BOLERO – À meia luz, mão na mão,
passo a passo. E a pele lua de algodão pousa leve como um pássaro levitando nos
meus braços agudos. São dois passos lá demovendo todas as nuvens do meu sexo.
Dois passos cá, uivando nua, possuída de vida que não troca nada de si por nada
desse mundo, só a girar embalada pelo ensaio que se faz chama na fúria íntima e
se alastra fogo vivo em nossa alma. Pro mundo é noite calma, enquanto em nossa
carne a terra cresce ruidosa, desembestada, ciclone rompendo a órbita de todos
os ventos que revolvem as entranhas nos campos magnéticos da celebração dos
quadris. A dança e o perfume me recolhem insepulto de ontem na noite, capturado
pela teia que arde e retorce nosso lençol de nada e eu como um deus sacudindo a
vida pelas labaredas da boca, pelas chamas do ventre à medida do coração. A
cada enleio sua manha enreda e desvencilha e torna a enredar, infindável
urdidura na taça do meu sexo. E se adoça com os meus venenos até acender em sua
mão lépida efervescente a fazer de mim lascivamente eletrizado até sentir-lhe a
boca do útero e tudo adensa e cresce rodopiante mundo, enquanto sou Ravel
extasiado e você bolero nas minhas veias até transbordar nossas emoções
avassaladoras. A dança e o corpo nu inteirinho colado ao meu, fincado no salão
do amor, inundando tudo, corpo saqueado no apelo do bolero e dançamos,
rodeamos, rodopiamos, mão na sua e na cintura, o salão, o corpo inteiro e a
noite inteira danças intensas até o último portal do prazer: começaria tudo
outra vez. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados.
Imagem: Standing nude, de Norman
Engel.
Curtindo o álbum ao vivo Tangos, do Trio Images, formado por Cecília Guida (violino), Henrique Müler
(viola) e Achille Picchi (piano). Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – Aos
quinze / uma borboleta negra / pousou em mim / me descobri escuro / olhos
vidrados na morte / gritos mancos no corredor / era só um bicgo / e eu o
monstro voador, poema extraído do livro Louco no oco sem beiras (Ateliê,
2001), do poeta, crítico literário e professor Frederico Barbosa. Veja mais aqui, aqui
e aqui.
OS
49 DEGRAUS – O livro 49 degraus
(Companhia das Letras, 1997), do ensaísta italiano Roberto Calasso, trata sobre o caráter egípcio da arte, a opinião e
o monologo fatal, petite musique, os leitores de Schereber, Brecht, o probo
orgasmo, os fundamento da garrafa de um refrigerante, a sereia Adorno, epopeia
da alucinação, iontrigas de caixeiro-viajante, iluminação profana, ordalio das
palavras impossíveis, esconderijos, prelúdio, tumba apócrifa, a guerra perpétua,
o terror das fábulas, entre outros assuntos. Veja mais aqui e aqui.
GERTRUDES
E CLÁUDIO – O romance Gertrudes e Cláudio (Companhia das
Letras, 2001), do escritor e critico literário estadunidense John Updike
(1932-2009), conta a história que precede imediatamente os fatos de Hamlet, de
William Shakespeare, na qual o autor narra a vida de Gertrudes, mãe do príncipe
da Dinamarca, até o momento de seus casamento com Cláudio, tio de Hamlet. Da
obra destaco o trecho: [...] Fosse como
fosse, apesar daquela calamidade, o reino,c ercado de inimigos ativops,
precisava ser administrado, e a pobre rainha tinha de ser consolada. Quem melhor
para assumir tal responsabilidade que o irmão do rei, já que o príncipe, filho único,
havia mais de dez anos vivia entregue a estudos inúteis, encerrado nos muros de
Wittenberg? Veja mais aqui e aqui.
E EU ACREDITEI - Entre os poemas do poeta Aecio Kauffmann, destaco E eu acreditei: Amigo, sou qüera pronto / xiru, dos recomendados, / mas, virge..! que ando , já, tonto / cabreiro e sacaneado .. /Aporreado..A La fresca !. / Já tô é meio manguço, / qual pingo que não se afresca / se o índio, em cima é pinguço. / Mas vou tenteando a indiada / nos bretes da pensação- / que uns já não crêem em nada, / já estão em desolação. / É o aluguel do potreiro, / os trocos p'ra faculdade. / bolicho, mais o padeiro / sem sobras p'ra amenidades. / E amenidades, lês digo, / são coisas que ainda, enfim, / ficam por fora do umbigo: / o lenço, o laço e os carpins. / Aqui o vivente marca, / na gola, a pilcha- saideira, / que é traste que está na arca / e só sai nas domingueiras. / Que é quando tem batizado, / casório e/ou comunhão; / um cola atada, animado / e, as veis ,encomendação. / Falei da pilcha e, agora / me vou direito à farmácia. / Aqui a erva vai embora / p'ra quem não tem Anastácia / Que benze, sangra e receita / e faz até simpatia / p'ra dor de dente ou maleita / e cura melancolia. / Só não cura sangue morno / nem faz com que brote grana / nos bolsos,nem com suborno, / cá do milico sacana, / que acreditou...não devia / na " fala mansa "de oragos; confiando em cidadania / levou um chute nos pagosl / E, aqui , eu creio, se encaixa / ditado da Tia Nora / "quem muito, filho, se abaixa / fica co'os glúteos de fora " / E, hoje, temos raladus, / vivendo às ordens do Rei.. / Estamos quase pelados / enquanto os Alves e grei / Estufam as suas guaiacas / por graça das loteria, / enquanto ,nós os panacas, / marcamos bobeira e fria. / É um salve-se quem puder / " um tiroteio de morte " / no mínimo temos clister / e isto p'ra quem tem sorte. / Enquanto isto a cambada / ,vai se ajeitando, rapaz. / e vão, de mão , na parada / se defendendo, no mais. / E a turma é barra pesada / e não dá chance a ninguém.. / A coca paga a mesada.. / Maconha é troco... é vintém. / Enquanto nós cá vivemos / na esperança de um dia / repor o que já perdemos / ( nem falo de isonomia). / Vivemos destas notícias / que espalham, celeremente, / aqui e ali , nas milícias, / gozando, eu creio, co'a gente. / Um gajo dizia... o fato / sai hoje, até nos jornais / São cinco - p'ra dar impacto- / de aumento cá p'ros baguais. / E, boca a boca , se espalha / A tal boa nova e então / É fogo, é fogo de palha.. / Mas ninguém o contesta não. / Uns já dizem, em segredo, / -foi medida provisória- / Outros, mais baixinho e á medo / levam fé na tal história. / Inda outros, em cochichos / já discutem porcentagens / Cinco é pouço! É nada ! `É micho ! / Mais de trinta é que vantagem. / E quem antes afirmava / Escorado por " falares" / Já agora argumentava / Dando ao fato veros ares. / Mil histórias, minha gente, / espoucaram desde então, / mas de aumento, minha gente, / niguém sabe, nem viu não. / O pior é que, por conta, / "decolaram voadores" / p'robras de pequena monta / e alguns cheques p'ra doutores. / Não saiu.....Tem gente em alas; / co'a cabeça posta a prêmio.. / vão chamar o qüera às falas, / vão cortar-lhe o oxigênio. / O salseiro vai ser grosso / p'ro xiru que bancou fria. / Já que gajo deu endosso / e afirmou que o galo mia. / Vai pular que nem cabrito / p'ra explicar - se é que pode-que, no rito, o bom de grito / é o mais velho. / É o Mestre. É o Bode!! / AECIO KAUFFMANN - Aecio Kauffmann Colombo da Silva por ele mesmo: "Sou dístimico.Idiopático. Esquizóide. Aristocrático. Tudo isto eu sou porque adoro a solidão. Se me alegro, vem logo um apelido, que é um tal de extrovertido. Se me zango... Dizem temperamental. Mas quem sabe o que é dialética vê que a síndrome é patética. Não tem razão afinal. Hiperomotivo "uma ova " sou o sou mesmo em trova um vovô bem bossa nova". Conheça mais do autor no Clube Caiubi de Compositores e no MySpace.Veja mais aqui.
ENGRAÇADINHA DEPOIS DOS TRINTA – A peça Engraçadinha depois
dos trinta, do
dramaturgo, jornalista e escritor Nelson
Rodrigues (1912-1980), conta a história que se passa no
Rio de Janeiro, de 1959, de uma senhora que está casa, tem filhos e vive sob
uma pesada atmosfera religiosa, na qual tenta esconder as lembranças de seu
passado libidinoso. Mas um reencontro com um certo doutor, antigo admirador de
seu pai e um eterno apaixonado por ela, faz com que relembre as loucuras da
juventude, agora revivida por sua filha. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e
aqui.
ENGRAÇADINHA DEPOIS DOS TRINTA – O drama Engraçadinha Depois dos Trinta (1966), dirigido por J. B. Tanko, baseado
na obra de Nelson Rodrigues, conta a história de um senhor que se encontra
insatisfeito com seu casamento e passeia pela cidade em busca de flertes
eventuais. É quando conhece uma estudante, mas ao ser apresentado a sua
família, se encanta pela jovem mãe da moça. O destaque do filme fica por conta
da atuação da atriz argentina naturalizada brasileira Irma Álvarez (1933-2007). Veja mais aqui.
IMAGEM
DO DIA
Todo dia é dia da atriz Irma Álvarez (1933-2007).
Veja
mais sobre:
Salgadinho: de riacho pra esgoto, Boaventura de Sousa Santos, Imre Kertész, Friedrich
Schiller, Millôr Fernandes, Ennio Morricone, Gustav
Machatý, Emílio Fiaschi, Joseph Mallord William Turner &
Hedy
Lamarr aqui.
E mais:
A musica
de Monique Kessous aqui.
Dicionário
Tataritaritatá aqui.
Cidadania
e dignidade humana aqui.
Literatura
de Cordel: O cavalo que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros aqui.
Direitos
adquiridos aqui.
A arte
de Tatiana Cobbett aqui.
Tortura,
penas cruéis e penas previstas na Constituição Federal de 1988 aqui.
Literatura
de Cordel: Emissários do inferno na terra da promissão, de Gonçalo Ferreira da Silva aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá