Ao som dos álbuns Lua amarela (Jazz to Jazz, 2016), Imagina
(2019), My Ideal (Venus, 2019), In New York (Venus, 2019) & Como
la piel (2021), da trombonista, cantora e compositora espanhola Rita
Payés Roma.
BATENDO MÃOS, PASSO
AFIADO... - Ontem saí do passado: um calabouço pro meu
itinerário. Deixei pra lá o ninho em que tudo se passou, nem dava tempo, já era
tarde: quantos percalços no solado dos pés. Dia desse era anteontem, parece,
lembrei de mais nada – cabeça de fósforo em pés de alfaces. Foi: o mundo
desembestou, racharam as cordas de guaiamuns, danos irreparáveis. E na
toxicidade insalubre os aloprados reinam com suas sandices. Estou cheio com tantos
queixumes e mungangas: vão ver se não estou lá na esquina. Ah, teve quem se
apavorasse com coisa besta, quem dissesse do quenturão torrando tudo nas
beiradas dos infernos, quem tremeu de friagem botou o pé no forno e não sobrou
alma que se salvasse: cada qual seus coprólitos e flatulências, chatos de
galocha. Dito pelo calado: a coisa ficou feiosa e não havia óleo de peroba que
desse vencimento. Naquela: deu merda! E quem não avisou já se esqueceu. Quem se
importa, expectativas, perspectivas, frustrações... - sou pras ouvintes paredes
amigas, mofando nas inquietações, pro que é incompletude, nenhum desdouro - seja
lá o que isso queira dizer para quem sequer tenha onde cair morto. Quem foi lá
no fim do mundo não sei se já voltou. Eu que não vou, saco cheio das ingresias.
Quem tocou fogo que vá buscar vento nas latas d’água. Se eu fizesse força
ninguém me livraria. Nunca desisti do lugar que me fez, mesmo o que de antipático
tornou-se pro meu desconforto: a vida é sempre combate, o amor move o Sol e a
Lua, o meu destino. Se a noite fosse o caminho, todos para seguir. Sou pela
surpresa: de léguas em tombos fiz a travessia e não perdi a viagem – passageiro
que não erra não volta pra casa. Se porventura fosse o vento no céu aceso, quem
partiu do nada queria tudo. Esperava a vez das boias e de cada um no cortar do apito:
brincante é qualquer vivente na manobra do cordão - passando dum lado pro
outro, tudo embarcado pela força da pisada do cabloclinho, vencendo a demanda,
fôlego aceso à água se entrega. Soçobrei sobrevivente: os dilúvios da carne, os
abismos dos sonhos – o que vem a dar no mesmo, mas são outros quinhentos.
Diálogos, escolher qual, a vez do pulmão no ponto de partida, desdobras na
astúcia de criar – nenhum termômetro, nem significados, afora percursos,
transpirações. E era só isso, aviso aí. Não há guia, nem manual: experiência
que valeu! As marcas da matriz e o que deu certo ou não, entre o que confundi
de real às quimeras. Um outro dia depois, esse o prelúdio: porque não tenho
palavras ásperas e não lavei as mãos porque agora é a vez de amanhã. Ainda e
sempre, até mais ver.
Louise Gluck: Olhamos para o mundo uma vez, na infância. O resto
é memória... Veja mais aqui.
Eleanor Hibbert:
Não é quantos anos você viveu, é como eles o deixaram... Veja mais aqui.
C.J. Cherryh: Lembre-se,
constantemente, que quando você fala sobre 'tempo do subjuntivo', você não está
falando sobre tempo. Você está deslizando por graus de realidade... Veja mais aqui.
TRÊS POEMAS
Imagem: Acervo
ArtLAM.
BRINDE - Pegue a taça do meu coração \ e beba. \ Da
sua tigela de sombra \ ele saboreia \ os brilhos arejados que me atravessam, \ da
tensão vermelha dos seus nervos, \ o sabor do meu centro. \ Pegue meu coração \
e saboreie \ seu ressentimento nas pedras, \ a alegria espumosa da manhã, \ a
doçura sentenciosa das despedidas, \ ao entardecer. \ Entre seus lábios \ pegue
o canto do meu coração \ e saboreie \ o buquê adstringente do meu segredo. \ Se
houvesse algo para beber \ eu te diria: \ pegue o cálice do meu coração \ e
beba.
OBSTINAÇÃO - Essa falta de jeito de brincar com a
vida \ É um mau truque não conseguir me vencer; \ esse jeito teimoso de te
amar, \ prestes a entrar \ou já saindo da última tentativa; \ esse jeito
teimoso \ para reacender a chama \ onde me encontrar um dia, \ mendigo do seu
corpo.
SABOR - Na língua \ a lembrança salgada dos teus
olhos \ e os sucos do beijo. \ Nas dobras da língua \ o sabor desolador da
ausência, \ o tempero ardente do nosso hálito. \ Na penumbra da língua \ não
tanto a doçura entrelaçada, \ mas o ácido febril da mordida. \ Na minha língua
de cerâmica \ o poste dos teus olhos insones, \ o longo itinerário do teu
corpo. \ Na língua \ o sabor metálico do seu desejo.
Poemas da escritora e dramaturga paraguaia Renée
Ferrer de Arréllaga, autora de obras tais como: Entre el ropero y el
tren (Alta Voz, 2004), Itinerario del deseo (Alta Voz, 2002), La
colección de relojes (Arandura, 2001), El ocaso del milênio (Ediciones
y Arte S.R.L., 1999), Vagos sin tierra (Expolibro, 1999), De la
eternidad y otros delírios (Intercontinental, 1997), El resplandor y las
sombras (Arandura, 1996), Desde el encendido corazón del monte (Arandura,
1994), Por el ojo de la cerradura (Arandura, 1993), entre outros. Veja
mais aqui.
MEMÓRIAS DE MENINA - [...] Comecei a
criar em mim um ser literário, alguém que vive como se suas experiências fossem
escritas algum dia. [...] Ter
recebido as chaves para compreender a vergonha não lhe dá o poder de apagá-la.
[...] Todos os dias e em todo o mundo há homens em círculo ao redor de uma
mulher, prontos para atirar pedras nela. [...]. Trechos extraídos da obra Mémoire de fille (FOLIO, 2018), da escritora francesa Annie Ernaux. Veja mais aqui.
FILOSOFIA PARA VIVER - [...] O especial modo de existência que aflige o ser humano nos últimos
séculos faz com que se esqueçam certos valores simples, mas importantes,
enquanto esse lugar é ocupado com elementos carentes de sentido. Por isso se
demonstra tão difícil definir o que é a vida. É claro que viver é muito mais do
que dispor de um corpo e tentar satisfazê-lo em todos os seus caprichos, na
verdade dominando-o mal e pouco e sendo seu escravo na maioria das vezes.
Tampouco é conseguir um lugar de destaque na sociedade, porque o prestígio e os
elogios são sombras ilusórias que criam homens afundados na ilusão. O que
existe hoje, amanhã desaparece sem razão aparente. Os que hoje exaltam uma
atitude, amanhã a lamentarão com a mesma paixão. [...] Tudo é pouco para evitar o vazio do eu
interior, que permanece mudo diante de nós mesmos. Para um filósofo, viver é
muito mais do que tudo o que foi exposto até agora. Viver é uma escola, a mais
completa e a mais difícil de todas. Corpo, sentimentos e pensamentos são as
ferramentas que nos ajudam a superar as provas neste momento tão especial de aprendizado.
O tempo é o grande mestre e o eu interior é o discípulo que recolhe
experiências ao longo de toda a existência. Desse ponto de vista, as
circunstâncias externas têm um valor relativo, o valor necessário para nos
proporcionar situações apropriadas para o nosso desenvolvimento, mas não são
essenciais nem definitivas e nem constroem o homem. Ademais, quando se aceitam
as circunstâncias desta maneira, elas deixam de se converter em obsessões e
podem ser manejadas e modificadas com muito mais perícia. Só então o homem
começa a se transformar em dono de seu próprio destino. Viver é um ato de
responsabilidade, diante de si mesmo e diante dos demais. Um filósofo não pode
viver de qualquer maneira. Seus atos devem ter um sentido e uma lógica que
possam transcender a simples sobrevivência física. Na escola da vida tudo tem
um “porquê” e, por conseguinte, um “como” e um “para quê”. Viver é um ato de
generosidade para consigo mesmo e para com os demais. Trata-se de se ajudar
aprendendo e de compartilhar cada sucesso, cada aprendizado, de fazer valer a
existência como uma entrega constante para o mundo no qual nos encontramos e,
fundamentalmente, para a humanidade da qual fazemos parte. Viver é…. estar
vivo. Não é um segredo, não é um jogo de palavras. É sentir-se parte do
universo vital e de suas energias, é aproveitá-las e vibrar com elas. Assim o
filósofo pode fazer da vida um ato eterno para uma meta de perfeição, que é
também a eternidade. Seja como for, no final do caminho, a Musa da História
espera, branca e firme, com os seus olhos serenos de mármore, para estender as
mãos a quem ajuda a escrever o futuro e não apenas a contemplá-lo, a inspirar
para todo o sempre os bravos e determinados, os protagonistas da vida, os
conhecedores do início e do fim das coisas e, portanto, deste ambiente que
agora percorremos. [...]. Trechos do artigo Preencher a vida (Nova Acrópole, 2023)
da filósofa, música e escritora argentina Delia Steinberg Guzmán, autora de obra tais como: Los Juegos
de Maya (1980), Hoy ví... (1983), Me dijeron que... (1984), El
Héroe Cotidiano. Reflexiones de un Filósofo (1996), Peligros del
racismo. Reflexiones acerca del problema del racismo y alternativas filosóficas
para erradicarlo (1997), Para conocerse mejor (2004), Filosofía
para vivir (2005), ¿Qué hacemos con el corazón y la mente? (2005) e El
ideal de los Templarios (2015), entre outros. Em seu pensamento ela defende
que: [...] A vida não pode ser uma soma de poder ou de
riquezas, pois acontece o mesmo com os elogios e as censuras: alternam-se como
em um jogo de luzes, onde é quase impossível reconhecer algo válido e estável. [...] As nossas ideias só são válidas
se forem boas e justas, tanto para nós como para os outros, e se pudermos
combiná-las com os melhores sentimentos, para que possamos aplicá-las da forma
mais adequada. Uma ideia por si só, sem sentimento e sem ação consequente, está
fadada a morrer. A experiência do dia a dia é suficiente para nos mostrar como
é difícil colocar as nossas ideias em prática. Muitas vezes tendemos a
permanecer no nível dos sonhos, ou melhor, dos devaneios, que acalmam os nossos
desejos e nos poupam do esforço para transformar uma ideia em realidade
tangível. [...].
DICIONÁRIO AMOROSO DO RECIFE
[...] todos cantam a cidade onde nasceram. Mas
eu, que não tenho outra, canto o Recife. [...].
Trecho de À maneira de uma apresentação,
extraído da obra Dicionário amoroso do Recife (Casarão do Verbo, 2014),
do escritor e jornalista Urariano Mota. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
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Veja detalhes aqui.
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Tem mais:
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Crônica de
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