quinta-feira, junho 29, 2023

MIA COUTO, ELIZABETH GILBERT, MARKUS ZUSAK, TATIANA LEAL & CONTAR HESTÓRIAS

 

 Imagem: AcervoLAM.

O diálogo interartes existe há tempos, e é uma das vocações da música contemporânea – e digo “contemporânea” não num sentido de gênero ou escola musical, mas de interação e impacto na atualidade. É um caminho sem volta que a pandemia acelerou, essa de pensarmos a música atrelada a um contexto audiovisual e dependente da tecnologia de transmissão, mas acho que é um caminho inclusivo, pois sempre haverá espaço para uma expressão mais “pura” da arte musical, voltada para espaços e perspectivas de escuta tradicionais, como os concertos de música clássica ou mesmo, a audição de um álbum digital.

Pensamento da pianista, compositora, produtora e pesquisadora Lilian Nakahodo, autora dos álbuns e EPs Corpo Urbano (2011), Circo urbano (2015), Vilosidade (2018), Lusco-fusco (2018), Sonhos (2020), No mundo de Maria João (2021) e Outro Piano (2022).

 

HESTORIA DO QUE FUI E VOO – Na correnteza das horas os dias enovelados, o patíbulo e o carrasco: o tempo. A trajetória da semana: do alvo às cinzas, a constatação de fugitivo d’A Invenção de Morel do Bioy Casares. Na minha ilha deserta o vaivém de uma gente insone sem sombra, nem rastro, muito menos reflexo no espelho. Eles relinchavam e espojavam suas dores, carregavam seus pesadelos e lástimas pelas infelicidades recorrentes conservadas nos baús de suas almas selvagens, como se vagassem perdidos noutra ilha: a do Dr. Moreau de H. G. Wells. Passavam, teciam e desteciam delirantes testemunhos de cães espantados nas suas pestanas graves. Não sei o que remoíam tanto, suponho aflições inauditas de sentinelas irredutíveis de uma inventada comoção, a bater o pé na mentira feita verdade pelos cupins da pátria, pelos ratos da nação. Uma gente tortuosa e exangue, mais pareciam mosquitos atazanadores: ansiavam mudança perpetuando o passado a todo instante e pleito, reviviam seu museu ostentatório, puxavam-se uns aos outros aos tropeços loquazes e rangentes, ruminavam suas dúvidas pelas certezas destrambelhadas, falindo seus sonhos vencidos tão bem guardados de os perderem pela primeira fresta da clausura. Chovia perenemente e o abandono do centro se propagava pelos subúrbios e abominações: uma doença misteriosa, a solidão e o esquecimento, resignação e desmoronamento. Eles mantinham a cara pro céu de milagre nenhum, nem se tocavam equivocados a se perderem de vista com suas evidências atrozes. Entre eles o meu exílio n’A Montanha Mágica de Thomas Mann. Talvez fosse a vez do não outra vez e sequer percebia. De repente ela apareceu como quem desceu do Cinturão de Vênus com um chega-pra-cá surpreendente e era Ana Karina belamente nua e alheia, como a Faustine indiferente a se avizinhar com a ameaça do Super El Niño do Pacífico e um eclipse anular, quando, na verdade nada mais era que uma sobrevivente dos atentados às mulheres de Santa Teresa, debulhadas nos crimes insolúveis de Roberto Bolaño. Afinal, sua presença era alvissareira, apesar de fazer pouco caso. Deu meia volta à beira do precipício e me encarou docemente com seu ar Kathleen Burke na pele de Lota, a mulher pantera voluptuosa, pronta para me estraçalhar. Cedi aos seus encantos e me deixei levar por sua sedução, rendido aos seus sutis apelos - mesmo sabendo que nunca mais estiaria ali, o único abrigo possível. Depois de um longo abraço mostrou-me o crepúsculo. Era sinal de que não precisava me levantar, pois estava à beira da tragédia, relegado a Asfódelos e a me fazer tomar na torneira aberta as águas apagadoras da memória. Enfim, anoiteceu com a promessa dela de um outro dia, sabia: era como se eu virasse a cara pro perigo. Nada mais, nada menos. Nem me importei, não esperaria findar, só restava a generosidade dela. Então, preferi nela sonhar voos.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: AcervoLAM.

[...] Provavelmente a felicidade implica sempre uma poesia do mundo. [...] Não vejo outra maneira de reconquistarmos um sentido de felicidade que seja pleno, que não vá por esse caminho de nos restituir um olhar poético. O olhar poético não é alguma coisa que tenha a ver com a poesia escrita ou como gênero literário, mas tem a ver com aceitarmos que essa linguagem dos sonhos é uma linguagem válida, que nos ajuda a ler o mundo. [...].

Trecho extraído do discurso O poder de contar e ouvir histórias (Fronteira, 2017)

do escritor e biólogo moçambicano Mia Couto, falando sobre a importância de escutar histórias para o despertar da criatividade e o desenvolvimento da expressão. Noutro trecho do discurso: Contar história para tomar posse do mundo, ele expressa que: [...] Esta possibilidade de estarmos juntos, à volta das histórias e dos livros, é quase um ato político. Eu vivi num regime de ditadura e até os meus 20 anos era proibido haver ajuntamentos de mais de oito pessoas. Celebrar, conversar, debater ideias e o nosso mundo é já um ato de resistência, em que dizemos: nós estamos aqui. As pessoas começaram a relatar o que haviam sofrido e eu pensava: sou um privilegiado, não vão me deixar entrar. Tive tempo de pensar numa frase – ‘sofri porque vi os outros sofrer’ –, mas quando cheguei lá fiquei engasgado e não disse coisa nenhuma. Um dos homens que estava na mesa perguntou-me: você é aquele jovem que publica poemas no jornal? Então pode entrar, nós precisamos da poesia. Eu comecei por escutar, ainda hoje escrevo porque escuto. Essa dificuldade de nos apagarmos para ouvir realmente o outro, não só a palavra, mas o silêncio do outro, o corpo, as pausas, esse é o segredo. Por outro lado, falta fazer com que a escola seja mais viva, mais inquieta, onde os meninos possam dizer coisas, serem mais sujeitos de si próprios. Somos feitos de histórias, assim como somos feitos de células. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

LEITURA & SOCIALIZAÇÃO – Durante as pesquisas efetuadas merece destaque uma obra importante: A importância do ato de ler (Cortez, 1989), de Paulo Freire. Nela o autor expressa: [...] a leitura crítica da realidade, dando-se num processo de alfabetização ou não e associada sobretudo a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização, pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica. Concluindo estas reflexões em torno da importância do ato de ler, que implica sempre percepção critica, interpretação e “re-escrita” do lido, gostaria de dizer que, depois de hesitar um pouco, resolvi adotar o procedimento que usei no tratamento do tema, em consonância com a minha forma de ser e com o que posso fazer [...] O Brasil foi “inventado” de cima para baixo, autoritariamente. Precisamos reinventá-lo em outros termos. [...]. Diante dessas afirmações, duas outras complementaram minhas reflexões. A primeira de Michel Foucault: Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. A outra extraída da obra Pedagogia profanadanças piruetas e mascaradas (Autêntica, 1999), de Jorge Larrosa, na qual ele afirma: [...] O sentido do que somos depende das histórias que contamos e das que contamos de nós mesmos [...], em particular das construções narrativas nas quais cada um de nós é ao mesmo tempo, o autor, o narrador e o personagem principal. [...]. E ambas me levaram a uma outra leitura: Dicionário do pensamento social do século XX (Jorge Zahar, 1996), de William Outhwaite: [...] Os processos pelos quais os seres humanos são induzidos a adotar os padrões de comportamento, normas, regras e valores do seu mundo social são denominados socialização. Começam na infância e prosseguem ao longo da vida. A socialização é um processo de aprendizagem que se apóia, em parte, no ensino explicito e, também em parte, na aprendizagem latente – ou seja, na absorção inadvertida de formas consideradas evidentes de relacionamentos com os outros. [...]. Depois da família, as principais agências socializantes nas sociedades ocidentais são: a escola e os grupos dos pares, o ingresso na vida econômica, a exposição aos veículos de comunicação de massa, o estabelecimento de uma família e o casamento, a participação na vida comunitária organizada e, finalmente, as condições de aposentadoria. [...]. Foi com isso que me certifiquei do quão importante é ler e contar hestórias.  Veja mais aqui e aqui.

 

CONTAR & OUVIR HESTÓRIAS – Foi com Mário Vargas Llosa que apreendi: Contar histórias é uma atividade primordial, uma necessidade da existência, uma maneira de suportar a vida. Para conhecer o que somos, como indivíduos e como povos, não temos outro recurso do que sair de nós mesmos e, ajudados pela memória e pela imaginação, projetar-nos nessas ficções; é refazer a experiência, retificar a história real na direção que nossos desejos frustrados, nossos sonhos esfarrapados, nossa alegria ou nossa cólera reclamem. Daí pros estudos de Fanny Abromovich, sobretudo a sua obra Literatura Infantil: gostosuras e bobices (Scipione, 2003), na qual pude apreender: [...] é através de uma história, que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir, ser, outra ética, outra ótica. É ficar sabendo de história, geografia, filosofia política, sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula [...] Contar histórias é uma arte [...] e tão linda! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro [...] Ela é o uso simples e harmônico da voz. [...] Ouvir histórias é um momento de gostosura, de prazer de divertimento dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução [...]. E ela é (ou pode ser) ampliadora de referenciais, postura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a serem resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma boa história provoca [...] (desde que seja uma boa história)... Quem não gosta de ouvir ou contar hestórias? Veja mais aqui.

 

VOOS

Imagem: AcervoLAM.

Quando criança bastava dormir \ e logo pular bem alto \ flutuar próximo às nuvens\ demandando apenas um leve impulso\ com o tempo os vôos se tornaram rentes ao chão \ como quem nada em uma piscina rasa\ apesar do grande esforço para pulos mais altos que não\ ganham impulso suficiente para voar\ ainda assim despertavam o desejo de voltar\ enquanto crescia, voar\ mergulhar ou dirigir se confundiam\ mas bastou crescer para que o vôo se tornasse\ o de uma bruxa caricata em sua vassourinha medíocre:\ confuso\ cansativo\ invisível. \ melhor acordar.

Poema da poeta e professora Tatiana Leal.

 

A ASSINATURA DE TODAS AS COISAS – [...] Gostaria de passar o resto dos meus dias em um lugar tão silencioso – e trabalhando em um ritmo tão lento – que pudesse me ouvir vivendo. [...] Leve-me a algum lugar onde possamos ficar juntos em silêncio. [...] Veja, eu nunca senti a necessidade de inventar um mundo além deste mundo, pois este mundo sempre me pareceu grande e bonito o suficiente. Tenho me perguntado por que não é grande e bonito o suficiente para os outros – por que eles devem sonhar com esferas novas e maravilhosas, ou desejar viver em outro lugar, além deste domínio... mas isso não é da minha conta. Somos todos diferentes, suponho. Tudo o que sempre quis foi conhecer este mundo. Posso dizer agora, ao chegar ao meu fim, que sei um pouco mais do que sabia quando cheguei. Além disso, meu pouco conhecimento foi adicionado a todos os outros conhecimentos acumulados da história – adicionados à grande biblioteca, por assim dizer. Isso não é pouca coisa, senhor. Qualquer um que pode dizer tal coisa viveu uma vida feliz. […]. Trechos extraídos da obra The Signature of All Things (Riverhead Books, 2014), da escritora e jornalista estadunidense Elizabeth Gilbert.

 

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS – [...] Eu queria contar muitas coisas para a menina que roubava livros, sobre beleza e brutalidade. Mas o que eu poderia dizer a ela sobre essas coisas que ela ainda não sabia? Eu queria explicar que estou constantemente superestimando e subestimando a raça humana – que raramente eu simplesmente a estimo. Eu queria perguntar a ela como a mesma coisa poderia ser tão feia e tão gloriosa, e suas palavras e histórias tão condenatórias e brilhantes. [...] Odiei palavras e as amei, e espero tê-las corrigido. [...] Como a maioria das misérias, começou com aparente felicidade. [...] Eu sou assombrado por humanos. [...] Até a morte tem um coração [...] Imagine sorrir depois de um tapa na cara. Então pense em fazê-lo vinte e quatro horas por dia. [...] Ela o beijou longa e suavemente, e quando se afastou, tocou a boca dele com os dedos... Ela não se despediu. Ela era incapaz e, depois de mais alguns minutos ao lado dele, conseguiu se desvencilhar do chão. Espanta-me o que os humanos podem fazer, mesmo quando os riachos correm por seus rostos e eles cambaleiam... […]. Trechos extraídos da obra The Book Thief (Alfred A. Knopf, 2007), do escritor australiano Markus Zusak.

 

Por que inventar estórias quando a mais importante era a minha?

Aprendi os primeiros cantares do povo e armazenei poesia para transfigurar a cidade em que sofri e penei, fui alegre e chocarreiro, feliz e humilhado, transfigurá-la nos meus romances e nas minhas novelas...

Trechos de depoimentos de Hermilo Borba Filho, recolhido da obra Lendo Hermilo Borba Filho: fisionomia e espírito de uma literatura (Atual, 1986), da poeta e professora Sonia van Dijck. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 


 


quinta-feira, junho 22, 2023

RUPI KAUR, ODED GALOR, SAPKOWSKI, ANTÔNIO CÂNDIDO & POESIA NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som A Water Cello de Jim McWilliam para Charlotte Moorman (9º Festival Anual de Vanguarda de Nova York, em South Street Seaport, em Nova York, 1962), com as 6 performances di Carlotte Moorman nel 1989 alla ex Caserma Zucchi a Reggio Emilia e as cenas do filme Topless Cellist (1995), todos destacando a arte da violoncelista e artista performer da vanguarda estadunidense Charlotte Moorman (1933 – 1991). Veja mais aqui.

 

AS CINZAS NO PÉ-DE-VENTO, VERBI GRATIA – Daqui o céu é perto, inverno sobre a cidade tal chuveiro no peito: maior a solidão da tarde. Queria atravessar rios, outras margens e relevos na correnteza dos dias. Fosse mais cedo semearia canções em Sol maior, a alma nas tintas e pincéis, versos de solitude. Se a hora entardecida chora escuto Françoise Sagan: A capacidade de rir juntos é o amor... A única coisa que eu lamento é que nunca vou ter tempo para ler todos os livros que quero ler... A minha casa é uma selva e só não me sinto tão só por conta das hestórias que tomam forma como frutos brotando pelos galhos e, de um deles, emerge Zelda Mishkovsky: Cada folha contém inúmeros conselhos e bondade para os seres humanos. Agora essa planta tem uma existência dupla; sua própria existência, e a existência que perdura dentro de minha alma... E da minha a vida ádvena no crepúsculo turvo à espera da noite para trazer a estrela fugitiva tartéssia, da colorida Nebulosa da Laguna. Se ela não vem é como o degelo de Thwaites. Não me desaponta o frio porque Silveira Bueno assoma no corredor: O maior inimigo que devemos combater é a mediocridade... A intelecção é parte capital: o que a razão não compreende, o coração dificilmente experimenta em toda a sua verdadeira força emocional... Da última vez restou dela a iridescência do aceno de quem foi embora sem olhar sequer para trás. Drummond que acudiu solidário: Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas... Quantos favores não fizeram o molho para me devorar, restaram cinzas no pé-de-vento, verbi gratia.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

[,,,] Todos sabemos que a nossa época é profundamente bárbara, embora se trate de uma barbárie ligada ao máximo de civilização. Penso que o movimento pelos direitos humanos se entronca aí, pois somos a primeira era da história em que teoricamente é possível entrever uma solução para as grandes desarmonias que geram a injustiça contra a qual lutam os homens de boa vontade à busca, não mais do estado ideal sonhado pelos utopistas racionais que nos antecederam, mas do máximo viável de igualdade e justiça, em correlação a cada momento da história. [...] Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo. Esta me parece a essência do problema, inclusive no plano estritamente individual, pois é necessário um grande esforço de educação a fim de reconhecermos sinceramente este postulado. Na verdade, a tendência mais funda é achar que os nossos direitos são mais urgentes que os do próximo. [...] A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. [...] Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável. [...].

Trechos extraídos do ensaio Direito à literatura (1988), do sociólogo e escritor Antônio Cândido (1918-2017), extraído do volume O direito à literatura (EdUFPE, 2012, organizado por Aldo de Lima. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

A LEITURA DA POESIA – [...] A poesia é uma captação da realidade, que se caracteriza por uma espécie de imediatez ou tato. Uma forma de apalpar as coisas com o coração. Poesia é algo que nos obriga a ir além daquilo que se vê, a transpor as palavras. Tentamos produzir em nós uma sensação ou sentimento semelhante ao do poeta. Nesse sentido, toda poesia exige um poeta, ou antes, dois: o poeta-autor e o poeta- leitor. Com isso não se exclui o outro lado da poesia, que não é agradável, mas que nem por isso deixa de ser emoção [...] Existe um lado violento nela; também se realiza pela emoção, embora a maioria das emoções sejam emoções agradáveis. O ódio é uma emoção; sob esse aspecto, pode ser expresso em poesia. Mas a verdade é que o amor é uma emoção mais fundamental, portanto mais poética. [...] o ritmo poético recupera o ritmo da circulação sangüínea e da respiração [...] é a linguagem repetida com a finalidade de torná-la veículo apropriado da emoção [...] na poesia lírica as palavras a rigor nunca valem apenas pelo seu significado representativo; em todas, ou quase todas, emerge o elemento sensorial acústico, e não raro a comunicação lingüística repousa praticamente nele. Nem sempre – é verdade – há uma motivação sonora propriamente dita, mas sempre há, pelo menos, um conteúdo estético determinado pelos sons constitutivos do vocábulo. [...]. Trechos extraídos da obra A poesia: uma iniciação à leitura poética (Uniprom, 2000), do poeta e crítico de arte Armindo Trevisan, na qual o autor pretende formular uma iniciação que proporcionará uma segura leitura mais atenta aos detalhes sonoros e formais da magia poética. Já na obra Reflexões sobre a poesia (InPress, 1993), ele expressa que [...] Viver é não deixar-se desviver, é decidir a favor de si e do mundo. Para tanto, deve o homem acionar suas reservas de emoção [...] Pensamento e intuição, razão e imaginação procedem, em última análise, da bipolaridade mencionada, isto é, do consciente que se movimenta nas ações que exigem controle; e do inconsciente, nas ações que não exigem [...] palavra, ou antes, a frase, que o poeta trabalha constitui uma realidade própria com leis físicas e metafísicas [...]. Ele também expressa em suas conversas que: A arte é uma pedagoga que conduz até o umbral da perfeição, mas não dá respostas. Veja mais a respeito aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

POESIA NA SALA DE AULA – Aprofundando os estudos acerca da poesia deparei-me com a obra Poesia na sala de aula (Parábola, 2018), de Hélder Pinheiro, que expressou a respeito: [...] o livro nasceu da vivência da leitura do poema em sala de aula nos mais diversos níveis de ensino. E com o tempo fomos incorporando novas reflexões, leituras, indicações. Mas a base é pensar caminhos para leitura do poema, fugindo do modelo tradicional fornecido pelo livro didático. [...] A poesia contribui e muito para formação dos alunos se for trabalhada cotidianamente, visando formar sua sensibilidade, sua percepção do mundo, das pessoas, dos fatos, naquele sentido de que falou Antonio Candido no ensaio sobre “O direito à literatura”. [...] Uma estratégia de que sempre lanço mão é a leitura em voz alta. Ler e reler os poemas, buscar as inflexões adequadas, os ritmos, os andamentos. Experimentar estas descobertas com os próprios alunos sempre traz bons resultados – entendo por resultados o envolvimento dos leitores em formação. Debater poemas, trazer textos que abordam os mesmos temas e compará-los. A comparação sempre rende bons debates, boas descobertas. Encenações, a depender dos poemas e das turmas, às vezes rende boas experiências. Há um capítulo no livro em que fazemos inúmeras sugestões. Mas é bom sempre reforçar: uma boa estratégia usada à exaustão, pode perder sua eficácia. Talvez a melhor das estratégias seja ler cotidianamente poemas, sem atrelá-los a exercícios e outras atividades. [...]. Nesta mesma direção encontrei o artigo A mágica arte da leitura poética: um chamariz para aprender, da professora Marina Amélia Honorato, extraído do volume Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor (Cadernos PDE, 2013), no qual ela destaca que: [...] A experiência em relacionar a poesia com o cotidiano do aluno, com músicas, dramas, tramas, filmes, versos e reversos, traduzidos em ensino capaz de gerar aprendizagem, proporcionando experiências, acordando a esperança de ensinar que a leitura tem que ser estudada, aprendida para poder ser lida em todos os suportes que aportam os gêneros textuais. [...] Ler nas entrelinhas do texto escrito pelo autor, buscando compreender esse impasse que se traduz entre autor\texto\leitor – aluno, enquanto interlocutor audaz, com capacidade de ler e internalizar aprendizagem de leitura extensiva à vida. [...]. Também nos estudos desenvolvidos na dissertação de mestrado Poema na sala de aula: estratégias para a formação do aluno leitor (PROFLETRAS- UFMTS, 2015), da professora Kelly Brambilla Kolano Nicolau, ela expressa que: [...] O efeito do poema reside nas tramas de sua composição, na maneira com que se organiza, como por exemplo, na sonoridade, nas inversões sintáticas, nos jogos de palavras, nas imagens que eles contêm, e cada leitor, poderá, com seu horizonte de expectativas e seu repertório reagir de forma particular de acordo com sua sensibilidade, a esses elementos. Compreender mostrou-se, portanto, uma etapa de um processo maior que, de acordo com as reações dos alunos, passa pelas impressões subjetivas do leitor. [...] com base em nossa pesquisa que obtivemos um resultado bastante expressivo em relação ao envolvimento dos alunos com a leitura, isso reflete na formação do leitor, o qual também poderá levar para a vida além dos muros da escola. A realização da pesquisa –“Poema na sala de aula: estratégias para a formação do aluno leitor” – possibilitou uma experiência bastante desafiadora: levar o aluno a gostar de ler, por meio de poemas. O resultado foi bastante revelador e atéinesperado, pois (re)afirma que os alunos gostam de ler e o professor deve saber como trazer essa leitura para a sala de aula de forma que melhore o desempenho do aluno em relação ao entendimento e o gosto da leitura. Portanto, é necessário ter uma metodologia que agregue boas estratégias de leitura bem planejadas, proporcionando o prazer e a própria fruição da leitura. [...]. Com estas conclusões pode-se inferir com Ruth Rocha que: O processo de leitura possibilita essa operação maravilhosa que é o encontro do que está dentro do livro com o que está guardado na nossa cabeça. E também com Murilo Mendes ao expressar que: A poesia não pode nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão cotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

ACIMA DE TUDO AME – acima de tudo ame \ como se fosse a única coisa que você sabe fazer \ no fim do dia isso tudo \ não significa nada \ esta página \ onde você está \ seu diploma \ seu emprego \ o dinheiro \ nada importa \ exceto o amor e a conexão entre as pessoas \ quem você amou \ e com que profundidade você amou \ como você tocou as pessoas à sua volta \ e quanto você se doou a elas.

MEU PULSO ACELERA – meu pulso acelera diante \ da ideia de parir poemas \ e é por isso que nunca vou parar \ de me abrir para concebê-los \ o amor \ pelas palavras \ é tão erótico \ que ou estou apaixonada \ ou excitada pela \ escrita \ ou ambos.

Poemas da escritora ndiana Rupi Kaur, autora de obras como Milk and Honey (2014), The Sun and Her Flowers (2017) e Home Body (2021).

 

SANGUE DE ELFOS – [...] Erros, ele disse com esforço, „também são importantes para mim. Não os apago da minha vida, nem da minha memória. E eu nunca culpo os outros por eles. [...]. Trecho extraído da obra Blood of Elves (The Orion, 2009), do escritor polonês Andrzej Sapkowski, que noutra de suas obras, a Sword of Destiny (Orbit, 1992), expressou que: [...] Nunca há uma segunda oportunidade para causar uma primeira impressão [...]. Dele também o pensamento: Aos homens agrada inventar monstros e monstruosidades. Com isso, sentem-se menos monstruosos. Quando se embriagam, são capazes de trapacear, roubar, bater na esposa, deixar morrer de fome a velha vovozinha, matar a machadadas uma raposa pega numa armadilha ou ferir com flechas o último unicórnio do mundo.

 

JORNADA DA HUMANIDADE – […] A mão humana é outra. Em conjunto com nossos cérebros, nossas mãos também evoluíram em parte em resposta à tecnologia, especificamente os benefícios de criar e utilizar ferramentas de caça, agulhas e utensílios de cozinha. [...] A educação, tolerância e maior igualdade de gênero são as chaves que levarão nossa espécie à prosperidade nas próximas décadas e séculos. [...] Assim, a abundante evidência histórica indica que os avanços tecnológicos durante a Revolução Industrial levaram a um maior retorno dos investimentos em capital humano, redução da diferença salarial entre homens e mulheres, rejeição do trabalho infantil, aumento da expectativa de vida e aumento da migração de áreas rurais para regiões urbanas, e que esses fatores contribuíram para o declínio nas taxas de natalidade durante a transição demográfica. […]. Trechos extraídos da obra The Journey of Humanity: The Origins of Wealth and Inequality (Dutton, 2022), do economista israelense Oded Galor, autor pioneiro na exploração do impacto da evolução humana, diversidade populacional e desigualdade no processo de desenvolvimento durante a maior parte da existência humana.

 

POESIA PERNAMBUCANA

[...] A poesia praticada nas academias, nos bares, nas ruas, nas praças, nos mercados, nas pontes do Recife, em mais de quatro séculos de produção contínua, dificilmente chega às nossas escolas. Repousa em velhos jornais e nas seções de obras raras das poucas bibliotecas públicas. [...].

Trecho da apresentação de Alexandre Kruse ao volume da Antologia didática de poetas pernambucanos – Do pós-guerra à década de 80 (SED/DSE/SE, 1986), organizada por Cremilda Aquino de Matos, Ésio Rafael e Izabel Maria Martins da Silva. Veja mais aqui e aqui.

 


quinta-feira, junho 15, 2023

ALFONSINA STORNI, GALEANO, RUBEM ALVES, CRIATIVIDADE & ALDRAVIAS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som da Sinfonietta (1951), da canção coral Salve a juventude (1950), dos 12 prelúdios para piano (1953), do Quarteto de cordas (1945), das Suites para orquestra nº 1 e 2 (1948-1950), dos Poemas Sinfônicos nº 1 – Luzes das estepes (1958) e nº 2 – A façanha do herói (1959), da compositora russa Galina Ustvolskaya (1919-2006). Veja mais aqui.

 

DAS VÉSPERAS DE QUASE – Estradas muitas por onde fui, quase nenhum aceno e esquinas outras trastejando solidões. Escapei de emboscadas inauditas e de quantos nosofóbicos saponizados – ah, eles eram tantos e vinham do paleolítico e iam outros do neolítico no meio da barbárie de agora, todos oriundos ou destinatários de Rungholt e ao som das risadas dos sinos nas costas do Mar de Wadden. Deles a sensação de chuva descarregando coisas do nunca visto, o tempo cobrava recompensas extraviadas. Entre um e outro, eis Brian Jacques elucubrando no passeio: As lágrimas são apenas água e as flores, as árvores e as frutas não podem crescer sem água. Mas deve haver luz solar também. Um coração ferido vai sarar com o tempo, e quando isso acontecer, a memória e o amor daqueles que perdemos ficam selados no nosso interior para nos confortar. De mim o poema resistia na tormenta como se fosse uma carta a um possível morador doutra galáxia, tudo porque estrelas nasciam no chão e eram almas ressurretas. Era como se atravessasse o sertão no meio do mar, como a mata era do rio e o mundo findava no litoral e nunca mais precisasse de morrer todos os dias. Saíam dos escondidos pelo temporal do agreste com a expectativa do que vinha me dizer Dorothy Sayers sorridente: A grande vantagem de dizer a verdade é que ninguém acredita nela... Fatos são como vacas. Se você olhar na cara deles por tempo suficiente, eles geralmente fogem... E com ela fiquei contente por poder ser um mentiroso em Stonehenge e dali juntos escapulimos dos indesejáveis e pegamos carona no asteroide para um passeio numa evaporação cósmica, ou melhor: no meio de uma superposição quântica, sei lá. Ao retornar fui saudado efusivamente pelas filhas de seu Rube que me presentearam esferas de Klerksdorp. Não me contive, parecia menino solto aos brinquedos. Só me dei conta ao ser tocado por Joyce Carol Oates: Todos nós temos inúmeras identidades que mudam de acordo com as circunstâncias... Acho que a arte é a comemoração da vida em sua variedade... Ah, sim, quase nem ouvi direito por causa de velhas vozes dos de mais pra lá ou pra cá, esquecia o que foi dito ou lido, e fiquei como quem perdeu o caminho e não precisava mais ir para lugar nenhum nem voltar, inventando inspiração numa ráfaga da surpresa escatológica porque já superamos todos os limites permitidos para nossa sobrevivência fracassada. Guardei tudo na memória e fiquei só, voo adiante no amanhecer.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

[...] Não é de hoje que a escola é chata. Ela sempre foi assim e isso acontece porque as coisas são impostas às crianças. A prova de que uma criança gosta de ir à escola é se, na hora do recreio, ela está conversando com os amigos sobre as coisas que a professora ensinou. E não se vê isso. Então fica evidente que elas gostam da escola por causa da sociabilidade, dos amiguinhos, por causa do recreio. Mas elas não estão interessadas naquilo que se ensina na escola. Você acha que um adolescente, vivendo na periferia, pode ter interesse em dígrafos (grupo de duas letras usadas para representar um único fonema)? Não tem interesse nenhum. Existe outra expressão terrível: grade curricular. Já brinquei que deve ter sido cunhada por um carcereiro. A criança está vivenciando problemas que não têm nada a ver com os assuntos das aulas. Mas os professores apenas se justificam, dizendo que o programa afirma que é aquilo que se deve ensinar e acabou. Eu diria que na escola tradicional não se leva em consideração o desejo de aprender da criança. Elas expressam isso através dos questionamentos que fazem. [...].

Trecho extraído do artigo Aprender para quê? (Revista Época, 344, 2004), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui e aqui.

 

ARTE & CRIATIVIDADE NA EDUCAÇÃO – Durante muitas décadas realizei inúmeras pesquisas a respeito deste tema e, entre estas, encontrei um encaminhamento interessante a respeito: [...] Orientamos os nossos trabalhos assumindo que a Criatividade indica princípios fundamentais para aqueles que pretendem ser criativos em suas práticas artísticas e educativas, tanto para artistas quanto para professores. Compreendemos que a educação assume dois importantes papéis, o de dar acesso ao saber já produzido e de potencializar a ação criadora dos estudantes para que eles, ao longo de sua formação, aprendam a fazer escolhas, definir metas e criar projetos para suas vidas pessoal e profissional. [...]. Trecho extraído da obra Criatividade, educação e arte: potências e desafios (UFES Proex, 2021), da professora Stela Maris Sanmartin, organizadora do volume. A partir daí encontrei maior aprofundamento sobre a temática: [...] a criatividade não resulta de desdobramentos inatos e hereditários, nem tão pouco de relações puramente espontâneas com o meio social, mas apenas se desenvolve por meio da apropriação da cultura. Parece óbvio a afirmação de que não se cria algo novo a partir do nada [...] O papel da educação escolar consiste em produzir, sobre a base biofísica, a humanização dos seres humanos, tendo como referência as máximas conquistas do desenvolvimento já trilhado pelo gênero humano. Assim sendo, a educação escolar possibilita o pleno desenvolvimento da criatividade à medida que coloca os seres humanos em contato com as objetivações mais ricas já elaboradas pela humanidade. É preciso, portanto, subjetivarmos aquilo que fora objetivado pelas gerações precedentes. A formação da criatividade não se dá pelo ensino de saberes cotidianos, espontâneos e de senso comum, mas tão somente por meio da transmissão dos conteúdos clássicos, como é preconizado pela pedagogia histórico-crítica. Quanto mais o indivíduo se apropriar do patrimônio humano-genérico em suas máximas expressões, mais rico será o desenvolvimento do seu psiquismo, o que lhe garante os instrumentos necessários para ser plenamente criativo. Lutar contra a alienação, é possibilitar que as conquistas da humanidade, implementem-se na particularidade da vida dos sujeitos, de modo que os indivíduos estabeleçam uma relação mais consciente com o patrimônio humano-genérico. [...]. Trechos extraídos da obra A criatividade na arte e na educação escolar: uma contribuição à pedagogia histórico- crítica à luz de Georg Lukács e Lev Vigotski (UNESP, 2014), da professora Cláudia Saccomani.

 

CRIATIVIDADE & ARTE – Foi, então, que embarquei no trinômio Educação-Criatividade-Arte ao me deparar com o seguinte:  [...] A criatividade que permeia a Arte e o seu ensino apresenta-se como um conceito importante na constituição humana. [...] Dessa maneira, entende-se que o processo criativo não acontece de forma linear e contínua, mas de maneira dialética e dinâmica. Igualmente, a criatividade não pode ser vista como inata, associada a uma ideia de dom e, sim, como fruto de diversos fatores, dentre eles o acesso aos materiais necessários para a criação, juntamente com a importância da vontade do aluno em desenvolver suas próprias ideias, oriundas de experiências anteriores. [...] a prática educativa deve sair do engessamento de um único foco de trabalho, incentivando os educandos a pensarem sobre novas possibilidades de aprender perante o conteúdo didático apresentado. Por meio da estimulação dos processos criativos dos próprios professores, com a implementação da formação continuada, o docente é levado a uma experiência aplicada desejando trabalhar a criatividade e as potencialidades no contexto escolar. [...] estimulando o uso da criatividade na realização das atividades cotidianas, trazendo a experiência dos alunos para dentro do processo criativo, ofertando e construindo uma prática ligada a aspectos singulares da subjetividade humana, garantindo ao aluno o acesso às mais variadas análises e evitando que ocorra uma limitação e um empobrecimento da experiência educacional. [...]. Trechos extraídos do artigo Arte e criatividade: um olhar sobre a importância das aulas de Arte nos anos finais do Ensino Fundamental (Revista Educação Pública, julho de 2022), do professor e pesquisador Willian Júnio do Carmo. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

ALMA NUA

Imagem: Acervo ArtLAM.

Eu sou uma alma nua nestes versos, \ Alma nua que angustiada e sozinha \ Deixa suas pétalas espalhadas. \ Alma que pode ser uma papoula, \ Que pode ser um lírio, uma violeta, \ Um penhasco, uma selva e uma onda. \ Alma que como o vento vagueia inquieta \ E ruge quando está sobre os mares, \ E dorme docemente numa fenda. \ Alma que adora em seus altares, \ Deuses que não descem para cegá-la; \ Alma que não conhece cercas. \ Alma fácil de dominar \ Com apenas um coração para partir \ Para em seu sangue quente para regá-lo. \ Alma que quando é primavera \ diz ao inverno que se atrasa: volta, \ deixa cair a tua neve no prado. \ Alma que quando neva se desfaz \ Em dores, clamando pelas rosas \ Com que a primavera nos envolve. \ Alma que às vezes solta borboletas \ Em campo aberto, sem marcar distância, \ E lhes fala libidinosamente das coisas. \ Alma que há de morrer de um perfume, \ De um suspiro, de um verso em que se implora, \ Sem perder, se possível, a elegância. \ Alma que nada sabe e tudo nega \ E negando o bem, o bem propicia \ Porque se nega quanto mais vem, \ Alma que costuma existir como delícia \ Toca as almas, despreza a pegada, \ E sente uma carícia na mão. \ Alma que está sempre insatisfeita com ela, \ Como os ventos ela vagueia, corre e gira; \ Alma que sangra e delira incessantemente \ Por ser a nave que parte da estrela.

Poema da poeta suíça Alfonsina Storni (1892-1938). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

OUTROS DITOSAquele que mata um homem, mata uma criatura que raciocina, e que é a imagem de Deus; aquele que destrói um bom livro mata a própria razão, mata a imagem de Deus, por assim dizer. Muitos homens não passam de um fardo para a terra; mas um bom livro é o sangue vital, precioso de um espírito de mestre, embalsamado e guardado propositadamente como um tesouro para uma vida além da vida... Pensamento do poeta, polemista e intelectual inglês John Milton (1608-1674). Veja mais aqui.

 

DOS ABRAÇOS – [...] Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar! [...]. Trecho extraído da obra O livro dos abraços (L&PM, 2005), do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

ALDRAVIAS

[…] A alma surge primeiro. O poeta vem depois, juntando os pedaços e dando sentido ao que foi sentido, agora de forma metafórica, artística. [...].

Trecho de Aldravia e catarse, do poeta e professor Admmauro Gommes, extraído da publicação As aldravias dos Palmares: produção de textos poéticos de professores e estudantes (Rascunhos/Semed-Palmares, 2023). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


sexta-feira, junho 02, 2023

JUANA PAVÓN, SARAMAGO & ALTERIDADE, MLODINOW, JACQUARD, PAULO FREIRE & ARTE NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Primeiras Impressões (2018), Em expansão (Balxtream, 2019) e Carol Panesi e Eleva Big Band (2021), da premiada violinista, arranjadora e multi-instrumentista Carol Panesi.

 

QUEM ANDA SABE QUE LEVITAR É MELHOR - Hora em dia, tolhido invariavelmente pelos afazeres muitos e diuturnos, peso da faina nas pálpebras nada sonolentas, altivas. Quando não, fôlego de leseira besta, rio de mim mesmo pelos feneceres e vicejares. Nem sempre relógio no ponto, não me esqueço: sorrir é melhor que prantear a morte da bezerra ou derrocadas zis pelos tombos treinados no chão abissal da minha terra. Relevo e folgo, voo meu fandango feito Marco Polo pelas invisíveis de Calvino: Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá. Topadas e escorregões me fizeram gato escaldado e, mesmo desequilibrado, sou por desconstruir moldes, dicotomias, estereótipos. Ou melhor: o desmonte para remontar, nem sempre de ponta a cabeça, o que dá pra rearrumar. Nunca fui logocêntrico e persigo meu caminho escapando da influenza aviária e doutras moléstias de plantão; quem dera, a Rua de mão única de Benjamim: livros e prostitutas pela nebulosa Halteres. Aluamentos fortuitos, nada demais. Há quem faça por aí o meu retrato falado que não diz nada, que coisa! Excogito funambolicamente: tanta coisa eu não sei, nem poderia, entre a sofisticação e a sacanagem, à tripa-forra. Vezoutra salvo pela surpresa: topo com a Darja Tuschinski no Olho do Furacão, em Bali. U-hu! Ora, também sou filho de Deus, né? Ela me faz o Sinal Wow!, franqueando seus dotes corporais para me assegurar que o que comumente vejo ninguém vê. E é? E vamos nós pelo efeito Unruh. (A culpa é dela de me apaixonar assim à toa). Inadvertidamente, pra meu desgosto temporário, sempre aparece um feito o Rei Lear de Shakespeare, só para me enquadrar na cena 2 do primeiro ato: Admirável escapatória do homem feemeiro essa de colocar suas veleidades lúbricas sob a responsabilidade de uma estrela... Eu, não. Sai pra lá! O que sei é que nunca sobrei sem pagar o pato, mesmo que eu nunca tenha sequer visto por perto um só que seja pra remédio. Botei tudo na conta do passado, valendo-me do Fernando Pessoa: Não sei quantas almas tenho. \ Cada momento mudei. \ Continuamente, me estranho. \ Nunca me vi nem achei... Bato a roupa, tiro a poeira. E quando desperto estou na mesma feito quem foi jogado de casa pra fora. Pelo sim ou não e vice-versa, levo nos peitos e me faço de leso acimabaixo, afinal sei que destino fiz e até mais ver.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM

[...] Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência ou tecnologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formação, sem politizar, não é possível. [...] Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se alheada, de um lado, do exercício da criticidade que implica a promoção da curiosidade ingênua...e do outro lado, sem o reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou adivinhação. [...]. Como professor preciso me mover com clareza na minha prática. Preciso conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais seguro no meu próprio desempenho. [...].

Trecho extraído da obra Pedagogia da autonomia: saberes necessários à práticas educativas (Paz e Terra, 1996), do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

A ARTE – Décadas de estudos e pesquisas tenho dedicado à Arte, acrescentada pela leitura da obra Imaginação e criação na infância (Ática, 1930-2009), de Vigotski, na qual pude entender que: [...] só por esse caminho podemos compreender os valores cognitivo, moral e emocional da arte. É indubitável que estes podem existir, mas apenas como momento secundário, como certo efeito da obra de arte que não surge senão imediatamente após a plena realização da ação estética. O efeito moral da arte existe, sem dúvida, e se manifesta em certa elucidação interior do mundo psíquico, em certa superação dos conflitos íntimos e, consequentemente, na libertação de certas forças constrangidas e reprimidas, particularmente das forças do comportamento moral. [...]. Foi a partir disso que me deparei com o questionamento O que é Arte? (Brasiliense, 1995), de Jorge Colli: [...] A arte tem assim uma função que poderíamos chamar de conhecimento, de ‘aprendizagem’. Seu domínio é o do não-racional, do indizível, da sensibilidade: domínio sem fronteiras nítidas, muito diferente do mundo da ciência, da lógica, da teoria. Domínio fecundo, pois nosso contato com a arte nos transforma. Porque o objeto artístico traz em si, habilmente organizados, os meios de despertar em nós, em nossas emoções e razão, reações culturalmente ricas, que aguçam os instrumentos dos quais nos servimos para apreender o mundo que nos rodeia. Entre a complexidade do mundo e a complexidade da arte existe uma grande afinidade. [...]. Não menos surpreendente foi me deparar com o estudo Teoria e metodologia do ensino da arte (Unicentro, 2013), da professora Nájela Tavares Ujiiie, assinalando que: [...] A arte é representação do mundo cultural com significado, imaginação; é interpretação, é conhecimento do mundo; é expressão de sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta, que se simboliza, é fruição. Ao mesmo tempo, é conhecimento elaborado historicamente, que traz consigo uma visão de mundo, um olhar crítico e sensível, implicado de contexto histórico, cultural, político, social e econômico de cada época. [...]. A partir de então passei a pesquisa as contribuições da arte para a educação. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

ARTE NA ESCOLA – As pesquisas sobre a temática das contribuições da parte para a educação me levaram a leituras de obras como A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos (IOCHPE, 1991), da educadora Ana Mae Barbosa: [...] Sabemos que a arte na escola não tem como objetivo formar artistas, como a matemática não tem como objetivo formar matemático, embora artistas, matemáticos e escritores devam ser igualmente bem-vindos numa sociedade desenvolvida. O que a arte na escola principalmente pretende é formar o conhecedor, fruidor, decodificador da obra de arte. [...]. Outras obras dela subsidiaram meus estudos, a exemplo de Inquietações e mudanças no Ensino da Arte (Cortez, 2007) e Arte-Educação: Leitura de Subsolo (Cortez, 2008), que me levaram inevitavelmente a refletir sobre [...] A formação do professor de Arte tem um caráter peculiar de lidar com as complexas questões da produção, da apreciação, da reflexão do próprio sujeito e das transposições de suas experiências com a Arte para a sala de aula com seus alunos [...]. Foi a partir dela que tive acesso à obra Gostar de Aprender Arte: sala de aula e formação de professores (Artmed, 2003), da professora Rosa Iavelberg, na qual pude apreciar que: [...] Aprender em arte implica desafios, pois a cultura e a subjetividade de cada aprendiz alimentam as produções e a marca individual é aspecto construtivo dos trabalhos. O aluno precisa sentir que as expectativas e as representações dos professores ao seu respeito são positivas, ou seja, seu desenvolvimento em arte requer confiança e representações favoráveis sobre o contexto da aprendizagem. [...]. Daí tive acesso à publicação Metodologia do ensino da arte (Cortez, 1999), das professoras Mariazinha Fusari e Heloisa Toledo Ferraz, das quais tive o aprendizado de que: [...] contribuir para a formação de cidadãos conhecedores da arte e para a melhoria da qualidade da educação escolar artística e estética, é preciso que organizemos nossas propostas de tal modo que a arte esteja presente nas aulas de arte e se mostre significativa na vida das crianças e jovens [...]. Estas leituras me levaram ao aprendizado de que em virtude das potencialidades integradoras das artes, estas oportunizam a todos o desenvolvimento de competências para a vida, sejam de natureza cognitiva como aprender a conhecer, sejam sociais aprendendo a conviver, sejam produtivas aprendendo a fazer ou mesmo pessoais aprendendo a ser, exatamente por se tratar de uma experiência estética viva favorecendo tanto a inter como a transdisciplinaridade numa ação transversal. Apreende-se que as artes passaram a ser utilizadas como metodologia nas mais diversas áreas do conhecimento, como meio apreender ou vivenciar uma diversidade de conteúdos, seja por meio de técnicas corporais, visuais, interpretativas, entre outras, seja por práticas oriundas do fazer teatral, poético, musical, visual ou coreográfico, promovendo sobretudo a formação do ser para a cidadania e a vida, por meio de habilidades criativas, relações emocionais, sociabilidade e manifestação potencial com o lúdico, o criativo e o prazeroso na integração física e psíquica de cada envolvido docente e discente. Então, viva a arte! Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

NÓS, ESSES SUJEITOS...

Imagem: Acervo ArtLAM

Um, dois, cem, milhares \ assim nós mulheres vamos aqui \ onde tínhamos que passar a noite para sempre. \ Não importa o lugar ou o sobrenome, \ já definimos nossa situação \ há muito tempo. \ Aceitamos nosso papel legítimo, \ independentemente do status. \ Somos os privilegiados \ e os não privilegiados \ Somos: \ a funcionária pública porque trabalha \ a trabalhadora para trabalhadora \ a mãe para mãe \ a estéril para estéril \ a senhora para senhora \ a prostituta para prostituta. \ Fazemos manobras com o tempo \ ligadas a essa inércia \ que chamamos de vida \ porque sendo mulheres \ temos que aceitar \ porque são leis para mulheres \ feitas por homens, \ o que mais importa? \ Nós os temos magros e gordos, \ alguns por beberem a água da massa, \ outros por beberem leite e cereais. \ O Dia das Mães \ deixa alguns com frio, \ outros com calor, \ o Dia da Mulher \ faz alguns rirem, \ outros satisfação. \ Somos os poetas acadêmicos \ e as poetisas da rua. \ Somos os que vendem rosas \ numa elegante floricultura \ e os que oferecem cravos \ num canto de um banco. \ Nós, que somos anónimos \ de madrugada \ e nós-outras bolhas de fome, \ somos aqueles - a quem nos vendem \ e ao qual estamos protegidos \ até os oitenta anos de idade. \ Somos a esposa ignorada \ em uma boate \ e a criada seduzida. \ Somos todos nós, \ cada um na sua, \ assim foi distribuído \ sem nos fazer escolher. \ Somos os amargos \ e indiferentes, \ os antissociais \ e muito sociais, \ os que alimentam nossos filhos \ com colher de prata, \ e os tragicamente miseráveis \ que entregam nossos filhos \ a engordadores e traficantes de crianças. \ Nós que sempre ficamos calados \ e esperamos, \ aqueles que têm motivos \ para gritar \ e não esperam nada. \ Nós somos os saudáveis \ porque temos um gato em casa \ e nós somos os doentes \ por causa de uma existência solitária. \ Há muitos de nós que bebem champanhe \ e muitos de nós que bebem guaro, \ os primeiros ancorados na cama \ com lençóis de seda \ e os segundos \ numa calçada húmida escondida. \ Somos feministas associadas \ e lésbicas reprimidas, \ muitas de nós frequentamos o Catecumenato \ e outras levantamos os olhos \ para ver Deus. \ É assim que todos nós vamos, \ esses assuntos \ somos todos mulheres indestrutíveis \ nada nos detém \ não importa se somos advogados \ se somos verdureiros\ médicos, professores, sapatão, artistas de teatro \ camponês, esposas pintoras, amantes de primeira ou última-dama. \ Um útero nos une a todos igualmente. Somos nós que motivamos todos os sentimentos, ternura, delicadeza... \ amor mesmo que haja em cada um de nós um gato furioso ou um gato submisso. \ Nós é que estamos parados no tempo e batemos... batemos... batemos! \ Somos rio, mar, selva, sol, lua e pulmão. \ Somos pátria! - Sempre achei que Honduras tem nome de mulher.

Poema da poeta e atriz hondurenha Juana Pavón (1945- 2019). Veja mais aqui.

 

O ANDAR DO BÊBADO – [...] O contorno de nossas vidas, como a chama de uma vela, é continuamente impulsionado em novas direções por uma variedade de eventos aleatórios que, junto com nossas respostas a eles, determinam nosso destino. Obviamente, pode ser um erro atribuir brilho em proporção à riqueza... A percepção requer imaginação porque os dados que as pessoas encontram em suas vidas nunca são completos e sempre equívocos. Pode parecer assustador pensar que o esforço e o acaso, tanto quanto o talento inato, são o que conta. Mas acho encorajador porque, embora nossa composição genética esteja fora de nosso controle, nosso grau de esforço depende de nós. E os efeitos do acaso também podem ser controlados na medida em que, ao nos comprometermos com tentativas repetidas, podemos aumentar nossas chances de sucesso. [...]. Trechos extraídos da obra The Drunkard's Walk: How Randomness Rules Our Lives (Vintage, 2009), do físico e matemático Leonard Mlodinow. Veja mais aqui.

 

ALTERIDADE OU OUTRIDADE - [...] Com toda a certeza eu poderia existir sozinho, mas não poderia ter conhecimento disso. Minha capacidade para pensar e dizer "eu" não me foi fornecida pelo meu patrimônio genético; o que esse me deu era necessário, mas não suficiente. Só consegui dizer "eu", graças aos "tu" que ouvi. A pessoa que sou não é o resultado de um processo interno solitário; só pode construir-se encontrando-se no foco dos olhares dos outros. Não só essa pessoa é alimentada com todas as contribuições dos que me rodeiam, mas sua realidade essencial é constituída pelas trocas com eles; eu sou os vínculos que vou tecendo com os outros. Com essa definição, deixa de haver qualquer corte entre mim e os outros. [...] É justamente porque não é idêntico a mim que o outro participa de minha existência. Uma carga elétrica só é definível em presença de outra carga. É essa coexistência que é fonte de tensão; ela inicia uma dinâmica, a da comunicação. Comunicar é colocar em comum; e colocar em comum é o ato que nos constitui. Se alguém considera esse ato impossível, recusa qualquer projeto humano. [...] Evidentemente, ainda tem de ser superadas as dificuldades que transformam cada comunicação em uma façanha. Com toda a certeza, não é possível alcançar uma autenticidade que seja sinônimo de compreensão total. Os meios utilizados para comunicar não podem ser perfeitos. A cadeia: pensamento - frase dita para expressar esse pensamento - frase ouvida - pensamento reconstituído a partir dessa escuta - comporta várias possibilidades de erros ou imprecisões. [...]. Trechos extraídos da obra Filosofia para não filósofos (Elsevier, 2004), do cientista francês Albert Jacquard (1925-2013). Por esta temática poderia acrescentar o pensamento de Saramago: É necessário sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós. E de Martin Luther King: Aprendamos a viver juntos como irmãos; caso contrário, vamos morrer como idiotas. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

BREVE HISTÓRIA DA ARTE EM PALMARES: DO CLUB LITTERARIO AO SÉCULO 21

[...] A cidade e seus engenhos estavam, por diante, conectados às distâncias do mundo moderno. O espaço e o tempo rompiam antigas memórias e linguagens [...] Daí, as primeiras máquinas conhecidas em Palmares – o trem, a tipografia e a usina – serem recepcionadas e enaltecidas pelos oradores do Club, inspirados no mito daquele ideal de liberdade, evocando poemas e crônicas contra a escravidão, a ignorância e o atraso que teimavam, segundo seus oradores, corromper a moral e a civilização. Uma situação apontada por muitos intelectuais, como o entulho provocado pelo anacronismo da Monarquia. [...].

Trechos extraídos da obra Letrados e ufanos: história do Club Litterario de Palmares – 1882-1910 (Bagaço, 2011), do professor e poeta Vilmar Antônio Carvalho. Veja mais aquiaqui, aqui e aqui.

 
Palestra nos dias 05/06, às 14h; 06/06, às 20h; e quarta, 07/06, às 14h, na Biblioteca Fenelon Barreto, realização: SEMED/Amigos da Biblioteca (ABI-Palmares). Veja mais aqui.