta de que estava contando a vida de uma pessoa ou irmã, ou prima, ou familiar ou conhecida. Fui surpreendido com a avalanche de manifestações e as mais diversas. Algumas que me pediram que as mantivesse anônimas fizeram questão de me contar as suas desventuras. Confesso, chorei, choramos juntos. Outras lamentaram a sua própria sorte e das demais personagens das minhas histórias. Manifestei meu gesto solidário. Uma ou outra me detratou alegando que eu não tinha o direito de expor problemas dessa natureza, pois eu estava sendo um intruso por trazer ao público uma questão de foro íntimo e que eu não tinha o direito de invadir a privacidade alheia. Compreendi e manifestei minha gratidão. E mais outras tantas que me chegaram com apoio e solidariedade. O que me deixou deveras feliz foi que a grande maioria se tocaram com o problema, alguns tomaram ciência de que precisam de acompanhamento médico e psicológico para que possa reencontrar a vida, como o caso que narrei da Gilvanícila: ela seguiu sua vida enfrentando as suas sombras – inclusive, transformei essa historieta numa peça teatral e logo logo publicarei aqui. Outras fizeram questão de criticar o alheamento, o distanciamento, a falta de sensibilidade do ser humano para os mais diversos problemas graves que grassam na vida. Sei 1ue são casos tristes e inaceitáveis. São injustiças cometidas em nome da honra, do mando, do poder, da arrogância, da inumanidade. Aconteceram há milênios atrás, estão registrados na história até hoje e são cometidos da mesma forma agora, neste instante, e viram manchetes pra sanguinolência dos noticiários e, uma hora depois, foi-se, tudo esquecido. Até que um dia acontece com a gente ou com pessoas próximas ou de nossas relações, aí nos damos conta de que cada um de nós está sujeito a ser vitimado por tais sandices. O que pretendi com essas historietas, croniquetas e noveletas, foi trazer à tona casos que passaram e ainda hoje estão na pauta dos dias à margem da sociedade e da Justiça, entre os anônimos e invisíveis que vivem, respiram e lutam na vida. E que ocorreram e ainda ocorrem hoje sem que ninguém sinta a calamidade pública, ignorando o sofrimento alheio por completa ausência de alteridade e solidariedade. Infelizmente a tônica do umbigocentrismo é pra lá de perturbador, o descartável impera e incluem as relações pessoais e sociais nesse contexto. Surgem, viram escândalos, todo mundo se consterna, mas se esvaem para logo em seguida agonizarem no que passou. Namoros, casamentos e amizades são descartados ao bel prazer, levados pela mecânica da lata do lixo, como se jamais tivessem existido. Pessoas trocam de relações como quem troca de roupa, dentro da conveniência e do desejo. Tem gente que acaba uma relação amorosa de manhã e de tarde já desfila com outro sem nenhum remorso: basta um clique e tudo é deletado, imagens, momentos, passado. E quem doer que morra ou pegue o beco. É tudo na base da fila que anda. Este o reino da frivolidade e da veleidade das relações líquidas, da hipermodernidade. Foi-se, já era; que venha um novo e melhor – ou não. E se não der certo, reposição na hora, simplesmente a substituição. E ainda arranjamos culpados nos outros para nossos desatinos. A culpa é sempre do outro. E a cada dia fica mais difícil de encarar o espelho, de dialogar consigo próprio, de ver que é a partir de nós mesmos que todo bem ou mal se manifesta. Da minha parte eu digo: o prazer só tem valor porque sabemos o tamanho e a dimensão da dor. Ao contrário, não haveria prazer algum. E vamos aprumar a conversa com a solidariedade. (Luiz Alberto Machado).

Veja mais aqui.
 
PICADINHO
Imagem: Female Nude in the Mirror, do pintor alemão Paulo Paede (1868-1929).


Curtindo o cd/dvd Joyce ao vivo (EMI, 2008), da cantora, compositora e instrumentista Joyce.

EPÍGRAFEBonus nocet qui malis parcet, sentença do tragediógrafo e filósofo estoico latino Lúcio Aneu Sêneca (4ac-65), que quer dizer: quem o inimigo poupa, nas mãos lhe morre. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A MULHER MEDIEVAL – No livro O feminismo uma abordagem histórica (Zahar,1979), de Andreé Michel, encontro que os homens dos séculos XII e XIII, implantaram uma sociedade patriarcal que proporciona às mulheres uma nova forma de enclausurá-las, legitimada nesse momento por lei. Portanto, a sociedade reserva a elas o espaço privado, responsabilizando-as pelo afazeres domésticos, e o conforto dos maridos e dos filhos. Algumas mulheres resistiram a essas novas formas de enclausuramento, como por exemplo: as parteiras que foram cruelmente castigadas por não aceitarem as condições impostas a elas, que recebem o titulo de feiticeiras, devido ao fato de na hora do parto – quando complicado – fazerem uso da escolha pela vida de um ou outro, e que nesta situação as parteiras escolhiam pelas vidas das mães como meio de resistirem ao enclausuramento. Os comerciantes da classe média, junto à igreja e os novos burocratas, não aceitavam a opção das parteiras e muitas eram condenadas a serem queimadas vivas. A esse respeito, expressa o autor que [...] no seio da Igreja, a inquisição celebrizou-se enviando à fogueira muitas dezenas de milhares de mulheres acusadas de feitiçaria. As feiticeiras estavam sempre sendo de atacar a força sexual dos homens e de agir com o objetivo de exterminar a fé. Pelo visto, a mulher na Idade Média estava submetida ao fato de que a maioria das ideias e dos conceitos eram elaborados pelos eclesiásticos e esses possuíam acerca da mulher uma visão dicotômica, ou seja, ao mesmo tempo em que ela era tida como a culpada pelo Pecado Original, a Virgem Maria foi a mulher que deu ao mundo o salvador e redentor dos pecados. Na sua análise, encarando diversos desafios em prol do jovem salvador, essa mulher determinava a constituição de outro olhar sobre o feminino. Não por acaso, vê-se que o culto mariano, a canonização de mulheres e a reclusão nos conventos se elevam significativamente com esse tipo de reinterpretação. Além do mais, sendo um período histórico tão extenso, as mulheres assumiram papéis que extrapolaram os antigos preconceitos ainda reservados ao medievo. Sem dúvida, as mulheres medievais são muitas, variadas e dinâmicas, como as manifestações do tempo em que viveram. Veja mais aqui.

O FLORISTA – No livro O florista (Massao Ohno, 1997), da escritora e professora Nilza Amaral, destaco o trecho: O dedo indicador penetra cuidadosamente o interior da flor, permanece ali por instantes, deixa o intimo morno, acaricia com o dedo médio o pistilo saliente, sente a extremidade rija, esconde a flor na palma de uma das mãos e com os dedos da outra, deslizando pétala por pétala, tenta adivinhar a forma aveludada e enigmática daquele ser flexível, daquele corpo cósmico. O som de um suspiro ecoa no ar. A açucena brilha revivida pelo toque daquela mão. O florista, de olhos cerrados, cego de extase por desvirginar a flor, acaricia as pétalas por mais um momento, fecha novamente os dedos ao redor de seu caule, dessa vez para depositá-la no ramalhete das demais açucenas que esperam no balde defronte à barraca de flores. Como as outras, já não é mais virgem mas ainda é fresca e bela. Coloca-a em destaque para atrair olhares de possíveis compradores, e começa a trabalhar com o restante das flores da barraca, retirando folhas mortas, escuras e pegajosas dos caules mergulhados na água dos demais baldes [...]. Veja mais aqui e aqui.

AO MEU TRISTÃO – Entre os poemas da poeta e psicóloga Dilercy Adler, destaco a poesia Ao meu Tristão: Quisera ser pra ti / Isolda bela / no que ela tem em si / de mais divino / quisera ser também / a outra Isolda / que seu fio tece / e se enternece / ao satisfazer-te / da exigência mais premente fescenina / ao teu mais puro desejo de menino / e nós enfeitiçados atearíamos / o fogo da paixão em nossas almas / que embora para o humano inacessível / pra nós possível e aceso impagável! / Me olha dessa maneira / que s´[o os amantes sabem fazer / me enxerga fundo na alma / na intimidade maior de mim / me inala sentindo o cheiro / de amor no cio no amanhecer / me sente voluptuosamente / com mãos devassas / qual argamassa / nas mãos do artista / me sente inteiramente tua / na fantasia da poesia / que me inebria / por vir de ti! Veja mais aqui.

A PREFERIDA DE MOLIÈRE - A atriz francesa Ane-Françoise-Hyppolite Boutet, mais conhecida como Mademoiselle Mars, foi a maior intérprete do teatro cômico no século XIX e a atriz mais refinada de Paris. Entrou para a Comédie Française em 1795 e fez-se primeiro notar em papeis de ingênua, que interpretava com perfeição, como Isabelle, em A escola de maridos e Angélique, em Doente imaginário, do dramaturgo, ator e encenador francês Molière (Jean-Baptiste Poquelin – 1622-1673). No auge da beleza e da fama, tornou-se a autoridade absoluta na Comédie, pelo prestigio que desfrutava junto a Napoleão. Contribuiu para os primeiros sucessos do repertorio romântico, com sua recriação controlada pela inteligência e pelo charme, que era a antítese do estilo passional e espontâneo de Mme. Dorval. Veja mais aqui e aqui.

BREAKFAST ON PLUTO – O filme Breakfast on Pluto (Café da Manhã em Plutão, 2005), dirigido por Neil Jordan, é uma adaptação do livro homônimo de Patrick McCabe, contando a história do fruto de um relacionamento entre um padre e uma doméstica e de um homossexual que vive a procura da mãe desaparecida desde o seu nascimento. O filme é superinteressante e destaco a participação da atriz etíope Ruth Negga. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A belíssima e talentosa cantora Julia Crystal, eleita por unanimidade como a Musa Tataritaritatá Janeiro/2016. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à Claudinha Cabral & Equipe de Recreação Planeta Alegria.

Veja aqui.


Veja as homenageadas aqui.

E veja mais Tereza Costa Rego, Franz Peter Schuber, Maria João Pires, Tunga, Zygmunt Bauman, Ken Wilber, Kenzaburo Oe, Kate Beckinsale & muito mais aqui.


NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...