segunda-feira, setembro 30, 2019

SÉRGIO PORTO, EUGÉNIA MELO E CASTRO, GENTIL PORTO FILHO, BARBARA RACHKO & MILICO POETA


O MILICO POETA – Reginadauto Chenobildo – esse era o nome dele de registro civil. O primeiro, da mãe; o segundo, órfão de pai, virou sobrenome. Ficou Biu dos Cuscuz, vai gostar da iguaria assim no raio que parta! E se fartava de todo jeito: com sopa, cozidos e frituras, acompanhamento de ponches, mingaus e beliscadas. Desde menino, calunga de levar recado e bregueços pra solicitantes: Quero ser puliça! Ô, menino, deixa disso, leva isso ali. Pega isso, deixa lá. Levava, entregava e trazia de volta respostas e revides, ao regalo de garapas e frascos, devoto dos santos Longuinho e Pagamião. De seu mesmo, só o amuleto: uma cabeça de alho e uma pedra de sal enrolada numa folha de arruda. Cresceu ali repetindo rifões, lambaio a timbungar nas manhencenças do rio. Diziam: quem nele mergulha já é batizado, vira poeta na hora! Como é que é? Enumeravam respeitáveis vates, emboladores, bardos, menestréis, cantadores. Não deu outra, o pivete às caretas, vivia soltando gracejos às quadrinhas, largando seu peditório. Mais taludo, começou manejando reco-reco e, depois, todo tipo de chocalho. Participou de charangas, aprendeu a bater pandeiro, triângulo, zabumba, nisso era bem achegado a um pé de serra, cantorias. Sonhava tocador de sanfona, ou de rabeca, findou arranhando num cavaquinho que lhe foi despedaçado no quengo. Poeta de água doce, saía com adivinhas. Alvíssaras? É comigo mesmo! E tome vexado castigando nos exemplos. Idade do alistamento, lá estava ele: destacando no exército, lascado. Deu baixa um ano depois. Isso porque, no maior aperto, deu-se uma livusia: topou com o Anjo Corredor que apontou pra dentro do rio. Dos poções apareceu a Cobra-grande, fez um pacto com ela. Aprendeu na hora a ciência dos tocadores de viola cantadeira, inteira e de fitas nas cravelhas. Arranhava na toesa, castigando nos versos de quatro pés; tapiava de glosar motes na maior função, só para chamar atenção de moças que ficaram no caritó. Caiu-lhe às mãos o Lunário Perpétuo que nem leu, folheou para cantar teoria. Foi nisso, batia a requinta e logrando êxito. Fez concurso para polícia militar. Passou. Enrolava versejada amolegando o talismã: de recruta para cabo. Subiu de patente no meio de estrofes e estribilhos, quando deu fé, chegou a coronel, comandante de batalhão: Comigo só sobe de posição quem sabe poetar. Juntava os meganhas, concurso de trova. O desfile era uma violada. Cada milico dava a sua e ele lá, entre sins e nãos, no maior forrobodó. Pode uma coisa desta? Claro, em Alagoinhanduba dá de tudo! Depois conto mais do que aconteceu. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Aqui vale mais cereais do que verduras. Posso também contribuir com algumas roupas. Vou aproveitar pra pegar uns frascos... tentar concluir depois outros experimentos que comecei ano passado. Hoje em dia acredito bem mais nos meus serviços como químico do que como semiólogo. - Que experimentos? Explosivos? Mais ou menos. Explosivos com sinalizações luminosas, que variam conforme os resultados. Sério? Você deveria ter falado logo. Me parece uma síntese das suas preocupações... além de muito interessante para o nosso projeto. Tenha em mente que ao chegarmos no pé do Cavalo de Asa, precisaremos de certa força, não apenas velocidade. E, sinceramente, não acredito que as armas do seu pai sejam suficientes, mesmo sabendo que estão em bom estado. O difícil tem sido encontrar querosene para os testes, mas acho que posso conseguir um pouco, com o enfermeiro lá da clínica. Ele tem sido um grande parceiro. - Dá pra imaginar, pelas anfetaminas. Então vamos. Precisamos das máscaras? - Acho que não. As guaritas já estão fechadas... Mas sempre alerta, principalmente com as janelas abertas acima do terceiro andar. [...]. Trecho extraído da obra Vale do sal (Indecentes, 2019), integrante da Tetralogia Primeira – Terminologia, Quartzo e Temporal: lapsos -, do escritor, artista visual, professor, pesquisador, arquiteto e urbanista Gentil Porto Filho.

A MÚSICA DE EUGÉNIA MELO E CASTRO
[...] mas nos shows sempre é imprevisível, pois eu poderia ficar 3 horas apenas a contar historias superdivertidas e verdadeiras, que eu vivi, outras que quase só eu sei, em vez de fazer um show de musica, por isso, quase sempre de dia para dia no palco tudo muda, eu lembro-me na hora de uma história ao vivo e conto, não tenho regras rígidas de roteiro, eu conto o que me lembrar, se a conversa for para esse lado. Isso é o que mais me diverte… adoro contar algumas histórias que se relacionam com o que vou cantar, ou não…
EUGÉNIA MELO E CASTRO – Curtindo a arte musical da cantora e compositora portuguesa Eugénia Melo e Castro, destacando alguns de seus álbuns: Mar Virtual (Sesc, 2018), Motor da Luz (Som Livre, 2001), Dança da Luz (EDP, 2004), Canta Vinicíus de Moraes (Megadiscos/Som Livre, 1994), PopPortugal (Universal, 2007) e Águas de todo o ano (Polygram, 1983), entre outros de sua trajetória. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE BARBARA RACHKO
Continuando a jornada que comecei há mais de 30 anos, eu sabia exatamente o que devia fazer. Embora seja uma tragédia com a qual nunca estarei verdadeiramente em paz, lidar com a perda ficou mais fácil com o tempo.
BARBARA RACHKO – A arte da artista estadunidense, Barbara Rachko que tornou-se conhecida por suas obras inspiradas no México que utilizam lixa de pastel macia. Veja mais aqui.

A OBRA DE SÉRGIO PORTO
Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.
A obra do escritor, radialista, jornalista e compositor Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta, 1923-1968) aqui.


sexta-feira, setembro 27, 2019

T. S. ELIOT, ROSAMUNDE PILCHER, ROCHEFOUCAULD, ANA MENDIETA, SILVIA MOTA, AMIGOS DA BIBLIOTECA & SEXTA-FEIRA


SEXTA-FEIRA – Olhos amanhecidos na frieza do mundo e não fosse ontem feito de mormaço, não teria eu tantas horas de sentimentos vários, dor e compaixão. Não fosse o amor o termômetro da vida, não teria eu nada para dizer agora: as palavras me escondem, jamais quisera, outro era o sonho. Só os ingênuos, quiçá, na minha alucinação; sonhadores até, sei lá, cultuarão qualquer hora do entardecer que se fez noite e se perdeu na escuridão da madrugada. De longe a montanha ao sol-posto, de onde faz sombra esfriando o meu coração erradio. E eu um relês mortal, aos olhos o monograma do Cristo, voo pela noite no mar da solidão. Na boca da noite, todas as evidências levaram a nada: fui benzido de copas, a felicidade no descarte, o doce mel que se derrama em grande profusão. Eu perdi, açoitado pelo ronco da onça suçuarana que nunca existiu, virei mundo no Rabicho da Geralda e me perdi, não sei, na quentura que se alastra. Mandei boas novas e escrevi aos familiares, nunca esperei ser louvado por virgens de vestais ou qualquer estima, consideração. Enterrei o trevo de paus na volta do cruzeiro, era o que podia fazer. Ao vencedor, salve, um laço de fita no braço, palmas e saravá. Quantas imagens, labaredas, sensaboria, defecções. Desde que me tenho por gente, vivo a morrer de sede e o que me resta. Deixo aqui nada mais que tenho, um aceno qualquer, outra direção, um adeus. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] O amor é como fogo: para que dure é preciso alimentá-lo. Não há disfarce que possa esconder por muito tempo o amor quando este existe, nem simulá-lo quando este não existe. Todas as paixões nos levam a cometer erros, mas o amor faz-nos cometer os mais ridículos. A ausência apaga as pequenas paixões e fortalece as grandes. Nos ciúmes existe mais amor-próprio do que verdadeiro amor. O verdadeiro amor é como os fantasmas. Todos falam nele, mas ainda ninguém o viu. Há pessoas desagradáveis apesar das suas qualidades e outras encantadoras apesar dos seus defeitos. As pessoas fracas não podem ser sinceras. Quem vive sem loucura não é tão sábio como pensa. A verdadeira coragem está em fazermos sem testemunha o que seríamos capazes de fazer diante de todo mundo. Nada é tão contagioso como o exemplo. O primeiro dos bens, depois da saúde, é a paz interior. Pensamento do escritor e moralista francês François, Duque de La Rochefoucauld (1613-1680).

ALGUÉM FALOU: [...] Toda família tem algum segredo, mas Flora Waring descobre que o da sua é devastador. Aos vinte e dois anos, fica sabendo que tem uma irmã gêmea idêntica, Rose, que vive com a mãe, de quem ela não tem a menor lembrança. E quando Flora se vê obrigada a assumir o papel da irmã numa trama de mentiras, descobre o quanto esse fingimento poderá lhe custar caro. Ao decidir acompanhar o noivo de Rose ao encontro da avó na Cornualha, acaba se apaixonando pela família Armstrong... e por um homem maravilhoso. Ao mesmo tempo, terá que se defrontar com os segredos chocantes de Rose e assumir o risco de ver a felicidade escapar de suas mãos... [...]. Trecho extraído da obra Sob o signo de gêmeos (Bertrand Brasil, 1998), da escritora inglesa Rosamunde Pilcher (1924-2019). Veja mais aqui.

A POESIA DE SILVIA MOTA
ESCALA EM (SOU) MAIOR: Ressequido LÁ DÓ(i) em MI(m) teu FA(lo) erguido... Erótica RÉ(stia) de SOL deste(MI)da (co)MI(da) em MI(m) por MI(m) (SI)mplesmente exótica...
RECOLHI TEUS POEMAS: Espalhaste teus poemas pelas ruas do destino; revestiste os meus temas, com tuas nuvens de menino. Quedei ébria aos dilemas e um anjo libertino, de ciúmes traçou lemas, esparziu teu dom divino... Puro, terno ou celestino, teus poemas, agridoces, se espalharam... desatino! Recolhi verso por verso... belos, mansos... versos doces, neles sou teu Universo!
SAGRADA CLAUSURA Pranteio às algemas dos versos que me prendem livre para livre atar-me aos teus beijos. Soluço às correntes dos delírios que me desejam pura e pura envergo-me ao teu corpo. Beijo-te os pés numa súplica de amor. Sacias-me de quatro à tua paixão
SILVIA MOTA – Poemas da escritora, advogada, professora e pesquisadora humanista e revolucionária, Silvia Mota, que é idealizadora do Portal Sociocultural e Interdisciplinar PEAPAZ – Poetas e Escritores do Amor e da Paz, além de ser mestre em Direito Civil pela UERJ, cônsul dos Poetas Del Mundo para Cabo Frio (Rio de Janeiro), associada à Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA), membro Efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras e membro da Sociedade Brasileira de Bioética, e da Associação Brasil Soka Gakkai Internacional. Veja mais aqui & aqui.

A ARTE DE ANA MENDIETA
Eu tenho criado um diálogo entre a paisagem e o corpo feminino (baseado em minha própria silhueta). Acredito que tenha sido resultado direto de atormentada pátria (Cuba) durante minha adolescência. Sou sobrecarregada do sentimento de ser escalada desde o ventre (da natureza) para a luta. Minha arte é a maneira que eu reestabeleço os ossos que me unem ao universo. É o retorno a procura material. É crucial para mim ser parte de todos os meus trabalhos de arte. Como resultado de minha participação, minha visão torna-se realidade e parte das minhas experiências.
da pintora, escultora, performer e vídeo artista cubana Ana Mendieta (1948–1985). Veja mais aqui & aqui.

A OBRA DE T. S. ELIOT
A poesia não é um modo de libertar a emoção, mas uma fuga da emoção; não é uma expressão da própria personalidade, mas uma fuga da personalidade.
A obra do poeta, dramaturgo e crítico literário britânico-estadunidense Thomas Stern Eliot (1888-1965) aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
AMIGOS DA BIBLIOTECA
Realizou-se nesta quinta, reunião de andamento do grupo associativo Amigos da Biblioteca, reunindo interessados no desenvolvimento de ações em prol de preservação, promoção e manutenção de acervos, grupos de leitura e pesquisa, formação de leitor e políticas pro livro, da Biblioteca Pública Fenelon Barreto e bibliotecas públicas, escolares e comunitárias de Palmares e região Mata Sul pernambucana. Participaram desta reunião, o diretor da Biblioteca Fenelon Barreto, João Paulo Araújo, o poeta e compositor Zé Ripe, Basílio dos Palmares, Carlos Calheiros, Iolanda Dayo, o poeta Ricardo Cordel & Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


quinta-feira, setembro 26, 2019

WANGARI MAATHAI, LAHIRI MAHASAVA, LEWIS HINE, TEATRO PERNAMBUCANO & QUINTA-FEIRA


QUINTA-FEIRA - A lua voltou-se para o leste e capturo a noite na constelação do ermo. Já é quarto-minguante, sou pedaço de indelével prodígio, entre o gozo preciso do ilimitado e o isolamento carregado nunca e sempre. De certa forma me angustia o ponto perfeito do desvalido: um morrer queimando vísceras e sem ter nada para dizer. É o pânico da solidão para me reinventar, aprender do silêncio e o não dito, a expressão do visivisível. Nenhum fascínio pelo perigo, muito menos temores ou hesitar de hostilidades. A culpa se confessa e o coração neste instante esquece o que é homicida, só solto na noite abissal, vivo que sabe da morte, porque não sabe de nada, nem de mim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] O nascimento e a morte representam o aparecimento e o desaparecimento da alma, no reino do espaço e tempo. São o cumprimento da lei e do plano divino. A alma é imortal e eterna. Deus criou a alma humana, colocando em cada uma a vida imortal tirada da sua eterna existência. A alma deve obedecer à lei de Deus. A obediência à lei de Deus é a virtude suprema. O ego é a causa de todas as imperfeições do homem. Todas as qualidades negativas têm origem quando se esquece a própria identidade de alma, de filho de Deus. Como a natureza que revela a sua glória, a alma de um iluminado manifesta a beleza celeste das suas inatas qualidades. O caráter de um homem é determinado pela qualidade de suas ações. O fruto de suas ações está contido no Ser interior do homem. O homem é uma alma evoluída. Durante o caminho da alma em direção à realização da perfeição de Deus, o homem tornou – se um habitante desta terra. Quando for tomado pela raiva, acalme–se, convencendo sozinho a sua mente. Alimente na alma o forte desejo de abolir a luxúria, a raiva, a sofreguidão, a enfatuação, o orgulho, a inveja do teu coração e esforce - se para se liberar deles. O abandono do egoísmo é um imperativo. Com o cessar dos pensamentos, todos os sentidos são abandonados, quando os sentidos são abandonados, a potência deles desaparece; quando os sentidos são privados de potência, a energia aumenta. O aumento da energia aumenta a duração da vida. Devem ter compaixão nos seus corações. [...]. Trecho extraídos da obra Gita bodh (Vidyananda, 1984), do yogue indiano Lahiri Mahasava (1828-1895).

ALGUÉM FALOU: [...] Eu creio que precisamos elevar o nível da nossa consciência moral, voltar a ter uma perspectiva ética em relação aos recursos naturais e às outras criaturas. O problema é que ainda achamos que os nossos recursos durarão para sempre. Sem elevar o nosso nível de consciência ética, não poderemos entender que esse nível de vida tão elevado para poucos em detrimento de muitos não pode seguir adiante. [...] as pessoas vivem desperdiçando recursos porque querem imitar o nível de vida do mundo rico. Os recursos não são suficientes. Os países ricos exploram os recursos naturais dos pobres, e os poucos ricos dos países pobres fazem o mesmo. A nossa forma de lutar contra a pobreza é lutar contra esta forma de hiperconsumo não apenas no mundo industrializado, mas também nos países em desenvolvimento onde lamentavelmente estamos copiando o mundo rico em detrimento do nosso povo. Se seguirmos por este caminho, corremos um risco enorme [...]. Trecho da entrevista concedida pela ambientalista e bióloga queniana Wangari Maathai (1940-2011), Prêmio Nobel da Paz de 2004, recolhido do Jornal Extra Classe (Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul, 2005), sob o título A professora que ensina o caminho ecológico da paz, de Roberto Villar Belmonte. Veja mais aqui.

UM MINUTO PARA DIZER QUE TE AMO
Trouxemos para o palco não somente a abordagem sobre a doença, mas uma discussão conceitual em relação à memória e à narração, em seus vários aspectos, o que foi essencial para a formação desse espetáculo.
UM MINUTO PARA DIZER QUE TE AMO – A peça teatral Um minuto para dizer que te amo, produzida por Matraca Grupo de Teatro, do Sesc Piedade – Jaboatão – PE, sob a direção de Rudimar Constâncio, aborda de forma poética e contemporânea o Mal de Alzheimer, com um enredo que coloca em cena um homem velho com o seu filho e uma mulher e sua cuidadora, separados pela doença. Trata de amor, amizade, dedicação e companheirismo, alguns dos sentimentos que permeiam o universo de duas mulheres: a mãe de Lúcio e Amélia, uma cuidadora contratada, que, por meio da música, criou pontes capazes de trazer de volta as lembranças da mãe de Lúcio. Ao mesmo tempo, acontece o encontro de pai e filho, no mesmo espírito de amor e respeito. As cenas se consolidam em uma trajetória de vida, memória, narrativa e morte. A montagem foi produzida em um processo colaborativo com o método Viewpoints, envolvendo seis pessoas com diferentes pontos de vista sobre a peça. O trabalho resultou na escolha de 12 cenas. São elas: “O silêncio de Deus ou fim que vira começo”, “À espera da barca…”, “Maria Guida, hoje e amanhã”, “O menino”, “A elevação do Alzheimer”, “Reminiscência”, “Morrendo a cada segundo, ou o voo dos vaga-lumes”, “Delírio e morte”, “A barca da vida”, “Delírio e mentira”, “Das estrelas ou preciso de um céu” e “O fim”. Veja mais aqui.

A ARTE DE LEWIS HINE
A arte do fotógrafo, sociólogo e ativista estadunidense Lewis Hine (1874-1940), pioneiro da fotografia documental e importante figura da mudança na legislação do trabalho infantil nos Estados Unidos. Veja mais aqui.

A OBRA DE LYA LUFT
Pois viver deveria ser - até o último pensamento e derradeiro olhar - transformar-se.
A obra da escritora e tradutora gaúcha Lya Luft aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


quarta-feira, setembro 25, 2019

FAULKNER, BOLÍVAR & MANUELA, LU XUN, TUPAC AMARU & DAPHNE MADEIRA


MANUELA DO LIBERTADOR – Somos um e seremos, sempre: humanos, América. Não se trata de uma quimera; ao contrário, um decreto do destino. Se não há concórdia, é porque o que sou está diante da calamidade pública: fraqueza e ignorância, Cada qual, seus interesses. Mais que dúvidas ao pisar a terra: entre o heroico e o ridículo, apenas um passo. Nenhum temor a enfrentar: se a tirania é lei, a rebelião é um direito. É preciso ter coragem. Sempre tive comigo que a arte de vencer se aprende nas derrotas. Não me dei por vencido, a liberdade é a única salvação digna do sacrifício humano, mesmo que nem todos ou quase ninguém saiba realmente o que é ser livre. Aprende-se: se é noite o tempo todo, cabe inventar o dia. Vencer traz outros fracassos. Ao comemorar a vitória não sabia que inaugurava outras guerras. Jamais guerrearia se não houvesse injustiça. O que sei de triunfante, é que me apaixonei pela heroína de Lima, a linda mulher que estava estonteantemente bela em Quito, atirando-me uma flor pela Batalha de Pichincha, e se tornou a militante que me seguiu a Bogotá para todo o sempre. E tornou-se mais que o meu amor e minha amada: membro do Estado Maior do Exército da Libertação, por ser a libertadora que me salvou pela janela de orquestrado ataque. E muito mais. Mesmo com todas as incompreensões do meu povo, mesmo morrendo desprezado, cativo de infinitas amarguras, vítima de intensa dor, proscrito, detestado pelos que são meus, mesmo quando me vi sozinho, com quase todos os amigos mortos ou desertados, apenas ela, inarredável, com meus três fiéis comparsas de luta, seguiu-me incansável e vigilante, os passos libertários da minha causa. Ela não me abandonou, mesmo que pedisse, comigo seguiu e não me deixou só. Ah, amada Manuela! Foi nos seus cabelos revoltos de ativista incansável que aprendi que o lucro do triunfo passa pela indispensável senda dos sacrifícios. Foram seus vivos olhos que me ensinaram a singrar do Atlântico ao Pacífico, do Panamá ao Cabo Horn, onde tomei a ciência de que um povo ignorante é instrumento cego para sua própria destruição. Foi no seu sorriso que traguei da vitória de todas as contendas, com a lição do seu nascimento de mãe crioula que olhos hipócritas desqualificavam maldita mácula escandalosa e espúria. Foram seus mágicos lábios de tantos beijos que jurei por Deus, por meus pais e por minha honra de jamais descansar enquanto viver, até que tenha libertado a minha pátria do jugo estrangeiro. Foram seus braços e abraços que me levaram ao Páramo de Pisba e me deu a força de encarar o terremoto que dizimou meus compatriotas reencarnados na minha luta interminável. Foi nos seus seios que me abriguei desconsolado para perseverar até tê-la Ordem do Sol. Foi no seu ventre que rompi os limites de Boyacá, Carabobo e Ayacucho até os confins do mundo, e nos seus quadris contornei todos os limites dos Andes e no seu sexo venci todas as batalhas passadas e vindouras. Foram suas coxas e pernas que me ensinaram a ser águia em voo. Foi aos seus pés que me rendi definitivamente, mesmo sem nunca ter curvado diante de qualquer autoridade, sem reconhecer nenhuma deidade, só você, minha deusa e rainha, que me fez seu deus e permaneceu ao meu lado mesmo com a minha crucificação no sonho de ver unidos todos os americanos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Tudo o que queremos é isso: ao invés de sobretaxar nosso cérebro para aprender a fala de homens há muito mortos, devemos usar aquela dos homens vivos. Ao invés de tratarmos a língua como um objeto excepcional, devemos escrever no vernáculo facilmente compreensível […]. Trecho extraído da obra China silenciosa (Selected Works - Beijing/Foreing, 1980), do escritor chinês Lu Xun (1881-1936), que em outra obra sua, Literatura e suor (Selected Works – Beijing/Foreing, 1980), expressa que: [...] Símios antropóides, homem-macaco, homem primitivo, homem antigo, homem moderno, o homem do futuro... Se criaturas vivas podem de fato evoluir, então a natureza humana não pode permanecer inalterada.[...]. e, em outra mais, Pensamentos aleatórios (Selected Works – Beijing/Foreing, 1980), revela que: [...] Um amigo meu disse mais apropriadamente, ‘se queremos preservar nossas características nacionais, precisamos ter certeza primeiro de que elas podem nos preservar. Certamente, autopreservação vem primeiro. Tudo o que perguntamos é se algo tem o poder de nos preservar, não se é uma característica ou não. [...].

ALGUÉM FALOU: [...] o amor sempre vence mesmo depois da vida, mesmo após a morte [...] No começo! Oh meu amor desejado... eu tive que fazer de mulher, de secretária, de balconista, soldado húzar, de espiã, de inquisidora como intransigente. Eu ponderei os planos. Sim, eu os consultei com ele, quase os impôs; mas ele se deixou levar pela minha loucura de amante, e havia tudo lá [...] Dei àquele exército o que era necessário: coragem para todos: tente! E Simon o mesmo. Ele fez mais para me vencer. Eu não parecia uma mulher. Eu era louca por liberdade, que era sua doutrina [...] Seria difícil para mim dizer por que joguei minha vida cerca de dez vezes. Pela pátria livre? Por que Simon? Pela glória? Por mim mesma? [...]. Trechos de correspondências da revolucionária peruana Manuela Sáenz Thorne (1727-1856), que lutou pela independência das colônias sul-americanas da Espanha e a grande paixão do libertador e líder político sul-americano Simon Bolívar (1783-1830), extraído da obra Os cartões mais bonitos de amor entre Manuela e Simón acompanhados pelos Diários de Quito e Paita, além de outros documentos (MP/PGP, 2007), de Hugo Rafael Chávez Frías et al. O romance entre ambos foi tema de diversas publicações estudos, entre eles: Do discurso de amor: correspondência de Simon Bolívar e Manuela Sáenz (Revista Landa, 2018), da professora e pesquisadora Silvia L. Lopez; da obra For Glory and Bolívar The Remarkable Life of Manuela Sáenz (Published, 2006), de Pamela Murray; da obra The Four Seasons Of Manuela A Biography The Love Story Of Manuela Saenz And Simon Bolivar, de Victor W. Von Hagen; da obra História e memória histórica das mulheres: Manuela Sáenz desafia Simón Bolívar 1822-1830 (Revista Europeia de Estudos da América Latina e Caribe, 2012), da professora e pesquisadora Maria José Vilalta; da obra Simon Bolívar y Manuela Saenz: la libertadora del libertador (EdBooks, 2010), de Jazmin Saenz; e Bolívar 1783-1830 (Três, 1973), de Moacyr Werneck de Castro. Veja mais aqui.

TUPAC AMARU
Era perigosíssimo rebelar-se contra o governo espanhol na América do Sul. Em 1781, quando Tupac Amaru tentou libertar o Peru, o governador espanhol mandou cortar-lhe a língua e depois o obrigou a assistir ao trucidamento de sua esposa e de seu filho, os quais foram atados pelos membros a quatro cavalos que os puxaram em direções opostas, despedaçando-lhes os corpos. No fim do espetáculo, a ele próprio foi dado o mesmo tratamento.
TUPAC AMARUTupac Amaru (1545-1572), o supa inca, foi o quarto e último imperador inca de Vilcabamba. Perseguido por soldados espanhóis, Tupac seguia com sua esposa grávida, quando foi aprisionado. Foi julgado e condenado a decapitação pelo assassinato de sacerdotes em Urcos, dos quais era provavelmente inocente. Clérigos convencidos de sua inocência, imploraram de joelhos ao vice-rei. No entanto, o inca foi conduzido pelas ruas, com suas mãos atadas, até o cadafalso, sobre o qual ele expressou; “Mãe Terra, testemunha como meus inimigos derramaram meu sangue”. Veja mais aqui.

A ARTE DE DAPHNE MADEIRA
A arte da bailarina e professora Daphne Madeira que possui licenciatura plena em Dança pela Faculdade Angel Vianna (2004), mestrado em Artes Visuais (EBA-UFRJ) e atua como professora na UFRJ. Veja mais aqui.

A OBRA DE WILLIAM FAULKNER
Ontem só acabará amanhã, e amanhã começou há dez mil anos. Em tempo de guerra se vive no presente. O ontem já se foi e o amanhã talvez não venha.
A obra do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949, William Faulkner (1897-1962) aqui & aqui.


terça-feira, setembro 24, 2019

PARACELSO, VERDI, PAULINE RÉAGE, ARLINDO ROCHA, AMARELO MANGA & VA PENSIERO SUL’ALI DORATE


VA PENSIERO SUL’ALI DORATE – Minha mãe protegeu-me entre seus braços, escondida no campanário. Assim sobrevivi. Outras mulheres em oração, ali perto, foram trucidadas impiedosamente, homens e crianças foram chacinadas. Fui salvo do ódio da guerra. Menino silencioso, logo um acólito. Um dia, enlevado pela música, esqueci entregar a água ao padre no púlpito. Aos pontapés, fui jogado do altar, machucado e cheio de sangue, havia sido tocado pelo desconhecido. Anos mais tarde, um raio atingiu o pároco e uma lenda nasceu entre os aldeões. Não tinha nada em mim de divino, não era isso o que pensavam os meus conterrâneos, tudo por conta do ambulante Bagasset, que me tinha na promessa de gênio. Doutra feita, incapaz de emitir uma nota, martelei o velho instrumento. Danificado, teve conserto de um afinador que me presenteou seus serviços com um bilhete devotado. Adolescente melancólico, na véspera de um tempestuoso natal perdido na memória, caí num fosso quase impossível de me safar da situação. Perdia a fé e a fome fez da vida uma canção trágica: a escola do sofrimento ensinava a arte da piedade. Conheci Margherita no armazém onde era aprendiz e me deixei levar pelas leituras poéticas e duetos. Ah, Ghita, é dela Sei Romanze. Bonita e gentil, a música corria no sangue com faíscas românticas, a nossa paixão secreta. Havia de tomar pé na vida: fui reprovado pelos mestres examinadores. Abalado, ainda restava apoio quase unânime. Oberto foi suficiente para assegurar novas perspectivas e impunham-me uma comédia diante de tantas desventuras. Tornei-me uma presa de padecimentos, dívidas e ataques cardíacos. O filho, depois a filha e, em seguida, a esposa, todos finaram, um atrás do outro, em meio uma vaia desastrosa no teatro. Tudo dolorosamente particular. Doente e só, completamente só, arrasado, coração ardente pela libertação da pátria: era hora de levantar a cabeça, endireitar os ombros, e lançar de si fora a escravidão. Nabucco e o coro dos hebreus cativos: Va pensiero sul’ali dorate. Graças ao desconhecido, veio-me Giuseppina, a soprano atriz e o amor, a ventura e a fortuna no meu ceticismo agnóstico, entre o leme e o percurso. Uma adorável mulher de voz límpida, a Leonora de Oberto, a Abigaille de Nabucco, a Marchesa del Poggio em Un giorno di regno. Amei: fui e sempre serei um campônio, nunca livre dos tropeços. Eram os trabalhos forçados. Deu-se Rigoletto – a nota de comiseração pelos sofrimentos dos meus semelhantes, a rebelião e a tristeza, a dor e a esperança, a vida patética e o malogro: o fracasso humano, a herança das aflições. Aida tornou-se o meu credo, o silêncio. O canto do cisne: tudo na vida é uma enorme farsa – um voo levado pela vazante da vida: Vai, pensamento, em asas de ouro! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Na alcova, elas juntaram e fixaram as duas argolas nos braceletes, nas costas, colocaram-lhe sobre os ombros, presa na coleira, uma longa capa vermelha que a cobria inteiramente, mas que se abria quando ela andava pois não podia segurá-la, já que as mãos estavam presas nas costas [...] As mãos não tinham luvas e uma delas penetrou-a dos dois lados ao mesmo tempo, tão bruscamente que ela gritou. [...] e um dos homens, segurando-a pelos quadris com as duas mãos, penetrou-a. Depois, um segundo. O terceiro quis buscar o caminho mais estreito, forçando bruscamente, e ela berrou. [...] Você está aqui a serviço de seus mestres. [...] ao menor sinal ou palavra você largará o que estiver fazendo para prestar seu único e verdadeiro serviço, que é se entregar. Suas mãos não lhe pertencerão, nem os seios e, principalmente, nenhum orifício de seu corpo, que podemos explorar e penetrar como quisermos [...] As mãos dela, que estavam para trás [...] René lhe atara os punhos juntando a argola dos braceletes, foram tocadas pelo sexo do homem que se acariciava passando-o pelo sulco das ancas. [...]. Era surpreendente que ganhasse dignidade em prostituir, e, no entanto, era de dignidade que se tratava. Era como se tivesse sido iluminada por dentro, e nas suas atitudes via-se a calma, no seu rosto, a serenidade e o imperceptível sorriso interior que se adivinha nos olhos das reclusas [...]. Será que algum dia ela teria coragem de dizer a ele que nenhum prazer, nenhuma alegria, nenhuma imaginação, aproximava-se dessa felicidade proporcionada pela liberdade com a qual ele a usava, vinda do fato de que ele sabia que com ela não havia nenhuma precaução a tomar, nenhum limite à maneira pela qual ele podia buscar o prazer no corpo dela? [...]. Trechos extraídos da obra História de O (Delfos, 1973), de Pauline Réage – pseudônimo da escritora e jornalista francesa Anne Desclos (1907-1998), uma historia de sadomasoquismo onde a protagonista, uma jovem fotógrafa parisiense, é submetida a todo tipo de submissão feminina, tendo a vista vendada, acorrentada, chicoteada, marcada, obrigada a usar máscara e ensinada a estar sempre disponível para todo tipo de relação sexual, seja oral, vaginal ou anal. Em fevereiro de 1955, quando o livro ganhou um prêmio de literatura na França, seu editor foi acusado de obscenidade pelas autoridades. Apesar das acusações serem rejeitadas pelos tribunais, ocorreu um boicote publicitário que durou longos anos. Trata-se de um clássico do gênero erótico. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: [...] O médico deve falar do que é invisível. O que é visível deve pertencer ao seu conhecimento, e ele deve reconhecer as doenças, assim como todo mundo, que não é médico, pode reconhecê-las pelos seus sintomas. Mas isto está longe de fazê-lo um médico; ele se torna um médico somente quando ele conhece aquilo que é o inominável, o invisível e imaterial e, todavia, eficaz [...]. O Grande Médico criou o minério, mas não o levou ao seu perfeito estado. Ele encarregou os mineiros da tarefa de refiná-los. Da mesma forma ele encarregou o médico de purificar o corpo de homem... de tal purificação emerge o homem tão indestrutível quanto o ouro... Esta é a ação que – como aquela realizada pelo fogo no ouro – livra o homem de impurezas que ele mesmo não conhece. E é como tal fogo que a medicina deve agir [...]. Trechos extraídos da obra Paracelsus: selected writings (Princeton University Press, 1995), reunindo os escritos do médico, filósofo e místico suíço-alemão Teophrastus Paracelso (1493-1541). Veja mais aqui e aqui.

AMARELO MANGA
O ser humano é estômago e sexo
AMARELO MANGA – O premiado drama Amarelo Manga (2002), dirigido por Claudio Assis, retrata a vida de alguns moradores do centro histórico de Recife, guiados pelas paixões e frustrações do dia a dia. Conta diversas histórias que envolvem cenas com necrofilia, homossexualismo e adultério, expressando a realidade miserável de seus personagens de forma natural e sem protagonistas, umas vez que o personagem principal é o povo brasileiro, personificado nos nativos de Recife. Os personagens povoam o Texas Hotel, envolvendo um homossexual, um cozinheiro faxineiro, um açougueiro que trai a esposa evangélica, um necrófilo que é encantado pela dona de um boteco e por aí vai. Veja mais aqui.

A ARTE DE ARLINDO ROCHA
A arte do escultor português Arlindo Rocha (1921-1999), integrante do grupo Independentes e considerado pioneiro da escultura abstrata e personalidade influente do movimento que emancipou a escultura da vocação estatutária. Veja mais aqui.

A OBRA DE VERDI
Eu estava só, completamente só!... Com a alma torturada pelos infortúnios domésticos e magoada pela insensibilidade do público, eu tinha a certeza de que fora inútil buscar consolo na arte e decidi nunca mais compor. Minha melhor obra foi a dotação que fiz a uma casa para músicos pobres, em Milão.
A obra do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) aqui.
PS: A primeira paixão amorosa na vida de Verdi foi Margherita Barezzi (1814-1840) que foi a sua primeira esposa, deixando-o viúvo e amargurado pela perda anterior de seus dois filhos no mesmo ano: “E no meio de todas essas angustias terríveis eu tinha de escrever uma ópera cômica”. Em seguida apaixonou-se pela soprano operística italiana Giuseppina Strepponi (1815-1897) quando foi contemplado pela ventura e fortuna, que também o deixou viúvo pela segunda vez.


segunda-feira, setembro 23, 2019

MARK TWAIN, JAROSLAV SEIFERT, ROSA PASSOS, ALBENA VATCHEVA & LIVY & O DIÁRIO DE EVA.


LIVY, O DIÁRIO DE EVA – A cidade girava em torno do rio: era a vida nos olhos vidrados. Mãos e pés inquietos, a placidez das margens: o pátio de meus brinquedos e travessuras, aventuras de sobra para contar das correntezas, jusantes, funduras, braçadas às margens - quem viveu entre perigos a pique, as absurdas histórias, episódios inventados pela música das águas. Vivi por meus próprios meios e nunca fui o modelo dos sonhos maternos. A vida troçava de mim nas mais extravagantes situações. Eu sonhava de olhos abertos. Vi o retrato de Livy, a bela de Elmira: marque dois, meu nome. Dissimulava os vestígios do prazer proibido: o rosto mais belo jamais visto na vida. Fui capaz de adorá-la: os seus olhos negros vivos, suas feições finas, seus cabelos lisos. Precisava vê-la e vi: a paixão instantânea. Cinco dias depois, revê-la: a única visita e a leitura de Dickens, as cartas que escrevi. Avancei e fui recusado: Eu acredito que a jovem potranca partiu meu coração. Isso só me deixa com uma opção: ela remendar. Ela não me queria. Não desisti. Amei, mais amava a desconhecer os dias sufocantes sob Sol escaldante de verão. Era verdade que a sinceridade tantas vezes causava mal resultado, falava demais sozinho, sonhador sem espírito prático: o andar melancólico de acorrentado à vocação desconsolada para o fracasso. Maníaco por invenções, quantos lugares insuportáveis e aborrecidos. Era ela tudo o que precisava. A ela me dei: Tenho tanto orgulho no cérebro dela quanto na sua beleza. Pude então viver de verdade, persisti, perseverei. Ela era a minha vida. Mesmo comigo, passei meses sem vê-la: o seu solitário esplendor e problemas de saúde, as minhas palestras e vendas de livros. Frequentemente infringi a regra: vê-la secretamente, trocar beijos e cartas de amor. Ah, meu amor. A minha vida sem você: suas cinzas no meu coração, estou devastado, cabisbaixo. Ouço o vento e leio as águas para me salvar dos apuros insolvíveis, a reclusão eremítica pela ruína e escritos impetuosos e incansáveis. Estou farto de correr o mundo, meu exaustivo labor, retiros, refúgios, a casa de Stormfield e o sonho de findar o exílio ao vê-la partir: a única veneração de memória, o Diário de Eva. O coração claudicante não foi poupado, depois dela, A morte de Jean e nada mais, a triste perseguição para a mais preciosa das dádivas: nasci com o Halley, com ele eu voo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Por mais algum tempo, continuei a tropeçar naquele anel mágico de amor até que acordei do amor bêbado que protegi da luz e dos vendavais. Seus olhos altivos não me deixaram me livrar deles tão cedo. A cada momento, ouvia sua voz cantar as árias populares e antigas de ópera, e constantemente diante de meus olhos aquela mulher, que tinha a aparência das belas mulheres renascentistas, que mulher é dada para viver a vida com toda a paixão que a prevê próprio coração? Ele viveu sem conhecer alguns obstáculos. Ele desprezava as riquezas, mas as possuía e sabia como apreciá-las. Por vontade própria, ele conseguiu apimentar cada minuto de sua vida com a felicidade que inflamava e alimentava com prazeres e paixões que ele não escondia e, além de tudo isso, possuía algo grandioso: sua arte. Então eu disse adeus a ela, transformada há muito tempo em uma lembrança. [...] Ultimamente, eu frequentemente ouço essa expressão incrível. No começo eu não entendi nada. Até que alguém tenha esclarecido o que significa: está pronto, pronto, acabou, mas quero confiar em você com outra coisa. [...]. Trechos extraídos da obra SeifertToda la belleza del mundo: historias y recuerdos (Askelin & Haggelund Fórlag, 1981), do escritor e jornalista tcheco Jaroslav Seifert (1901-1986), Nobel de Literatura de 1984. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: [...] Leitor, suponha que você seja um idiota. Aliás, suponha que você seja um membro do Congresso. Bolas, estou me repetindo. Se Jesus vivesse hoje, há uma coisa que ele não seria: um cristão. Se o homem tivesse criado o homem, teria vergonha de sua obra. O que me incomoda na Bíblia não são os trechos que não compreendo. São justamente os que compreendo. Primeiro, apure os fatos. Depois, pode distorcê-los à vontade. Comer é humano, digerir é divino. Sempre fiz questão de nunca fumar dormindo. Os radicais inventam as ideias. Quando já as esgotaram de tanto uso, os conservadores adotam. Em questões de Estado, cuide das formalidades e pode esquecer as moralidades. Nada precisa de tantas reformas quanto os hábitos dos outros. A familiaridade gera o desprezo – e filhos. Se o desejo de matar e a oportunidade de matar viessem sempre juntos, ninguém escaparia ao enforcamento. Em certas circunstancias, um palavrão provoca um alivio inatingível até pela oração. Há duas questões na vida em que uma pessoa não deve jogar: quando não tiver posses para isso – e quando não tiver. Não fui ao enterro dele, mas mandei um bilhete simpático dizendo que deve ter sido um sucesso. As notícias a respeito de minha morte têm sido bastante exageradas. Pensamento do escritor e humorista estadunidense Mark Twain (1835 – 1910), extraído da obra O melhor do mau humor: uma antologia de citação venenosas (Companhia das Letras, 1989), do jornalista Ruy Castro. PS: O grande amor da vida de Twain foi Livi, Olivia Langdon Clemens (1845- 1904). Esse amor foi registrado em diversas obras, tais como: Mark and Livy: The Love Story of Mark Twain and the Woman Who Almost Tamed Him (Atheneum, 1992), de Resa Willis; A Family Sketch and Other Private Writings by Mark Twain, editado por Benjamin Griffin; e Dear, Dear Livy: The Story of Mark Twain's Wife Hardcover (Charles Scribner's Sons , 1963), de Adrien Stoutenburg. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A MÚSICA DE ROSA PASSOS
Lá fora eu já tenho um trabalho consagrado, e aqui eu sinto que o resultado está começando a acontecer. Tanto é que as minhas coisas começaram a acontecer no Brasil de fora para dentro. Quando eu comecei a despontar, quando meu trabalho começou a ficar extremamente conhecido e respeitado, principalmente no mercado americano – que hoje todo mundo deseja alcançar –, foi que as coisas começaram a respingar aqui no Brasil, e então começaram a surgir os convites. Eu comecei a fazer shows aqui, inclusive nos pequenos festivais de jazz que existem no país, e aí as coisas foram crescendo.
ROSA PASSOS – Curtindo a arte a cantora, compositora e violonista Rosa Passos, destacando os álbuns Amorosa (2004), Rosa (2006), Samba dobrado (2013) e Rosa Passos ao vivo (2016), entre outros. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ALBENA VATCHEVA
A arte da artista francesa de origem búlgara Albena Vatcheva, que usa diferentes fontes orientais, criando um mundo de fadas perturbadoras, com momentos tensos, amorosos, poéticos, ou seja, universo paralelo de contos, de grandes lendas universais, de infância invencível e de uma sensibilidade extraordinária, expressada com facilidade e elegância que permitem expressar uma ampla gama de sentimentos espirituais e sensuais. Veja mais aqui.