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quinta-feira, novembro 29, 2018

ARTUR AZEVEDO, ELKE KRYSTUFEK, HEITOR PEREIRA, CINEMA SUPER8 & MEMÓRIA DO BISACO


MEMÓRIA DO BISACO - Imagem: arte da artista conceitual austríaca Elke Krystufek - Um dia escrevi um poema na carne sangue alto exaltado e meus ossos doídos sequer pacificaram minhas trevas no peso da sorte. Nenhum lugar para que possa me encontrar nos versos conjugados e aleatórios pulsantes, a perder-me a mim mesmo por cartas que nem escrevi na profusão de touceiras descobertas do vazio em que fui gerado no meio do sonho, escapando das formas penduradas no invisível e eu sequer dava conta dos maus bocados batendo na porta. Quase exaurido pelo desespero antecipado e tão desprevenido do mar porque todo rio desce comigo a escorregar pela escadaria nas margens sumidas e às minhas próprias custas desentendido, a poesia arremessada como se fora pedra catada no fundo do quintal. Pouco importa se são duas horas da tarde ou se a comemoração foi cancelada e o milagre inexistisse para quem parte ou quem chegou. Agora é tarde e não bastassem tantos disfarces da dor e maldissesse de nada se Inez é morta. Há mais de meio século de dentro pra fora e de fora pra dentro, quase tudo mudou. Coisas que sumiram como por encanto na noite de muitos olhos acesos, só eu que persigo as mesmas coisas, sem que me advirta do tempo perdido e suplico às estrelas o dia radiante e a palavra me socorre para que eu não padeça inconcluso. Faz tempo que estou aqui, desde menino inventando de tudo alegria de ontem pra hoje na foto guardada, quase nem lembro nada, as histórias de trancoso, o que deu na esquina, revoltas na rodagem e carestia na feira, como se a memória poeira virasse e o esquecimento a lei coatora. Os retratos caíram da parede e já não ouço direito com tanto barulho nas ruas, se festa ou funeral, os pecados do corpo pelos beirais da morte, quem se apieda de tantos tormentos, como se minha mudez fosse profana demais. Pudesse fazia coisas e outras para que tudo fosse passado a limpo com prova dos nove fora e nada dar água abaixo, ou gorando e prescrito, ilícito revogado como desvalido de agora desdontem, desdantes; Poraqui tudo é muito triste e parece que anda para trás com todas as raivas antigas que não dizem respeito de mim mas de todos que sou arrebatado aos sapatos e sandálias velhas jogadas ao lixo da guerra diária, sem repouso nem intervalo. Como tudo é tolice neste país alquebrado, anômalo, desajeitado pelos transtornos políticos e patológicas roubalheiras de cara lisa, coisa mais sem graça. Quisera não saber nada, não tomar ciência de nada, doi demais o sofrimento alheio, do sangreiro de muitos que nem sabem que são meus, da injustiça para tantos que sofrem manobras nos recantos distantes e a mim só me resta convocar do amor no coração incansável pelos mistérios da vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
Naquele dia o ministro chegou de mau humor ao seu gabinete, e imediatamente mandou chamar o diretor-geral da Secretaria. Este, como se movido fosse por uma pilha elétrica, estava, poucos instantes depois, em presença de Sua Excelência, que o recebeu com duas pedras na mão. — Estou furioso! — exclamou o conselheiro; — por sua causa passei por uma vergonha diante de Sua Majestade o Imperador — Por minha causa? — perguntou o diretor—geral, abrindo muito os olhos e batendo nos peitos. — 0 senhor mandou-me na pasta um decreto de nomeação sem o nome do funcionário nomeado! — Que me está dizendo, Excelentíssimo?… E o diretor-geral, que era tão passivo e humilde com os superiores, quão arrogante e autoritário com os subalternos, apanhou rapidamente no ar o decreto que o ministro lhe atirou, em risco de lhe bater na cara, e, depois de escanchar a luneta no nariz, confessou em voz sumida: — É verdade! Passou-me! Não sei como isto foi… — É imperdoável esta falta de cuidado! Deveriam merecer-lhe um pouco mais de atenção os atos que têm de ser submetidos à assinatura de Sua Majestade, principalmente agora que, como sabe, está doente o seu oficial-de-gabinete! E, dando um murro sobre a mesa, o ministro prosseguiu: — Por sua causa esteve iminente uma crise ministerial: ouvi palavras tão desagradáveis proferidas pelos augustos lábios de Sua Majestade, que dei a minha demissão!… — 0h!… — Sua Majestade não o aceitou… — Naturalmente; fez Sua Majestade muito bem. — Não a aceitou porque me considera muito, e sabe que a um ministro ocupado como eu é fácil escapar um decreto mal copiado. — Peço mil perdões a Vossa Excelência — protestou o diretor-geral, terrivelmente impressionado pela palavra demissão. — 0 acúmulo de serviço fez com que me escapasse tão grave lacuna; mas afirmo a Vossa Excelência que de agora em diante hei de ter o maior cuidado em que se não reproduzam fatos desta natureza. O ministro deu-lhe as costas e encolheu os ombros, dizendo: — Bom! Mande reformar essa porcaria! 0 diretor-geral saiu, fazendo muitas mesuras, e chegando no seu gabinete, mandou chamar o chefe da 3a seção, que o encontrou fulo de cólera. — Estou furioso! Por sua causa passei por uma vergonha diante do Sr. Ministro! — Por minha causa? — 0 senhor mandou-me na pasta um decreto sem o nome do funcionário nomeado! E atirou-lhe o papel, que caiu no chão. O chefe da 3ª seção apanhou-o, atônito, e, depois de se certificar do erro, balbuciou: — Queira Vossa Senhoria desculpar-me, Sr. Diretor… são coisas que acontecem… havia tanto serviço… e todo tão urgente!… — 0 Sr. Ministro ficou, e com razão, exasperado! Tratou-me com toda a consideração, com toda a afabilidade, mas notei que estava fora de si! — Não era caso para tanto. — Não era caso para tanto? Pois olhe, Sua Excelência disse-me que eu devia suspender o chefe de seção que me mandou isto na pasta! — Eu… Vossa Senhoria… — Não o suspendo; limito-me a fazer-lhe uma simples advertência, de acordo com o regulamento. — Eu… Vossa Senhoria. — Não me responda! Não faça a menor observação! Retire-se, e mande reformar essa porcaria! O chefe da 3ª seção retirou-se confundido, e foi ter à mesa do amanuense que tão mal copiara o decreto: — Estou furioso, Sr. Godinho! Por sua causa passei por uma vergonha diante do sr. diretor-geral! — Por minha causa? — 0 senhor é um empregado inepto, desidioso, desmazelado, incorrigível! Este decreto não tem o nome do funcionário nomeado! E atirou o papel, que bateu no peito do amanuense. — Eu devia propor a sua suspensão por 15 dias ou um mês: limito-me a repreendê-lo, na forma do regulamento! 0 que eu teria ouvido, se o sr. diretor-geral me não tratasse com tanto respeito e consideração! — 0 expediente foi tanto, que não tive tempo de reler o que escrevi… — Ainda o confessa! — Fiei-me em que o sr. chefe passasse os olhos… — Cale-se!… Quem sabe se o senhor pretende ensinar-me quais sejam as minhas atribuições?!… — Não, senhor, e peço-lhe que me perdoe esta falta… — Cale-se, já lhe disse, e trate de reformar essa porcaria!… O amanuense obedeceu. Acabado o serviço, tocou a campainha. Apareceu um contínuo. — Por sua causa passei por uma vergonha diante do chefe da seção! — Por minha causa? — Sim, por sua causa! Se você ontem não tivesse levado tanto tempo a trazer-me o caderno de papel imperial que lhe pedi, não teria eu passado a limpo este decreto com tanta pressa que comi o nome do nomeado! — Foi porque… — Não se desculpe: você é um contínuo muito relaxado! Se o chefe não me considerasse tanto, eu estava suspenso, e a culpa seria sua! Retire-se! — Mas… — Retire-se, já lhe disse! E deve dar-se por muito feliz: eu poderia queixar-me de você!… O contínuo saiu dali, e foi vingar-se num servente preto, que cochilava num corredor da Secretaria. — Estou furioso! Por sua causa passei pela vergonha de ser repreendido por um bigorrilhas! — Por minha causa? — Sim. Quando te mandei ontem buscar na portaria aquele caderno de papel imperial, por que te demoraste tanto? — Porque… — Cala a boca! Isto aqui é andar muito direitinho, entendes? — Porque, no dia em que eu me queixar de ti ao porteiro estás no olho da rua. Serventes não faltam!… O preto não redargüiu. O pobre diabo não tinha ninguém abaixo de si, em quem pudesse desforrar-se da agressão do contínuo; entretanto, quando depois do jantar, sem vontade, no frege-moscas, entrou no pardieiro em que morava, deu um tremendo pontapé no seu cão. O mísero animal, que vinha, alegre, dar-lhe as boas-vindas, grunhiu, grunhiu, grunhiu, e voltou a lamber-lhe humildemente os pés. O cão pagou pelo servente, pelo contínuo, pelo amanuense, pelo chefe da seção, pelo diretor-geral e pelo ministro!…
Conto De cima para baixo (Cultrix, 1969), do dramaturgo, escritor e jornalista Artur Azevedo (1855-1908). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ELKE KRYSTUFEK
A arte da artista conceitual austríaca Elke Krystufek

AGENDA:
História do Cinema Super8 Brasileiro & muito mais na Agenda aqui.
&
O chão na alma, Amos Oz, Antonio Cândido, Josely Vianna Baptista, Mario Cesarin & Camila Morit, Barra de Guabiraba, A mulher abolicionista & Luzilá Gonçalves Ferreira, Pobreza & Saúde de Paulo Buss, George Harrison, Eliete Negreiros, Heitor Pereira & Livia Nery aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música do guitarrista Heitor Pereira: Live Montreaux, Dueling Guitars August Rush & com Simple Red It’s only love & Live Manchester University & muito mais nos mais de 2 milhões & 900 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja aqui e aqui.


quarta-feira, novembro 29, 2017

AMOS OZ, ANTONIO CÂNDIDO, LUZILÁ GONÇALVES FERREIRA, JOSELY VIANNA BAPTISTA, MARIO CESARINY, PAULO BUSS, CAMILA MORITA, BARRA DE GUABIRABA, GLOBALIZAÇÃO & POBREZA

O CHÃO NA ALMA – Imagem: Batedor de caminhos (1968), do poeta e poeta e pintor surrealista português Mario Cesariny (1923- 2006). Os tempos são outros, eu que o diga e sem nostalgia. Sempre tive comigo que o melhor momento da vida era este, o presente – em todos os sentidos! E digo era porque sempre passa, zás, já foi, agora é outro. E quase não me dou conta, nem ninguém, avalie. Passou e como passou, vai se ver segundos, minutos, horas, só lembranças enchendo o baú da memória ou do esquecimento – tem quem sequer saiba que passou e como passou. Devo dizer, sem rigor e nem pedir licença, que a cada dia, em todo momento aprendo e como. Diga-se lá, como de sempre, a gente sempre aprende pelo modo mais difícil, quer queira, quer não, uma bofetada, um escorregão, um paradoxo. Mas, se aprende, mesmo que seja com amargas redescobertas, nenhuma frustração. Mesmo que seja no descompasso, eis a lição. O que dói não é ter perdido a oportunidade, não é ver que podia ter feito melhor, nada disso. Possivelmente o meu epitáfio não seria em cima de uma revista com meus fracassos, creio que não, possivelmente. Seria, acho que pelo menos seria, com o resultado dos meus aprendizados. É certo que o equívoco esteja pra lá de exorbitante, monstruoso – incluindo os meus que são tantos e nem sei -, constatação desagradável, quem não se engana na cor da chita em cima da bucha, oh, mediocridade, veleidade de sabichão. De minha parte, sempre me pego com uma ou outra implicância, coisa de engasgar e que poderia deixar correr, na maciota, ora, engolindo sem esforço nem polemizar, pois corre o risco de esbarrar em irredutíveis conduções sectárias, ou mesmo defesa do indefençável, quando não na inexorável incompreensão. Cá pra nós, falando sério: tudo muito embaraçado. Nem é fácil de entender. Que coisa! E a pretexto de nada nem convite de ninguém, presencio esse caleidoscópio como um arredio dissidente, sou arisco com ondas e modas, sempre um pé atrás. O que me entristece é sentir a cidade refém de interesses no açodamento de soluções escusas. Por onde passo, a cidade é só um cenário, pra mim não, é a casa em que habito e convivo na guarida de quem sabe bem o que é o abandono de insepulto, é a mulher amada, no dia a dia, lado a lado e que nem se dá conta à-toa no destino das ruas, no estresse dos semáforos, na tragédia invisível, nos fedores ultrajantes, na gente entediante, ela quase morta, é o meu país despedaçado ao rés do chão pisado e sambado. Só se vê que é linda na foto do cartão postal: a ingratidão assiste a tudo, justiça se faça. Corre para acodir, valha-me! De bombeiro e alheio, todos temos um bocado. A sensação que fica é que no ventre da noite não restou uma só estrela no céu, abominável escuridão no pino do meio dia. É isso que incomoda. Sinto a cidade na medula, saudade sem lágrima, afeto sem afago, encabulado e triste, porque sou coabitante em estado de graça até o último fôlego, porque ela está em mim como sempre esteve desde que nasci: chão que me acolheu, Terra que é mãe. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o guitarrista, cantor, compositor e produtor musical inglês George Harrison (1943-2011): Anthologu & Livin in The Alternate World; da cantora, escritora e doutora em Filosofia pela USP, Eliete Negreiros: Outros sons & Canções de tamanha ingenuidade; do guitarrista Heitor Pereira: Dueling guitars August Rush & Chucho Merchan Live Montreaux; e da cantora e compositora Livia Nery: Vulcanidades & Acasas. Para conferir é só ligar o som e curtir. 

PENSAMENTO DO DIA – [...] Porque há para todos nós um problema sério... este problema é o medo.[...] Pensamento extraído de Plataforma de uma geração (34, 2002), do poeta, ensaísta, professor universitário e crítico literário Antonio Cândido, extraído da obra Textos de intervenção, organizado por V. Dantas. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

BARRA DE GUABIRABA – O município de Barra de Guabiraba é formado administrativamente pelo distrito sede, o qual suas terras pertenciam ao sítio Guabiraba. O seu povoamento se deu pela produção da cultura canavieira, sendo inicialmente denominado de São João da Barra, distrito criado pela Lei municipal nº 59, de 25 de julho de 1915, passando a se denominar de Itapecó pelo Decreto-lei estadual nº 235, de 9 de dezembro de 1938, passando-se a denominar Guabiraba pelo Decreto-lei estadual nº 952, de 31 de dezembro de 1943. Pertencia ao município de Bonito e foi elevado à categoria de município com a denominação Barra de Guabiraba, pela Lei estadual nº 3340, de 31 de Dezembro de 1958. O topônimo atual se deve por uma frondosa guabiraba a confluência dos rios Sirinhaém e Bonito Grande, razão pela qual passou a denominar o local de Barra de Guabiraba, fazendo parte das superfícies retrabalhadas que antecede o Planalto da Borborema, inserido nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Sirinhaém, tendo como principais tributários são o Rio Sirinhaém e os riachos Seco e Tanque de Piabas, todos de regime intermitente. Veja mais aqui.

A MULHER ABOLICIONISTA - [...] Condenada à reclusão no seio da família, na qual ela é ao mesmo tempo rainha e escrava, a mulher inreioriza, frquentemente, essa noção de minoridade, e assume as representações que se fazem dela: a ciência afirma que possui uma constituição menos resistente do que a do homem, que os fenômenos que ocorrem no seu corpo ao longo da existência – menstruação, gravidez, amamentação, menopausa – fragilizam-na e a tornam um ser perpetuamente enfermo. A religião lembra que ela deve ser amparada, vigiada, orientada, para não cair em tentação nem induzir outros à queda. E a lei, já o vimos, torna-a incapaz de decidir de sua vida. Com toda essa carga ideológica que lhes atribuía a sociedade e lhes conferia um estatuto de eternas menores, é de admirar que tantas mulheres tenham ousado romper as barreiras do silêncio, da apatia, e se lançar à luta, abraçando causas como a da Abolição, criando jornais, organizando-se em aasociações que promoviam conferencias e desfiles de protesto, escondendo escravos e propiciando sua fuga. [...]. Trecho de À guisa de introdução, da escritora e professora Luzilá Gonçalves Ferreira, na obra Suaves amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste (EdUFPE, 1999), organizado por Luzilá Gonçalves Ferreira, Ivia Alves, Nancy Rita Fontes, Luciana Salgues, Iris Vasconcelos e Silvana Vieira de Souza. Veja mais aqui & aqui.

GLOBALIZAÇÃO, POBREZA & SAÚDE - [...] Um paradoxo da globalização contemporânea é que, numa fase da história da humanidade em que as tecnologias agrícolas disponíveis poderiam propiciar farta produção de alimentos, o fenômeno da fome esteja tão disseminado no mundo e açoite partes do planeta na forma de verdadeiro genocídio. [...] Trecho de Globalização, pobreza e saúde (Ciência & Saúde Coletiva, 2007), do pediatra e sanitarista Paulo Buss. Veja mais aqui, aqui & aqui.

POBREZA NO BRASIL – [...] A heterogeneidade da pobreza no Brasil decorre da dimensão territorial e demográfica do país, dos grandes desequilíbrios regionais e do modo como se foi historicamente configurando o complexo mosaico social brasileiro. [...]. Trecho de Geografia da pobreza extrema e vulnerabilidade à fome (José Olympio, 2004), de Sonia Rocha e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, extraído da obra A nova geografia da fome e da pobreza, organizada por J. Vellozo e R. Albuquerque. Veja mais aqui & aqui.

UMA CERTA PAZ – [...] Para que visão? Para que ideais? Passei toda a vida aqui ao som de uma marcha entusiástica. Como se não houvesse mar e montanhas, nem estrelas no céu. Como se a morte já tivesse sido abolida e a velhice extirpada do mundo de uma vez [...]. Trecho extraído da obra Uma certa paz (Companhia das Letras, 2010), do escritor e pacifista israelense Amos Oz, contando as difíceis relações familiares com suas contradições e dificuldades políticas que o Estado de Israel enfrentava nos anos 1960, às vésperas da Guerra dos Seis Dias, revelando uma meditação sobre o poder, a decepção e os relacionamentos amorosos. Veja mais aqui.

RESTIS - Um vento anima os panos e as cortinas oscilam, / fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol passeia / a casa (o rosto adormecido), e em velatura a luz / vai desenhando as coisas: tranças brancas no espelho, / relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus volteios / curvos, vidros ao rés do chão reverberando, réstias. / Filamentos dourados unem o alto e o baixo / – horizonte invisível, abraço em leito alvo: / velame de outros corpos na memória amorosa. Poema extraído do livro Ar (Iluminuras/Fundação Cultural de Curitiba, 1991), da poeta, tradutora e editora Josely Vianna Baptista.

TODO DIA É DIA DE DIREITOS DA MULHER
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A arte de Eliete Negreiros aqui.
A literatura de Jonathan Swift aqui.
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A ARTE DE CAMILA MORITA
A arte Quando durmo, da artista plástica Camila Morita.

 

terça-feira, setembro 19, 2017

OLIVER SACKS, CARLOS HEITOR CONY, MARCUS ACCIOLY, GEORGES BRAQUE, MICHEL MELAMED, SEMINÁRIO PSICOLOGIA, FOME & DESNUTRIÇÃO

UM DIA & NUNCA MAIS - Imagem: arte do pintor e escultor do cubismo francês Georges Braque (1882-1963). - As quatro e quarenta Zé José levantou-se para cumprir seu ritual matinal. Antecipava-se a todos em rezas e preces de agradecimento pelas bênçãos e graças alcançadas, às agora pedidas e às adiadas de dias renovadas em petição reiteradas ao Deus, santos e anjos de sua devoção. Obrigações cumpridas, hora do asseio pessoal para o café da manhã, aguentar os resmungos da mulher e a algazarra da filharada. Naquela manhã estava pensativo, aliás ultimamente andara absorto, desde o dia que a filha mais velha – aquela a quem dedicara especial atenção, toda afeição do coração, todo apreço, toda ternura, toda consideração – justo ela, fugira com o filho do marchante dos maus bofes. Não adiantara nada, contra a sua natureza e vontade, reprimir com cinturãozadas e tabefes o namorico dela desobediente às suas ordens, nem as descomposturas no pretenso e insolente Romeu, nada. Sua vida ruíra desde então, nada mais dera certo. Agora, fitava a gasguita esposa Xantipa com desprezo, os filhos desalmados ao redor da mesa, com a certeza de todos, mais cedo ou mais tarde, arribarem pro mundo, desintegrando a família que tanto promovera unida debaixo de suas asas. Nada mais, pra ele. Nem adiantava mais colheradas de açúcar, o café seria amargo pra sempre na sua amargura, prevendo o abandono. A vida minguara como os clientes e serviços, ir pro trabalho sempre fora um prazer, agora não mais. Pelo menos, ali ficaria ruminando o que seria dele dali pra diante. Sonhava, revia o passado, buscava alegrias e satisfações, devia ter precavido: tudo findaria mesmo no desastre. Não conseguia esquecer o fracasso, até que, pelas quatro e quarenta, o Sol arriando a insossa tarde pra noite insípida e inquietante, ele baixar as portas, fechando a bodega, para, na maior má vontade, voltar pro seu suplício. Logo encontraria a mulher aos berros, como sempre, ela nunca o entendeu, não seria agora que pararia de lhe arrancar o couro; os filhos logo pediriam dinheiro pras coisas fúteis, ele teria que se virar no Tesouro Nacional para suprir tanto peditório, mais esdrúxulos que os de antes. Vida mais sem graça a sua, ponderava. Nem via saída, jamais teria sossego, nunca teve, não seria agora. Naquela tarde resolveu: não mais. Não voltou pra casa, ninguém sabe o seu paradeiro. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com Dueling guitars August Rush & Chuco Merchan Live Montreaux do guitarrista Heitor Pereira; Canta mais & Tocar na banda da cantora da Vanguarda Paulista, Vânia Bastos; On the loose & Little blues do gaitista e compositor Flávio Guimarães; Empate, Esse meu rio, Brinquei de inventar o mundo & Quantum da cantora e compositora Jozi Lucka. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAHoje é um dia muito especial. Mais um grande ato em prol da cidadania. Depois de Tiradentes, Zumbi, Nossa Senhora da Aparecida... Finalmente, hoje, foi homologado o Dia Nacional do Ator da Globo. Não sei se vocês sabem, mas isso é baseado num estudo da UFRJ que diz que cidadania é como o ator da Globo é tratado num restaurante... numa loja... nas ruas... Trecho extraído da peça teatral Dinheiro grátis (2006), texto e atuação do poeta, diretor teatral, autor, ator, performer e apresentador de televisão, Michel Melamed.

A EDUCAÇÃO DE CONY: [...] Não vejo alternativas, pois sou um pessimista nato. Mas tenho na cabeça algumas opções para o país, todas utópicas, como, por exemplo, um intenso investimento em educação. Com uma advertência: educação não é ensino. Quando se pensa em educação no Brasil, só se pensa em sala de aula, em ensinar os afluentes do Amazonas, os pronomes oblíquos, as capitais da Europa. Não pode ser só isso. É preciso educação integral, aquela em que o aluno come, toma banho, aprende a escovar os dentes e tudo o mais na escola. Os professores passam dever de casa. Metade dos estudantes não tem nem casa para fazer o tal dever. É preciso que as crianças aprendam a ter uma visão do mundo, do próximo, da cidadania. O Brasil está muito longe dessa educação, preferindo gastar rios de dinheiro com o ensino, que, sozinho, não leva ninguém para a frente. [...] Mas eu sou um subdesenvolvido. Como eu, há um Brasil todo que prefere viver na ilusão de palavras de ordem de “fazer um Brasil para nossos netos”, sem qualquer ação real. Nessa minha utopia louca, o Brasil deveria jogar 80% do seu orçamento em educação (não em ensino, repare bem). Certo, teríamos uma geração sem confortos, que viveria parte de sua existência como anacoretas, mas o país teria assim um futuro. Trechos de uma entrevista concedida pelo escritor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony, ao jornalista Carlos Haag, na revista Cult (março, 2006), sob o título “O pessimista sem cura ainda ri do mundo”. Veja mais aqui.

FOME & DESNUTRIÇÃO – [...] A extinção da pobreza é, portanto um desafio do desenvolvimento do país, enquanto marginaliza pessoas e grupo, privando-os dos frutos do progresso gerados por todos, mas usufruído por um pequeno grupo. [...] Cremos haver um fim para a desnutrição. Esse fim pode ser atingido através de nossos próprios esforços, no sentido de concreta formulação de políticas alimentares e nutricionais que significam muito mais que simples declaração conceitual. As suas diretrizes devem influir em pontos estratégicos da distribuição de renda, da agropecuária, do abastecimento, da defesa do consumidor e das ações de saúde que possam elastecer o consumo e otimizar o aproveitamento biológico dos alimentos. Daí o relevante papel que compete ao setor saúde. [...]. Finalmente, é necessário insistir na ideia de que a tecnologia médica, embora essencial, não é suficiente para produzir a saúde integral a que aspiramos e que a nutrição adequada é um requisito indispensável à saúde. [...]; Trechos extraídos da obra Alimentação e nutrição no Brasil. Percepção do passado para transformação do presente (IMIP, 2008), do médico e professor universitário Bertoldo Kruse Grande de Arruda. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

HISTÓRIAS PARADOXAIS - [...] Estou escrevendo com a mão esquerda, embora seja completamente destro. Fui operado do ombro direito há um mês e atualmente não devo, não consigo usar o braço direito. Escrevo devagar, desajeitado - mas com maior facilidade e naturalidade conforme passam os dias. Estou me adaptando, aprendendo ao longo desse tempo - não apenas a escrever, mas a fazer uma dúzia de outras coisas com a mão esquerda; também me tornei muito hábil, capaz de apanhar coisas com os dedos dos pés para compensar o braço na tipóia. Fiquei sem firmeza por uns dias logo que o braço foi imobilizado, mas agora já ando de outra maneira, descobri um novo equilíbrio. Estou desenvolvendo novos padrões e hábitos... uma identidade diferente, pode-se dizer, pelo menos nesta esfera específica. Devem estar ocorrendo mudanças em alguns programas e circuitos do meu cérebro - alterando cargas sinápticas, conexões e sinais (embora nossos métodos de obtenção de imagens cerebrais ainda sejam muito precários para mostrá-las). Apesar de algumas das minhas adaptações serem deliberadas, planejadas, e outras aprendidas por tentativa e erro (na primeira semana machuquei todos os dedos da mão esquerda), a maioria aconteceu por conta própria, inconscientemente, por intermédio de reprogramações e adaptações das quais nada sei (não mais do que sei, ou posso saber, por exemplo, sobre minha maneira normal de andar). No próximo mês, se tudo correr bem, posso começar a me readaptar uma vez mais, recuperar o uso integral (e ―natural) do meu braço direito, reincorporá-lo a minha imagem corporal, à imagem de mim mesmo, para me tornar novamente um ser humano ágil e destro. [...] Esse sentido da notável maleabilidade do cérebro, sua capacidade para as mais impressionantes adaptações, para não falar nas circunstâncias especiais (e freqüentemente desesperadas) de acidentes neurológicos ou sensórios, acabou dominando minha percepção dos pacientes e de suas vidas. De tal forma, na realidade, que por vezes sou levado a pensar se não seria necessário redefinir os conceitos de ―saúde e ―doença, para vê-los em termos da capacidade do organismo de criar uma nova organização e ordem, adequada a sua disposição especial e modificada e a suas necessidades, mais do que em termos de uma ―norma rigidamente definida. A enfermidade implica uma contração da vida, mas tais contrações não precisam ocorrer. Ao que me parece, quase todos os meus pacientes, quaisquer que sejam os seus problemas, buscam a vida - e não apenas a despeito de suas condições, mas por causa delas e até mesmo com sua ajuda. [...] A ciência é uma grande coisa quando está a nossa disposição; no seu verdadeiro sentido, é uma das palavras mais formidáveis do mundo. Mas o que pretendem esses homens, em nove entre dez casos, ao pronunciá-la hoje? Ao dizer que a detecção é uma ciência? Ao dizer que a criminologia é uma ciência? Pretendem colocar-se no exterior de um homem e estudá-lo como se fosse um inseto gigante, sob o que chamariam luz severa e imparcial - e que eu chamaria morta e desumanizada. Pretendem distanciar-se dele, como se ele fosse um remoto monstro pré-histórico, e fitar a forma de seu ―crânio criminoso como se fosse uma espécie de sinistra excrescência, como o chifre de um rinoceronte. Quando o cientista fala de um tipo, nunca está se referindo a si mesmo, mas a seu vizinho, provavelmente mais pobre. Não nego que a luz severa possa ser benéfica às vezes, embora, em certo sentido, ela seja o oposto da ciência. Longe de converter-se em conhecimento, ela é a supressão do que sabemos. É tratar um amigo como estranho e fazer com que algo familiar pareça remoto e misterioso. É como dizer que o homem carrega uma probóscide entre os olhos e que cai num estado de insensibilidade a cada 24 horas. Bem, o que você chama de ―segredo é exatamente o contrário. Não tento me colocar do lado de fora do homem. Tento me colocar no seu interior. [...] Com isso em mente, tirei meu guarda-pó branco e desertei, em grande parte, dos hospitais onde passei os últimos 25 anos, para pesquisar a vida de meus pacientes no mundo real, sentindo-me em parte como um naturalista que examina formas raras de vida, em parte como um antropólogo, um neuroantropólogo, em trabalho de campo - mas sobretudo como um médico, chamado aqui e acolá para fazer visitas a domicílio, visitas às fronteiras distantes da experiência humana. Estas são, portanto, histórias de metamorfoses possibilitadas pelo acaso neurológico, mas metamorfoses em estados alternativos do ser, outras formas de vida, não menos humanas pelo fato de serem tão diferentes. [...] Trechos extraídos da obra Um antropólogo em marte: Sete histórias paradoxais (Companhia das Letras, 1995), do neurologista, escritor, professor e químico britânico, Oliver Sacks (1933-2015), baseado em sete estudos de caso do autor sobre indivíduos com condições neurológicas consideradas paradoxais para com suas atividades, e como essas condições podem levar a um estado de desenvolvimento pessoal e/ou profissional. Veja mais aqui.

O TEMPO ALÉM E AQUÉMHá um tempo por vir (é o porvir) / e um tempo de outra hora (é o outrora) / mas (entre esses dos tempos) há o hoje / (que já foi amanhã) tempo que foge / para trás (para o ontem) porque o alcança / tanto a recordação (como a lembrança) / ou seja (o sonho que antecede o tempo) / e o sono (que devolve o esquecimento) / por isso o tempo é um só (cada manhã / eu vejo o ontem o hoje e o amanhã). Poema XVII - O tempo além e aquém, do Canto Décimo – A reinvenção do mito, extraído da obra Sísifo (Quíron/MEC, 1976), do poeta Marcus Accioly. Veja mais aqui.

ADMMAURO GOMES: PROFESSOR DE LITERATURA
O blog Professor de Literatura, do poeta e professor Admmauro Gommes. Veja mais aqui.

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