quinta-feira, julho 27, 2023

SILVINA OCAMPO, VIOLA DAVIS, FRÉDÉRIC GROS, LEONARDO DA VINCI & ARTE VISUAL NA ESCOLA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns I Just Want To Sing (Hard Bop, 1995), Sophisticated (Hard Bop, 1991), I Walk Along (Hard Bop, 1989) e do DVD Dorothy Donegan: Pandemonium (Arkadia, 2008), da pianista estadunidense Dorothy Donegan (1922-1998).

 

UM SOLILÓQUIO A MAIS VEZOUTRA – Mãos e pernas trocadas levei a vida: cuspe na cara que só. As graças femininas e a ranzizice dos marmanjos davam o tom da coisa: leve a sério ou se estrepe! Da primeira, já era (nunca!); na segunda, me lasquei: caí no território de Têmis e fui capturado por ela. A sua balança inexorável foi muito severa comigo, o que não reclamo. Afinal, se ela mantinha a firmeza e não me perdoava, pelo menos me guardou em sua cama a me ensinar desnuda os segredos da vida embaixo dos lençóis. Foi ela, inclusive, quem me disse de Ludvík Vaculík. A liberdade só existe onde não é invocada... Nem prestei a atenção direito porque, logo após, chutou-me a bunda: Agora volta pra vida e aprenda. Eita! Não foi fácil, nem poderia: na vida tudo é imprevisível, haja paradoxo. E eu que nunca tive certeza de nada, simplesmente singrava as aporias pelos devires. Não fosse a viúva Tereza de Benguela se achegar ao meu claustro, não saberia eu: domínio só serve para si, auto. Revelações surgem de lá e além. Mil maneiras de cantar o silêncio. Facúndia é coisa pra enrolão. Sol brilha em todas as direções. Há sempre outros caminhos e lá se vão os anos e os anéis, quase os dedos. Sílaba não é só assoletrar, tem de sentir. Ora, para quem uma biografia sujeita ao sujeirômetro: o culpado no espelho, assustei meus muitos fantasmas e não sei se me tornei melhor ou pior depois disso. Descalço pela espessura das pegadas e ciladas bumerangues faço o melhor que posso. Sou reles feliz vagalume, beiro a quase nada: pego um sorriso e vou adiante. Até mais ver.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível. A pintura é a poesia que é mais vista do que sentida, e a poesia é a pintura que é mais sentida do que vista. Um pintor deve começar cada tela com uma camada de preto, porque todas as coisas na natureza são escuras, exceto quando expostas à luz. O pintor tem o Universo na mente e nas mãos. A lei suprema da arte é a representação do belo. Tudo o que é belo morre no homem, mas não na arte. O objetivo mais alto do artista consiste em exprimir na fisionomia e nos movimentos do corpo as paixões da alma.

Pensamento do polímata italiano Leonardo di Ser Piero da Vinci (1452-1519), mais conhecido como Leonardo da Vinci. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

DESENHO, PINTURA, ARTE VISUAL – Sempre apreciei artes plásticas e tive desde tenra idade muitas predileções pelas obras de muitos pintores. Nunca me vi desenhando nem pintando, mas depois de sessentão e sob a solidão da pandemia, não deu outra. Confesso, ao longo da minha vida cometi umas e outras sapecadas de tintas em tela e feito algumas colagens, nada que se salvasse. Já bulia com música, teatro e literatura, sempre inquieto inventei de fazer umas colagens e percebi minha limitação. Foi então que participei durante a pandemia de um curso de desenho e pintura no IbaValeUna. Aí me surpreendi com a possibilidade de desenhar e pintar, graças os incentivos e ensinamentos iniciais dos amigos Paulo Profeta e José Durán y Durán. Parti então para um curso de Artes Visuais, ministrado por professores da USP/MAC, ocasião em que fui mais ainda tentado a cometer meus garranchos agora visuais. Foi um longo e aprazível curso. Depois outro curso na mesma área pela Fundação Stickel (RJ) e não parei mais. Exemplo disso: nas ilustrações daqui do blog do Acervo ArtLAM. Se já levava a música, o teatro e a literatura para a área da educação, acrescentei mais essa. E fui levado inicialmente pela leitura da obra Fundamentos estéticos da educação (Papirus, 2002), do professor João Francisco Duarte Júnior que me ensinou: [...] A arte está com o homem desde que este existe no mundo ela foi tudo o que restou das culturas pré-históricas. Apenas a constatação deste fato elementar a universalidade e permanência do impulso estético já é razão suficiente para que se reconheça a importância da arte na constituição do humano. [...]. Foi dessa que fui pra outra leitura do estudo sobre Artes visuais (Artes II-MG, 2008), da professora Maria Eugênia Albinati: Uma obra de arte não é a representação de uma coisa, mas a representação da relação do artista com aquela coisa. [...]. Quanto mais se avança na arte, mais se conhece e demonstra autoconfiança, independência, comunicação e adaptação social. [...]. Desse estudo fui pra obra Para gostar de aprender arte: sala de formação de professores (Artmed, 2003), da professora Rosa Iavelberg que me esclareceu: [...] A arte promove o desenvolvimento de competências, habilidades e conhecimentos necessários a diversas áreas de estudos; entretanto, não é isso que justifica sua inserção no currículo escolar, mas seu valor intrínseco como construção humana, como patrimônio comum a ser apropriado por todos. [...].

 

ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO – Foi, então, que resolvi me aprofundar do tema e partir para a leitura da obra A imagem no ensino da arte (Perspectiva, 1994), da professora Ana Mae Barbosa que sempre defendeu que: [...] Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura das obras de artes plásticas, estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e móvel, através da leitura do cinema e da televisão, a prepararemos para aprender a gramática da imagem em movimento. Essa decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está sendo visto aqui e em relação ao passado. [...]. Dos seus ensinamentos fui a obra Sintaxe da linguagem visual (Martins Fontes, 1997), de Donis Dondis, ensinando que: [...] Ao aprender a ler e a escrever, começamos sempre pelo nível elementar e básico, decorando o alfabeto. Esse método tem uma abordagem correspondente no ensino do alfabetismo visual. Cada uma das unidades mais simples da informação visual, os elementos, deve ser explorada e aprendida sob todos os pontos de vista de suas qualidades e de seu caráter e potencial expressivo. [...] Os educadores devem corresponder às expectativas de todos aqueles que precisam aumentar sua competência em termos de alfabetismo visual. Eles próprios precisam compreender que a expressão visual não é nem um passatempo, nem uma forma esotérica e mística de magia. Haveria então, uma excelente oportunidade de introduzir um programa de estudos que considerasse instruídas as pessoas que não apenas dominassem a linguagem verbal, mas também a linguagem visual. [...]. Foi daí que tive acesso ao livro Arte na educação escolar (Ibpex, 2008), de Bernadete Zagonel: [...] apesar de o ensino de Arte ser parte obrigatória do currículo, não há interesse, por parte de muitas escolas e de seus diretores, em que esse ensino se faça com qualidade e seriedade [...] No entanto, alguns princípios devem nortear o ensino de Arte no mundo contemporâneo, que vão desde a postura do professor até os conteúdos por ele selecionados, devendo-se considerar, de todo modo, aquilo que se espera que os alunos desenvolvam [...] despertar o indivíduo para a experiência estética e sensibilizá-lo para as artes é mais importante do que lhe transmitir informações teóricas a respeito delas [...] O que podemos esperar, sim, e almejar, é um professor sensível e disposto a enfrentar desafios. Um professor apaixonado pelo que faz, pelos seus alunos e pela arte. Um professor disposto a buscar sempre novos caminhos, disposto a interagir, disposto a aprender. [...]. Noutra obra Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte (Cortez, 2003), a professora Ana Mae Barbosa arrematou: [...] Somente a ação inteligente e empática do professor pode tornar a Arte ingrediente essencial para favorecer o crescimento individual e o comportamento de cidadão como fruidor de cultura e conhecedor da construção de sua própria nação [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

SEU NOME - Ninguém pode pronunciar seu nome. \ Só eu conheço a inflexão perfeita. \ Falta-lhes a ternura em que flui \ e a doçura nas consoantes. \ Eles não sabem distinguir a cor \ da nota musical exata. \ É por isso que a cada dia respondo \ inventando um nome: \ azul, pássaro, brisa, luz. \ Palavras comuns \ que podem ser ditas simplesmente \ mesmo sem te conhecer, sem te amar.

EM TODAS AS DIREÇÕES - Vamos deixando-nos em todas as direções, \ nas camas, nos quartos, nos campos, nos mares, nas cidades, \ e cada um desses fragmentos \ que deixou de ser nós, continua sendo \ como sempre nós, tornando-nos \ ciumentos e hostis. \ "O que isso fará que eu gostaria de fazer?" \ nós pensamos. "Quem verá que eu gostaria de ver?" \ Muitas vezes recebemos notícias casuais \ dessa criatura... \ Entramos em seus sonhos \ quando ele sonha conosco, \ amando-o \ como aqueles a quem mais amamos; \ batemos às suas portas \ com as mãos ardentes, \ pensamos que voltará na ilusão de nos pertencer \ equivocados como antes\ mas continuará sendo traiçoeiro e inalcançável. \ Tal como acontece com nossos rivais, nós o mataríamos. Só o poderemos \ vislumbrar em fotografias. Deve sobreviver a nós.

Poemas da escritora argentina Silvina Ocampo (1903-1994). Veja mais aqui.

 

ENCONTRANDO-ME - [...] Minha maior descoberta foi que você pode literalmente recriar sua vida. Você pode redefini-lo. Você não precisa viver no passado. Eu descobri que não só tinha luta em mim, eu tinha amor [...] As memórias são imortais. Eles são imortais e precisos. Eles têm o poder de lhe dar alegria e perspectiva em tempos difíceis. Ou, eles podem estrangulá-lo. Defina você de uma maneira que se baseie mais nas percepções exageradas de outras pessoas do que na verdade. [...] Perdoar é abrir mão de toda esperança de um passado diferente. Eles dizem que a terapia bem-sucedida é quando você tem a grande descoberta de que seus pais fizeram o melhor que puderam com o que receberam. [...] Agora entendo que a vida, e vivê-la, é mais sobre estar presente. Agora estou ciente de que as memórias não tão felizes estão à espreita; mas a esperança e a alegria também estão à espreita. [...] Eu sabia que minha vida seria uma luta e percebi isso: eu tinha isso em mim [...]. Trechos extraídos da obra Finding Me: An Oprah's Book Club Pick (HarperOne, 2022), da premiada atriz e produtora estadunidense Viola Davis.

 

DESOBEDECER – [...] A democracia é algo muito diferente de uma forma institucional caracterizada por “boas” práticas ou procedimentos, inspirada pela defesa das liberdades, a aceitação da pluralidade, o respeito pelas disposições majoritárias. Mesmo se ela deve ser isso, a democracia designa também uma tensão ética no íntimo de cada pessoa, a exigência de reinterrogar a política, a ação pública, o curso do mundo a partir de um si político que contém um princípio de justiça universal e, sobretudo, não é a simples “imagem pública” de si, em oposição ao eu interno. É preciso parar de confundir o público e o exterior. O si público é nossa intimidade política. É, em nós, poder de juízo, capacidade de pensar, faculdade crítica. É com base nesse ponto em nós que nasce a recusa das evidências consensuais, dos conformismos sociais, das ideias pré-fabricadas. Esse recurso ao si político, no entanto, será inútil, improdutivo, se não for sustentado por um coletivo, se não se articular sobre uma ação de conjunto, decidida em comum acordo, portadora de um projeto de futuro. Mas, sem ele, os movimentos de desobediência correm o risco constante de instrumentalização, de aliciamento, de sufocamento sob as palavras de ordem e a mudança dos chefes. Esse movimento por meio do qual o sujeito político se descobre em estado de desobedecer é o que chamaremos de “dissidência cívica”. A insurreição não se decide. Apodera-se de um coletivo, quando a capacidade de desobedecer juntos volta a ser sensível, contagiosa, quando a experiência do intolerável se adensa até se tornar uma evidência social. Supõe a experiência prévia compartilhada – mas que ninguém se pode dispensar de viver em, por e para si mesmo – de uma dissidência cívica e de seu apelo. Desde Sócrates (“Cuida de ti mesmo!”) e desde Kant (“Ouse saber!”), ela é também o regime filosófico do pensamento, sua interioridade intempestiva. Numa época em que as decisões dos “especialistas” se orgulham de ser o resultado de estatísticas anônimas e insensíveis, desobedecer é uma declaração de humanidade. [...]. Trecho extraído da obra Desobedecer (Ubu, 2018), do filósofo francês Frédéric Gros. Veja mais aqui.

 

ARTISTAS DE PERNAMBUCO

[...] Desse esforço uma parte – talvez o melhor – não transparece aqui: o de vencer barreiras insuperáveis, a primeira das quais o tempo. Eu preferiria trabalhar no tempo de reinado – pelo menos como a gente imagina – com o prazo da vida toda para fazer o serviço [...].

Trecho do posfácio da obra Artistas de Pernambuco (Recife, 1982) escrito, organizado e prefaciado pelo pintor, desenhista, gravador, escultor, crítico de arte e escritor José Cláudio. Veja mais aqui e aqui.

 


sexta-feira, julho 21, 2023

EMMA LAZARUS, NUCCIO ORDINE, EUNICE NEWTON FOOTE, BOAL & TEATRO NA ESCOLA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Fanny Mendelssohn-Hensel: The Year (Sony,2007), da compositora e pianista alemã Fanny Mendelssohn (1805-1847), na interpretação da pianista Lauma Skride.

 

JAM SESSION (ou Guia prático de sobrevivência depois de tempos aloprados, até quando!?) – Do chão nasci para andar, senão morria de primeira. Eu que nunca esperei tempo ruim escapuli logo da barriga de mãe e ganhei o mundo nos ensaios das fugas infantis e na ousadia adolescente que se iludia de tudo e nada sabia. Só me dei conta no meio de voltas e revoltas: quem da terra se ausenta, alma penada consome; e por onde sempre aquela lembrança rasteira leva consigo, em casa instante aceso o cordão umbilical de quem pródigo um dia retorna. Foi nas sobras do piso esburacado e falso, o teto a céu aberto, o horizonte no infinito e um salto não saía do lugar. Quandonde se perde e no meio de uma gangorra térmica, mais parecia um pé-de-vento carregado de relâmpagos e trovões, apareceu-me não sei quem. Era como se descesse de um magnetar ou qualquer asteroide perdido. Lá estava e, à primeira vista, pensei ser uma náiade tão linda feito Gertrudes de Drummond – aquela mesmo que só o espelho e a mortuária refletia apenas a si, ofuscando todos os demais. Assim era. E não fosse ela eu só me teria no visinvisível. Pegou-me a mão para me dizer não mais, agora era a saudita Sophia de Hanson com as suas mil faces, ou qualquer outra que quisesse. Disse-me vinda de La Alcudia para me entregar a cornucópia. Hem? E tomou a iniciativa entregando-me mais seixos falantes, pedras poéticas, até uma rocha confessionária só para perpetuar a memória, na qual um pedregulho majestoso se passava por um invocado de todos as deusas. Pediu-me, então, revelasse ali meus remorsos e culpas. Como? Tirante a mitomania, não lembrava de nada grave, embora reconhecesse alguns atos desabonadores em toda minha trajetória desvalida. Sorriu-me como se fosse uma das Três Graças de Rubens e me dispôs um tapete voador de borboletas para me transportar não sei para onde. Sei que fui longe, face ao vento e seus cabelos pelos castelos, atóis, quantos lugares e logo me disse Yolanda Vargas Dulché: Em todos eles vivem famílias ricas que desfrutam de conforto e luxo. Sem importar ou ignorar que o mesmo céu também protege muitos deserdados da vida e da fortuna... O mundo de tão grande se apequenou em suas mãos e me curou das feridas e pesadelos das guerras por décadas de emigração. Leu-me a alma e disse Cedella Booker: Dê graças e louve para que possamos nos sentirmos bem, vamos ficar juntos e nos sentirmos bem... Mais aproximou-se e eu premiado da hora ouvia-lhe nuns versos de Eve Merriam: Manhã é uma nova folha de papel para você escrever... Sonho em dar à luz uma criança que vai perguntar: Mãe, o que foi a guerra?... Quando algo é muito bonito ou muito terrível ou mesmo muito engraçado para palavras, então é hora de poesia... Bonita era ela com seu sexo prolongado na cauda a vida bulindo no ventre, seios de manga-rosa com todos os mistérios da clausura feminina, o gosto de Sol na boca indiscreta quase obscena com o segredo de todas as volúpias, nem pensava nada porque emergia do fundo de seus olhos todas as hestórias de gente e coisas. Eu, ah, todo argonauta de olhos e lunetas improvisava às recaídas com as intenções confusas, porque ela inventava um agitado litoral e nada mais restava intacto até onde o aceno se extinguiu, para me dizer até como se fosse quase já, daqui pouco. Não era. E eu comigo mesmo: não foi. Só.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

[...] Uma fábula chinesa muito antiga – anterior dez mil anos antes de Cristo – conta a belíssima história de Xuá-Xuá, a fêmea humana que fez a extraordinária descoberta do teatro.[...] Xuá-Xuá era a mais bela fêmea de sua horda e Li-Peng, três anos mais velho, o mais forte dos machos. Naturalmente, eles se sentiam atraídos um pelo outro, gostavam de ficar juntos, de nadar juntos, de subir árvores juntos, sentir odores mútuos, se lamber, tocar, abraçar, fazer sexo juntos, sem saber ao certo o que estavam fazendo. Era bom estar um com o outro. Juntos. Eram felizes, tão felizes quanto dois pré-humanos podiam sê-lo. Um belo dia, Xuá-Xuá sentiu que seu corpo se transformava: seu ventre crescia mais e mais, além da elegância. Ela tornou-se tímida, teve vergonha daquilo que se passava com seu corpo e decidiu evitar Li-Peng. Ele não compreendia nada do que se passava. Sua Xuá-Xuá não era mais a que ele amava, nem no físico nem no comportamento. Os dois amantes se distanciaram. [...]. Uma noite, Xuá-Xuá sentiu seu ventre se mexer [...] Alguns meses depois, durante uma linda manhã de sol, Xuá-Xuá deitou-se à margem de um rio e deu à luz um menino. De longe Li-peng a observava, escondido atrás de uma árvore, incapaz de qualquer ação: espectador amedrontado! [...] O bebê se desenvolveu rapidamente: aprendeu a andar sozinho, a comer outros alimentos, além do leite de sua mãe. Tornou-se mais independente. Algumas vezes, o pequeno corpo não obedecia mais o grande corpo. Xuá-xuá ficou aterrorizada. Era como se ordenasse às suas mãos que rezassem, e elas insistissem em lutar boxe. Atrás da sua árvore, Li-peng observava o ela grande e o ela pequeno. Guardava sua distância, observando. Uma noite, Xuá-xuá estava dormindo. Li-peng, curioso observava. Li-peng não conseguia entender a relação entre Xuá-xuá e seu filho, e queria criar sai própria relação com o menino. Quando Lig-lig-lé acordou, Li-peng tentou atrair sua atenção. Xuá-xuá dormia quando os dois (pai e filho) partiram, como bons companheiros. [...] Ensinou seu filho a caçar, pescar etc. Lig-lig-lé estava feliz. Xuá-xuá ficou desesperada quando acordou e não viu o pequeno corpo ao seu lado. Chorava cada vez mais e com maior sofrimento, gritava e gritava, entre vales e montanhas esperando que seus gritos fossem ouvidos, mas Li-peng e Lig-lig-lé estavam longe demais para ouvi-la, e quando a ouviram, mais se afastavam.No entanto, como eles pertenciam à mesma horda, Xuá-xuá reencontrou pai e filho alguns dias mais tarde. Tentou recuperar seu filho, mas o pequeno corpo, mesmo tendo saído do seu ventre, obra sua — ele era ela! –, era também outra pessoa com seus próprios desejos e vontades. A recusa de Lig-lig-lé em obedecer à sua mãe levou-a a compreender que eles eram dois, e não apenas um. Ela não queria estar junto de Li-peng; no entanto, esse era o desejo de Lig-lig-lé: cada um havia feito a sua própria escolha. [...] Foi nesse momento que se deu a descoberta! Quando xuá-xuá renunciou a ter seu filho totalmente para si. Quando aceitou que ele fosse outro, outra pessoa. Ela se viu separando-se de uma parte de si mesma. Então, ela foi ao mesmo tempo atriz e espectadora. Agia e se observava: eram duas pessoas em uma só — ela mesma! Era espect-atriz. Como somos todos espect-atores descobrindo o teatro o ser se descobre humano. O teatro é isso: a arte de nos sermos a nós mesmos, a arte de nos vermos vendo!

Trechos extraídos do prefácio da obra Jogos para atores e não-atores (Civilização Brasileira, 2008), do dramaturgo, ensaísta e escritor brasileiro Augusto Boal (1931-2009). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

O TEATRO – A arte teatral é para mim o que digo aqui: o Começo de Tudo! Tem outro relato meu aqui. Dos cursos, encenações e apresentações que foram muitas, uma eu fiz e saí por aí: O teatro na escola. E fui assim levado pelo que disse Ana Mae Barbosa, no seu estudo Arte, Educação e Cultura: [...] A Arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. [...]. Também a contribuição da professora Márcia Azevedo Coelho, no seu estudo Teatro na escola: uma possibilidade de educação efetiva: [...] o teatro além de promover a ampliação cultural e aperfeiçoamento pessoal, estimula a troca de experiências, a busca de soluções para situações-problema, a ampliação da tolerância no relacionamento e o espírito colaborativo, fundamentais em uma comunidade escolar. [...]. Não menos relevante o artigo da professora Juliana Cavassim, com a temática Perspectivas para o teatro na educação como conhecimento e prática pedagógica (Revista científica/FAP, 2008): [...] o teatro como conhecimento que é buscar respostas para os questionamentos sobre o que é o mundo, o homem, a relação do homem com o mundo e com outros homens nas teorias contemporâneas do conhecimento que propõem novos paradigmas para a ciência como a complexidade do pensador Edgard Morin [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

O TEATRO NA ESCOLA – No estudo Metodologia do Ensino de Teatro (Papirus, 2001), o professor Ricardo Japiassu destaca que: [...] Na rede pública, não é difícil constatar que o gerenciamento autoritário das unidades de ensino, a carência de espaços adequados para o trabalho com artes, a superlotação das classes, as instalações escolares precárias e os baixos salários pagos aos trabalhadores da educação têm afugentado a competência profissional [...] portanto, as pressões sociais e políticas de economia de mercado em processo de globalização [...] passaram a exigir a formação multilateral do educando, sinalizando a valorização do teatro e das artes na escolarização dos sujeitos. [...]. Também a professora Olga Reverbel, na sua obra Jogos teatrais na escola (Scipione, 1996) expressa que: [...] O professor deve adaptar as atividades e ordem de aplicação de cada conjunto às condições de espaço, de material colocado à disposição das crianças e, principalmente, partir da sua própria percepção dos tipos de personalidade das crianças com quem trabalha. O educador deverá adaptar o ensino a cada momento, a cada criança e a cada grupo. [...] É preciso, ainda, entender que não necessariamente deve-se montar espetáculos teatrais, mas sim que se realize atividades na própria sala de aula, buscando, dessa forma, desenvolver a imaginação, a observação e a percepção dos alunos, a fim de que essas contribuições se tornem práticas e reais na vida do aluno, não só do ensino fundamental, mas em todas as etapas escolares [...]. Com essa condução, o professor Javier Garcia, no seu estudo Drama no desenvolvimento da educação emocional (EDUFRN, 2018), destaca a importância e os benefícios promovidos pelo teatro na escola e ressalta as suas contribuições, especificando e sintetizando cinco princípios básicos, sendo eles: consciência emocional: ser consciente dos próprios sentimentos; empatia: reconhecer e compreender os sentimentos dos demais; autocontrole: regular de forma positiva os impulsos emocionais e comportamentais; habilidades sociais e para a vida: planejar objetivos positivos e traçar planos para alcançá-los; utilizar a comunicação e resolução de problemas de forma positiva nas nossas relações. Na concepção do professor estes aspectos são importantes na formação de um indivíduo e deveriam ser ensinados nas escolas da educação infantil e em todas as etapas que se seguem, visto que a proposta é ensinar o aluno a conhecer e controlar os próprios sentimentos, para que, dessa forma, possa ter consciência da maneira mais adequada e positiva de atuar no mundo. Além disso, esses aspectos, como demonstrado na fala do autor, estão diretamente relacionados ao lado emocional do aluno, que pode ser desenvolvido com o drama. Sua utilização gera, também, um clima de confiança para a expressão e comunicação do educando com os demais colegas em sala de aula. Para além disso, o professor García, ainda afirma que o Teatro traz outras contribuições, tais como: promoção do desenvolvimento social; aquisição de autoconceito positivo; desenvolvimento de aspectos emocionais, físicos, intelectuais; os alunos aprendem com o trabalho em equipe; desenvolvem habilidades de memorização, recitação e interpretação; aprendem a apreciar o sentido de responsabilidade e compromisso; permite desenvolver funções variadas no processo de criação, por exemplo, participar como plateia e como agente; e a integração de diferentes habilidades: fala, escrita, expressão afetiva, coordenação motora, etc. Tem-se com isso que as contribuições do teatro para a aprendizagem dos alunos do ensino fundamental servem não apenas para a vida escolar, mas também para seu crescimento pessoal e social, pois o teatro ensina a viver e, assim sendo, as atividades devem ser planejadas pelos professores com esse olhar. É que é confirma o estudo As contribuições do teatro para educação no contexto do ensino fundamental (Núcleo do Conhecimento, 2022), do professor Adenildo Guedes que enfatiza: [...] as contribuições do teatro para a aprendizagem e desenvolvimento do aluno do ensino fundamental, assim como também em outras etapas de ensino, estão relacionadas ao desenvolvimento de consciência emocional; empatia; autocontrole; e habilidades sociais. Ademais, o teatro contribui para a promoção do desenvolvimento social; aquisição de autoconceito positivo; desenvolvimento de aspectos emocionais, físicos, intelectuais, de memorização, recitação, interpretação e criação; trabalho em equipe; o sentido de responsabilidade e compromisso; além de promover a integração de diferentes habilidades, como: fala, escrita, expressão afetiva, coordenação motora etc. Entretanto, é fato que algumas barreiras surgem nesse processo, como as dificuldades que alguns professores possuem para incorporar o teatro em suas práticas. Uma das razões dessas dificuldades é a falha na formação dos professores e, embora isso seja um fato, não se pode atribuir a estes profissionais toda responsabilidade pela aprendizagem do aluno. De outra forma, este mesmo profissional não pode acomodar-se, pelo contrário, deve buscar meios de contornar essa situação, pois ele também será beneficiado com o processo de aprendizagem e desenvolvimento profissional e pessoal. Enfim, concluímos que a inclusão do teatro no processo educativo é importante, dadas suas contribuições para o aprimoramento na formação pessoal, acadêmica e na ampliação da visão de mundo do indivíduo para a vida em sociedade. [...], Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

GARANTIA

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ontem à noite eu dormi, e quando acordei o beijo dela \ Ainda flutuava em meus lábios. \ Pois havíamos perdido \ Juntos em meu sonho, através de alguma clareira obscura, \ Onde os tímidos raios de luar mal ousavam iluminar nossa bem-aventurança. \ O ar estava úmido de orvalho, entre as árvores, \ Os pirilampos escondidos acenderam e se extinguiram. \ Bochecha colada na bochecha, o frio, a brisa quente da noite \ Misturava nossos cabelos, nossa respiração, e ia e vinha, \ Brincando com nossa paixão. \ Baixo e profundo \ Falou em meu ouvido sua voz: \ “E você sonhou, Isso poderia ser enterrado? Isso pode ser sono? \ E o amor seja escravo da morte! \ Não, o que quer que pareça, tenha fé, querido coração; isso é o que é! \ Nisso eu acordei, e em meus lábios o beijo dela.

Poema da poeta estadunidense Emma Lazarus (1849-1887). Veja mais aqui.

 

UTILIDADE DO INÚTIL – [...] Não nos damos conta, de fato, de que a literatura e os saberes humanísticos, a cultura e a educação constituem o líquido amniótico ideal no qual podem se desenvolver vigorosamente as ideias de democracia, liberdade, justiça, laicidade, igualdade, direito à crítica, tolerância, solidariedade e bem comum. [...]. Trecho extraído da obra The Usefulness of Useless Knowledge (Princeton, 2017), do filósofo italiano Nuccio Ordine (1958–2023), que defende que: A escola tem que formar hereges, não soldadinhos passivos... Numa entrevista ele expressou: Hoje, a tecnologia nos faz entender que o passado é obsoleto, não conta para nada. Toda a ideia da tecnologia é que o importante é o amanhã, não o dia de ontem. Essa é uma visão consumidora da vida e da cultura. Observe, por exemplo, o que acontece com o IPhone 17: consideram que os 16 modelos que o antecedem não servem para nada, pois os novos programas e aplicativos deixam de ser lidos por esses modelos. Essa é a forma como o mercado diz que você deve sempre comprar coisas novas. A cultura da tecnologia está ligada a um consumismo permanente e eterno, cujo principal objetivo é nos tornar consumidores permanentes, quase até a morte. Temos que defender uma outra visão de mundo. Em Cem anos de solidão, Gabriel García Márquez nos fala sobre o risco de perder a memória. O que significa perder a memória? Há uma frase maravilhosa de Milan Kundera que pode descrever tudo isso: “A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”. Se esquecermos, se perdermos o contato com a memória, vamos criar um mundo de bárbaros, um mundo de ignorantes, um mundo de gente que não tem senso crítico para dizer não. Hoje, a tecnologia e seus dispositivos nos fecham em um cárcere que não vemos, estamos felizes em viver nesse cárcere. Por que será? Porque roubam a nossa intimidade em troca de coisas práticas muito úteis, mas o preço que estamos pagando é muito alto.

 

DA INJUSTIÇA AO RESGATE - Nunca subestime o poder de uma mulher curiosa. Nunca tenha medo de desafiar o status quo. O conhecimento é a chave para desbloquear o potencial humano. A ciência não tem gênero. A ciência tem o poder de iluminar o mundo. A descoberta começa com a curiosidade. Seja corajosa na busca pelo conhecimento. A igualdade de direitos para todos é um princípio fundamental da humanidade. Todos nós temos uma responsabilidade para com o nosso planeta. A alta temperatura do ar úmido tem sido frequentemente observada. Quem nunca sentiu o calor ardente do sol que precede uma chuva de verão? As linhas isotérmicas serão, eu acho, muito afetadas pelos diferentes graus de umidade em diferentes lugares. Uma atmosfera com esse gás [dióxido de carbono] poderia dar à nossa Terra uma alta temperatura; e se, como alguns supõem, em algum período da história o ar se misturou a ele em uma proporção maior do que no presente, um aumento de temperatura de sua própria ação, bem como um aumento do peso, deve ter sido o resultado. Compreender o nosso planeta é o primeiro passo para protegê-lo. Pensamento da cientista, inventora e militante estadunidense pelos direitos das mulheres, Eunice Newton Foote (1819-1888).

 

MEMÓRIA DA CENA PERNAMBUCANA

[...] Vale observar como ecoam as mesmas questões para novos grupos: divisão de funções, mecanismos para viabilizar financeiramente, qualificação profissional, formação de público, seleção de repertório; ou mesmo o enfrentamento da produção artística em meio a períodos históricos turbulentos e de transição política. [...].

Trecho do prefácio A herança, do dramaturgo Newton Moreno, na obra Memória da cena pernambucana (Autores, 2005), organizado por Leidson Ferraz, Rodrigo Dourado e Wellington Júnior. Veja mais aqui, aqui e aqui.



 


quinta-feira, julho 13, 2023

BEAH RICHARDS, LARA BOYD, ELINOR OSTROM, RAGNA NIELSEN, MOACIR SANTOS & MÚSICA NA ESCOLA

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Luiza (RCA Victor, 1964), Saudade (Blue Note, 1974), Opus 3 nº 1 (Discovery, 1978) e Choros e Alegria (Adventure, 2005), do arranjador, compositor, maestro e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006). Veja mais abaixo.

 

AUTOBIOGRAFIA RENEGADA – Simplesmente nasci e do nada que tinha não disse nenhuma sequer perguntaram. Escapei de muitas para hoje contar hestórias como se fosse Henri Michaux: De mãos vazias vou ao reino noturno \ ao barro final dissolver o ser, eu que vivi a eternidade de uma tarde... O que não possuia por juízo sobrava em ousadia: aprendia pelo modo mais difícil, entre mãos e joelhos estrepados pelos escorregões nas quinas de paralelepípedos. Furava o cerco e arames farpados, sem contar escalavraduras na pele. Atravessei noites medonhas e dias torpes a findar com o horror de todos os bichos e momentos chuvosos. O tempo de outrora era o polimento às lembranças perdidas, os amigos de antanho eram outros solidários das horas intransponíveis. Senti o ônus por ter ido catando benesses pra voltar. Do que previa exitoso, juntava os cacos crepusculares. Hoje resta nenhum desaforo na cara nem pra casa, afora obscuridade na boca quase emudecida e o que sou de inextricáveis trevas e memórias ressequidas pela insondável solidão, entre a perplexidade e o sortilégio. Vez ou outra contemplado pela magia dos encantos da ressurreta desnuda La Goule e eu a chamá-la desacordado de paixão para vê-la Louise nas noites interminaveis de espera. Vez em quando reaparecia furtiva a me levar num Pas de Deux onírico: embalava minhas fantasias a sussurrar como se fosse a escritora mauriciana Marie-Thérèse Humbert: …lugares tanto quanto fantasias, onde trajetórias humanas se entrelaçam aninhadas umas nas outras... Quase um espantalho na noite inominável, sigo a fio meadas esgarçadas e longínquos acenos nas miragens. Até mais ver.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

O bem comum se distingue do individual e do público... Parte do problema é saber educar as crianças sobre aves, biodiversidade e outras coisas quando elas vivem em grandes cidades... Os seres humanos têm uma estrutura motivacional mais complexa e mais capacidade de resolver dilemas sociais do que a teoria anterior da escolha racional. Projetar instituições para forçar (ou cutucar) indivíduos totalmente egoístas a alcançar melhores resultados tem sido o principal objetivo proposto por analistas de políticas para os governos realizarem durante grande parte do último meio século. Uma extensa pesquisa empírica me leva a argumentar que, em vez disso, um objetivo central da política pública deveria ser facilitar o desenvolvimento de instituições que trazem à tona o melhor dos seres humanos... Devemos continuar a usar modelos simples onde eles capturam o suficiente da estrutura e incentivos básicos subjacentes para prever resultados de maneira útil. Quando o mundo que estamos tentando explicar e melhorar, no entanto, não é bem descrito por um modelo simples, devemos continuar a melhorar nossas estruturas e teorias para poder entender a complexidade e não simplesmente rejeitá-la...

Pensamento da economista estadunidense Elinor Ostrom (1933-2012), a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Economia, em 2009.

 

A EDUCAÇÃO & A MÚSICA – Entre as artes a música é uma das formas que leva à educação e isto por conta da leitura da obra As bases psicológicas da educação musical (Bienne\Pró-Música, 1970), do educador e músico belga Edgar Willems (1890-1978) que expressou: [...] A educação, bem compreendida, não é apenas uma preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades do ser humano [...]. A partir dele tive acesso à obra O som e o Sentido: uma outra história das músicas (Companhia das Letras, 1989), de José Miguel Wisnick, na qual apreendi: [...] Os sons preenchem cada minuto do dia e as pessoas vivem imersas num mundo de vibrações sonoras, cujos apelos produzem nelas, efeitos diferenciados dos outros estímulos sensoriais. Isso se deve ao fato de que a música “fala ao mesmo tempo ao horizonte da sociedade e ao vértice subjetivo de cada um, sem se deixar reduzir às outras linguagens [...]. Não menos esclarecedora a leitura da publicação Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da criança (Fundação Peirópolis, 2003), da musicista, professora, educadora e pesquisadora Teca Alencar de Brito, expressando que: [...] Para a grande maioria das pessoas, incluindo os educadores e educadoras (especializados ou não), a música era (e é) entendida como “algo pronto”, cabendo a nós a tarefa máxima de interpretá-la. Ensinar música, a partir dessa óptica, significa ensinar a reproduzir e interpretar músicas, desconsiderando a possibilidade de experimentar, improvisar, inventar como ferramenta pedagógica de fundamental importância no processo de construção do conhecimento musical [...]. Até me deparar com o pensamento da professora e pesquisadora Marisa Fonterrada: brincar com sons, montar e desmontar sonoridades, descobrir, criar, organizar, juntar, separar, são fontes de prazer e apontam para uma nova maneira de compreender a vida através de critérios sonoros.

 

MÚSICA NA ESCOLA – A partir dessas leituras passei a pesquisa sobre o tema Música na Escola, encontrando de primeira a obra Reavaliações e buscas em musicalização (Loyola, 1990), da professora e pesquisadora Maura Penna, na qual encontrei suas reflexões: [...] existem diversas definições para música. Mas, de modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações [...] A música é um instrumento facilitador no processo de aprendizagem, pois o aluno aprende a ouvir de maneira ativa e refletida, já que quando for o exercício de sensibilidade para os sons, maior será a capacidade para o aluno desenvolver sua atenção e memória [...]. Não menos esclarecedora foi a expressão encontrada na obra Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva (Átomo, 2003), da musicoterapeuta Vera Bréscia, expressando que: [...] A música contribui para o desenvolvimento psicomotor, socioafetivo, cognitivo e linguístico, além de ser um recurso facilitador na aprendizagem [...]. Por fim, a obra Música na Escola: a contribuição do ensino da música no aprendizado e no convívio social da criança (Paulinas, 2009), do músico alemão Hans Günther Bastian (1944-2011), mencionando que: [...] a música é um guia competente nos diversos acessos ao terceiro milênio, em que muita coisa se abre, mas apenas uma está clara, e é mais provável que o improvável aconteça do que o provável. Se dá, pois, uma oportunidade à música, para que se possa também ter uma oportunidade, pois a música está no fim? Não, no fim, está a música! [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

HOJE: Hoje \ O hoje é nosso, vamos vivê-lo \ E o amor é forte, vamos dar \ Uma música pode ajudar, vamos cantar \ E a paz é querida, vamos trazê-la \ O passado já foi, não o lamentemos \ Nosso trabalho está aqui, vamos fazer \ Nosso mundo está errado, vamos corrigi-lo \ A batalha dura, vamos lutar \ A estrada é difícil, vamos desbravá-la \ O futuro vasto, não o tema \ A fé está adormecida? \ Vamos acordá-la \ Hoje é nosso, vamos em frente.

LIBERDADE É VIVER: Eu movi mansões do sul, \ mas você moveu montanhas. \ Eu vi o coração do grande caçador branco, \ de dentro para fora, repetidas vezes. \ Enquanto você bombeava água no oceano. \ Quando falo de poesia \ com frequência, sou superficial e anseio \ por autenticidade. O tipo de amor \ que só uma mulher negra merece. \De debaixo do peito \ De conservas fecundas. \ Beah, você é a noite \ Beah, você é o útero \ Beah, você estava certo \ Em ser sempre você. \ Quando eu li você pela primeira vez, \ eu sabia que \ uma torre da rainha \ a espada de uma caneta. \ Corajoso, amplo, \ Escravo da Broadway, Casa, Democracia \Carvão, prensado, diamante \ Uma Mulher Forte. \ Você nunca foi uma \ empregada de oito linhas no meu filme. \ Você é a \ coisa mais próxima de uma mãe que jamais encontrarei, \ a voz colorida mais pura que ousaria rebobinar. \ Beah, você é a noite \ Beah, você é o útero \ Beah, você é a luta \ Pelo que precisamos \ ver.

Poemas da atriz, poeta e dramaturga estadunidense Beah Richards (1920-2000).

 

ALGUÉM DISSE A RESPEITO - O destino das mulheres é precisamente o mesmo dos homens: converter-se em seres humanos. Pensamento da pedagoga e feminista norueguesa Ragna Nielsen (Ragna Vilhelmine Ullmann – 1845-1924).

 

ALGUÉM MAIS FALOU: Seu cérebro é altamente ativo, mesmo quando você não está fazendo nada. Seu cérebro nunca está em silêncio... Toda vez que você aprende um novo fato ou habilidade, você muda seu cérebro. Isso se chama neuroplasticidade. A neuroplasticidade pode funcionar de maneira positiva e negativa. Isso pode ajudá-lo a aprender uma nova habilidade, mas também pode fazer com que você esqueça algo ou cause um vício... Conforme você envelhece, seu cérebro não apenas diminui. Cada um de nossos comportamentos pode mudar nosso cérebro, e isso acontece independentemente da idade. Na verdade, após um dano cerebral, é importante trabalhar para mudar seu cérebro para recuperação... O principal impulsionador da mudança em seu cérebro é o seu comportamento. Prática. Você tem que fazer o trabalho... Seu comportamento é o melhor impulsionador da mudança em seu cérebro. Não há atalho. Os comportamentos que você emprega em sua vida cotidiana são importantes porque estão constantemente mudando seu cérebro; além disso, uma mudança de longo prazo no cérebro requer prática e trabalho contínuos. Seu cérebro é moldado pelo que você faz E pelo que você não faz.. Conheça a si mesmo. Estude o que você aprende melhor e de uma forma que o ajude a aprender melhor. Não tente aprender de uma maneira específica porque lhe disseram que você deveria fazê-lo dessa maneira... Faça mais comportamentos que ajudem seu cérebro a se tornar mais saudável. Quebre os que não. Por exemplo, abandone a reclamação e faça o trabalho quando necessário. Pratique, pratique, pratique. Tudo o que você experimenta muda seu cérebro para melhor ou para pior, então, lembrando-se disso, saia e construa o cérebro que você deseja. Seu cérebro é incrível e está constantemente sendo moldado pelo mundo ao seu redor. Você pode mudar seu cérebro. Faça as coisas que o ajudam a construir o cérebro que você deseja... Pensamento da neurocientista e fisioterapeuta estadunidense Lara Boyd. Veja mais aqui.

 

MOACIR SANTOS

Depois de tanto procurar \ motivações, explicações \ depois de tanto palmilhar \ desvios e bifurcações \ da proa desta embarcação \ consigo interpretar, enfim, \ a carta de navegação \ que o mar traçou dentro de mim. \ A previsão sombria \ assim se dissipou \ aquela estrela-guia \ do céu me orientou \ milhões de milhas naveguei \ nem sempre ventos a favor \ o cais da paz interior. Poema Navegação, do compositor e maestro Moacir Santos (1926-2006), extraído do livro Moacir Santos: o Ouro Negro do Pajeú (Comunigraf, 2004), de Marilourdes Ferraz. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


quinta-feira, julho 06, 2023

CARL HART, VERONICA ROTH, TUNGA, MARÍA RAMÍREZ DELGADO, HUIZINGA & LÚDICO NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Ninhal (Maritaca, 1997) e Cartas Brasileiras (2007), da flautista e compositora Léa Freire.

 

PASSADOÍDOENDAGORA – Era junho e já passou: por trinta e um dias eu fui manhã chuvensolarada pelas alegorias do Oficina de José Celso Martinez Correia. Por trinta e um dias eu parêntesis de junhoutros de nenhumoutra lembrança perdida na memória, para que eu indagasse quem aquele da foto na sala, quem aquele: os nossos filhos nos responsabilizarão pelo que perdemos da coragem de sermos deste tempo e terra. Salvou-se uma alma e Maria Luisa Bomball ao meu ouvido: É muito possível desejar morrer, quando se ama demais a vida. A morte me parece uma aventura mais acessível do que a fuga... E se de morte ou de fuga sei eu quase nada, restava-me a solidária companhia de Käthe Kollwitz: Os seres humanos estão tão confusos e precisam de ajuda... Só sei que por trinta e um dias a tarde anoiteceu e eu fiquei na escuridão de séculos, contando os dedos de nenhuma estrela, com meu peito desabotoado a expor o estigma da solidão. E se não fosse Tunga Vê-nus com as afinidades afetivas à luz de dois mundos, sabe-se lá o que poderia acontecer… Só sei que passadoídendagora arrasta a carne terra afora e até mais ver.

 

DITOS & DESDITOS

Imagem: Acervo ArtLAM.

[...] Os educadores estão cientes de que só podem atingir os jovens fazendo uso do espírito de gangue e orientando-o, não trabalhando contra ele. […]. Trecho extraído de Life and Thought in America (1972), do professor e historiador neerlandês Johan Huizinga (1872-1945). Já na obra Homo ludens (Perspectiva, 2000) ele expressa: [...] mesmo em suas formas mais simples, ao nível animal, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. É uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa. Não se explica nada chamando “instinto” ao princípio ativo que constitui a essência do jogo; chamar-lhe “espírito” ou “vontade” seria dizer demasiado. Seja qual for a maneira como o considerem, o simples fato de o jogo encerrar um sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essência. [...] Se verificamos que o jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa certa “imaginação” da realidade (ou seja, a transformação desta em imagens), nossa preocupação fundamental será, então, captar o valor e o significado dessas imagens e dessa “imaginação”. Observaremos a ação destas no próprio jogo, procurando assim compreendê-lo como fator cultural da vida. As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde o início, inteiramente marcadas pelo jogo. Como por exemplo, no caso da linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder comunicar, ensinar e comandar. [...] Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. Um outro exemplo é o mito, que também é uma transformação ao uma “imaginação” do mundo exterior, mas implica em um processo mais elaborado do que ocorre no caso das palavras isoladas. O homem primitivo procura, através do mito, dar conta do mundo dos fenômenos atribuindo a este um fundamento divino. Em todas as caprichosas invenções da mitologia, há um espírito fantasista que joga no extremo limite entre a brincadeira e a seriedade. Se, finalmente, observarmos o fenômeno do culto, verificaremos que as sociedades primitivas celebram seus ritos sagrados, seus sacrifícios, consagrações e mistérios, destinados a assegurarem a tranquilidade do mundo, dentro de um espírito de puro jogo, tomando-se aqui o verdadeiro sentido da palavra. Ora, é no mito e no culto que têm origem as grandes forças instintivas da vida civilizada: o direito e a ordem, o comércio e o lucro, a indústria e a arte, a poesia, a sabedoria e a ciência. Todas têm suas raízes no solo primevo do jogo. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO – Na obra Jogo, teatro & pensamento (Perspectiva, 1980), Richard Courtney expressa que: [...] as atividades lúdicas são vistas como projeções: expressões dos pensamentos, impulsos, motivações, mais íntimos da criança que expressam significados particulares: o que um indivíduo faz em uma situação projetiva pode estar expressando diretamente seu mundo privado e processos de personalidade característicos [...]. Afirmação esta que levou a considerar o exposto na obra A formação social da mente (Fontes, 1989), de Lev Vygotsky, expressando que: [...] a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita à aprendizagem, do desenvolvimento pessoal, social e cultural e colabora para boa saúde mental e física [...]. Bem como na obra Pedagogia do Oprimido (Paz e Terra, 2008), de Paulo Freire, ele expressa que: [...] A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. A promoção das atividades lúdicas, sejam elas individuais ou grupais, oportuniza situações privilegiadas que conduzem à aprendizagem e ao desenvolvimento pessoal, social e cultural, produzindo conhecimentos e experiências que se incorporarão à vida do aluno, abrindo-lhe possibilidades de ser livre e de tomar decisões de acordo com a sua própria consciência [...]. A respeito do tema, o artigo Ludicidade (Revista PUC Educação Física, 1990), o filósofo e pedagogo francês Georges Snyders (1917-2011) expressou que: [...] O lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança, e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa [...]. Tais conduções levaram ao estudo Sala de aula e avaliação: caminhos e desafios (2002), da professora Regina Shudo, que observou: [...] Algumas questões são quase que determinantes no processo de desenvolvimento da mente infantil, como os ambientes estimulantes; as práticas educativas estimulantes, a exploração de diversos objetos; o encorajamento do adulto nas atividades que possibilitem à criança superar desafios, usar sua imaginação e criatividade [...]. É o que também observa o artigo Ludicidade e atividades lúdicas: uma abordagem a partir da experiência interna (Revista Entreideias, 2014), do processor Cipriano Luckesi ao mencionar que: [...] Enquanto estamos participando verdadeiramente de uma atividade lúdica, não há lugar, na nossa experiência, para qualquer outra coisa além dessa própria atividade. Não há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis. [...]. Tais considerações levaram ao artigo O lúdico como estratégias no Ensino Fundamental II (Revista Gestão Universitária, 2018), de Camila Franco, Luiz Fernando Godinho, Patrick do Nascimento  e Shirley Gomes, no qual encontra-se que: [...] o lúdico deve fazer parte do cotidiano dos alunos, estar presente durante as aulas, como algo mais natural possível, que quando introduzido seja visível a transformação no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, por que o lúdico auxilia em muitos aspectos quebrando todos os paradigmas existentes, com todas as regras e normas que os conteúdos de Educação Física possui. Assim, tornará o aluno criativo para se relacionar e estar com os colegas, ou até de demonstrar qualquer situação competitiva, ou de liderança durante as atividades desenvolvidas. [....]. Veja mais aqui.

 

LUDOTERAPIA – Por consequência levou-se a pesquisa para o tema terapêutico, pelo qual encontrou-se que a Ludoterapia atualmente é destinada a todas as idades, desde crianças, jovens, adultos ou idosos e o seu uso tanto pode ser a nível da psicoterapia do indivíduo como terapia de grupo, tendo em vista que a terapia do jogo e do contexto lúdico é importante para a aprendizagem e equilíbrio dos seres humanos. É o que advoga a obra Introdução à pedagogia (Coimbra, 1962), de E. Planchard, ao mencionar que: [...] Quanto mais ativa for esta força lúdica, mais a criança, candidata a homem, é inteligente e disponível para um destino superior. É carácter de impulso para o alto e para o futuro que permite fazer do jogo, em que toda a alma está empenhada, mola da educação. [...]. É o que se apreende da leitura da obra Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem (Artmed, 2008), de Vitor da Fonseca, ao observar que: [...] a característica mais genérica que os indivíduos com Dificuldades de Aprendizagem (DA) apresentam é uma discrepância acentuada entre o seu potencial estimado (inteligência igual ou superior à média) e a sua realização escolar (abaixo da média numa ou mais áreas académicas, mas nunca em todas) [...]. O esclarecimento desta questão encontra-se no artigo A importância do lúdico no processo de ensino aprendizagem na educação infantil (Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, 2021), de Gisele Mariotti Putton, ao entender que: [,,,] A ludicidade proporciona uma diversidade de atividades prazerosas que desenvolvem a criança em seus aspectos: cognitivo, afetivo, social e motor. Por meio das atividades lúdicas a criança experimenta, descobre, cria, adquire habilidades, desenvolve a autoconfiança, criatividade, pensamento, expande o desenvolvimento da linguagem, a autonomia e a atenção. Através da dinâmica, o lúdico possibilita além de situações satisfatórias, o surgimento de condutas e assimilação de regras sociais, proporciona o desenvolvimento de seu intelecto, tornando claro seu sentimento, suas angústias, ansiedades, ajudando com o reconhecimento suas dificuldades, proporcionando assim soluções e um engrandecimento na vida interior da criança. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

AUTO-RETRATO EM AGONIA: A extinção não é um sino, uma rosa ou uma pegada subaquática, \ Tem a ver com o cabelo escuro das sombras, \ com a tempestade que para a peste e o pesadelo ainda intransponível. \ Cheira a escuridão quente. \ Afaste-se de casa. \ Gire o botão, respiração desinteressada da chave. \ Não olhe para trás.

SEQUÊNCIA DO TAPETE: Um tapete perturbador mora no consultório do psicólogo. \ Como muitos outros pacientes, caminhando sobre as atrocidades, bordo-o uma vez por semana com as espirais amarelas da culpa que trago, o pescoço aberto de uma mulher nas lajes do trem. \ Determinado tenho tentado me enterrar todo nela, todas as noites, antes de dormir, tenho medo da poeira que posso sentir e que um dia ela vai embora. \ Onde colocar meus olhos então? Onde a fúria preservada entre os dedos? \ Asséptico sorriu para ela enquanto esperava a queda, só ela vê as feridas sob os sapatos, e sabe que não importam, que ninguém pode curá-las.

Poemas da escritora venezuelana María Ramírez Delgado. Veja mais aqui.

 

DIVERGENTE – [...] Acreditamos em atos comuns de bravura, na coragem que leva uma pessoa a defender outra. [...] Tornar-se destemido não é o ponto. Isso é impossível. É aprender a controlar seu medo e a se livrar dele. [...] Eu tenho uma teoria de que o altruísmo e a bravura não são tão diferentes. [...] Às vezes, chorar ou rir são as únicas opções que restam, e rir é melhor agora. [...]. Trechos extraídos da obra Divergent (Katherine Tegen, 2012), da escritora estadunidense Veronica Roth.

 

JORNADA DA AUTODESCOBERTA – […] O paradoxo da educação é precisamente este: quando alguém começa a se tornar consciente, começa a examinar a sociedade na qual está sendo educado. [...] Uma das lições mais fundamentais da ciência é que uma correlação ou ligação entre fatores não significa necessariamente que um fator seja a causa de outro. Este importante princípio, infelizmente, raramente informou a política de drogas. Na verdade, a evidência empírica é frequentemente ignorada quando a política de drogas é formulada [...] o que parecem desvantagens de uma perspectiva podem ser vantagens de outra – e as formas de saber e responder podem ser vantajosas e adaptáveis ​​em um ambiente e desvantajosas e disruptivas em outro [...] Trechos extraídos da obra High Price: A Neuroscientist’s Journey of Self-Discovery That Challenges Everything You Know About Drugs and Society (Harper Perennial, 2014), do professor de psicologia e psiquiatria estadunidense, Carl Hart.

 

LITERATURA PERNAMBUCANA

[...] A cena literária pernambucana vem, de uns anos para cá, vivendo uma verve realmente efervescente; quase nunca tivemos tantos movimentos trabalhando ao mesmo tempo. [...]

Trecho extraído da obra Literatura pernambucana: uma disciplina necessária (Audax, 2017), organizada pelo professor Roberto Queiroz. Veja mais aqui, aqui e aqui.