segunda-feira, junho 27, 2016

DARCY RIBEIRO, HELEN KELLER, EMMA GOLDMAN, GUILHERMINA SUGGIA, VIVIANE MADU, PISCO DEL GAISO, MARTIN EDER & LUIZ MORRONE


TUDO EM MIM, MESTIÇO SOU – Imagem: Mbiey, a índia Bartira, escultura de Luiz Morrone (1906-1998) – Sou amerídio de Pindorama, caeté dos atlantes. Sou também branco europeu colonizador e preto africano dos lemurianos que foi escravizado, sou afrodescendente. Antes de tudo, sou da água e vivo no continente, por isso sou tão líquido quanto o chão que piso. Sou feito do mesmo barro: terra, água, ar e fogo. Estou sobre a crosta terrestre e sob o Sol da Via Láctea. Sou espiritualmente uníssono e nasci do amor que se fez real no ventre materno: mamífero, bípede primata de construção estratigráfica, migrante da mobilidade territorial, com formas assimétricas definidas na cabeça, tronco e membros. Ao pó voltarei, depois de passar pela infância de todos os quintais e faz-de-conta; pela adolescência de todos os conflitos, descobertas e rebeldias; do adulto de todas as lições, experiências e malogros; da velhice de toda sapiência e decreptude - o mesmo trajeto de início ao término da transformação material para o ápice espiritual. Sou gente, sujeito do meu tempo e espaço na minha compleição física e psíquica. Tenho mãos para plantar e colher, pés para andar e correr, e respirar o testemunho de viver. Por isso sou tropical quanto análogo ao equatorial ou dos hemisférios ou mesmo de qualquer ponto cardeal. Sou semelhante ao polinésio quanto micronésio ou indonésio-papua, como sou atlântico sob o mesmo céu de estrelas do australiano, ou asiático, indiano, tão caucasiano quanto negroide, mongoloide ou australoide. Sou do Todo: uma gota d’água no oceano cósmico. Ao que me cabe em ser todo, parto de mim à parte de tudo do ser total: da chuva que cai na semeadura do chão, daquilo que nasce ao que renasce no grão. O que me diferencia do outro é termos cada qual uma digital individual e outras distinções de gênero, etnia e geografia cultural. No mais, sou tão igual quanto ao que está na noite ou no dia de qualquer lugar deste mundão. Afinal a humanidade constitui espécie única e politípica, o que me faz ser cidadão do planeta Terra, a raça humana. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

 Imagem: Índios Awa-Guajá, do fotógrafo Pisco Del Gaiso - índia guajá amamentando filhote de porco selvagem.

 Curtindo o álbum Suggia Plays Haydn, Bruch, Lalo (Dutton Vocalion, 2005), da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950).

PESQUISA
O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil (Global, 2015), do antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) tratando das matizes culturais e dos mecanismos de formação ética e cultural brasileira, a partir de análise dos brasis sertanejo, crioulo, caboclo, caipira, sulino e sua influência na miscigenação: Nós, brasileiros, nesse quadro, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros [...]. Veja mais aqui e aqui.

LEITURA 
Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar.
As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas nem tocadas, mas o coração as sente.
A história da minha vida (José Olympio, 1902), da escritora e ativista social estadunidense Helen Keller (1880-1968), a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA:
Quero liberdade, o direito de expressão própria, o direito de todos às coisas radiantes e belas. [...] Ano após ano dos portões das infernais prisões retornam ao mundo amaciados, deformados, indesejáveis, tripulantes da humanidade naufragada, com a marca de Caim em suas testas, suas esperanças esmagadas, todas suas inclinações naturais prejudicadas. Com nada além de fome e desumanidade para recebê-los, estas vítimas logo novamente afundarão no crime como única possibilidade de existência [...] Busco a independência da mulher, seu direito de se apoiar; de viver por sua conta; de amar quem quer que deseje, ou quantas pessoas deseje. Eu busco a liberdade de ambos os sexos, liberdade de ação, liberdade de amor e liberdade na maternidade. [...] Temos a necessidade de libertarmo-nos das velhas tradições e hábitos. O movimento para a emancipação feminina desde então conseguiu dar apenas o primeiro passo nesta direção. [...].
Trechos extraídos do livro Anarquismo e Outros Ensaios (Anarchism and Other Essays, 1910), coletânea de artigos escritos pela ativista libertária Emma Goldman (1869-1940), no qual ela aborda temas como anarquismo, crime e prisão, feminismo e emancipação da mulher, entre outros assuntos. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA 
A atriz Viviane Madu no premiado espetáculo Terra de Santo (APCA/CPT, 2012), encenado pelo grupo Os Fofos Encenam, do fotógrafo João Caldas Filho, que conta por meio de poesia indígena, xamânica, judaica, judaico-cristã e afro-brasileira, a miscigenação cultural do Brasil.

Veja mais sobre João Guimarães Rosa, Anamaria Nunes, Ida Presti, Anaximandro de Mileto, Lelia Coelho Frota, Krzystof Kieslowski, Lavinia Fontana, Kurt Schwitters, Irène Marie Jacob & Márcio Baraldi aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Nude, do artista plástico alemão Martin Eder.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá.
Veja aqui.

domingo, junho 26, 2016

MARCEL PROUST, JAKOBSON, SECOS & MOLHADOS, ASENCIO, LUIZA POSSI, REGINA GALINDO & THOMAS KARSTEN


QUEM DESISTE JAMAIS SABERÁ O GOSTO DE QUALQUER VITÓRIA - A vida dá muitas voltas, feliz de quem entra na onda e consegue sair dela. O que hoje é tido no maior valor, amanhã poderá não valer nada. Ou o mais ínfimo de agora, a fortuna de amanhã. Nunca se sabe. Cada coisa possui sua razão de ser e, de onde menos se espera, acontece o que diz o escritor estadunidense John Gardner (1933-1982): “Por trás de todo problema existe uma oportunidade brilhantemente disfarçada”. Vale o olhar da descoberta e as lições advindas das experiências. Nada mais. O que virá depois, nunca se sabe, realmente. Algumas ideias chegam promissoras e prontas pro sucesso; muitas – ou quase todas -, ao contrário, fadadas ao fracasso. Para alguns, êxito é pura sorte; para outros: resultados da determinação. Ou seja, cada qual sua sina de Perseu diante da Medusa: ou prospera degolando a cabeça de todas as adversidades, ou se petrifica diante do primeiro obstáculo. Aos que vencem, louros; aos derrotados, o amargor da decepção. Todos seguem pra novo desafio. Alguns compram na esquina, não sabem o real valor de ser e ter. Entretanto, a vida, na vera, é outra coisa. Por isso, é preciso ter coragem para arrebentar as redomas intransponíveis, tirar a corda do pescoço, livrar-se da espada de Dâmocles, arrancar as mordaças da resignação, abrir as vistas vendadas pelo sectarismo, sair daquela do sal se pisando, deixar de pagar pato indébito, saber ralar no trampo, sentir o gosto ruim das derrocadas. Quantas tempestades, mínimas bonanzas; quantos aperreios de arrancar os cabelos, quantas noites em claro, quantos trejeitos dos que são do contra suplantando os cacoetes dos que estavam a favor, quantas portas na cara, quantos planos abortados, quantas somas noves fora nada, quantas projeções invalidadas, quantos nocautes de última hora. Se não aprendeu, refaz a lição. O usual é se há perigo iminente, abandono do navio, o último que apague a luz: a covardia ou esperteza como expediente da fuga. Há outra coisa: é como a semente não se ver raiz, a raiz não se saber tronco, o tronco desconhecer dos galhos, os galhos não enxergarem folhas, flores e frutos. Ao primeiro vendaval se perde a vontade de experimentar o segredo dos abismos, a valia da queda, o gosto da perda, a dor de aprender os mistérios do visível e do invisível ao nosso redor. A quem persevera é dado o prazer de segurar a primavera nos dentes. Quem desiste, nunca saberá o gosto de qualquer vitória. E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

 Imagem: arte do artista plástico estadunidense Henry Asencio. Veja mais aqui.


Curtindo o álbum Sobre amor e o tempo (Radar Records, 2013), da cantora e compositora Luiza Possi. Veja mais aqui.

PESQUISA
O livro Relações entre a ciência da linguagem e as outras ciências (Bertrand/Martins Fontes, 1974), do pensador russo, linguista e pioneiro da analise estrutural da linguagem, Roman Jakobson (1896-1982). Veja mais aqui.

LEITURA 
Nos caminhos de Swan (Globo, 2006), do escritor francês Marcel Proust (1871 - 1922), conta a história de um refinado personagem da aristocracia, narrando a sua infância e adolescência. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA:
Imagem: capa do álbum de estreia da banda Secos & Molhados (Continental, 1973), formado por Ney Matogrosso (vocais), João Ricardo (Vocais, violão e harmônica), Gerson Conrad (vocais e violão) e Marcelo Frias (bateria).
Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste
Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera
Letra da música Primavera nos Dentes, de João Ricardo & João Apolinário.

IMAGEM DO DIA 
A arte da performática artista guatemalteca Regina José Galindo.

Veja mais sobre Michel Maffesoli, Ernesto Sábato, Gilberto Gil, Isabel Câmara, Beatriz Segall, Eliane Caffé, Ludovic Florent, Howard Chandler, Edvard Munch & Leo Lobos aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
 
 Imagem: Moments of Intensity, do fotográfo e arquiteto holandês Thomas Karsten (1884-1945)
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá.
Veja aqui.


sábado, junho 25, 2016

GAUDÍ, BESTA FUBANA, BRIGITTE MOHNHAUPT, J. BORGES, DUO BACKER, MANOEL CHELÉ, NATALIA FABIA & CANTADORES DE LEONARDO MOTA


DOS BICHOS DE TODAS AS FERAS E MANSAS – Imagem Forró dos bichos, xilogravura de J. Borges. – Faz tempo eu vi um forró, um trupé muito arretado, de não sair da memória. A função era medonha, da Perereca de Paranapiacaba na sanfona, Ararajuba no triângulo e o Bugio na zabumba. Eita! Era a Arara-azul ditando o ritmo e a Jararaca-ilhoa só balançando, dava início toda na festa com a Ariranha e Mico-leão-preto que falava da Baleia-franca-do-sul reclamando das cobras dormideira-da-queimada-grande. Aí o Macaco-prego-de-peito-amarelo, não querendo nem saber, chamou do Cervo-do-Pantanal pra namorar as Jararaca-de-alcatrazes. Essas por sua vez, conversavam com o Gato-maracajá que se ria do Mico-leão-de-cara-preta e do Lobo-guará. Foi aí que apareceu todo apressado o Rato-candango falando que o Macaco-aranha havia saído com o Peixe-boi-marinho atrás da Jiboia-de-cropan pra fazer um rastapé com Mico-leão-dourado dançava agarrado na Tartaruga-de-couro, ao lado do Muriqui-do-norte que se enxeria com a Onça Pintada. Ela toda pabulosa pras bandas do Tamanduá-bandeira, não sabia que a Saíra-militar era prima do Sauim-de-coleira que era cunhado do Sapo-folha que se achava ao lado da Jaguatirica que se dizia Gato-maracajá. A conversa estava solta quando o Soldadinho-do-araripe reclamou do Macaco-aranha porque o Tamanduá-bandeira junto com Uacari-branco, comiam de tudo na maior gulodice e não deixavam nada pra ninguém. A reclamação aumentou quando a Onça Parda, mais pra lá de injuriada, reclamou que a Tartaruga-de-couro havia se acoloiado ao Tucano de Bico Preto inventando passo diferente pras bandas do Peixe Boi da Amazônia. Foi aí que a Onça Pintada, toda braba de abusada quis fazer conciliação e chamou o Pirarucu e o Papagaio-verdadeiro, foi dizendo para todos: - Vamos botar ordem no terreiro! Concordante a Tartaruga-oliva, mais que atrevida disse: - Pra quê tanta festa separada, se a gente pode fazer tudo junto? Foi aí que Harpia mais o Uacari-branco, convocou de todo mundo, se juntar com a Arara de Barriga Amarela que se dizia Arara Canindé e conversava toda folgada com o Udu-de-coroa-azul e com a Arara Vermelha. No fim deu tudo certo, acabou a reclamação, a fofoca era grande, mas tudo na maior santa paz, todos só queriam comemorar os festejos juninos. Mas isso faz tempo, hoje quase nem vê, é que um tal do bicho-homem, todo metido a caçador, achou por bem de virar no meio deles o maior dos desmancha prazeres. Com pouco tempo da presença deles, findou de mais ninguém se vê, só eles mandavam tudo, fazendo a maior guerra, chega matarem um Gorila, aprisionarem a Pomba da Paz e ainda por cima traficarem outros tantos animais pra outras tantas safadezas. Logo que deram pressas bandas, fizeram só desmatamento, atocharam nas queimadas, construíram coisas e hidrelétricas, fizeram caça predatória e, sem deixar por menos, promoveram só poluição. Aí não deu outra, cadê os outros? Oxe, só se escafederam de ninguém saber se vivos ou mortos, ou se arribaram pra salvação. Assim não dá pra ser feliz! Esses estão barrados de vez, mas mesmo assim, não tem maios Forró dos Bichos. Tomara um dia possam ainda xotear, porque era festa boa, sem pantim nem bafafá. Glória a tudo dessa fauna, e Paz na Terra aos bichos de boa vontade! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 Imagem: a arte da artista visual Natalia Fabia.

 Curtindo o álbum Cantiga (Café Maestro, 2014), do Duo Backer, formado pela dupla Rafaela Backer Gonzalez (voz) & Marcela Backer Gonzalez (violão).

PESQUISA
O livro Cantadores: poesia e linguagem do sertão cearense (Cátedra, 1978), do escritor, professor, advogado, jornalista e historiador Leonardo Mota (1891-1948). Veja mais aqui.

LEITURA 
O romance da besta fubana (Itatiaia, 1984), do escritor Luiz Berto. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA:
Imagem: Xilogravura de J. Borges.
Quando pego no braço da viola
Sinto a força quem vem da inspiração
E é por isto que digo com razão
Que meu verso alimenta e me consola
Pelo menos, não peço por esmola
Porque vivo a vender minha poesia
Sou cigarra que, aos poucos, se atrofia
Na cantiga que a vida lhe consome
Se eu deixar de cantar, morro de fome
Que a cantiga é meu pão de cada dia.
Estrofe de Martelo alagoano, do poeta cantador alagoano Manoel Chelé. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA 
Todo dia é dia da ex-militante política e ex-integrante da organização de extrema-esqueda alemã (Grupo Baader-Meinhof), Brigitte Mohnhaupt.

Veja mais sobre Pechisbeque, País de Cucanha, Renata Pallottini, George Orwell, Martins Pena, Tales de Mileto, Antoni Gaudí, Sam Francis, Theo Tobiasse, João Carlos Martins, Lucas Cranach, Sidney Lumet, Sophia Loren & Jean-Jacques Henner aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Statue of a naked Woman – Barcelona, do arquiteto espanhol Antoni Gaudí (1852-1926).
Recital Musical Tataritaritatá.
Veja aqui.



ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...