quinta-feira, outubro 29, 2015

JOSEFINA, ADALGISA, CARDINALE, LILIANA, MARINA, MONIQUE, NIKI, PATRIZIA, MARIA & HOLÍSTICA!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? RENOVAÇÃO - Aos vinte e nove dias do mês de outubro do ano de dois mil e quinze, hoje mais que nunca reitero o que dissera desde março de sempre na infância de todos os amanheceres, no adolescer adulto e na noite de novos alvoreceres da criança aos seios da mãe crepuscular por todas as matas do engenho de açúcar, arrodeando o Una que me batizou para que eu fosse mais que um rio a singrar a vida. Reitero mais que a crônica do coração materno que é dela e que reconhece todos os nomes e até as inomináveis que varam agrestes, sertões e litorais e que vão além do planalto central para fincarem a sua alma atlântica no mais ignoto território do Pacífico. Reitero mais que a festa de todas as deusas de todos os panteons do universo pra todas as musas nuas e ciborgs que vigiam o futuro porque não têm nada mais que o agora. Reitero mais que a realeza de todas as rainhas sobre todas as abelhas que lhe são súditas no reinado de todos os voos que levam além de mim para o que sou de mais eterno. Reitero mais que os poemas que viraram canções e dos cantaraus que são não mais que gratidão no dia quente e na tarde de sol e que são mais que apologias de sangue e sentimento das mãos à alma e que eternizam no vento o que dela emana pra ser mais real. E assino embaixo com meu sangue como se fosse a seiva da flor mais que desabrochada. E veja mais aqui e aqui

 Imagens a multiarte da pintora, escultura e cineasta francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002).


Curtindo o álbum Funambola (Ponderosa Music&Art, 2007), da cantora e compositora italizana Patrizia Laquidara.

UMA NOVA CONSCIÊNCIA PARA A HUMANIDADE – No livro Visão holística em psicologia e educação (Summus,1991), organizado por Dênis M. S. Brandão e Roberto Crema, destaco o texto A visão holística: uma nova consciência para a humanidade, da doutora em Psicologia, com formação em Gestalt-Terapia e Transpessoal, autora do método A mutação Holística, Monique Thoenig: [...] Vivemos em um mundo atomizado em todos os níveis. Constata-se uma atomização do individuo, uma atomização da humanidade e do mundo. Beiramos o ponto de não retorno. No entanto, em meio a isto, espíritos se levantam em todo o mundo, a boa vontade entra em ação. Corações se surpreendem. Este novo olhar está no centro de nós mesmos e aí podemos encontra-lo. É do coração que ele irradia. A Paz começa em cada um de nós. E é ai que se deve fazê-la germinar. O amor é a necessidade fundamental de todo ser. Nosso planeta, a Terra, é um ser vivo; é como um coração que bate no universo – o drama fundamental da humanidade é que nem todos os corações batem em uníssono. [...] A experiência última permanece com o Vazio misterioso e primordial, que contém toda a existência em germe e potencialidade. Aí já não encontramos a dualidade entre a fonte e o rio, entre o raio e o sol.  No abandono a uma força onipresente, o sim inclui o não, já não mais opostos. O Ser renasce no espelho da morte. E eu finalizaria com esta frase de Krishnamurti: “Então, só ao que se pode chamar de Deus é possível existir”.  Veja mais aqui aqui e aqui.

A MOÇA TECELÃ – No livro Doze reis e a moça no labirinto do vento (Nórdica, 1985), da escritora e jornalista ítalo-brasileira Marina Colasanti, destaco o conto A Moça Tecelã: Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela. Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado. Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida. Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. - Uma casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer. Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. - É para que ninguém saiba do tapete, - disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: -Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear. Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte. Veja mais aqui.

A UM HOMEM & OUTROS POEMAS – No livro Mundos Oscilantes: Poesias Completas (José Olympio, 1962), da poeta e jornalista Adalgisa Nery (1905-1980), destaco inicialmente o poema A um homem: Quando numa rocha porosa / Cansado te encostares / E dela vires surgir a umidade e depois a gota, / Pensa, amado meu, com carinho, / Que aí esta a minha boca. / Se teus olhos ficarem nas praias / E vires o mar ensalivando a areia / Com alegria pensa amado meu / Num corpo feliz / Porque é só teu. / Se descansares sob uma arvore frondosa / E além da sombra ela te envolver de ar resinoso / Lembra-te com entorpecência amado meu, / Da delicia do meu ventre amoroso. / Quando olhares o céu / E vires a andorinha tonta na amplidão / Pensa amado meu que assim sou eu / Perdida na infindável solidão. / A noite quando as trevas chegarem / E vires do firmamento. Também, Poema da amante: Eu te amo / Antes e depois de todos os acontecimentos / Na profunda imensidade do vazio / E a cada lágrima dos meus pensamentos. / Eu te amo / Em todos os ventos que cantam, / Em todas as sombras que choram, / Na extensão infinita do tempo / Até a região onde os silêncios moram. / Eu te amo / Em todas as transformações da vida, / Em todos os caminhos do medo, / Na angústia da vontade perdida / E na dor que se veste em segredo. / Eu te amo / Em tudo que estás presente, / No olhar dos astros que te alcançam / Em tudo que ainda estás ausente. / Eu te amo / Desde a criação das águas, / desde a idéia do fogo / E antes do primeiro riso e da primeira mágoa. / Eu te amo perdidamente / Desde a grande nebulosa / Até depois que o universo cair sobre mim / Suavemente.  E por fim, o poema Repouso: Dá-me tua mão / E eu te levarei aos campos musicados pela / canção das colheitas / Cheguemos antes que os pássaros nos disputem / os frutos, / Antes que os insetos se alimentem das folhas / entreabertas. / Dá-me tua mão / E eu te levarei a gozar a alegria do solo / agradecido, / Te darei por leito a terra amiga / E repousarei tua cabeça envelhecida / Na relva silenciosa dos campos. Nada te perguntarei, / Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes / E as palavras do meu olhar sobre tua face muito / amada. Veja mais aqui.

O VOTO FEMININO – A comédia em um ato O voto feminino (1878), da jornalista e feminista Josefina Álvares de Azevedo (1851-?), oriunda do trabalho desenvolvino no jornal A Família que se tornou um veículo de propaganda do direito ao voto feminino e ela publicou uma série de artigos, nos quais afirmava que, sem o exercício desse direito pelas mulheres, a igualdade prometida pelo novo regime não passaria de uma utopia. Inspirada no parecer do ministro do interior, Césario Alvim, em abril de 1890, negando o alistamento eleitoral de Isabel Matos, ela escreveu a peça teatral que foi encenada durante os trabalhos constituintes de 1890-91, no Recreio Dramático, um dos teatros mais populares no Rio de Janeiro daquela época. A peça apropriou-se, numa linguagem cênica, do parecer negativo do ministro e também do artigo de um congressista favorável ao voto feminino para criticar duramente o ridículo da resistência masculina em aceitar a participação das mulheres na vida política. A obra foi publicada em livro e também como folhetim nas páginas do jornal de Josefina, de agosto a novembro de 1890. Voltou a ser reeditada na sua coletânea A mulher moderna: trabalhos de propaganda (1891). Da peça destaco as cenas 4 e 5 recolhidas do estudo Josefina Alvares de Azevedo: teatro e propaganda sufragista no Brasil do século XIX, da pesquisadora e doutora em Letras, Valeria Andrade Souto Maior: [...] CEnA 4a. Inês e Esmeralda ESMERALDA (entra lendo um jornal) – Que quereis fazer de uma mulher como vós inteligente, como vós ativa, como vós ilustrada, como vós amante da pátria, e que lhe quer, pode e deve prestar todos os serviços?! INÊS (que tem estado a prestar muita atenção) – Sim, sim, o que querem os homens fazer de uma mulher assim? ESMERALDA – Oh! Minha mãe, que belo artigo o do Dr. Florêncio, publicado no Correio do Povo de ontem. INÊS – É um grande talento!ESMERALDA – Tem feito do voto feminino uma campanha célebre. INÊS – E há de vencer. ESMERALDA – Se vencerá! INÊS – Em passando a lei, já se sabe, hás de te apresentar para deputada. ESMERALDA – Eu, minha mãe? INÊS – Sem dúvida. Pois não estás habilitada para isso? ESMERALDA – Sim, estou habilitada. Mas meu marido? INÊS – Ora, o teu marido! Que se empregue em outra coisa. ESMERALDA – É bom de dizer, a senhora sabe, que ele tem sido sempre deputado... E não há melhor emprego do que esse. INÊS – De ora em diante serás tu. Se lhe hás de estar todas as noites a ensinar o que ele há de dizer, vai tu mesma dizer o que sabes. ESMERALDA – Pobre Rafael! Ele que deseja tanto subir!... INÊS – Sobe tu. Faz-te deputada, (aparece ao fundo a criada) depois senadora, depois ministra, e talvez que ainda possas chegar a ser presidente da república...CEnA 5a. Inês, Esmeralda e Joaquina JOAQUINA (entrando) – Quem? O senhor Rafael? INÊS – Não tola; a Esmeralda. JOAQUINA (admirada) – Uê! ESMERALDA – Ora, mamãe, isso não se faz assim. INÊS – Como não; faz-se sim, senhora. E eu hei de ser tua secretária. JOAQUINA (contente) – Que belo! Nesse tempo eu ficarei sendo sua criada grave. INÊS – É verdade, poderás proteger essa rapariga arranjando-lhe algum emprego razoável. JOAQUINA – Olhe, minha ama, sabe o que eu queria ser? ESMERALDA – Diz lá. JOAQUINA – Aquele homem que anda num carro fechado e com dois soldados a cavalo... ESMERALDA – Oh! Mulher! Querias logo ser ministra? INÊS – Isso é impossível, Joaquina. JOAQUINA – Eu sei lá! Queria ser uma coisa que pudesse mandar os soldados. ESMERALDA – Mandar soldados, para quê? JOAQUINA – Para nada, não senhora. (aparte) Para mandar prender aquele ingrato do seu Antonico que não se quer casar comigo. (sai) INÊS (que tem estado a conversar com Esmeralda, durante o aparte de Joaquina) – No dia em que for decretado o nosso direito de voto... [...] Veja mais aqui.


LA PELLE – O filme La pelle (1981), dirigido pela cineasta e roteirista italiana Liliana Cavani – que ficou reconhecida por seu filme Il portiere di notte (O porteiro da noite, 1974), tem seu roteiro baseado no romance homônimo do escritor, jornalista, dramaturgo e cineasta italiano Curzio Malaparte (1898-1957), com musica de Lalo Schifrin. Este belíssimo filme tem por destaque a sempre aplaudidíssima e cultuada, bela e encantadora atriz italiana nascida na Tunísica, Claudia Cardinale, estrela dos filmes de Luchino Visconti, Federico Fellini e Sergio Leone, atuando nas últimas décadas como uma libertária de esquerda na defesa das mulheres e dos homossexuais, bem como em causas humanitárias na valorização de sua herança árabe. Ela escreveu sua autobiografia intitulada Moi Claudia, Toi Claudia. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear a escultora, desenhista, gravurista, pintora, escritora e musicista Maria Martins (1894-1973).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .


quarta-feira, outubro 28, 2015

ERASMO, ORTIGÃO, ZÉLIA DUNCAN, MILITÃO, MYRIAM MUNIZ, CARPINEJAR, TURMA DA MÔNICA, PECHISBEQUE & BRICARTE DO NITOLINO!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PECHISBEQUE - Eita, que o negócio está enfeiando demais. E se o negócio tá brabo, como diz Alceu Valença: vai pior e tende mais a piorar! Fé na perua! E o povo está comendo vidro! É, nem muxiba no moquém mesmo. E não adianta nem rezar nem recorrer a coisas insólitas, embrabeceu mesmo dum jeito de não ser nem possível ver qualquer insinuação de luzinha besta na fundura, muito menos dá para mensurar o tamanho do buraco. Só dá para entender que não bastando fazer o joguete das elites nacionais e internacionais e entregando até a cama de dormir para eles, ao invés de investir na educação, querem erradicar na marra e sob promessas eleitoreiras, as mais insignificantes epidemias, que de tão conhecidas, qualquer sujeito mediano sabe dar a solução. Mas, como aqui tudo é só jeitinho, mais nada, fica sempre a enrolação pura para promover alguém em cima da desgraça geral. O pior é quando a gente quer se desligar um pouquinho no final de semana, ah, que a bizarra realidade assombra. Tudo se confronta mesmo na insana política do venha-nós e vosso-reino-nada. E todo dia uma novidade da mesquinharia na manchete do jornal. Tanto a gente acredita que finda desacreditando de tudo. Incredulidade geral: será que o Brasil tem jeito? Sei não. Com tudo se disfarçando só no compadrio estreito que se empanzina com as benesses rebatinhas, descartando agora só o que sobrou das esculhambações de governos ao longo desses quinhentos e cinco anos de vício, ossadas e destroços, avalie. Não dá outra, são horrores que mais recheiam as escatológicas perspectivas inscritas nas teratologias inventariadas. Ah, são disparates demais que exalam o joio das flatulências mais fedorentas da cloaca nacional! São os borgorígmos das falcatruas, das negociatas, das trambicagens. Assim, a gente sabe onde vai dar: quando não é a estupidez do radicalismo canhestra, são sequestros, violência, flagelos, e o voyerismo rabacué da tv de ficar brechando a intimidade alheia, mexinflórios do maior registro da punheta coletiva. E isso é o cúmulo da curiosidade. Parece mais a vera-efígie verossímil e bastarda de que essa mesmice se enfia endovenosa, intoxica um e contagia todos com a extrusão da homogeneidade nivelada por baixo e confirmando os falsos padrões de avaliação civilizatória na ambição de poder, sucesso e riqueza, com todos os propósitos maqueados para o engodo, para o embuste, como se fôssemos o esgoto do consumo se alimentando só do lixo internacional. Gente, e aquela de sacanear, aprontando e pregando a maior peça, só para ver o idiota chutar o pau da barraca? Quanta falta de imaginação, só para constatar os entulhos da originária atitude simiesca, parecendo mais que o estúpido manguço é o principal atributo de nossa referência. Desapontado, eu, a esta altura do campeonato, sou undívago dos modismos, fedífrago eventual rascunhando minhas trapizongas literárias e mesmo que meus solecismos sejam escandalosos, aqui não tem recaall e nem porra de brother ou casa duca... E como este país não é só litoral, nem só São Paulo, nem só festança corrupta, nem só delinqüência e aproveitamentos, dará outra coisa? Só fabos – fabricantes de bosta, mesmo. Não vou ter um treco, tô só esperando o dia em que todos os políticos vão tomar vergonha da cara. Os caras nem mais se tocam com vaias ou tortada na cara. A gente devia fazer feito os argentinos, partir pro radical: um merdazo. Tolotes do muito nas fuças desses caras. Ah! mas se a moda pega no Brasil, a maior fábrica de excrementos do mundo, não haveria reserva merdológica que desse vencimento pra gente jogar nos mais ilustres casacudos oficiais. Era mesmo, se ao invés dessa acúlea salmodia catingosa de esperar milagres e salvadores nas eleições, a gente assumisse a retórica da contestação mais aguda e sapecasse uns tolotinhos raçudos nas fuças dos vendidos, haveria de aparecer um jeito menos doloroso para impor nossa cidadania. Ôxe, ovo podre, lama e lixo dá maior meladeiro e tem em qualquer lugar. É só pegar, empunhar e vute! Queria ver só a cara deles lambuzada com nosso protesto. Como tô cheio das caraminholas e com a indignação pelo gogó, vou recolher essa mal traçada pechisbeque e arrumar uma lavagem de roupa para amealhar sustento porque a coisa tá feia para cachorro-do-rabo-fino. E vamos aprumar a conversa aqui!


Imagem: Rio São Francisco, do artista plástico, artesão e poeta Militão dos Santos.


Curtindo o dvd Sortimento Vivo (Universal Music, 2002), da cantora e compositora Zélia Duncan.


BRINCARTE DO NITOLINO– Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino para as crianças de todas as idades, nos horários das 10hs e das 15hs (no horário de verão), no blog do Projeto MCLAM e com apresentação de Ísis Corrêa Naves. Na programação sempre especial também tem atrações especiais chamando a meninada com Toquinho, Lygia Fagundes Telles, Guilherme Arantes, Palavra Cantada, Carequinha, O papel das histórias, Cristina Mel, Turma do Jambu, Meimei Corrêa, Grandes Pequeninos & muito mais No reino encantado de todas as coisas. No blog, muitas dicas de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro, Música e Literatura infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as historias em quadrinhos dos Aventureiros do Una. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.

ELOGIO DA LOUCURA – O ensaio Elogio da loucura (1509 – LP&M, 2003), do teólogo e filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536), inicia em tom satírico para chegar a um tom mais sombrio ao considerar que a loucura aprecia a autodepreciação, terminando com um testamento claro dos ideais cristãos. É repleto de alusões clássicas, escritas no estilo típico dos humanista do Renascimento, no qual a Loucura se compara a um dos deuses, filha de Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, cujos companheiros fiéis incluem Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto). Da obra destaco o trecho [...] Primeiro, vós bem vedes com que providência a natureza, esta mãe produtora do gênero humano, dispôs que em coisa alguma faltasse o condimento da loucura. Segundo a definição dos estóicos o sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão prescrita, e o louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. Eis porque Júpiter, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, achou conveniente aumentar muito mais a dose das paixões que a da razão, de forma que a diferença entre ambas é pelo menos de um para vinte e quatro. Além disso, relegou a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo presa das desordens e da confusão. Depois, ainda não satisfeito com isso, uniu Júpiter à razão, que está sozinha, duas fortíssimas paixões, que são como dois impetuosíssimos tiranos: uma é a Cólera, que domina o coração, centro das vísceras e fonte da vida; a outra é a Concupiscência, que estende o seu império desde a mais tenra juventude até à idade mais madura. Quanto ao que pode a razão contra esses dois tiranos, demonstra-o bem a conduta normal dos homens. Prescreve os deveres da honestidade, grita contra os vícios a ponto de ficar rouca, e é tudo o que pode fazer; mas os vícios riem-se de sua rainha, gritam ainda mais forte e mais imperiosamente do que ela, até que a pobre soberana, não tendo mais fôlego, é constrangida a ceder e a concordar com os seus rivais. De resto, tendo o homem nascido para o manejo e a administração dos negócios, era justo aumentar um pouco, para esse fim, a sua pequeníssima dose de razão, mas, querendo Júpiter prevenir melhor esse inconveniente, achou de me consultar a respeito, como, aliás, costuma fazer quanto ao resto. Dei-lhe uma opinião verdadeiramente digna de mim: — Senhor, — disse-lhe eu — dê uma mulher ao homem, porque, embora seja a mulher um animal inepto e estúpido, não deixa, contudo, de ser mais alegre e suave, e, vivendo familiarmente com o homem, saberá temperar com sua loucura o humor áspero e triste do mesmo. Quando Plutão pareceu hesitar se devia incluir a mulher no gênero dos animais racionais ou no dos brutos, não quis com isso significar que a mulher fosse um verdadeiro bicho, mas pretendeu, ao contrário, exprimir com essa dúvida a imensa dose de loucura do querido animal. Se, porventura, alguma mulher meter na cabeça a idéia de passar por sábia, só fará mostrar-se duplamente louca, procedendo mais ou menos como quem tentasse untar um boi, malgrado seu, com o mesmo óleo com que costumam ungir-se os atletas. Acreditai-me, pois, que todo aquele que, agindo contra a natureza, se cobre com o manto da virtude, ou afeta uma falsa inclinação, ou não faz senão multiplicar os próprios defeitos. E isso porque, segundo o provérbio dos gregos, o macaco é sempre macaco, mesmo vestido de púrpura. Assim também, a mulher é sempre mulher, isto é, é sempre louca, seja qual for a máscara sob a qual se apresente. Não quero, todavia, acreditar jamais que o belo sexo seja tolo ao ponto de se aborrecer comigo pelo que eu lhe disse, pois também sou mulher, e sou a Loucura. Ao contrário, tenho a impressão de que nada pode honrar tanto as mulheres como o associá-las à minha glória, de forma que, se julgarem direito as coisas, espero que saibam agradecer-me o fato de eu as ter tornado mais felizes do que os homens. Antes de tudo, têm elas o atrativo da beleza, que com razão preferem a todas as outras coisas, pois é graças a esta que exercem uma absoluta tirania mesmo sobre os mais bárbaros tiranos. Sabereis de que provém aquele feio aspecto, aquela pele híspida, aquela barba cerrada, que muitas vezes fazem parecer velho um homem que se ache ainda na flor dos anos? Eu vo-lo direi: provém do maldito vício da prudência, do qual são privadas as mulheres, que por isso conservam sempre a frescura da face, a sutileza da voz, a maciez da carne, parecendo não acabar nunca, para elas, a flor da juventude. Além disso, que outra preocupação têm as mulheres, a não ser a de proporcionar aos homens o maior prazer possível? Não será essa a única razão dos enfeites, do carmim, dos banhos, dos penteados, dos perfumes, das essências aromáticas, e tantos outros artifícios e modas sempre diferentes de vestir-se e disfarçar os defeitos, realçando a graça do rosto, dos olhos, da cor? Quereis prova mais evidente de que só a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens? Os homens tudo concedem às mulheres por causa da volúpia, e, por conseguinte, é só com a loucura que as mulheres agradam aos homens. Para confirmar ainda mais essa conclusão, basta refletir nas tolices que se dizem, nas loucuras que se fazem com as mulheres, quando se anseia por extinguir o fogo do amor. [...]. Veja mais aqui e aqui.

AS FARPAS – O livro As farpas chronica mensal da política das letras e dos costumes (Typographia Universal, 1871), do escritor e polemista português Ramalho Ortigão (1836-1915), inicialmente em parceria com o escritor Eça de Queiroz até 1872 e, posteriormente, até 1882 pelo primeiro. Subintitulando-se "O País e a Sociedade Portuguesa", os folhetins mensais d'As Farpas constituem um painel jornalístico da sociedade portuguesa nos anos posteriores a 1870, erguido com bonomia, sentido agudo das mazelas sociais, um alto propósito consciencializador, e uma linguagem límpida e variada, formando uma admirável caricatura da sociedade da época. O estilo deu inicio a um novo e inovador conceito de jornalismo - o jornalismo de ideias, de crítica social e cultural. Da obra destaco o trecho inicial: Leitor de bom senso –que abres curiosamente a primeira pagina d'este livrinho, sabe, leitor - celibatário ou casado, proprietário ou produetor, conservador ou revolucionario, velho patuleia ou legitimista hostil- que foi para ti, que ele foi escripto – se tens bom senso! E a idéa de tc dar assim todos os mezes, emqnanto quizeres, cem paginas ironicas, alegres, mor. dentes, justas, nasceu no dia em que podemos descobrir através da penumbra confusa dos factos, alguns contornos do perfil do nosso tempo. Aproxima-te um pouco de nós, e vé. O paiz perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as conciências em debandada, os caracteres corrompidos. A pratica da vida tem por única direção a conveniencia. Não há principio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguem se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguem crê na honestidade dos homens publicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inercia. O povo está na miseria. Os serviços publicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas idéas aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta in diffferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intellectual, parada. O tedio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruina econômica cresce, cresce, cresce. As quebras succedem-se. O pequeno commercio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentavel. O salario diminue. A renda também diminue. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. N'este salve-se quem poder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiota gem explora o juro. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. O numero das escolas só por si é dramatico. O professor é um empregado de eleições. A população dos campos, vivendo em casebres ignobeis, sustentando-se de sardinha e de vinho, trabalhando para o imposto por meio de uma agricultura decadente, puxa uma vida miseravel, sacudida pela penhora; ignorante, entorpecida, de toda a vitalidade humana conserva unicamente um egoísmo feroz e uma devoção automatica. No entanto a intriga politica alastra-se. O paiz vive n'uma somnolencia enfastiada. Apenas a devoção insciente perturba, o silencio da opinião com padre-nossos maquinaes. Não é uma existencia, é uma expiação [...] Veja mais aqui.

SALMOS DO FOGO, ADEGA DO SONO & OUTROS POEMAS – No livro As solas do sol (Bertrand Brasil, 1998), do poeta, professor e jornalista Fabrício Carpinejar, destaco Salmos do Fogo: O céu esférico, / cinzento. / Aves copiando o traçado / da migração, / o caule da borrasca. Também a solidão a duas vozes: Obedecia a rapidez do sangue. / Antes de apodrecer a luz, / engolia a altura da árvore. Mais o Neve da chama: Enraizado no canto, / o cortejo de galos / separava a safra de corais. / Das quilhas coradas / das canoas. O adega do sono: Dividias os gomos da fruta / em aposentos da casa. / A cortina do sumo / leveda o sol levantado. / O zodíaco do molde / supre o gérmen do quarto. / E o bafio estala / a lareira das esferas / na sala de estar / da semente. O poema Domingo: As garças capinavam / as águas.  / A saliva das aves / movia o motor /do riacho. Por fim Suicídio: A vida amou a morte / mais do que havia / para morrer. / Apaguei os pensamentos / na espuma da pele. / Abandonar o paraíso, / a única forma / de não esquecê-lo. E veja mais aqui e aqui.

DA BRUXINHA ATÉ NINA - A premiadíssima e saudosa atriz e diretora de teatro, cinema e televisão, Myriam Muniz (1931-2004), construiu uma trajetória que foi iniciada na Escola de Arte Dramática, no final dos anos 50, estreando no teatro profissional em 1961, no espetáculo José, do parto à sepultura, seguindo-se A bruxinha que era boa (1962), Tia Mame (1962), Chuva (1962), A revolução dos beatos (1962), A mandrágora (1963), O noviço (1963), Tartufo (1964), O inspetor geral (1966), O círculo de Giz (1967), La Moschetta (1967), Os carecentes (1967), Marta Saré (1969), Tom Paine (1970), Tudo de Novo (1970), Assim é, se lhe parece – só porque você quer (1971), Fala baixo, senão eu grito (1973), Eva Perón (1979), Às próprias custas (1983), Pegando fogo, lá fora (1988), A história acabou (1991), Porca Miséria (1993). Além de dirigir e atuar no teatro, também incursionou pelo cinema em filmes como Macunaíma (1969), Cleo e Daniel (1970), Pequena ilha da Sicilia (1971), Mar de Rosas (1977), O jogo da vida (1977), O homem do pau Brasil (1982), Das tripas coração (1982), Alô? (1997), Amélia (2000) e Nina (2004), além de ter parcipado em novelas e series na televisão. Veja mais aqui.

 
 SCUM – O drama Scum (1979), dirigido pelo cineasta Alan Clarke (1935-1990), retrata a brutalidade da vida dentro do sistema borstal britânico. O filme foi feito para a BBC, mas devido a violência, foi retirado do ar, o que fez seu diretor retomar e lança-lo dois anos depois. O filme conta a história de um jovem delinquente, como ele chega à instituição e sua ascensão através da violência e auto-proteção para o topo da hierarquia dos internos, puramente como uma ferramenta para sobreviver. A controvérsia do filme foi derivado de sua representação gráfica do racismo, violência extrema, estupro, suicídio, muitas lutas e linguagem muito forte. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de Mauricio de Souza & Turma da Mônica


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Quarta Romântica, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .


terça-feira, outubro 27, 2015

GRACILIANO, DYLAN THOMAS, DELLA COSTA, VANESSA-MAE, EDUCAÇÃO, DELLA FRANCESCA, ZIZI SMAIL, BETHLEM & CHATO DE GALOCHA!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? INGRESIA DUM CHATO DE GALOCHA - Quem na vida ainda não se defrontou com um chato de galocha? A gente vê logo que, das três, uma: ou a gente acordou com a braguilha virada, ou de ovo trocado, ou pisado em rastro de corno! Êta, dia, hem? Santa malagueta no oiti-goroba do caiporento. Bem, como não temo superstição, nem alinhavo reza pra devotado, sei que ninguém está isento de tais incongruências, principalmente naqueles dias em que a gente vê que a vida menstruou ou está perto disso e, por mais que o sujeito se esforce, até a tpm dela deixa a sorte de quem joga no ataque, sempre levando a bola pro gol contra (será que a CBF também anda se metendo com a minha vida, hem? Num basta a desgraceira do futebol brasileiro?). E olhe que a nuvem preta parece mais um dos daqueles mísseis teleguiados da artilharia de última geração norte-americana, duvide não. Também num adianta abrir um chão e se socar, nem dar uma de avestruz, a coisa tatua no toitiço do imputado dele fazer careta por tempos imprevisíveis. Principalmente porque esta raça de peitica está sempre nos lugares onde a gente precisa resolver alguma coisa. Ou na vizinhança querendo botar gosto ruim em tudo, dono da verdade, autosuficiente, pabo, que atanaza mais que dor de dente queiro. Verdade! Tem biqueiro assim que bota gosto ruim até em domingo ensolarado. É feito cólica de diarréia, daquela de deixar fissura na tripa gaiteira. E o fedor, hem? Pior que mijatório masculino! Hum! Essa estirpe de munganguento dá-se ao luxo de promover enlace matrimonial dum cachorro da Vera Loyola, ao som de Mendhelson e celebrado pelo Papa João-de-não-sei-das-quantas-III. Ou mesmo cultuam a filosofia dos ruralistas: a bosta dum mangalarga marchador ou dum quarto-de-milha valem mais que o respirado de gente, num é não ex-presidente? Bem feito, tanta gente passando fome e as dondocas numa cerimônia tão desproposital e os direitistas aprontando no arroto do mando, do mundo girar segundo sua vontade. Mania mais sem jeito! A quizília desses amolestados fica no osso do mucumbu escolhendo colhão para ferroar. É cada trincada do nego ver estrelas meio dia em ponto. Um verdadeiro angu-de-caroço, daquele que a gente engulha mal chegando na goela. Esse bicho cricri é um chute no saco, uma pisadela no calo inflamado do pé (justo nele!), um cricrilar no ouvido amolando o juízo de trincar o dente da gente de raiva. É todo cheio da chicanada de não poder disfarçar suas birras com a pacutia do cabuloso, chega dar nos nervos: primeiro, vem com aquela soberba adiantada caluniando tudo; segundo, vem o escárnio de gravata com sua diatribe acerba, fazendo estrago na boa vontade do cristão; terceiro, vem a patacoada do recalcamento se passando por missa-seca a nos dizer o que está certo ou errado, obstáculos buscados nos cafundós burocráticos da má-vontade e que só se resolverá em meses vindouros, dependendo do alinhamento dos planetas no dia aprazado. Vai-te pruma porra, indigesto! Besteira, é só precisar de órgão público e na lata a gente vê ele se aliviando na avania: - O seu cadastramento foi efetuado em duplicidade, temos que renomear seus dados para amanhã o senhor vir saber se já foi efetuada a alteração necessária! Isso depois do sujeito coarar por horas numa fila de quinhentos metros com meio mundo de gente de maus bofes, injuriados até a sêxtupla geração. Ou: - Olhe, o sistema está fora do ar, sem previsão de retorno! - Essa é de deixar o cara abatumado, mais constrangido que goleiro quando engole frango. Ou, ainda: - Os seus dados estão incorretos, o seu Luiz aqui está com "z", e nos nossos arquivos está com "s", infelizmente, o senhor terá de procurar naquele outro guichê para se recadastrar! -, essa anima a paciência? Precisa de mais exemplos para se ter uma ideia da urucubaca? Oxente, bichim! Deixa disso. O pior não é nada, é o pitaco. Peru de jogo com cartas marcadas. Ou, então, anos sonhando em adquirir aquele utensílio da maior utilidade para vida mais confortável e descanso do guerreiro, quando o enfaroso: - Num presta! Foi caro, bom mesmo é o .... iiiihhhhh! O melanose provoca maior discórdia em tudo, o do contra, abufelado com aquela cáustica mania de querer consertar tudo segundo o seu juízo insano, no maior convício dos despautérios. Abelhudo azedo com ferrão em riste, bota defeito em tudo. E não se toca, menor senso de ridículo. Quem se depara com um traste desses num vê a hora de se livrar da borrasca que fica pinicando todo corpo do ser vivente. Esse tipo de povinho gosta mesmo de comprar animosidade duma rixa gratuita, percebeu? Incha até fazer enfisema no juízo feito uma tijolada no quengo. Se o Brasil ganha ficam puto porque o povo tá zanolho comemorando enquanto o governo pratica as maiores impropriedades; se perde, acham bem empregado porque os caras da bola estão rico e o povo passando fome. Só vota se Jesuisizinho descer do céu e se candidatar, ou nem isso, enquanto trata o resto de farinha do mesmo saco. Não vê solução em nada, nem mesmo no gênio dele. Não gosta de música, detesta futebol e tem repugnância por pobre como se fosse um condenado divino. Pois bem, já trabalhei com alguns desses, já fui vizinho dessa laia imprestável e ainda hoje encontro muitos deles que implicam com o mínimo ou com o eixo do sol ou com a cor do mar. Um desses que conheci, igual a todos os outros quizilentos porque são menores que seu próprio tamanho, era mais conhecido como caga-raio, ruim dos bofes, doente de raiva. Era casado com uma bonitona cobiçada, reboculosa e simpaticíssima. O oposto, mesmo. Ele costumava chamar todo mundo de corno e esquecia de olhar pro rabinho dele se queimando na mais profunda maledicência. Em casa mesmo, servia de enfeite; nem falar, falava. Quando abria a porta e via o mundo, o pimponete se transformava num piririca inclemente criando dares-e-tomares com sua alrotaria. Nem aí pro seu sal que se pisava. Ôxe, podia pisar, ele nem-nem. Menor remorso. Cá comigo: é dessa gente que se faz a hierarquia nos empregos e formam o reino da incompetência que se alastra em nosso país. Por isso, quando eu me vejo importunado por um desse tipo, eu sorrio com a inteligência mínima dos mandantes. Ó, meu Brasil! E vamos aprumar a conversa aqui.

 Imagem: Nymphe A La Piece DEau, do pintor do Quattrocento italiano, Piero della Francesca (1415-1492).


Curtindo o álbum Toccata & Fugue (1995), da musicista, atleta e violinista singapuriana Vanessa-Mae.

NÃO IMPORTA APRENDER – No livro Humor e alegria na educação (Summus, 2006), organizado por Valéria Amorim Arantes, destaco o trecho Não importa aprender, do capítulo Uma pedagogia lúdica, de João Batista Freire: [...] Numa sociedade de resultados, aprender vale menos que ser aprovado. Os vestibulares tornaram-se a referencia nacional de ensino, um manancial inesgotável da mediocrização de sucessivas gerações de jovens. Tenho a impressão de que há, no ar, uma conclusão não explicita: do jeito que a escola é, a ideia não é a de ensinar os conteúdos que estão definidos nos programas escolares, mas de estabelecer um filtro de mérito que faça chegar ao fim da linha pessoas habilitadas para ingressar em determinado ponto de alguma engrenagem. De tal maneira as peças, em cada corporação, estão organizadas que não se requer grandes habilidades para inserir as pessoas em qualquer ponto delas. A não ser, evidentemente, determinados cargos que exigem certas decisões. Por exemplo, para dar conta dos conteúdos das universidades, não passa pela cabeça de ninguém que os jovens deveriam ser bem formados no ensino básico, mas sim que precisam passar nos exames vestibulares. Desde que a escola foi inventada, passaram-se séculos. Muitas coisas mudaram na sociedade, para melhor ou para pior; as próprias pessoas mudaram muito, mas a escola praticamente não mudou. [...] Viver numa sociedade disciplinar significa reduzir a vida a espaços de confinamento insistentemente vigiados. [...] Não se trata, acima de tudo, de incorporar padrões de comportamento, ou informações para o vestibular, mas de aprender a pensar, a criar, a se expressar, a apreciar o belo, a se relacionar, a lidar com as emoções. Iguais devem ser os direitos humanos, as oportunidades. No mais, ser igual é ser prisioneiro. Veja mais aqui, aqui e aqui.

MEMÓRIAS DO CÁRCERE – A obra em dois volumes Memórias do cárcere (Martins, 1969), do escritor e jornalista Graciliano Ramos (1892-1953), conta o fato ocorrido em março de 1936, quando acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no mal-sucedido levante comunista de novembro de 1935, ele é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus" com outros 115 presos, entre os quais, inúmeros que participaram da insurreição Comunista de Natal, estado do Rio Grande do Norte. O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Da obra destaco o trecho da primeira parte: [...] Alguém cochichou-me, atraiu-me a um canto; ouvi o nome de Miguel Bezerra, um moço de casquete, moreno e magro, que se pôs a falar com abundância. No começo não entendi o que ele dizia, recordo somente uma declaração repetida: Não somos comunistas. Bem, eu os supunha vagabundos; surgiam-me dúvidas agora. Donde vêm os senhores? Tinham embarcado no Rio Grande do Norte. Mas não somos comunistas. Perfeitamente. Porque a insistência? Entrei a conversar e logo duas surpresas me assaltaram Miguel parecia alegre, as minhas palavras soavam-me aos ouvidos como se fossem pronuncia das por outra pessoa. Doidice rir em semelhante inferno. Ou então me sensibilizara em demasia, os horrores que estivera a desenvolver tinham existência fictícia. Possivelmente o meu enjôo e a raiva do capitão Mata provinham da mudança repentina: se nos houvessem feito percorrer escalas, não nos abalaríamos tanto. Lembro-me de ter afirmado isto mentalmente. De qualquer modo nos arranjaríamos, chegaríamos a um porto. Assim falava no interior e dizia coisas diferentes: pausadas, maquinais; pareciam gravadas num disco de vitrola. Deviam ter significação, pois o diálogo se prolongou, mas não me seria possível reproduzi-lo. A declaração inicial voltava com freqüência: Não somos comunistas. Porque inocentar-se? A certeza de que estavam ali os revoltosos de Natal acirrou-me a curiosidade, embora não me arriscasse a pedir informações ao desconhecido cauteloso. Duas mulheres achegaram-se, uma branca, nova, bonita, uma pequena cafuza de olhos espertos. Fiquei sabendo que a primeira se chamava Leonila e era casada com Epifânio Guilhermino. [...] Somos animais bem esquisitos. Depois daquela noite, o primeiro contato com a vida me provocou uma gargalhada. Não o riso lúgubre dos doidos, manifestação ruidosa e divertida, que me causava espanto e era impossível conter. Foi este o caso. Logo ao clarear o dia, saltei do estrado, busquei o vizinho do compartimento inferior, para agradecer-lhe os fósforos, e percebi um caboclo baixo, membrudo, hirsuto, a camisa de algodão aberta, deixando ver um rosário de contas brancas e azuis misturadas à grenha que ornava o peito largo. Esse instrumento devoto me produziu a hilaridade: O senhor usa isso, companheiro? O sujeito endureceu a cara, deitou-me o rabo do olho, formalizou-se e grunhiu: Quando a nossa revolução triunfar, ateus assim como o senhor serão fuzilados. Esqueci os agradecimentos e afastei-me a rir, dirigi-me ao ponto onde, na véspera, tinha ouvido o rapaz de casquete: esperava tornar a vê-lo, pedir informações a respeito do estranho revolucionário. Logo soube que se chamava José Inácio e era beato. Homem de religião, homem de fanatismo, desejando eliminar ateus, preso como inimigo da ordem. Contrasenso. Como diabo tinha ido ele parar ali? Vingança mesquinha de político da roça, denúncia absurda, provavelmente e ali estava embrulhado um eleitor recalcitrante, devoto bisonho do padre Cícero. Com certeza havia outros inocentes na multidão, de algumas centenas de pessoas. A luz do dia, várias figuras começavam a delinear-se, nomes próprios chegavam-me aos ouvidos, mas tudo se confundia e era-me impossível distinguir João Anastácio de Miguel Bezerra, duas criaturas muito diferentes. Miguel Bezerra, o moço de casquete, exibia inquietação constante no rosto fino como um focinho de rato; João Anastácio tinha a cara imóvel, de múmia cabocla: sério, os olhos miúdos, parecia muito novo ou muito velho, não tinha idade. O primeiro se mexia demais e falava com exuberância, desdizendo-se: falava como se quisesse inutilizar o efeito de palavras largadas inconsideradamente; o segundo me examinava em silêncio, desconfiado uma coruja. Essas coisas só foram percebidas muito depois. Naquela manhã tudo se atrapalhava, a luz que vinha de cima e entrava pelas vigias era escassa. E perturbado, no meio novo, esforçava-me por achar um canto onde pudesse respirar. dispersaram-se. [...]. Veja mais aqui e aqui.

ENTRE OS MORTOS NO BOMBARDEIO AO AMANHECER HAVIA UM HOMEM DE CEM ANOS – No livro Poemas reunidos (1934-1953/José Olympio, 1991), do poeta inglês Dylan Thomas (1914-1953), destaco inicialmen te o poema Entre os mortos no bombardeio ao amanhecer havia um homem de cem anos, na tradução de Ivan Junqueira: Quando a manhã despetava sobre a guerra, / ele vestiu as calças e caminhou para a morte, / suas madeixas bocejaram soltas a uma rajada de vendo as dispersou, / tombou onde amava, sobre as pedras arrancadas à calçada / e as fúnebres sementes do solo massacrado. / Dizei à sua rua lá no fundo que ele deteve um sol / e que da cratera de seus olhos brotaram fogos e balaços / quando todas as chaves saltaram das fechaduras e retiniram. / E não mais escaveis em defesa das algemoas de seu grisalho coração. / A ambulância celeste arrastada por uma constelação de chagas / aguarda o tinir da espada na gaiola. / Oh retirai seus ossos desse veículos banal, / a manhã est5á voando com as asas de sua idade / e uma centena de cegonhas pousa na mão direita do sol. Tambem o poema O amor no hospício: Uma estranha chegou / a dividir comigo um quarto nessa casa que anda mal da cabeça, / uma jovem louca como os pássaros, / que trancava a porta da noite com seus braços, suas plumas. / Espigada no leito, em desordem, / ela tapeia com nuvens penetrantes a casa à prova dos céus, / até iludir com seus passos o quarto imerso em pesadelo, / livre como os mortos, / ou cavalga os oceanos imaginários do pavilhão dos homens. / Chegou possessa, / aquela que admite a ilusória luz através do muro saltitante, / possuída pelos céus. / Ela dorme no catre estreito e, no entanto, vagueia na poeira / e, no entanto, delira à vontade / sobre as tábuas do manicômio, aplainadas por minhas lágrimas deâmbulas. / E arrebatado pela luz de seus braços, enfim, meu Deus, enfim, / posso, de fato, / suportar a primeira visão que incendeia as estrelas. Veja mais aqui e aqui.

A MORENINHA & TÍPICO ROMÂNTICO - A atriz Maria Della Costa (1926-2015) estreou como show-girl e no teatro em 1944, com a peça A Moreninha. Vai para Portugal estudar arte dramática, voltando ao Brasil para integrar o grupo Os comediantes, para participar dos espetáculos Rainha Morta (1946), As terras do sem-fim (1947), Vestido de Noiva (1947) e Não sou eu (1947). Em 1948, funda o Teatro Popular de Arte que estreia a peça Anjo Negro. Em 1954, inaugura o seu Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, montando Tobacco Road (1948), A Prostituta Respeitosa (1948), A ralé (1951), Manequim (1962), O canto dda cotovia (1954), Com a Pulga Atrás da Orelha (1955), A moratória (1955), Mirandolinda (1955), A casa de Bernarda Alba (1956), Moral em concordata (1956), Rosa Tatuada (1956), e A Alma Boa de Setsuan (1958), Gimba (1959), Society em Baby Doll (1960), O marido vai à caça (1962), Armadilha para um homem só (1962), Pindura saia (1963), Depois da queda (1964), Homens de Papel (1967), Tudo no Jardim (1968), Abra a janela e deixa entra o ar e o sol da manhã (1968), Bodas de sangue (1973), Tome conta de Amélia (1974), Motel Paradiso (1982), Alice, que delícia (1986), Temos que refazer a casa (1988) e Típico romântico (1992). No cinema ela atuou O Cavalo 13 (1946) e O Malandro e a Grã-fina (1947), Inocência (1949); Caminhos do Sul (1949), Areião (1952), Moral em Concordata (1959). Ela também em diversas novelas da televisão brasileira. Veja mais aqui.

ESPELHO DA CARNE – O filme Espelho da carne (1984), dirigido por Antonio Carlos Fontoura, conta a história a respeito de um espelho, adquirido em leilão e que influencia o comportamento sexual das personagens que nele se refletem. Um jovem executivo, casado, arremata num leilão um sofisticado espelho art déco, que tinha pertencido ao antigo Palácio dos Prazeres, uma casa de encontros amorosos. Assim que o espelho é instalado no seu luxuoso apartamento, ele passa a emanar um estranho poder. Um poder que envolve o jovem, sua mulher, um casal de amigos, a vizinha desquitada e até mesmo a empregada, num frenesi erótico que rompe com todas as barreiras morais e psicológicas desses personagens. O filme transcorre com o espelho exercendo seus estranhos poderes em diferentes situações, aliando a inquietação psicológica a um humor e uma ironia sublimes. Até que o prazer torna-se horror: o espelho revela-se possuidor de algo demoníaco. O destaque vai para todo elenco, em especial para a atriz e produtora Maria Zilda Bethlem, que estreou nas telas com o filme A Intrusa (1979), seguindo-se Eu matei Lucio Flavio (1979), Parceiros da Aventura (1980), O grande palhaço (1980), O segredo da múmia (1982) e Bete Balanço (1984), antes de atuar no filme em referência. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 A arte do escultor Zizi Smail

  Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Tataritaritatá, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .


ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...