segunda-feira, agosto 12, 2024

ELA URRIOLA, HELENA JANECZEK, LEONORE TIEFER, FREVO & CHORO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Nossos ventos (2024) e da peça violonística Sons da cidade: amanhecendo (2021), da premiada violonista e compositora Ana Clara Guerra, que é graduada em Música e Mestrado pela Universidade Federal de Uberlândia, integrante do Duo Guerra-Correia.

 

SUBA NO TAMPO & DIGA O QUE É... - A cada dia uma surpresa: o que virá, quem sabe... Entre a minha mão e a espera tudo de efêmero. Assim fui pro mundo aprender por iniciativa própria, a me arriscar sem importar com perdas ou ganhos. Perdi, só, babau. Segui em frente. A realidade é duríssima para quem vive na corda bamba com o abismo embaixo. O prazer é o outro lado do desespero, sabia quantas orgias me levavam de volta ao que não queria: quantas chantagens, tantos gargalos, relações parasitárias, putrefatos fingidores, encefalopatas vagantes, príons letais, estranhices enigmáticas, fanatismos estertorantes, verdadeira fauna do que havia de mais repulsivo quanto abominável, muito pânico entre esfinges e medusas. A potência e autoestima no pó do abandono: o inevitável e a execrável pseudocomédia da vida. Os meus riscos espontâneos eram fugas por lugares indefinidos. Vacilei zis vezes antes de abrir a boca: calado causava menos prejuízo. Tive medo até de mim mesmo pela necessidade de aterramento - minha raiz fora apagada há tempos. Não fiz o jogo e me decidi diante dos que amam à fórceps, autômatos, covardes. O mundo vinha abaixo recorrentemente: o drama das separações, lobos que se passavam por cordeiros, a destrutividade gratuita, sobrava só entre o ter e o ser, vencer e superar os medos. Tomei todas as decisões e aprendi na minha ascese: só ama quem tem capacidade de dar amor. Mas sou pouco e carreguei o peso da existência e dos sonhos esgarçados, afirmei e fui pro escanteio, descartado. Superei o rol de desesperos, muito embora quedava invariavelmente com os vínculos esfarrapados. Pude voltar: me desviei e, cônscio, retornei. Preenchido de vida e, mesmo que a meu lado só restasse a morte, o amor intransitivo e incondicional: comunguei com tudo e todas as coisas, senti-me separado para maturar pelo que fui e liquidar-me pela alteridade. O refúgio na solidão, satisfeito, sou o que sempre fui: xexéu na vida.

 

Kamila Shamsie: O amor é mais forte quando ele deixa ir ou quando ele persiste?... Veja mais aqui.

Jeanne Moreau: A idade não protege você dos perigos do amor. Mas o amor, até certo ponto, protege você dos perigos da idade... Veja mais aqui.

Pierre Louÿs: Quando todos os cadarços estão desfeitos, quando todas as anáguas caem, a mulher está vestida apenas com seu perfume... Veja mais aqui.

 

VOZES AO VENTO

Imagem: Acervo ArtLAM.

Sou uma voz que passa \ como o guincho de um trem \ entre as estações, uma \ voz \ desprezada e anônima \ que agita as nuvens da torre sineira \ na sua luta \ e na sua busca silenciosa de \ eco. \ Não foi um apelo estranho. \ Éramos um exército imberbe de vozes, \ a negação \ de um milagre, um \ naufrágio \ germinativo \ de corpos muito breves \ perpetuados \ em claustros e planícies; um \ coro \ seráfico \ estourado pela dança do bastão.\ Nos corredores, \ onde cantam os anjos, o pecado \ é açoitado com urtigas ; Nos corredores onde as almas são peneiradas sob a névoa \ rotineira do incenso, \ onde pedir que a luz chegue te manda para as sombras, \ ainda estamos lá .\ O mundo olha (aquele planeta celestial \ nas suas ideias, \ terrestre \ na sua hipocrisia) \ e diz que nos conhece.\ Não conheço seu rosto \ mas sei \ que às vezes você olha \ para o outro lado, \ e esse deserto em meu corpo não será suficiente, \ nem minha tristeza no mundo.\ Eu era uma voz que se elevava \ na torre sineira, \ um grito \ de certezas núbeis, \ era aquela voz \ que pedia a Deus \ que as derrubasse com um raio.\ Deixe-me ser \ a primavera que perfuma o vento; \ amanhã seja a árvore \ cujas raízes se transformam; \ Deixe-me ser alguém \ que não te odeia. \ Se eles voltarem, \ deixe-me desaparecer.\ A lua aparecerá na colina \ para saciar sua sede, \ e alguém \ consertará minha \ provação fútil com salmos. \ Quando dói, \ não basta acreditar. \ Sou uma voz que não pode ser silenciada, \ porque amanhã \ será tarde demais \ para o futuro.

Poema da escritora, filósofa e pintora panamenha Ela Urriola, que é doutorada em Filosofia Sistemática pela Karlová Univerzita (Praga) e investigadora em Estética, Bioética e Direitos Humanos. Atualmente atua como professora de Estética na Faculdade de Belas Artes nos cursos de bacharelado e mestrado, e de Filosofia, Ética, Bioética e Direitos Humanos na Faculdade de Letras da Universidade do Panamá. É autora de obras como As Coisas Deste Mundo (2020), A Neve na Areia (2014), Buracos Negros (2015), A Idade da Rosa (2018), Noemas (2002), Modus vivirdi (1997) e El grito e silêncio (1996).

 

A MENINA COM A LEICA - [...] O amor é um propulsor tirado do passado que você não sabe aonde ele te leva. [...] Gerda Taro uma alegria desavergonhada que se lança para conquistar o mundo [...] Até os olhos de uma estranha como ela podem ver que aqueles dois se reconhecem nos outros dois. E estão igualmente apaixonados. [...] Mas não foi o gosto pelo jogo de espelhos que os levou a fotografar o mesmo tema [...] A América é uma nação da qual fazer parte, não uma religião na qual renascer [...]. Trechos extraídos da obra The Girl with the Leica: Based on the true story of the woman behind the name Robert Capa (Europa, 2019), da escritora alemã Helena Janeczek, contando a história da fotógrafa judia alemã Gerda Taro, que foi uma ativista antifascista, artista e inovadora, morta enquanto documentava a Guerra Civil Espanhola e tragicamente se tornou a primeira fotojornalista a ser morta em um campo de batalha. Veja mais aqui.

 

VIDA & SEXUALIDADE HUMANA - A sexualidade é uma parte vital de nosso crescimento pessoal e desenvolvimento ao longo de toda a vida... Pensamento da educadora, pesquisadora, terapeuta e ativista estadunidense, Leonore Tiefer, que desenvolveu uma diversidade de ativismos, entre eles feminista, acadêmico, antimedicalização, anti-estupro, nos diagnósticos de DSM, em pesquisa sexual e mulheres, na cirurgia estética genital feminina e realizou a Campanha Nova Visão como um projeto educacional para criação de um novo modelo de saúde sexual feminina. O seu pensamento também enfatiza que: [...] Em uma sociedade onde a culpa é sua se você não faz sexo direito, e você tem que fazer muito sexo e tem que fazer direito, mas ninguém te ensina como... você está procurando uma maneira de desculpe-se. de seus problemas, e a biologia oferece essa desculpa. [...]. Ela é autora de diversas obras, entre elas Human Sexuality: Feelings and Functions (1979) e Sex is Not a Natural Act and Other Essays (1995), entre outros.

 

FREVO & CHORO

[...] São histórias muito importantes para a cultura brasileira que até então continuavam inéditas e restritas a Pernambuco. Juntar as duas histórias aconteceu por acaso. [...] A história do choro eu também tinha interesse em escrever, mas achava que seria mais difícil. A do Vassourinhas teve uma cobertura muito grande na imprensa daqui e do Brasil. A do choro quase nada [...] Mesmo assim acho que juntando o quebra-cabeças de matérias notas, entrevistas deu pra contar bem a história dessa viagem, que considero a maior epopeia do carnaval brasileiro [...].

Trechos extraídos da obra Choro e Frevo – Duas viagens épicas (Pagina21/Funcultura, 2023), do jornalista e crítico musical José Teles, autor de livros como Do Frevo ao Manguebeat (Editora 34 - SP); O Frevo Rumo à Modernidade e O Baião do Mundo (Fundação de Cultura Cidade do Recife); Lá Vem os Violados – Quinteto Violado 50 anos (CEPE); O Frevo Gravado – de Borboleta Não É Ave a Passo de Anjo (Funcultura/Edições Bagaço); Claudionor Germano – A voz o frevo; ( CEPE); Da Lama ao Caos – Que Som É Esse Que Vem de Pernambuco (Edições SESC-SP), entre outros. Veja mais aqui e aqui.

 

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