Ao som do álbum Amanhã
Vai Ser Verão (Independente, 2018),
da cantora, violonista e compositora Rosa
Passos. Veja mais aqui.
O poema à beira do
precipício... - Rabisquei o primeiro verso e o Sol dormia no
Jardim das Hespérides. No fundo do meu olho a escuridão e uma maçã de ouro
mostrou os descaminhos - minhas mãos queimavam pelo inefável: uma espera que se
fez certeza entre dias quentes e noites acaloradas, parecia mais que queriam
fazer deste lugar um imenso incinerador. O segundo verso intenso e já pulei de
cabeça incontáveis vezes e de qualquer jeito: conhecia de cor as muitas
funduras abissais, rastejando fora do curso com as escoriações de espatifar
pelas pás de um imenso ventilador, atravessando corredores e pretextos - quem
me via assim juntando o quebra-cabeça dos meus pedaços espalhados. O terceiro
verso era o que já voltei atrás o tanto de quantas e me consumia com o decoro
infame e as interrupções pelos conflitos, as reticências na casca ruindo -
mudava de pele pela zilionésima vez, intervalos de guerra e não sabia a quem ou
como pedir ajuda. Não conseguia jamais entender o que diziam de voltar ao
normal, sei que despirei chacoalhado por palavras cheias de dáblius, ípsilones
e kás de nomes alheios, sotaques e cacoetes, arrastado pelo bombardeio de
profundas e enganosas ilusões, circunlóquios cruéis, delírios outros e ficaram
as coisas nesse pé, chovendo canivetes no jogo infinito dos instantes, o
desconforto dos desencontros, um segundo antes do disparo ensurdecedor e a mim
mesmo repetindo teimosamente não mais voltar atrás jamais, exibindo o troféu
das cicatrizes. O quarto verso era o núcleo da Terra parando - não sei quando
tudo começou, só a duração da febre crepitando na vontade para onde aos
solavancos e o embaraço de que nada deu certo nem modificou, tudo era não mais
que uma nuvem e o vento nas folhas, a brisa no mormaço da sombra e eu em estado
de graça remexendo nas ideias: o que seria dali em diante, qual porta alguém
abriria, becos sem saídas, muros e paredes intermináveis, encruzilhadas de
vielas na corrosão do tempo, erosão do espaço, afetos apodrecidos. Estava tonto
e no quinto verso perdia a vergonha na cara entre vírgulas e esdruxulas exclamações
- ninguém suspeitava meu segredo: a vida sentou-se ao meu lado, com um capacete
de Sutton Hoo e às gargalhadas. Ao retirá-lo, pro meu espanto, fez uma linda careta
risível, talvez me quisesse punir, como se fosse uma das mulheres que amei ao
abandono. E contou uma piada: a lua evadiu-se e se perdeu pela órbita de marte,
quem estava onde e olhava pras coisas sem dizer nada, a palma aberta das mãos e
as linhas do meu próprio labirinto de quem já esteve lá, passou por todos os
lugares, sempre às vésperas de partidas e já foi longe demais. Assim passaram-se
muitos anos e o sexto verso quando deu liga, elos esgarçados. O quanto aprendia,
nova lições no pau da venta e por entender entre outras tantas se revelavam e
de novo reaprendia, outra vez, sempre ou quase. Era o sétimo verso e tudo passava,
estava esborrando vertigens de ontens e uma sensação recorrente de fim, trocando
pés e pernas trôpegas, os olhos fixados na distância do futuro: o que virá qualquer
efeito nem terá sentido, um dia a hora agá e o poema da incompletude no novo
verso interminável. Até mais ver.
Nnedi Okorafor: Nós choramos, soluçamos, choramos e sangramos lágrimas. Mas quando terminamos, tudo o que podíamos fazer era continuar vivendo... Veja mais aqui & aqui.
Dolores Huertai:
Cada momento é uma oportunidade de organização, cada pessoa é um ativista em
potencial, cada minuto é uma chance de mudar o mundo... Veja mais aqui
& aqui.
Anne Lamott: A
alegria é a melhor maquiagem... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
VIDA HOJE, MANILA, 1990
Imagem: Acervo ArtLAM.
eu amo muito lindamente
hoje, \ como se amanhã eu fosse morrer. \ eu até amarro meu cabelo de penhasco
em penhasco \ e convido dançarinos de corda bamba. \ Em sua primeira coleção de
poesias com desenhos, Merlinda Bobis convida todos para rituais de ser, quebrar
e ser novamente — cada instância é incorporada, indelével: \ ela não pode
deixar ir; \ apenas leia minhas costas. \ eu sei — esta pele, \ esta memória de
tartarugas.
Poema da escritora e acadêmica
fiolipina-australiana Merlinda Bobis.
CATEDRAIS - [...] Porque a verdade que nos é negada dói até o último dia. [...] A morte exige resignação, a ausência não. [...] É de lá que viemos, onde cada palavra floresce ou dá frutos. [...] Uma pessoa ignorante com poder é uma fatalidade. [...] A maneira como nomeamos plantas, flores, frutas, usando a mesma linguagem, desenvolve nossa origem tanto ou mais do que qualquer melodia. Somos todos nós, de onde cada palavra floresce ou dá frutos. [...]. Trechos extraídos da obra Catedrales (Alfaguara, 2021), da escritora, roteirista e dramaturga argentina Claudia Piñeiro, que na obra Elena Knows (Charco Press, 2021), ela expressou que: [...] só se conhece algo quando se vive isso na vida, a vida é o nosso maior teste. [...] a vida vai nos testar. De verdade, não um ensaio geral. E naquele dia finalmente perceberemos que estamos sozinhos, forçados a nos encarar, sem mais mentiras para nos agarrarmos. [...] O que resta de você quando seu braço não consegue nem vestir uma jaqueta e sua perna não consegue nem dar um passo e seu pescoço não consegue se endireitar o suficiente para deixar você mostrar seu rosto para o mundo, o que resta? Você é seu cérebro, que continua enviando ordens que não serão seguidas? Ou você é o próprio pensamento, algo que não pode ser visto ou tocado além daquele órgão sulcado guardado dentro do crânio como um tesouro? [...]. Na obra Una suerte pequena (Alfaguara, 2015), ela expressa que: [...] Talvez a felicidade seja isso, um momento para se viver, qualquer momento, não um momento em que as palavras são desnecessárias porque seriam necessárias muitas para descrevê-lo. Ouse aceitá-lo em sua condensação, sem permitir que eles, em sua própria maneira de narrar, façam você perceber sua intensidade. [...] Eu acho que uma pessoa que tem que depender da gentileza de estranhos deve estar sozinha no mundo. Mesmo que esteja cercada de pessoas. [...] Mas o suicídio é um tipo muito particular de morte que tem repercussões para aqueles que ficam para trás. É uma morte dedicada a eles – mesmo que não fosse para ser – que os faz sentir responsáveis por não terem percebido o que estava prestes a acontecer, por não terem feito nada para impedir. [...]. Já na obra Um comunista em calzoncillos (Alfaguara, 2013), ela expressa que: [...] A vida é uma sucessão de atos miseráveis interrompidos por alguns pequenos atos heroicos, e é na média de todos eles que conseguimos nos sentir dignos. Onde queremos que pelo menos uma testemunha saiba que somos dignos. Mesmo que não estejamos. [...]. Enquanto noutra obra Betibú (Verus, 2014), ela considera que: [...] Solidão é um estado interior que você pode praticar, mesmo quando estiver com outras pessoas, acredite. [...] Só um solitário é capaz de estar ao lado de outro sem sentir a necessidade, a obrigação e o direito de possuí-lo ou de trocá-lo. [...] Ser um solitário é algo constitutivo, uma forma de ser, algo que não pode mudar com o passo do tempo nem com o que se enche a casa de gente. [...]. Por fim, no seu livro Las viúvas de los jueves (Alfaguara, 2009), ela expressa que: [...] Fiquei surpresa com a complementaridade que mantivemos apesar de não entendermos por que ainda estávamos juntos. Funcionamos como se tivéssemos perdido um ao outro ou que tivéssemos substituído um ao outro, exceto pela distribuição meticulosa e tácita de pais e tarefas que continuamos a apoiar ou que tínhamos organizado com mais disposição do que com qualquer outra paz ou sentimento. [...].
MULHER, CIÊNCIA &
FAMÍLIA – [...] Acho
que o ambiente pode ser desanimador para muitas mulheres e isso é uma grande
vergonha. Não precisa ser assim. Não acredito que você tenha que trabalhar 24
horas por dia, 7 dias por semana para ser cientista. Você
pode estar pensando sobre ciência enquanto estiver fora do laboratório. Muitas
vezes tenho minhas melhores ideias enquanto corro pelos parques da
universidade. A cultura das longas horas de trabalho entra em conflito com a
vida familiar e com a vida em geral e, na minha opinião, esse é o maior
obstáculo percebido pelas mulheres, mas uma carreira em ciências é
tremendamente gratificante e emocionante - as mulheres não devem se deixar
intimidar por essas percepções. Na minha carreira, me beneficiei enormemente de
uma boa mentoria e sinto que isso é uma parte importante para fazer com que as
mulheres permaneçam e progridam na ciência. Mais programas existem agora para
lidar com isso, mas ainda há muito mais que podemos fazer.
[...] Equilibrar família e carreira foi meu maior
desafio. Inicialmente, resolvi isso desistindo da minha carreira científica por
oito anos; depois, consegui encontrar o equilíbrio certo entre as duas coisas
que mais importavam para mim. Eu fazia isso trabalhando nas primeiras horas da
manhã, mas era difícil quando as crianças eram pequenas e eu tinha que viajar
para o exterior para conferências e reuniões de colaboração. Eu sentia muita
falta delas enquanto estava fora. Mas eu sabia o quanto era importante divulgar
meu trabalho e torná-lo conhecido no circuito internacional. Eu só tinha que
seguir em frente. [...]. Trechos da entrevista Women in science: an interview with Professor Dame Carol
Robinson, University of Oxford (News-Medical
Life Sciences, 2015), concedida pela cientista e professora inglesa Carol
Vivien Robinson (Carol Bradley), que foi presidente da Royal Society
of Chemistry e lidera o grupo de pesquisa no Laboratório de Química Física e
Teórica da Universidade de Oxford.
TODA
UMA VIDA DE POESIA
Hoje esquecendo
ingratidões mesquinhas \ alimento a ilusão de que essas rosas \ ao menos essas
rosas, sejam minhas...
Trecho do poema O
enamorado das rosas, extraído da obra Toda uma vida de
poesia (2 vols - José
Olympio, 1957), do poeta e diplomata Olegário Mariano (1889-1958),
primo do poeta Manuel Bandeira (1886-1968). Veja mais aqui & aqui.
ITINERARTE
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Veja mais sobre MJ
Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.
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