segunda-feira, abril 07, 2025

CLAUDIA PIÑEIRO, MERLINDA BOBIS, CAROL ROBINSON & OLEGÁRIO MARIANO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Amanhã Vai Ser Verão (Independente, 2018), da cantora, violonista e compositora Rosa Passos. Veja mais aqui.

 

O poema à beira do precipício... - Rabisquei o primeiro verso e o Sol dormia no Jardim das Hespérides. No fundo do meu olho a escuridão e uma maçã de ouro mostrou os descaminhos - minhas mãos queimavam pelo inefável: uma espera que se fez certeza entre dias quentes e noites acaloradas, parecia mais que queriam fazer deste lugar um imenso incinerador. O segundo verso intenso e já pulei de cabeça incontáveis vezes e de qualquer jeito: conhecia de cor as muitas funduras abissais, rastejando fora do curso com as escoriações de espatifar pelas pás de um imenso ventilador, atravessando corredores e pretextos - quem me via assim juntando o quebra-cabeça dos meus pedaços espalhados. O terceiro verso era o que já voltei atrás o tanto de quantas e me consumia com o decoro infame e as interrupções pelos conflitos, as reticências na casca ruindo - mudava de pele pela zilionésima vez, intervalos de guerra e não sabia a quem ou como pedir ajuda. Não conseguia jamais entender o que diziam de voltar ao normal, sei que despirei chacoalhado por palavras cheias de dáblius, ípsilones e kás de nomes alheios, sotaques e cacoetes, arrastado pelo bombardeio de profundas e enganosas ilusões, circunlóquios cruéis, delírios outros e ficaram as coisas nesse pé, chovendo canivetes no jogo infinito dos instantes, o desconforto dos desencontros, um segundo antes do disparo ensurdecedor e a mim mesmo repetindo teimosamente não mais voltar atrás jamais, exibindo o troféu das cicatrizes. O quarto verso era o núcleo da Terra parando - não sei quando tudo começou, só a duração da febre crepitando na vontade para onde aos solavancos e o embaraço de que nada deu certo nem modificou, tudo era não mais que uma nuvem e o vento nas folhas, a brisa no mormaço da sombra e eu em estado de graça remexendo nas ideias: o que seria dali em diante, qual porta alguém abriria, becos sem saídas, muros e paredes intermináveis, encruzilhadas de vielas na corrosão do tempo, erosão do espaço, afetos apodrecidos. Estava tonto e no quinto verso perdia a vergonha na cara entre vírgulas e esdruxulas exclamações - ninguém suspeitava meu segredo: a vida sentou-se ao meu lado, com um capacete de Sutton Hoo e às gargalhadas. Ao retirá-lo, pro meu espanto, fez uma linda careta risível, talvez me quisesse punir, como se fosse uma das mulheres que amei ao abandono. E contou uma piada: a lua evadiu-se e se perdeu pela órbita de marte, quem estava onde e olhava pras coisas sem dizer nada, a palma aberta das mãos e as linhas do meu próprio labirinto de quem já esteve lá, passou por todos os lugares, sempre às vésperas de partidas e já foi longe demais. Assim passaram-se muitos anos e o sexto verso quando deu liga, elos esgarçados. O quanto aprendia, nova lições no pau da venta e por entender entre outras tantas se revelavam e de novo reaprendia, outra vez, sempre ou quase. Era o sétimo verso e tudo passava, estava esborrando vertigens de ontens e uma sensação recorrente de fim, trocando pés e pernas trôpegas, os olhos fixados na distância do futuro: o que virá qualquer efeito nem terá sentido, um dia a hora agá e o poema da incompletude no novo verso interminável. Até mais ver.

 


Nnedi Okorafor: Nós choramos, soluçamos, choramos e sangramos lágrimas. Mas quando terminamos, tudo o que podíamos fazer era continuar vivendo... Veja mais aqui & aqui.

Dolores Huertai: Cada momento é uma oportunidade de organização, cada pessoa é um ativista em potencial, cada minuto é uma chance de mudar o mundo... Veja mais aqui & aqui.

Anne Lamott: A alegria é a melhor maquiagem... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

VIDA HOJE, MANILA, 1990

Imagem: Acervo ArtLAM.

eu amo muito lindamente hoje, \ como se amanhã eu fosse morrer. \ eu até amarro meu cabelo de penhasco em penhasco \ e convido dançarinos de corda bamba. \ Em sua primeira coleção de poesias com desenhos, Merlinda Bobis convida todos para rituais de ser, quebrar e ser novamente — cada instância é incorporada, indelével: \ ela não pode deixar ir; \ apenas leia minhas costas. \ eu sei — esta pele, \ esta memória de tartarugas.

Poema da escritora e acadêmica fiolipina-australiana Merlinda Bobis.

 

CATEDRAIS - [...] Porque a verdade que nos é negada dói até o último dia. [...] A morte exige resignação, a ausência não. [...] É de lá que viemos, onde cada palavra floresce ou dá frutos. [...] Uma pessoa ignorante com poder é uma fatalidade. [...] A maneira como nomeamos plantas, flores, frutas, usando a mesma linguagem, desenvolve nossa origem tanto ou mais do que qualquer melodia. Somos todos nós, de onde cada palavra floresce ou dá frutos. [...]. Trechos extraídos da obra Catedrales (Alfaguara, 2021), da escritora, roteirista e dramaturga argentina Claudia Piñeiro, que na obra Elena Knows (Charco Press, 2021), ela expressou que: [...] só se conhece algo quando se vive isso na vida, a vida é o nosso maior teste. [...] a vida vai nos testar. De verdade, não um ensaio geral. E naquele dia finalmente perceberemos que estamos sozinhos, forçados a nos encarar, sem mais mentiras para nos agarrarmos. [...] O que resta de você quando seu braço não consegue nem vestir uma jaqueta e sua perna não consegue nem dar um passo e seu pescoço não consegue se endireitar o suficiente para deixar você mostrar seu rosto para o mundo, o que resta? Você é seu cérebro, que continua enviando ordens que não serão seguidas? Ou você é o próprio pensamento, algo que não pode ser visto ou tocado além daquele órgão sulcado guardado dentro do crânio como um tesouro? [...]. Na obra Una suerte pequena (Alfaguara, 2015), ela expressa que: [...] Talvez a felicidade seja isso, um momento para se viver, qualquer momento, não um momento em que as palavras são desnecessárias porque seriam necessárias muitas para descrevê-lo. Ouse aceitá-lo em sua condensação, sem permitir que eles, em sua própria maneira de narrar, façam você perceber sua intensidade. [...] Eu acho que uma pessoa que tem que depender da gentileza de estranhos deve estar sozinha no mundo. Mesmo que esteja cercada de pessoas. [...] Mas o suicídio é um tipo muito particular de morte que tem repercussões para aqueles que ficam para trás. É uma morte dedicada a eles – mesmo que não fosse para ser – que os faz sentir responsáveis ​​por não terem percebido o que estava prestes a acontecer, por não terem feito nada para impedir. [...]. Já na obra Um comunista em calzoncillos (Alfaguara, 2013), ela expressa que: [...] A vida é uma sucessão de atos miseráveis interrompidos por alguns pequenos atos heroicos, e é na média de todos eles que conseguimos nos sentir dignos. Onde queremos que pelo menos uma testemunha saiba que somos dignos. Mesmo que não estejamos. [...]. Enquanto noutra obra Betibú (Verus, 2014), ela considera que: [...] Solidão é um estado interior que você pode praticar, mesmo quando estiver com outras pessoas, acredite. [...] Só um solitário é capaz de estar ao lado de outro sem sentir a necessidade, a obrigação e o direito de possuí-lo ou de trocá-lo. [...] Ser um solitário é algo constitutivo, uma forma de ser, algo que não pode mudar com o passo do tempo nem com o que se enche a casa de gente. [...]. Por fim, no seu livro Las viúvas de los jueves (Alfaguara, 2009), ela expressa que: [...] Fiquei surpresa com a complementaridade que mantivemos apesar de não entendermos por que ainda estávamos juntos. Funcionamos como se tivéssemos perdido um ao outro ou que tivéssemos substituído um ao outro, exceto pela distribuição meticulosa e tácita de pais e tarefas que continuamos a apoiar ou que tínhamos organizado com mais disposição do que com qualquer outra paz ou sentimento. [...].

 

MULHER, CIÊNCIA & FAMÍLIA – [...] Acho que o ambiente pode ser desanimador para muitas mulheres e isso é uma grande vergonha. Não precisa ser assim. Não acredito que você tenha que trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana para ser cientista. Você pode estar pensando sobre ciência enquanto estiver fora do laboratório. Muitas vezes tenho minhas melhores ideias enquanto corro pelos parques da universidade. A cultura das longas horas de trabalho entra em conflito com a vida familiar e com a vida em geral e, na minha opinião, esse é o maior obstáculo percebido pelas mulheres, mas uma carreira em ciências é tremendamente gratificante e emocionante - as mulheres não devem se deixar intimidar por essas percepções. Na minha carreira, me beneficiei enormemente de uma boa mentoria e sinto que isso é uma parte importante para fazer com que as mulheres permaneçam e progridam na ciência. Mais programas existem agora para lidar com isso, mas ainda há muito mais que podemos fazer. [...] Equilibrar família e carreira foi meu maior desafio. Inicialmente, resolvi isso desistindo da minha carreira científica por oito anos; depois, consegui encontrar o equilíbrio certo entre as duas coisas que mais importavam para mim. Eu fazia isso trabalhando nas primeiras horas da manhã, mas era difícil quando as crianças eram pequenas e eu tinha que viajar para o exterior para conferências e reuniões de colaboração. Eu sentia muita falta delas enquanto estava fora. Mas eu sabia o quanto era importante divulgar meu trabalho e torná-lo conhecido no circuito internacional. Eu só tinha que seguir em frente. [...]. Trechos da entrevista Women in science: an interview with Professor Dame Carol Robinson, University of Oxford (News-Medical Life Sciences, 2015), concedida pela cientista e professora inglesa Carol Vivien Robinson (Carol Bradley), que foi presidente da Royal Society of Chemistry e lidera o grupo de pesquisa no Laboratório de Química Física e Teórica da Universidade de Oxford.

 

TODA UMA VIDA DE POESIA

Hoje esquecendo ingratidões mesquinhas \ alimento a ilusão de que essas rosas \ ao menos essas rosas, sejam minhas...

Trecho do poema O enamorado das rosas, extraído da obra Toda uma vida de poesia (2 vols - José Olympio, 1957), do poeta e diplomata Olegário Mariano (1889-1958), primo do poeta Manuel Bandeira (1886-1968). Veja mais aqui & aqui.

 

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terça-feira, abril 01, 2025

GLÓRIA STEINEM, MIN JIN LEE, LINDA SUE PARK & LADY TEMPESTADE

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Apimentada (2018) e Nossa Melhor Visão de Mundo (2023), da compositora, pianista e professora Deborah Levy, como parte de um olhar sensível ao processo da humanidade no momento difícil da pandemia, baseado numa visão holística da artista que provoca, por meio da música, a reflexão sobre uma nova visão de mundo. Ela é Bacharel em Música Popular Brasileira - Arranjo Musical na UNIRIO em 2005 e completou o Mestrado na mesma instituição em 2016, com a dissertação O Brazilian Jazz no eixo Rio-São Paulo na década de 1980.

 

Manguaba & o outro lado da existência... - Lugaroutro, mais um dia, nada demais, parecia. Não fosse a margem da lagoa o espetáculo, as águas transbordariam por meus olhos, peito inchado além das vontades e fruindo dos diferentes lugares e instantes dali. Na verdade, me sentia como se renascesse em cada momento, do tamanho de tudo que via: o universo unânime e todas as coisas imortais, o repertório da diversidade da causa primordial e na tarde crepuscular o amanhecer do dia se realizasse imorredouro – e fechasse os olhos para apreender o infinito, livre do que seria a morte e de qualquer lembrança. Dei-me a oportunidade de reviver ali a estadia na Ilha do Sol, com os fios de ouro dos dias estivais e a dançarina Dora de Cachoeiro do Itapemirim era Luz del Fuego, mãos e pernas no alvoroço da vida à flor d’água da Manguaba. Aquilo durava pouco, mas deixava marcas perenes. Por certo não haveria aquela quarta-feira de 19 de julho, muito menos a atroz vingança usurpando todas as margens de erro e ela não teria sido violentada e, seu corpo amarrado pelas pedras, jamais seria lançado ao mar para ser encontrado só dias depois. Jamais aconteceria e, no lugar de sua dança, uma fonte milagrosa brotaria para lavar as heresias civilizatórias e eu escaparia do presente inapreensível no simultâneo desconhecido, das sucessões de golpes inquisitoriais, da direção das vãs incertezas: a vida não se renderia coagida aos silêncios e olhares graves. As horas não seriam agora os que já foram, nem me perderia vencido pela tentação dos fins sinistros da vontade cega - quem à luz da razão enxergasse a hipocrisia e a loucura, o sacrifício de sobreviver aos flagelos mais imprevisíveis, aos disfarces de altruísmo pela dissonância cognitiva geral. Tudo era mais que impensável e poderia sorrir jeito que fosse, até por teimosia, a provar do que melhor ou pior entre a sabedoria e a insensatez. Quem perderia tempo, cada escolha não seria em detrimento de outras alternativas disponíveis. Afinal, a ausência de erros não confirmaria quaisquer acertos, porque até os clamorosos passavam, o difícil era ter de superá-los e distingui-los entre hediondos e fúteis. Quem proscrito suspenso no quase, emoções represadas, sentimentos rasurados, fronteiras borradas, teria a coragem de enfrentar o que o cimento escondia, valendo-se de buracos nas paredes e muros, sem que precisasse aquilatar do ínfimo ou sintomático, ou do sucessivo na analogia do infiel. Viver é acordar dum sonho à beira do abismo. E viva! Até mais ver.

 

Malika Oufkir: Cada dia é um milagre que me intoxica. Eu quero mais. Saúdo cada manhã como um novo prazer. E ainda assim estou profundamente ciente de todos os artifícios da vida... Veja mais aqui & aqui.

Han Kang: Estou lutando sozinha, todos os dias. Luto com o inferno que sobrevivi. Luto com o fato da minha própria humanidade. Luto com a ideia de que a morte é a única maneira de escapar desse fato... Veja mais aqui & aqui.

Camille Paglia: Regra da arte: a hipocrisia mata a criatividade!... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

NENHUM OUTRO LUGAR PARA IR

Imagem: Acervo ArtLAM.

Apague as luzes. \ Use outra camada. \ (Parece um pai.) \ (Parece uma mãe.) \ Você diz "de segunda mão". \ Eu digo retrô. \ Andar. \ Bicicleta. \ Ande um pouco mais. \ Reciclar. \ (Veja o que eu fiz lá, \ bicicleta—reciclar?) \ Seu nome em Sharpie \ em uma boa garrafa de água. \ Mochila. Novos hábitos. \ Não, obrigado, não preciso de uma bolsa. \ O que mais. \ Oh sim. \ Conte a dez amigos \ quem pode contar a dez amigos \ quem pode contar a dez amigos... \ Faça barulho suficiente, \ talvez os adultos \ finalmente ouvirão \ o grito no título.

Poema da escritora estadunidense Linda Sue Park. Veja mais aqui & aqui.

 

A VIDA & O VIVER – [...] Viver todos os dias na presença daqueles que se recusam a reconhecer sua humanidade exige muita coragem. [...] Você quer ver um homem muito mau? Faça um homem comum ter sucesso além da imaginação. Vamos ver o quão bom ele é quando pode fazer o que quiser. [...] A história falhou conosco, mas não importa. [...] Ninguém é limpo. Viver te deixa sujo. [...] O destino de uma mulher é sofrer. [...] A vida faz você pagar...todo mundo paga alguma coisa [...]. Trechos extraídos da obra Pachinko (Intrínseca, 2020), da escritora e jornalista coreana Min Jin Lee.

 

MINHA VIDA NA ESTRADA - [...] Eu mesma chorava quando ficava com raiva, então me tornei incapaz de explicar por que estava com raiva em primeiro lugar. Mais tarde, eu descobriria que isso era endêmico entre seres humanos do sexo feminino. A raiva é supostamente "não feminina", então a reprimimos - até que ela transborde. Eu podia ver que não falar fazia minha mãe se sentir pior. Esta foi minha primeira dica do truísmo de que a depressão é a raiva voltada para dentro; portanto, as mulheres têm duas vezes mais probabilidade de ficar deprimidas. Minha mãe pagou um alto preço por se importar tanto, mas ser capaz de fazer tão pouco sobre isso. Dessa forma, ela me levou a um lugar ativista onde ela mesma nunca poderia ir. [...] Às vezes penso que a única divisão real em dois é entre as pessoas que dividem tudo em dois e aquelas que não o fazem. [...] Quando os humanos são classificados em vez de vinculados, todos perdem. [...] O riso é um resgate [...]. Trechos extraídos da obra My Life on the Road (Random House, 2016), da escritora, jornalista e ativista estadunidense Glória Steinem, que no prefácio da obra The Vagina Monologues (Virago, 2001), de Eve Ensler, expressou que: [...] Não é de se admirar que os líderes religiosos masculinos digam com tanta frequência que os humanos nasceram em pecado — porque nascemos de criaturas femininas. Somente obedecendo às regras do patriarcado podemos renascer por meio dos homens. Não é de se admirar que padres e ministros de saias borrifem fluido de parto de imitação sobre nossas cabeças, nos dêem novos nomes e prometam o renascimento para a vida eterna. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

O DIÁRIO DE LADY TEMPESTADE

[...] Deixou claro que só poderei engravidar se deixar de advogar. Meu estado emocional perturba o metabolismo. É por demais cômico, luto pelos filhos dos outros, entram em minha vida, amarguram-me a existência e ainda me privam de ter filhos. [...] Em 1965, recebi um telefonema avisando-me que havia uma ordem de prisão contra mim. Quando desliguei bateram na porta, era a polícia. Abri e disse: vou me trocar. Sentaram-se na sala. No quarto fiz um bilhete para Dona Pepe, mãe de Ivo Valença, coloquei-o numa garrafa, e desci pela varanda recomendando meu filho recém-nascido. Tirei os lençóis do berço, para evitar que meu bebê sufocasse. Fui mais uma vez conduzida para a Secretaria de Segurança Pública. [...].

Trechos extraídos da obra Diários 1973-74 escritos por Mércia Albuquerque Ferreira (Potiguariana, 2023), da advogada Mércia Albuquerque Ferreira (1934-2033), organizado por Roberto Monte e conta que, em 1964, ao testemunhar a tortura pública do líder Gregório Bezerra nas ruas do Recife, decidiu dedicar-se à defesa de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985), sendo reconhecida como a maior advogada nordestina de presos políticos, ao atuar em aproximadamente 500 casos, defendendo indivíduos perseguidos pelo regime militar. Por conta disso enfrentou riscos significativos e foi presa diversas vezes. Após falecer seu acervo, composto por diários, cartas e documentos jurídicos, foi doado ao Centro de Direitos Humanos e Memória Popular (CDHMP), no Rio Grande do Norte. A obra inspirou o monólogo Lady Tempestade (2024), solo da atriz Andréa Beltrão, dirigido por Yara Novaes e roteiro da dramaturga Silvia Gomez, em cartaz no Teatro Poeira, São Paulo: Mércia dizia que era uma contadora de histórias de pessoas que reconstruíram a liberdade. Eu sou uma contadora de histórias. Eu acredito que contar histórias é uma maneira amorosa de pensarmos juntos no nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Contar histórias amorosamente, para nunca esquecer. Para tentarmos responder às perguntas que nos fazemos aqui e agora... Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

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