Ao som dos álbuns Home Grown (Minor Music, 1985), Open on All Sides in
the Middle (Minor Music, 1986), Twylight (Minor Music, 1989), Timeless
Portraits and Dreams (Telarc, 2006), Flying Toward the Sound (Motéma, 2010) e A
Child Is Born (Motéma, 2011), da pianista, compositora e educadora de jazz
estadunidense, Geri Allen (1957-2017).
PELE BRASINDAFRO...
- A cada dia vivo como quem caiu do céu nos
cafundós de não sei quantos rincões. A pisada à paisana pelo piso falso me dá a
sensação de quem foge pra longe sob o zunzunzum de gemínidas na cacunda franzina
e aguentando Sol e lapadas da vida, quando o meu desejo era só voltar pra casa.
Quem passa, quando não me enxerga, se faz de escárnio e sequer me reconhece. E
se lhe peço informação: não sei, pergunte por aí. Vejo quem vem, mesmo quem não
me queira ver a face. E também pergunto: Não sei, deve ser por aí. Valho-me,
vez em quando, do socorro apressado de Ouida: Conheço mil bandidos; mas nunca conheci alguém
que se considerasse assim. O autoconhecimento não é tão
comum... Tire a esperança do coração do homem e você fará dele um animal predador... Sei disso porque não
é à toa que há nas cercanias um exército de forças espaventosas
que se faz inimigo de seu próprio lugar e gente. É fácil distingui-lo, servem aos
mesmos que dão e tornam a tomar como se tivessem quepes prepotentes, com todos
os cadeados de mando e morte. Não é fácil e retomo a caminhada porque Emily Carr arrepia meu íntimo: A arte sendo muito maior do que nós mesmos, não vai
desistir uma vez que tomou conta... Não mudou de assunto, percebia,
então ao ouvir alguém falar de Monã ao criar todas
as coisas e o que estava no coco de tucumã da Cobra Grande, mostrava, ao
mesmo tempo, o voo do cajubi com os raios e trovões de Tupã. Era Ano
Novo. E se tudo que ouvi era um aviso, com certeza, esquecido estava porque nunca
foi para assustar a nossa santa ingenuidade. Importava a festa para uma história
que seria contada pras farras de celebração hedonista, nada mais. Menos pra mim
porque Patti Smith jamais deixaria: Eu amei livros durante toda a minha
vida. Não há nada mais bonito em nosso mundo material do que o livro... E mais ficava cônscio
pela dor do saber – ah, como dói! Uma coisa disso ficou por certo: ninguém ficaria
impune! Amanhã chegou logo e já se fez presente, ninguém percebia e sei disso
porque sou brasindafro. Até mais ver.
UM POEMA
Imagem: Acervo ArtLAM.
Não nasci
para ocupar um espaço e nada mais. \ Não sei qual será a minha participação. \ Tive
que ser mulher e não me queixo, \ tive que cair na humidade do tempo, \ na
secura inóspita das estradas \ mas aqui estou \ entre escombros e desperdícios.
\ Destrua minha epiderme ressentida, \ destrua meus sonhos, minha alegria, \ me
aniquile \ mas não tente me punir \ porque um dia eu apareci na terra \ e tinha
voz e gritei \ e tinha fronteiras e não queria acordar sem eles \ e eu tínhamos
armas e ali estão \ delineados, imóveis, ranzinzas.
Poema da
poeta venezuelana Lydda Franco Farías (1943-2004). Veja mais aqui.
A VIDA INVISÍVEL DE EURÍDICE GUSMÃO – [...] Afundava a cara nos livros e se perdia em histórias. Quando levantava a cabeça achava tudo muito horrível, e sumia de novo, dentro de um livro qualquer. [...] Tudo errado, ele pensava, e quanto mais sabia sobre o mundo mais raiva ele sentia. Preconceito, pobreza, a falta de um pai, a vida dura das mães, todas essas coisas formavam as duas pontas de um mesmo barbante, que na época ele só sabia que estavam ligadas por intuição. [...] Eurídice estava desrespeitando um dos princípios básicos do Estatuto do Vizinho, que afirmava que a felicidade de um grupo só é possível quando todos desse grupo são iguais, desde o tamanho da conta bancária até as aspirações. [...] Alguns livros foram acrescentados por Antenor, que comprava livros como quem compra lanternas: é bom ter em casa os maiores pensadores do mundo, para se um dia precisarmos deles. [...] Nessas horas perdidas ela podia sentir a solidão se transformar em angústia, a angústia se transformar em loucura e a loucura sussurrar-lhe calma e firme: Um dia eu te pego, um dia eu te pego, um dia eu te pego. [...] Depois que o português renegou a filha arrependeu-se profundamente, desse jeito português de se arrepender, que implica não deixar ninguém nunca descobrir sobre o arrependimento. [...] Quando tocava podia acertar todas as notas, podia fazer a melodia perfeita. E por que a vida não podia ser também assim? Por que não podia fazer o que queria, por que não podia dizer tudo o que pensava, por que não podia tocar até exaurir seus dedos e cansar seus lábios, até não ter que pensar em nada? Quando tocava existiam apenas ela e a flauta, e aquele era um mundo perfeito, por ser um mundo pequeno [...] Se Eurídice queria casar? Talvez. Para ela o casamento era algo endêmico, algo que acometia homens e mulheres entre dezoito e vinte e cinco anos. Tipo surto de gripe, só que um pouquinho melhor. [...] Naquele momento Eurídice aprendeu que alguns olhares são diferentes de outros, e que existem olhares capazes de modificar a gente não só por dentro como também por fora, porque agora não havia meios de ela encontrar uma posição confortável na cadeira. [...] Esta é a história de Eurídice Gusmão, a mulher que poderia ter sido. [...]. Trechos extraídos da obra A Vida Invisível de Eurídice Gusmão (Companhia das Letras, 2016), da escritora e jornalista Martha Batalha.
ALÉM DO
SLING – [...] as mulheres ajudaram as mulheres a dar à luz, e há um apoio que um
treinador de trabalho de parto treinado pode fornecer que muitos parceiros
podem – e devem – não. O
trabalho de parto pode prosseguir mais lentamente quando sua adrenalina está
mais alta do que deveria, e um parceiro pairando sobre você pode fazer sua
adrenalina disparar. Isto não
se deve apenas ao fator de observação, mas também às complexas relações
emocionais e psicológicas que estabelecemos com os nossos parceiros; expectativas, percepções
preconcebidas sobre comportamento e apoio, e até mesmo conflitos não resolvidos
podem inconscientemente chegar ao seu cérebro durante o trabalho de parto, e às
vezes podem ser transferidos diretamente para o colo do útero, fazendo com que
ele feche quando você deseja que abra! [...]. Trecho
extraído da obra Beyond the Sling: A Real-Life Guide to
Raising Confident, Loving Children the Attachment Parenting Way (Gallery Books, 2012), da atriz, escritora e
neurocientista estadunidense Mayim Bialik, que também
se expressa: Como a
maioria das mulheres reais, eu não era uma coisa; Eu era muitas coisas diferentes...
ENEÁGONOS DE MUSGOS
& LADAÍNHAS AZUIS
Toda alma é
noturna \ em especial a do poeta...
Trecho do poema Contrário,
extraído da obra Eneágonos de musgos & ladainhas azuis (CriaArte,
2023), do poeta Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui, aqui e aqui.