sexta-feira, maio 31, 2019

RAINER MARIA RILKE, JESSIER QUIRINO, ELKE KRYSTUFEK, ROBERTO CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE & MARIA JOÃOZINHO


MARIA JOÃOZINHO – Eita, mulher virada na breca! Era a filha do Barão, a Maria Joãozinho, um homem escritinho, só faltava o bregueço no meio das pernas. O resto ela tinha: pisada firme, nariz empinado, jeitão de mandona. Era gente-boa, falava com todo mundo. E brincava, tirando onda para cima dos marmanjos e destemidos. Na quebra-de-braço, não perdia uma, por bem ou por mal, facilitasse ou não, deixava a cabroeira toda de farol baixo. Respeite a pontaria, era de botar pra trás atirador profissional. Um revólver no coldre, um punhal na bainha dos quartos, brincasse não, o carão comia no centro. Mulher valente, avexada. Montava de tudo, até bicho brabo ela domava. Só chegava num puro sangue, cada dia um diferente. Gostava de cavalgar mesmo num que era tão branco e grandão, que chega a brancura brilhava de doer nos olhos da gente. Logo zarpava, às carreiras com suas urgências. Se demorasse um pouquinho que fosse, soltava lorota, contava piada, virava o copo, enchia o tampo e ninguém nunca a viu bêbada caindo, quem arriava era a macharia pelos cantos, tudo engrolando a língua e trocando as pernas. Mandava, desmandava, brigava de deixar lutadores com a bunda no chão. Enfrentava tempo ruim, tangia a manada, guiava de dar cavalo-de-pau em rua estreitinha e, para acabar, ainda saía num jipe de banda, empinando só em duas rodas. Sabia de tudo: ganhava no carteado, xeque-mate no xadrez, dava tacada na sinuca de ninguém pegar no taco para uma jogada sequer. No futebol, dava drible e toque de arrodeio de deixar beque e zagueiros tudo zonzos, sacando golaço por cobertura depois de um banho de cuia no goleiro. Aquilo que era mulher-macho, fumava que só uma caipora e era achegada a uns braquearos de ficar com os olhos tudo arreados. E era bonita, a danada. Beldade de se ver. Nas presepadas dela, vez em quando dava pra ver um lance dos peitinhos miúdos soltos dentro da blusa de alça querendo pular fora, eita, coisa mais linda de se ver. Era cada decote, camisas desabotoadas, um espetáculo! Chega arrepiava de tão desejante. Pense nuns peitos lindos que tinha aquela mulher. Ah, quando ela se alvoroçava, dava mesmo pra ver a calcinha estufada com os guardados dela embaixo da saia. Dava o maior tumulto na rapaziada. Muitos corriam pros esconderijos, rendiam homenagens a fole. Pense num desmantelo! Era cada tora de coxa, vixe! Deixava os lambaios tudo desassossegados. Pernuda, chega as batatas das pernas roliças, dentro das botas, chamarem atenção dos fuleiros. Era uma branquela bonita mesmo, sem frescura, arrochada, apetitosa, tipo capa de revista. Chamava a gente tudo de chapa: Ô chapa, passaí a meiota. Bebia no gargalo, de um gole só, nem fazia careta. Limpava a boca com as costas do braço, ô beiços pidões, cangula, bons mesmo de beijar. E quem era doido? Era chá de cadeia. Pior: era encarar o bico da espingarda no meio dos olhos. Um tiro só, teibei. Lona. Um ou outro apelava e ela, macha toda, botava o atrevido no lugar. Ah, mas um dia lá, ela engraçou-se pras bandas dum crioulo dobrado que era vigilante dum banco. Foi um escândalo. O cara era parrudo, mas não dava meio caldo perto dela. A bicha era danada, casal café com leite. O sujeito comeu arrolhado e arroiado, quase se vira em dois para dar conta do fogo daquela. Ô mulher fogosa. Ela dizia que queria se perder no meio de uma seleção de futebol dessas da Nigéria, Camarão ou de um desses países africanos, cada pintudo! Ela lá no meio deles. Só se enganchava com musculosos, eles que se viam na volta dela. Braba que só uma capota choca. E eles só calados, cabeça baixa, ouvindo os desaforos dela. Deixou muitos deles de coração partido, desajuizados. Afora os casados, noivos e solteiros que endoidaram de andar atrás dela e ela nem aí, só na cotovelada e virada de queixo pro lado. Danou-se no mundo da gente nunca mais vê-la. Dizem que se casou mais de vinte vezes, deixando os maridos tudo atrapalhado. É, se não desse conta, era duas de quinhentos na hora! Aquela era uma danada de carteirinha. Homem bem soubesse só queria dela amizade; compromisso sério, vôte, só pra quem tem coragem de mamar em onça e das furiosas. Pense numa bronca! Só pra quem quer ver a morte de perto! Bote fé. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
Até que ponto atos como transgredir as leis, praticar a corrupção, afrontar a moral pública são atributos comuns apenas aos homens públicos (“os eleitos”), sobre serem socialmente reprovados? Até onde são condutas comuns a quase todos (“os eleitores”), além de socialmente cometidas? [...] Talvez um pouco de tudo isso, mas sem que se deva enxergar próxima, em todas as suas cores, uma tragédia social. De um lado, porque o brasileiro ainda demonstra saber distinguir, em seu pensar, o certo do errado. Ele está, porém, cansado de ver que as leis não são cumpridas; que a Justiça, quase sempre tardia, sujeita-se a interesses pessoais e parcialidades políticas; e que o Estado nega-lhe acesso suficiente à saúde, à educação, à segurança ao tempo em que lhe impõe insuportável ônus fiscal. Esse estado de coisas precisa mudar rapidamente. De outro lado, parece estar cedendo o umbral a partir do qual vai ampliando, num crescendo, a tolerância social, inclusive a atos e condutas formalmente incriminados: ao pequeno suborno, à sonegação eventual. Como persiste resistindo uma certa indefinição entre o público e o privado por onde se imiscuem, sancionados socialmente, o nepotismo e outras formas de apropriação pessoal e familiar do Estado. São processos que devem ser estancados e pacientemente revertidos. Mais complicado será receitar o que se deve objetivamente fazer para combater a complacência dos mais “educados” (isto é, de mais anos de estudo) e dos mais jovens (acaso imaturos?) a comportamentos ilegais ou eticamente reprovados.
Trechos de Corrupção, ética e sociedade, extraídos da obra Antes tempos depois: pequenos ensaios (José Olympio, 2007), do advogado e economista Roberto Cavalcanti de Albuquerque. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A POESIA DE JESSIER QUIRINO
POLITICAGEM: A tal da politicagem / é o acento circunflexo / da palavrinha cocô... / é feito brigar com gambá / pois mesmo o cabra ganhando / sai arranhado e fedendo. / É dirigir dando ré / o cabra tem três espelhos / e ainda olha pra trás. / E pode prestar atenção: / na boca do candidato / é o mesmo Mané Luiz: / TRABALHO E HONESTIDADE / TRABALHO E HONESTIDADE / por quê? Porque o povo gosta de mentira! / Seu manezinho Boleiro / suplente de Merda-Viva / foi dar uma de sincero / dizendo o que pretendia: / trabalhar de terça à quinta-feira / e roubar só o normal... / Teve uma queda de votação tão pra baixo / que até inda é suplente.
COISAS QUE A NATUREZA ARRUPINA: Se o urubu cheirar perfume / morre de porre cheiroso / se o bode for pro chuveiro / morre de banho espumoso / se o oceano fosse insosso / eu insossava o bacalhau / botava insosso na bolacha / sofria de pressão baixa / era a vida aquele sal.
VIVER ASSIM É DE MORTE: Os tiros ao alvo e outro ao escuro / do policial que não policia / mataram meninos José e Maria / de tombo bi-tombo tri-tombo e hiato / sapatos sem pés e pés sem sapatos / favelas lotadas de becos pendentes / humano inumano rangendo seus dentes / travando batalha com a culpa maldada / justiça que medra, que merda, que nada / que planta maldade chumbando as sementes.
Poemas recolhidos do livro Bandeira nordestina (Bagaço, 2006), do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ELKE KRYSTUFEK
Acho que a arte é como um orgasmo, mas se o sexo for aborrecido, não quero fazê-lo. Estou vivendo a vida que você nunca ousará viver.
A arte da artista conceitual austríaca Elke Silvia Krystufek que trabalha em variadas mídias, incluindo pintura, escultura, vídeo, fotografia, colagens & performance art. Veja mais aqui e aqui.

A OBRA DE RAINER MARIA RILKE
Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores / que se estendem sobre as coisas. / Talvez não possa acabar o último, / mas quero tentar.
A obra do poeta alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


quinta-feira, maio 30, 2019

JULIO CORTÁZAR, ESCOLA DE FRANKFURT, RUY JOBIM NETO, MARI KATAYAMA & O FANTASMA DO BARÃO


O FANTASMA DO BARÃO - Quando o Barão deu as caras por essas bandas, Alagoinhanduba ainda nem existia, era mesmo um povoado sem nome de gente desvalida. Aquele homem abusado com charuto no bico às baforadas, escanhoado de todos os vincos e impetuoso de ostentação, ia para tudo quanto é canto acompanhado de brutamontes e tratando tudo que encontrasse pela frente como se fosse um insulto. O séquito dele tinha mais gente que todos os moradores dali. Tanto é que o cortejo invadiu, de logo se apropriar de toda a redondeza. Pelo visto, primava pela decoração e a primeira ordem dele foi transferir tudo pro outro lado do rio. Daí, começaram a construir uma ponte para poder atravessar todo seu mando e poderio. Do lado de lá, dias intermináveis de obras: um castelo, uma capela de um lado e um galpão enorme do outro da residência, jardins arrodeando tudo, cercados e cocheiras, canavial e pastagens, um labirinto de passagens e muitas coisas trazidas, isso aos montes. O povo dali já se acostumara a ficar na beirada de cá do rio, assistindo a tudo, nada para fazer além disso, só de ver o Barão cagando raios para todo lado. Um ou outro aproveitado para mão-de-obra, escravaria braba. Trastejasse ou vacilasse na tarefa, o gogó era torado na hora, inexoravelmente. Passou-se a primeira primavera, depois o verão, chegou o outono e o inverno mandou ver de quase a enchente destruir tudo e mudar os planos para subirem o morro com as construções. O Barão arengava com os ventos, as nuvens, os dias, as noites, as estações, o rio e tudo que lhe aparecesse pela frente. Sacava da espada empunhada na mão esquerda numa luta invisível, ameaçando disparar a garrucha carregada na mão direita, desafiando até o sol, a lua e as estrelas, quem mais ousasse. A construção estava indo bem e, quase pronta, deu de aparecer mais gente: madames, meninada, familiares e serviçais, tudo uns branquelos cheios dos requintes, escoltados por uma ruma de capatazes tudo fortemente armado. Depois de atravessar a gente toda e uma tuia de catrevagem que ninguém tinha nem visto, o Barão chegou do lado da ponte e gritou: Quem inventar de atravessar pro lado de cá, vai morrer crivado de bala, comboio de desgraça! Ouçam bem, estão avisados! A ordem é para matar quem ouse atravessar essa ponte! Assim foi. Com o passar dos anos, o homem bafejava: Isso aqui vai se chamar Alagoinhanduba! Pronto, o lugar estava batizado. E cresceu a olhos vistos. Tudo girava em torno do Barão, gente que vinha dos estrangeiros, autoridades federais, políticos das lonjuras do fim de mundo, ricaços poderosos com seus cheleleus estibados, tudo gente granfina que botaram catinga em bosta e nem fediam, tudo perfumado pelas melhores fragrâncias do outro mundo dos longes. Tudo uns engravatados, chatosos e impecáveis. Vez ou outra ouvia duns pipocos: era um desavisado que caía na esparrela, enterrado ali mesmo. Era cada rojão, mais parecia São João o tempo todo. Afinal, o homem era a lei e a ordem por estas paragens. Não fosse com a cara do sujeito, aquele estava lascado do primeiro ao quinto, fritinho da silva. Questão de minutos, tudo arranjado. Ninguém se lembrava mais, outra já sucedia encobrindo tudo que se passasse. O nome dele? Barão num sei quê lá. Ninguém sabia não, era só Barão que se ouvia, pra lá e pra cá. Ele tinha mais anel no dedo que matuto de pantim, afora um molho de fitas e medalhas penduradas nos ombros pelo casaco, e um barrunfo ineivado de meter medo em tudo. Duvide não, o homem tinha topete e dos brabos. Os que ele esquartejasse ou mandasse matar, viravam tudo alma do seu exército, um bando de mortos-vivos mal-encarados que passavam pelo meio do povo com bafo de morte pronde se virassem. O Barão, na vera, viveu quase 200 anos nessa pisada. Isso não fosse uma dor lá nele no carnaval, de deixá-lo arriado, acho que ruim dos bofes como já era. Ah, mas não morreu de mesmo, não. Nada. Dizem que ele ressuscitou, ou tapiou a morte. Quem chega à beirada de cá do rio quando anoitece, vê logo ele bufando de sair fogo pelas ventas, correndo pelas terras com seu batalhão, todas as noites. Isso dizem, do muito. Ninguém é doido de conferir nem de atravessar. Acho mesmo que é o fantasma dele, oxente. Brinque não. E se um dia inventarem de revolver aquelas terras só vão achar caveiras enterradas na sua sina. Não vai dar outra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] ainda vivemos num mundo similar àquele que a Escola de Frankfurt condenava – conquanto seja um mundo no qual temos mais liberdade de escolha do que jamais tivemos antes. [...] Inegavelmente porque a dominação do homem pela indústria cultural e pelo consumismo é hoje mais intensa que nunca. Pior, o que uma vez foi um sistema de dominação das sociedades europeia e norte-americana agora expandiu seu alcance. Não vivemos mais num mundo em que as nações e o nacionalismo são a chave para o seu significado, e sim num mercado globalizado onde somos ostensivamente livres apenas para escolher o que é sempre o mesmo, livres apenas para escolher qual é a espiritualidade que nos apequena, que nos mantém obrigatoriamente submissos a um sistema opressor. [...] os escritos da Escola de Frankfurt nos são úteis agora, quando vivemos num tipo diferente de escuridão. Não vivemos num inferno que a Escola de Frankfurt criou, mas num que ela pode ajudar a compreender. É um bom momento para abrir sua mensagem na garrafa.
Trechos de Contra a corrente – Introdução, extraídos da obra Grande hotel abismo – a Escola de Frankfurt e seus personagens: Adorno, Benjamin, Horkheimer, Marcuse, Fromm, Pollock, Neumann e Habermas (Companhia das Letras, 2018), do escritor e jornalista inglês Stuart Jeffries, na qual combina reconstituição biográfica e discussão filosófica em uma prosa afiada, revelando como os pensadores procuraram discutir a política da cultura durante a ascensão do fascismo. No volume são apresentadas a biografia e ideias, além das reflexões que moldaram eventos importantes do século XX. Alguns deles foram forçados a fugir dos horrores da Alemanha nazista e se exilaram nos Estados Unidos. Ao tomar como objeto de estudo a cultura popular em suas várias formas — a Escola de Frankfurt discutiu sobre a natureza e a crise de nossa sociedade de massas —, enquanto a obra mostra como essas ideias ainda são pertinentes para os tempos das mídias sociais e do consumismo desenfreado. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

DO CLAUSTRO, DE RUY JOBIM NETO
[...] CENA 2 (as duas clarissas já se encontram em cena, enquanto a luz abre em resistência) CECÍLIA: Vosmecê sequer tocou no pão e na água. MARIANA: Não é possível que não haja correspondência alguma do Dr. Gonçalo. Não é possível. CECÍLIA: Mas isso não é motivo. MARIANA: É motivo suficiente! (tempo) Perdão. Peço que me perdoe, Irmã Cecília. Eu tenho estado um tanto quanto fora de mim. Mas eu prometo que com muita oração e com muita alegria na alma, tudo vai se encaminhar da melhor forma possível. CECÍLIA: Por certo que vai. E agora eu peço, por amor do Cristo, que vosmecê se alimente um pouco, ao menos um pouco. MARIANA: Irmã Cecília! Houve alguma vez em tua vida em que vosmecê precisou fazer alguma coisa, em virtude de como se encontrava em determinado momento? CECÍLIA: Como assim? MARIANA: Vosmecê sabe que eu estou morrendo. CECÍLIA: Eu não sei de nada. E vosmecê, por favor, não me repita mais uma sandice dessas! Saiba que tudo o que eu fizer será para que vosmecê não se enfraqueça. Afinal de contas, pelo que eu saiba, nenhuma de nós aqui tem qualidades suficientes para atingir a santidade através de martírio. MARIANA: Não a santidade, mas a realidade. Se eu te disser que é apenas em vosmecê que eu deposito toda a minha confiança, e que diante de tudo o que tem acontecido, eu pedir a vosmecê dois favores imensos, eu agradeceria eternamente se puder ser atendida. É algo sério. Não tenciono brincar com isso. CECÍLIA: Não foi justamente nossa Santa Mãe Clara quem nos ensinou a ajudar as irmãs que estivessem descobertas e necessitadas? MARIANA: Sim. CECÍLIA: Façamos uma troca. Vosmecê come do pão e bebe da água que eu lhe trouxe e eu te serei toda ouvidos para esses teus dois pedidos. (IRMÃ MARIANA se serve e bebe um gole) Pois bem... Quais são eles? MARIANA: Eu quero me confessar contigo. E depois vosmecê me conceda a extrema unção. CECÍLIA: Vosmecê disse que não ia brincar com esse tipo de coisa. MARIANA: Eu não estou brincando. [...].
Trecho da peça teatral Do Claustro (2007), do autor teatral, roteirista, cartunista e blogueiro Ruy Jobim Neto, contando a história de uma freira está enclausurada, às portas da loucura, e precisa da ajuda de outra, em quem confia, para salvar a vida do homem por quem está apaixonada - um poeta e advogado ameaçado de degredo para a África. A ação se passa numa das celas do Convento de Santa Clara do Desterro da Bahia, no final do século XVII, em 1692. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE MARI KATAYAMA
Uma coisa que eu sei com certeza é que a beleza não é algo bonito ou limpo. Não é sobre o corpo em si, mas mais sobre a lacuna de "experiências" em todo o meu corpo que eu estou interessada. Coisas como memórias.
A arte da fotógrafa e artista visual japonesa Mari Katayama, que nasceu com hemimelia tibial – doença rara que impediu o crescimento da parte inferior das pernas e causou fissura na mão esquerda – e faz uso de autorretratos descrevendo objetos meticulosamente organizados com espaços íntimos ou em paisagens vastas e inspiradoras, homenageando o seu signo, câncer/caranguejo. Veja mais aqui.

A OBRA DE JULIO CORTÁZAR
Cada vez irei sentindo menos, e, recordando mais.
A obra do escritor argentino de origem belga Julio Cortázar (1914-1984) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


quarta-feira, maio 29, 2019

GEORGES BATAILLE, NATALIE ROGERS, MARIO SETTE, CARMEN BEUCHAT & DAS AVESSAS PRO REVESTRÉS


DAS AVESSAS PRO REVESTRÉS – Joãotilio teve um troço de esticar as pernas assim de repente e foi bater de cara no inferno. Eita! O capeta esperava com um riso sardônico, afiando as pontas do tridente e cheio do caqueado: Chegou, foi! Joãtilio deu logo um freio de enterrar os pés no chão, chega o tinhoso chasqueou: Dê pra trás não, mô fio, tava só lhe esperando. Ah, mas logo pro inferno, meu? Queria ir pra onde, hem? Acho que merecia uma coisinha melhor! A-rá! Quer melhorzinha é? Vem cá que vou puxar sua folha corrida lá embaixo, achegue, venha. Tá doido? Esse rolo todo aí sou eu? Tem mais uns três desses, quer ver? Deus me livre! Nem se ele quisesse, mô fio. Ah, não. Ah, sim. Tem de haver um jeito de me sair dessa. Hem, hem, tem não. Vamos negociar! Você não tem nem onde cair morto, mô fio, ainda quer regatear? Claro, ora. Veja só: você morreu de ruim e se a gente fizer uma recapitulação verá que aqui você estará melhor do que onde estava. Sei não. Saberá, destá. Xô, pra lá. Nada, venha ver, se achegue, venha, você vai gostar, espie ali, veja. Quando viu, berrou: Oxe, mas é talqualzinha a vida lá na terra. Sim, mô fio, a mesma coisinha, só tem uma diferença: ninguém dorme. É mesmo? E pode fazer o que quiser! Como assim? Aqui pode tudo. Sei não, tenho opção? Hem, hem, tem não. Tem de ter! E para isso teve que suar a camisa. Não tinha lá o tino de um Camonge ou Malasartes, mas usou da sua astúcia. Caíram na maior parolagem. Vai daqui para acolá, tome lá, dê cá. O seu ajeitado parecia suspeito, porquanto cheio de lábia conseguiu persuadi-lo: Olhe, qual a garantia? Ah, está abusando das prerrogativas. Mas quero ver o purgatório como é que é. Então vá, eu espero. E foi. Chegou lá, mais parecia uma prisão: as almas todas cativas, acorrentadas, aprisionadas. Vôte! Dá pra mim não. Vou é ver o céu. Fez meia volta e caiu enchendo tudo de pernas. Saiu, andou que só, lá pras tantas, deu na portaria do céu. Não tinha ninguém. Pra falar a verdade, nem parecia céu, nem nada. Vasculhou a redondeza, viu um pitoco, apertou, enfiou o dedo uma tuia de vezes, quem sabe, seja uma campainha, nada de aparecer um pé de gente ou coisa que fosse. Lá pras tantas, depois de futucar que só, sobrecarregado de dúvidas, sentou-se no chão e matutou. Eis a revelação: É bem diferente do céu que falavam pra gente. Pra falar a verdade: o céu não existe! Nada do que disseram e pensei que tinha aprendido. Que rasteira. Ah, pensei que morrendo resolvia todos os meus problemas; mas não, estou no osso mucumbu de não sei onde e não tenho para onde arribar, afinal. Nem mesmo depois de morto eu consigo sossegar. Tem nada não, que fazer? Feliz aniversário para mim. Vou nessa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] As mulheres representa, hoje, uma força revolucionária. Estamos descobrindo nosso valor, nossa força e nosso poder. À medida que nós definirmos novos papéis – no lar e na sociedade – alteraremos o mundo. Como os homens estão se propondo a descobrir seus sentimentos intuitivos e provedores, e as mulheres estão descobrindo sua competência e assertividade, nós – mulheres e homens – podemos trabalhar juntos para nos darmos oportunidades iguais: igualdade profissional, de poder e liderança (todas as três têm sido negadas à maioria das mulheres) e igualdade de oportunidades no desempenho do papel materno, na criação de um ambiente acolhedor para a família, no direito ao lazer e a uma vida longa (coisas negadas à maioria dos homens). Se encontrarmos equilíbrio interior, encontraremos também equilíbrio entre homens e mulheres. Então, estaremos aptos a nos abrirmos para relacionamentos mais harmoniosos e ternos entre pessoas.
Trecho extraído da obra A mulher emergente: uma experiência de vida (Martins Fontes, 1993), da psicoterapeuta, artista, escritora e educadora Natalie Rogers (1928-2015), fundadora do Instituto de Terapia Expressiva Centrada na Pessoa (PCETI). Veja mais aqui.

MAXAMBOMBAS E MARACATUS
[...] O subdelegado comparecia cedo, de feltro acabanado, andar gingador, olhar duro, bengala de volta, seguido de duas ou três ordenanças de quépis de banda e compridos refles. Quase dez horas. Impaciência geral. Reclamações, berros, sapateados. – Essa joça não principia, não? – Está parecida com as obras do porto... – Ou com o bonde elétrico de Olinda... – Vai com isso! – Eu já vou lá meter o porrete nessas pastoras! Uma velha surde no trabalho e suplica: - Aquéta, minha gente. As “meninas” estão se vestindo... – Sai daí, Marocas boca de mulambo! [...].
Trecho de Um sereno no casamento, extraído da obra Maxambimbas e maracatus (Cultura Brasileira, 1935), do jornalista, escritor e professor Mario Sette (1886-1950). Veja mais aqui & aqui.

A ARTE DE CARMEN BEUCHAT
A arte da artista, coreógrafa e dançarina chilena Carmen Beuchat. Veja mais aqui.

A OBRA DE GEORGES BATAILLE
No que vai sobreviver a mim estou em harmonia com minha aniquilação. Rir do universo liberou minha vida. Eu escapei do seu peso rindo. Recuso quaisquer traduções intelectuais desse riso, já que minha escravidão se tornaria a partir daquele momento.
A obra do escritor francês Georges Bataille (1897-1962) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


terça-feira, maio 28, 2019

EMERSON, BARBARA HEPWORTH, LUCRÉCIA FERRARA, HELENA IGNEZ, MEMENTO MORI, TERRITÓRIO DA SAÚDE & MÔNICA FALCON


MEMENTO MORI - Diante de si e de tudo, a hora. Quem se recusa com o beiço virado e um deus na barriga, dono de si desafiando a vida, pisando gente com a soberba descarada, autossuficiência de semideus e o domínio ao umbigo, a mandar e desmandar aos quatro ventos e astros, na avareza e possessão, acumulando ao mandonismo, agiotagem, ambições, para gozar uma vida eterna aqui na Terra, agora e sempre, guerras, epidemias, traições, quanta húbris! Todos sonham em ser auriga no memento homo, segurando a sua coroa de louros, vitoriosos. Mas quem, diante de si e de tudo, agora, de que adianta passar os outros para trás, tirar proveito da ignorância alheia, enganar, enrascar, fazer os demais de tolos, otários, para vangloriar-se o rei da cocada preta no exagero do exibicionismo. Ah, esquece-se que se pode sucumbir à doença, indiferente ao fatídico suicídio, à calamidade do inopinado, o desassossego dos aflitos, as colisões, os destroços dos míseros, tudo tão conspícuo. Quantos se apegam e se agarram à correnteza da vida. A gente cada vez menos conhece o que é o ser humano. Quase impossível lembrar-se que é mortal, isso é líquido e certo. Não há o que temer. É preciso elaborar, saber-se das cartas de Sêneca, do beijo de Epiteto e do que rondava os pensamentos de Wittgenstein, o tratado samurai, o respeito ao povo dos túmulos. Lembrar-se da morte, do quanto tudo é perecível, efêmero, nada além de saber que tudo morre e não é o fim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] a cidade como mídia só se revela como mediação à medida em que contempla as diferenças entre cidades e as características dos seus lugares. Se a cidade como mídia supõe a lógica redundante da midialogia, a mediação supõe reação e ação atentas ao movimento contínuo que organiza e reorganiza a cidade como um sistema. Em consequência e enquanto mediação, a cidade não é marcada pelas imagens que a simbolizam, mas é ela própria, enquanto produtora de ações e comportamentos, que se caracteriza pragmaticamente e se revela como mediação na grande experiência coletiva que é dada ao homem descobrir e viver. [...] Como grau zero da mídia, a mediação não é, mas está disponível e inaugura-se como escritura cuja função não é exprimir ou transmitir valores e ações, mas impor a semiose que parte da dimensão semiótica das interações, para superá-la e escrever uma história da cidade feita do modo como nela operamos ou dela fazemos parte. A mídia sinaliza a cidade através das suas imagens, mas a mediação permanece cognitivamente na experiência que produz sua metamorfose feita de convergências e divergências.
Trechos do artigo Cidade: meio, mídia e mediação (Matrizes, abril 2008), da professora e pesquisadora Lucrécia Ferrara, autora da obra Os significados urbanos (Edusp/Fapesp, 2000).

CANÇÃO DE BAAL
O longa-metragem Canção de Baal (2008), escrito e dirigido pela cineasta, atriz, diretora e roteirista Helena Ignez, é baseado na peça Baal, de Bertolt Brecht, contando a história de um artista liberal que tem casos com várias mulheres e um homem, de quem morre de ciúmes. Em um jantar, ele se torna sarcástico com os convidados e atrai a mulher do amigo. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

A ESCULTURA DE BARBARA HEPWORTH
O escultor tem de procurar apaixonadamente o principio subjacente à organização da massa e da tensão – o significado do gesto e a estrutura do ritmo.
A arte da escultora britânica Barbara Hepworth (1913-1975), com suas obras abstratas, de formas côncavas e convexas e superfícies polidas. Baseado na vida dela, o drama independente The Sculptress (2018), dirigido por Alex Bailey e estrelado por Cassie Compton como protagonista, traçando a trajetória da artista, alimentado por seu caso de amor com o pintor inglês Ben Nicholson (1894-1982). Veja mais aqui.

O TERRITÓRIO SAÚDE DE MÔNICA FALCON
O programa Território Saúde, apresentado pela jornalista, produtora e diretora Mônica Falcon, na TV Padre Cícero, traz questões atinentes aos cuidados com a saúde. Ela edita o blog Atelier Mônica Falcon e atua como palestrante de conteúdo motivacional, além de produzir, atuar e dirigir conteúdo para tevê, peças publicitárias e varejo televisivo. Veja mais aqui e aqui.
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A OBRA DE RALF WALDO EMERSON
O que nos outros chamamos de pecado, para nós é experiência.
A obra do escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


segunda-feira, maio 27, 2019

BAUMAN, JOÃO ANTONIO, MATA ATLÂNTICA, CELIA DEMEZIO & GRUPO NOIR, MULHERES ARTISTAS & DOS EMBALOS, O AMOR


DOS EMBALOS, O AMOR – Demervaldito quase bate as botas: levou uma peixeirada bem onde fica o coração e não morreu. Dessa vez Damianita passou da conta. Ou foi ele que não cansava de aprontar, ora. Toda vez que ele se enxeria pras bandas doutra saia, ela ameaçava: Eu lhe capo! Ele só ria, nem nem. Mas vamos lá! Tudo começou quando ela sorriu naquela tarde em que tudo dava errado, dos males o menor. Nem se deu conta direito, só caindo em si muito depois, aí deu fé: estava gamado de fazer pena. Nunca se viu como, prestava para mais nada. Pode ser o melhor sujeito do mundo, basta entrar mulher na história, muda de figura na hora. Ainda por cima, ela afável, na flor da idade com o cabelo escorrido, franja na testa, uma lindeza tímida, passiva, serelepe naquele vestidinho de alça, intocável, inteiriça, toda demasiada para ele, grandiosa, caiu do céu. Os olhos, que olhos! Era como se pedissem sempre. A boca, que lábios, tudo desejavam. O abestado endoidou por ela: Eita, mulher  dos diabos! Ele estremecia todo atrapalhado, vivia tonto, vidrado nela. Subornava um e outro só pra saber dela, onde morava, para onde ia, cadê-la! E ao vê-la, rodeava espantado. Conseguiu dois dedos de prosa, ela fácil, risonha. O namorico deu no maior dueto. A coisa ia bem, um pro outro, idílio lindo. Arengavam vez ou outra, renovavam plangentes, juras de amor eterno. Contudo, o cara madraceava pulando cerca impune feito cabrito solto. Ao ser flagrado na perfídia, oxe, ora perrengue, chega ficava mole, maior lerdeza. Seu tratante! Ele, num pé e noutro, dobrava ajeitados, reconciliavam-se. Porém, não tomava tento, não podia ver rabo de saia que perdia a cabeça. Ela na ameaça: Pulou fora, eu corto! Quando mangavam, ele: Sou lá moça, meu! Brinque não, rapaz, abre o olho! Maior badalo: Macho de responsa não passa aperto. Nisso levava tudo na flauta, aprendia o que não servia para nada e se virava na vida, tudo se arranjaria de um jeito ou de outro, errava zanzando. Vem dela chamar na grande: E aí? Ele meio lá, meio cá. Tome jeito! Ele sempre nem aí. Vai dela começar enxoval, pensar numa casa arrumada, filhos, coisas de marido e esposa. Ele abria os olhos: Noivos? Passava o tempo, na verdade: dois anos, dois meses e dois dias. Já? Dos minutos pras horas, ela fechando o cerco, papeis no cartório pra cônjuge, reuniões na igreja que ele ia na marra, o padre e o rol das responsabilidades esponsais. Ele saía doidinho dessas coisas, enchia o tampo, acordava assustado: Casamento? Não é papo para mim. Foi daí caiu na fraqueza. Ela, em cima da bucha, pegou-lo com a mão e tudo na botija. Olhou pros lados, pegou o que estava mais próximo, cravou-lhe no peito, com raiva, para matar. Escapou fedendo, ela não sabia: o coração dele é do lado direito. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Aquilo, sim, meu Deus, era um mundo! [...] Cada vez que me faltam fósforos é ela que vem. Que me procura à toa, por banalidades. Chega-se, tira-me o cigarro da boca, ascende-o e recoloca-o na minha boca. Numa insolência que dá vontade de bater. E quando olho para aquela janela... São os seus olhos que estão me comendo, pedindo. [...] E eu que não procurei nada... está certo que sou maluco por ela. Fujie, ideal de beleza de todas as graças que vejo nas coisas do Japão. Que me surgiu a eclodir como o máximo. É verdade. Entretanto, nunca disse nada, nunca nem de leve um gesto inusitado que demonstrasse. Sempre eu a tapar tudo. [...] O diabo é que vivo agitado, as idéias coladas nela, nos braços, nas ancas, não sei. Impossível desguiar. Olhei para aqueles cabelos, dei com o corpo inteiriço. Desejei. Sonhei. Com os olhos de Fujie, sonhei, com a boca, com Fujie inteira. Disse seu nome sei lá quantas vezes, rabisquei-o em todos os papéis, dez, vinte, um milhão de vezes. Amassei-os. Fiz tudo de novo. Os olhos rasgados me pedindo me comendo. Quando em quando, ninguém nos vendo, leva minhas mãos a seus peitos para sentir o calor. Beijei seu retrato que eu havia fotografado e chorei que nem um moleque. Primeiro abalo na minha vida. Mas eu não disse nada. [...] Fujie, Fujie que insiste há meses. Que tenta, que procura, que espera. Eu tímido, abobalhado. O calor que se emana dos seios me dá vontade... fazer uma maluqueira à frente de todos. Escorraçando-me das conversas, dos encontros de olhos [...] Minha vontade é não voltar ao estúdio do senhor Teikan. Tomar sumiço da Liberdade. Fazer uma asneira tremenda [...] Sozinhos, mostra-me a língua, numa provocação a que não resisto [...] encolho-me, esgueiro-me. Humilhado e pequeno. Se eu quisesse, lhe diria desaforos tremendos... Mas eu nunca tive coragem. [...] Eu a enlacei. – Nega, benzinho... Lá fora a chuva fazia festa no telhado. No quarto algumas moscas estavam numa agitação irritante. Eu só sabia que estava fazendo uma canalhice. Ia chover mais, ia chover muito. Era chuva que Deus mandava. Eu fazia um esforço para me agarrar à ideia de que não era culpado. Culpada era a avenida, era a noite, era a chuva, era aquela coisa. [...].
Fujie, conto extraído da obra Malagueta, Perus e Bacanaço (Civilização Brasileira, 1963), do escritor e jornalista João Antonio (1937-1996). Veja mais aqui e aqui.

MULHERES ARTISTAS
A obra Mulheres Artistas nos Séculos XX e XXI (Série Icons – Taschen, 2003), da editora alemã Uta Grosenick, reúne as mais diversas formas do trabalho artísticos das mulheres do século XX, com ilustrações e textos selecionados, destacando artistas como Marina Abramovic, Laurie Anderson, Janine Antoni, Vanessa Beecroft, Louise Bourgeois, Hanne Darboven, Sonia Delaunay, Rineke Dijkstra, Marlene Dumas, Tracey Emin, Valie Export, Sylvie Fleury, Katharina Fritsch, Ellen Gallagher, Isa Genzken, Nan Goldin, Natalia Goncharova, Barbara Hepworth, Eva Hesse, Hannah Höch, Candida Höfer, Nancy Holt, Jenny Holzer, Rebecca Horn, Magdalena Jetelová, Frida Kahlo, Toba Khedoori, Lee Krasner, Barbara Kruger, Louise Lawler, Tamara de Lempicka, Sherrie Levine, Agnes Martin, Tracey Moffatt, Mariko Mori, Shirin Neshat, Louise Nevelson, Cady Noland, Georgia O´Keeffe, Yoko Ono, Meret Oppenheim, Elizabeth Peyton, Germaine Richier, Bridget Riley, Pipilotti Rist, Susan Rothenberg, Niki de Saint Phalle, Carolee Schneemann, Cindy Sherman, Kiki Smith, Elaine Sturtevant, Rosemarie Trockel, Adriana Varejão, Kara Walker, Pae White, Rachel Whiteread. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A MÚSICA DE CELIA DEMEZIO & GRUPO NOIR
Curtindo esta semana o ótimo álbum Sorrisos Crônicos (2019), reunindo o trabalho musical autoral da cantora, poeta e compositora Célia Demezio e do grupo Noir, formado pelos músicos Dominic Gourd, Tanauan Nogueira e Daniel Abecassis Figueiredo, além dos arranjos de Muniz Crespo e Ivan Dos Santos Muniz, incluindo as participações Xandra Joplin, Helldrigo Tatari Gami, Ayrton Mugnaini Jr., Tiago Bode, Newton Antonio Arantes, Ivani Gonçalves Correa, Bruno Correria Bergamota. Veja mais aqui, aqui & aqui.
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Mata Atlântica aqui, aqui & aqui
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A OBRA DE ZYGMUNT BAUMAN
O desafio atual é composto de três partes: o interregno, a incerteza e a disparidade institucional, mas cada parte remete às outras duas, que são inseparáveis.
A obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) aqui, aqui, aqui & aqui.


sexta-feira, maio 24, 2019

CECÍLIA MEIRELES, CLARA LEFF, ETHEL FELDMAN, TEMPO DE PERNAMBUCO & PEÇAS RUAS DA CIDADE


PELAS RUAS DA CIDADE – Acenos pros que passam rostos vivos e mãos suadas que vão e outros vindos nem sei de onde, olá pros que estão nos parapeitos, nas filas, nos corrimões das rampas de acesso, ou jogando conversa fora, qualquer reverência, isso aí, como vai, bom dia pra lá, boa tarde para cá, boa noite, valeu assim assado, não se pode deixar de saudar, até mesmo se as visitas nem sempre forem tão amáveis, comum cortesia até pros óculos escuros, abas sobre os olhos, gesto que seja, tinindo, apertos de mãos, abraços afetuosos, sorrisos largos que logo somem na cara carrancuda impaciente a seguir pelo que se decide do planejado ou de última hora, sei lá, as desconfianças com os fios que balançam nos postes, sustos com frenagens bruscas, buzinas e chacotas, para ir a tal canto resolver sabe-se lá o quê, grosserias gratuitas de ofendidos, não se pode ser indiferente com os mal-amados, fazer que não viu nmão dá, ou virar as costas, que coisa, fala ao telefone enquanto caminha, atravessar de qualquer modo, sem saber onde pisar, só em dia chuvoso, ainda vai, às pressas, pelas poças chacoalhadas pelos veículos, pelos buracos desagradáveis entupidos e o que der na telha, todo sem jeito com a moça bonita, tão vistosa debruçada no balcão com olhar de quem chama, ao invés da repulsa constante de nem chegar perto, enquanto outros cochicham em discretas transações, estão nem aí para quem passa ou chega avexado, enquanto, de repente, um céu azul da manhã entra pela tarde, nenhuma nuvem no mormaço, ah, sombras da praça, os pingos da fonte na face, um jogo de dados, rumores e disfarces, mil vezes já passei pelas ruas, todas, com pés ambulantes, indolentes, como se tivesse um tapete mágico e corresse por todos os recantos, como se saísse do casulo a passos largos, mesmo mantendo a distância, nunca se sabe, dizer só por dizer, qualquer coisa serve escapando o contato, comendo as horas, não tem graça nenhuma, mas é isso mesmo, a vida como uma jogada, chega dá na vista a sacada, só pelo dinheiro que tudo começa e acaba, a gente se encontra qualquer dia desse, promessa de pé, asseverada, então está certo, até logo, até mais, esta cidade sou eu por aí coberto de dores e amor incurável. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Ruas que começam pobrezinhas e que hoje são as novas-ricas da cidade. Umas, que continuam a viver a mesma vida de outrora, como essas velhinhas que se escandalizam e resmungam sempre que as novidades do progresso lhes afetam os velhos hábitos de antanho. Outras que mantêm, o esplendor, o viço, a vivacidade através dos anos, como uma Nino de Lenclos, sempre moça e sempre amável. E em contraste, aquelas que decairam da grandeza passada, que de ruas movimentadas e ruidosas, ricas e fidalgas, se transformaram em obscuras pobretonas, abandonadas, com velhos casarões descascados pelo tempo, tristonhos na sua irremediável ancianidade. [...].
Trecho extraído da obra Tempo de Pernambuco – ensaios críticos (EdUFPE, 1971), do advogado, crítico literário, tradutor e escritor Oscar Mendes (1902-1983), autor de obras como Searas de romances (1982), Estética literária inglesa (1983), Entre dois rios (1970), entre outros.

A POESIA DE ETHEL FELDMAN
MANIFESTAÇÃO: Desfilamos na avenida / e eu gritei contigo / fascismo nunca mais / roubei-te um beijo / segredei na tua boca / o povo unido jamais será vencido / chorei o acaso / amei-te na derrota / que a esperança não era morta / nem a vida, alheia / na despedida, prometi resistir / No poder reina a ganância / Uma gralha ri de ti / Prometes e desistes / Rumba la rumba la rumba la / Deixaste a vontade dormir / Tal a preguiça de existir / Prometes e desistes / Rumba la rumba la rumba la / Abre as asas, dança / Ama sem pudor / Rumba la rumba la rumba la / Prometemos resistir!
LIBERDADE: Em dias de tempestade o corpo pode vergar / Espera que adormeça a tormenta e respira / Será no silêncio que se prolonga em cada / palavra esquecida que abraçarás a liberdade.
BEIJO: Vou ter contigo amanhã / apanho o primeiro barco / enquanto tomas café / atravesso o Tejo / encontro Lisboa / subo a pé o Chiado / espero pelo teu beijo / se achares por bem que sim / eu te direi sem hesitar que sim / que neste sim adiado / ele viaje de elétrico / por toda a cidade / e traga na volta a vontade / que se demore no tráfego / se não for amanhã / será na segunda-feira / ou na próxima semana / talvez nas tuas férias / se for no Inverno / não esqueças o casaco / que antes do beijo / quero um abraço. / amanhã, se chover / não posso / fico em casa / não tenho pressa / sei que este beijo / nasceu predestinado.
Poemas da poeta e artista visual Ethel Feldman, editora do blog Paladar da loucura. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

A ARTE DE CLARA LEFF
A arte da artista visual e grafiteira Clara Leff. Veja mais aqui.
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A OBRA DE CECILIA MEIRELES
Quanto mais me despedaço, mais fico inteira e serena.
A obra da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.