quarta-feira, janeiro 04, 2017

YUKIO MISHIMA, MARISA REZENDE, SIQUEIROS & SONHO REAL


O QUE É DE SONHO QUANDO REAL – Imagem: La marcha de la humanidad (1971), do pintor mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974). - Eis que um dia me encontro no topo de uma colina. Ali chegara para refletir sobre tudo que ocorrera em minha vida e, na caminhada, me deparei com um território desconhecido que se descortinava diante de mim: estava eu além do tempo e do espaço. Fechei os olhos e segui adiante levado pela ideia de que haveria um pote de ouro na ponta do arco-íris, aquele ao qual sempre busquei e nunca encontrei. Não tencionava encontrá-lo ali, apenas sabia. E quando dei por mim estava diante de um abismo. Parei, olhei ao redor e percebi que não havia como voltar. Descobri-me só e longe de tudo. Não sabia o que fazer, apenas estava cônscio da minha inutilidade diante da imensidão da noite. Todas as minhas convicções foram minadas, não sabia nada e, diante disso tudo, fui incorporando uma nova forma de entendimento, uma experiência fenomenológica indizível que se fazia irrefutável. Descobri-me parte do Criador, intimamente integrado à sua essência e a de todos os seres vivos e inanimados do Universo. Eu me sentia infinito, universal. Sentia que do meu interior uma luz emanava e comungava com o Sol em plena noite estrelada. Descobria pela primeira vez a verdadeira alegria e a verdadeira paz. Era como se tivesse adquirido uma sabedoria e um discernimento incomparáveis. Assumia a vida ativa, não mais me alienando da realidade, e com o coração preenchido por um amor que me tornava íntimo de tudo e acima de todas as aparências e formas do mundo. Havia agora uma aspiração da virtude pelas ações, concebendo o divino no meu interior. E tudo via sem que precisasse dos olhos abertos, e tudo ouvia sem que precisasse dos ouvidos aguçados, e tudo tocava sem que precisasse das mãos para alcançar, e todos os sabores sem que tivesse que abrir a boca e todos os aromas sem que precisasse usar do meu nariz, e tudo fiquei sabendo sem que precisasse saber de nada. E tudo era ao mesmo tempo divino, angélico e paradisíaco, congregando todos os opostos que se mostravam antagônicos e, de repente, partícipes de uma mesma manifestação convergente. Incomodado pelo desconforto de tudo que presenciava, aos poucos me adaptei, empreendendo uma nova caminhada pelo desconhecido. Tive a compreensão do abismo e, ao invés do desejo de morte, fui imbuído de novos e estimulantes pensamentos: a ciência sobre o meu relacionamento com o Universo. Aí, uma voz poderosa me falou e logo percebi que a humanidade inteira ouvia atentamente lá embaixo. Eu entendia cada sílaba pronunciada, mas os demais entendiam diferente e não exatamente o que era dito, como se equivocassem do que estava sendo dito. Quando a voz silenciou, tentei explicar à multidão e não me entenderam. Insisti e não me ouviram, sem conseguir meu intento, deram-me as costas. Chamei a todos, fui ignorado. E mais me esforcei para que me ouvissem e já não havia mais ninguém. Fiquei só e quando acordei não estava decepcionado, apenas compreendi que cada qual entende o que ouve ou o que sente à sua maneira. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.


Curtindo o álbum Música de Câmara (LAMI/USP, 2003), da pianista e compositora brasileira Marisa Rezende.

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O amor – Crônica de amor por ela, Rabindranath Tagore, Johannes Brahms, Virgilio, Thomas Hardy, Wong Kar-Wai, Marin Alsop, Maggie Cheung, Corina Chirila, Lenilda Luna, Antonio Rocco, Cultura Pós-Moderna & Commedia dell’arte aqui.

E mais:
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Keith Jarret, Carlos Saura, Christian Bernard, Isaac Newton, Casimiro de Abreu, Julio Hübner, Mia Maestro & A lenda criação no gênese africano aqui.
Por um novo dia, Herminio Bello de Carvalho, Ismael Nery, Brian Friel, Paolo Sorrentino, Julia Lemertz, J. R. Duran, Rachel Weisz, Iremar Marinho, Bruno Steinbach, O papel do professor e a sua formação na prática pedagógica aqui.
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DESTAQUE: A MÁSCARA DE YUKIO MISHIMA
[...] Estava sentindo a urgência de começar a viver. Começar a viver minha verdadeira vida? Mesmo se fosse para ser pura máscara e não a minha vida absolutamente, ainda assim chegara o tempo em que eu devia dar a partida, devia arrastar meus pesados pés para a frente. [...] Por que as coisas eram tão erradas assim? As perguntas que eu me fazia desde menino um sem-número de vezes subiram novamente a meus lábios. Por que todos nós somos oprimidos pelo dever de destruir tudo, mudar tudo, confiar tudo à impermanência? É a esse dever desagradável que o mundo chama vida? Ou sou eu o único para quem isso é um dever? [...].
Trechos extraídos da obra Confissões de uma máscara (Companhia das Letras, 2004), do premiado escritor e dramaturgo japonês Yukio Mishima (1925-1970), contando sobre as experiências de um jovem que descobre sua homossexualidade e forçado a ocultar sua opção, reflete sobre as diferenças entre paixão e sexo.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974).
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: Paz (1961), do pintor mexicano David Alfaro Siqueiros (1896-1974)
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terça-feira, janeiro 03, 2017

CÍCERO, EMIL NOLDE, NIVIAN VELOSO, SENTIR & ENTENDER


COISAS DO SENTIR QUE NÃO SÃO PRA ENTENDER – Imagem: arte do pintor expressionista alemão Emil Nolde (1867-1956). - Há muito que meu coração espera: sonhos de ontem e que nem são de hoje, coisas que não sei amanhã. A espera de sempre, a esperar, esperança. Há muito que percorro trajetórias entre bifurcações e errâncias, nada que não tenha aprendizagens de muito e pouco, só o que valem na esperança. Na verdade esperava mesmo aquilo quase inalcançável e que não há correspondência direta com a realidade em que vivi. Não que sejam coisas de outro mundo, são anseios gigantescos, desejos tentaculares senão ubíquos. É como se buscasse metas não planejadas e dando passadas maiores que as pernas, querendo a mais do merecimento. Essas as ingênuas quimeras que ainda não havia superado na lente do meu discernimento. Dei de cara com a minha incompletude diante dos feitos humanos para ter a constatação de que vivia mais para chegar ao limite das potencialidades concretizáveis, das fronteiras do possível e, não logrando êxito na empreitada, tinha apenas à disposição desculpas para justificar a inércia. Quando fui ver no apurado mesmo, nenhum passo foi dado, nem um esforço despendido. De fato imaginei mais o que fazer do que propriamente executar. Teorizei muito, prática de menos. E entrava ano e saía ano, mais aumentando o rol das promessas jamais cumpridas, sequer levadas a sério ou a termo. Todo dia um recomeço, todo dia uma mudança de foco. Quando acertava na veia, logo surgia um óbice pro escanteio. Entrava no entusiasmo de hoje, sucumbia ao descaso do amanhã. Ah, não era bem aquilo mesmo que eu imaginava, queria outra coisa. E assim queria tudo quando nada é o que sabia do querer. Contudo, sei que posso ir além dos meus próprios limites e alcançar dimensões mais amplas. É só seguir adiante, perseguir o desconhecido, o insondável, enfrentando temores e enganos, discernindo por mim e de tudo. Entretanto, quando me vi fora da zona de conforto, bateu-me a impressão de que não me libertei ainda dos pólos opostos das carências humanas. Aí me arroguei a semideus que tudo pode e sabe, imaginando ter qualidades atribuídas que ainda não cultivo, ou com a ausência dos defeitos que possuo. A quem enganava a não ser a mim mesmo, ou quem mais chegasse, o que tornava mais complicado: de um, passavam a ser dois problemas. E se um só já era bastante difícil, avalie dois. De uma coisa eu sei: se quero ir adiante, jamais devo medir a minha vida pelo que já fiz ou consegui, mas por quanto ainda posso alcançar. Vou adiante, conhecendo a mim mesmo. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo o talento musical da cantora Nivian Veloso.

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Samira, a ruivinha sardenta, Yann Martel, Philippe Blasband, Cristina Braga, Tom Tykwer, Franka Potente, He Jiaying, August Macke, Hernani Donato, Interatividade na Ciberarte, Ana Bailune & Susie Cysneiros aqui.

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DESTAQUE: A TERRA & OS HOMENS, DA REPÚBLICA DE CÍCERO
[...] Porque os homens foram gerados com uma lei que hão de cumprir: a de cuidar daquele globo que vês no meio deste templo e que se chama Terra [...].
Trecho da obra Da República, do filósofo, orador, escritor, advogado e político romano Marco Túlio Cícero (106 – 43aC). Veja mais aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
 A arte do pintor expressionista alemão Emil Nolde (1867-1956).
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: 
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segunda-feira, janeiro 02, 2017

NIETZSCHE, SUZANNE VALADON, VAUGHAN WILLIAMS & FECAMEPA


DO QUE FOI PRO QUE É QUASE NADA - Primeiro a índia caeté, Iangaí, do Recife ao São Francisco, o reino alvoradinha. Depois o branco peró chegou no litoral impondo um deus que os protegia domesticando mameluco, para invadir a Mata Atlântica com sua alma assassina e ambição exploradora pelo agreste e sertão. Aos carões da força das armas e do dinheiro subjugaram tudo e trouxeram escravo o negro africano. Da metrópole todas as ordens pra colônia, os sabidos que prosperavam no gigante tratado por anão. Deu-se então a maior fodelança e nada mais que intrigas, traições, roubalheiras. Comprou-se caro o império de mentira até enraizar uma república de interesses escusos e chegar no século XX como o maior representante de bananas. Morenos engravatados assumiam currais longínquos em todas as localidades dos pontos cardeais, autoproclamando-se caciques dos destinos e salvadores dos seus bolsos e dos interesses públicos mais privados. A eles todo o poder sobre os fatos, a justiça, os recursos e a vida da mundiça servil de Maria-vai-com-as-outras. De fato, uma república de bananas e de pinóias que ostentava a sua democracia não cumprida e de fachada. Pilhérias pras manchetes, escândalos pras cucuias, conluios pra enganar os bestas. Não há quem identifique a bandeira de Castro Alves, muito menos o Fado Tropical ou as Querelas, porque sobram gatunildos e ladronácios pra fazer das ruas o esgoto geral. Do que foi pro que é, pense, é quase nada. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo o álbum The Lark Ascending (Decca, 1985), do compositor inglês Vaughan Williams (1872-1958), com Academy of St. Martin in the Fields and Iona Brown and Sir Neville Marriner.

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O Sol nasce para todos aqui.

E mais:
Dos dias, a mulher, Albert Einstein, Viktor Frankl, Henri Matisse, Gilberto Gil, Mark Twain, Milos Forman, Rita Guedes, Natalie Portman, Naoki Urasawa, Kátia Velo & Alfredo Rossetti aqui.
Cleópatra & Todo dia é dia da mulher aqui.
Gaia – Mãe Terra, Isaak Azimov, Caetano Veloso & Teresa Filósofa aqui.
Michel Foucault, A poesia dos deuses, Antropologia Jurídica, Educação Ambiental, Fecamepa & Psicologia Social aqui.
Os seios da mulher amada aqui.
Junichiro Tanizaki, Sandra Werneck, Louis Jean Baptiste Igout, Asha Bhosle, Heloisa Maria, Márcio Baraldi, Lucy Lee, Vilmar Lopes, Raimundo Fontenele, Internet & Inclusão, A mundialização da cultura & a Gestão do Capital Humano aqui.
A deusa Inanna & a mulher suméria, Poema em voz alta, Mallarmé, Paul Cézanne, Marquês de Sade, Pasolini, Karina Buhr, Maryam Namazie, Leroy Transfield, Frederico Barbosa, Olivia de Berardinis & Mozart Fernandes aqui.
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DESTAQUE: CONSIDERAÇÕES EXTEMPORÂNEAS DE NIETZSCHE
[...] A espécie humana, porem, é uma coisa tenaz e persistente, e não quer após milênios, nem mesmo após centenas de milhares de anos, ser observada em seus passos – para diante e para trás -, isto é, não quer, de modo nenhum, ser observada como um todo por esse pontinho de átomo infinitamente pequeno, o individuo humano. [....].
Trecho da obra Considerações extemporâneas (Abril, 1978), ), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arte da pintora francesa Suzanne Valadon (1867-1938).
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: 
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ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...