Ao som dos álbuns Desconhecido (Independente, 2011), Ó (YB Music/Natura, 2016) e Folhuda (Circus, 2019), da instrumentista, cantora e compositora Juliana Perdigão.
TRÍPTICO DQP:
- Mãe caeté, malunguinho sou... – Ah, do quilombo onde nasci
as cinzas, estou no esconderijo da Cova da Onça saboreando a Jurema Sagrada: Caboclo índio, índio africano /Caboclo
índio da Jurema. Êhô! Nenhum
festejo e algo me assalta. Coisas que não entendo, voo por desvendar, tal Sonia Hernandéz: Tudo o que não entendo me move, o que é
muito. Leio e escrevo para entender as coisas e assimilá-las. É a minha forma
de pensar, o resto é deixar-se arrastar. Assim sou, minha mãe. Não sei se ficou sabendo: a cabeça a prêmio e altas recompensas porque fugitivo
do que não sei, escapando das manobras de tropas tão imperiais pelas clareiras
primaveris. O que sei é que todos os meus estão sendo caçados e fogem da
escravidão. E o que somos, todos caetés e bantos que se valem do Malunguinho, companheiro quimbundo,
marinheiro congolês, o líder do Catucá. Foi ele que me deu a Acácia Jurema e,
com isso, ganhei dos meus ancestrais a sabedoria com a trindade de Mestre, Exu
e Caboclo. Para quem vejo peço que me diga lá as novidades, quem somos e que
fim levou João Batista da Cabanada, cadê João Pataca dos batuques e o séquito
das mulheres. Cadê João Bamba e os cento e tantos outros rebelados: nada, como
sempre, esclarecido. Só escuto Trudi Canavan repetidas vezes: Há sempre um pouco de
verdade em cada boato, o problema é descobrir qual... A sabedoria e o
conhecimento estão em toda parte, mas a estupidez também... Tudo como se antes fosse agora e o grotesco respira sua aporofobia fungando
no cangote da nossa desgraça, sou ressurreto Zumbi pelos Palmares dagora...
Escritos
esparsos no meio da diáspora... – Imagem: arte do gravador, desenhista e pintor Lívio Abramo (1903-1992). - Meu coração Goeldi, minha solidão de Debord: a
espetacularização & o cansaço. Entre vozes, Adela Cortina me chama atenção: Devido à crise, percebemos que por falta de ética, o dinheiro foi para
muitos lugares e trouxe sofrimento, principalmente para os mais vulneráveis... Nenhum
país pode sair da crise se o comportamento imoral de seus cidadãos e políticos
continuar a proliferar impunemente... Esta a vez da
aporofobia, lembrando Ortega y Gasset: O
homem é a sua circunstância. Alguém reitera
e não sei quem é: como confiar numa pessoa que não gosta do que
os outros escolhem ou gostam como se tivessem seus interesses contrariados. Há
quem bata o pé: não há alternativa. E por que não? Ao menos era mais um doido
observando outro pretendente à normalidade, ou melhor, normose. Se tudo está
invertido, talvez o outro lado do inverso, quem sabe, lá tenham razão, enquanto
lacerado sei que tudo passa. Quem ainda ousa isso nesse calor? Até depois de
mortos há quem deixe conflitos por resolver. Quando não o desfile daqueles que
formam a pútrida legião de descarados, com a obra-prima do mau gosto, afora dar
importância desmedida ao dinheiro, ué! Ninguém sabe de Lin Yutang: A vida social só pode existir na base de uma certa dose de mentiras
refinadas e de que ninguém diga exatamente o que pensa. Quase me permite
uma licença poética, Felizberto Hernández: Não creio que deva escrever apenas sobre o que sei, mas
que devo escrever também sobre os outros... E lá vou eu com as diversas maneiras de atrair o desastre e o fracasso, não mais que
dois dedos de largura por espaço e me descubro mero diletante como se fosse uma
constelação de nada.
Pintando na
praça... - E ontem mais
que um sábado inteiro agora, outra vez felizmente uma manhã ensolarada, propícia
para récita da Criação de Vinicius. Tela, pincéis, cavaletes a
postos, a mãe caeté renascendo na minha solidão. A primeira saudação foi da
lindamiga Sil Neves que me trouxe
notícias do maridamigo e do filho maestro-Marwin.
E a gente Pintava na Praça com a meninada
estudantil esfuziante que alvoroçava a praça diante da exposição no anfiteatro.
Foi bom rever Emerson do Barro moldando fisionomias, o parceirirmão Zé Ripe
solto nas artesanias, enquanto a anfitriã Nalva sorria com a mão na massa da
oficina, ao lado do mestre Celso Madeira de Igarapeba. Alexandre Freitas me
peitou pra câmara do seu canal virtual, vamolá. Nem deu pra conversar direito
com João Paulo às providências & Mary & Sheila mangando dum e doutro do
povo passante. Ana Paula veio de Xexéu para me mostrar a casa da sua infância,
boas lembranças aquelas da Rua Nova. Amigos dantanho contava lorotas e
pisoteios de idos e acontecidos. O esplendor do casal AG – marimbondamigos do
coração – ensolarava de afagos meu coração. E mais de uma vez vi Profeta com a
satisfação do dever cumprido. Estamos sempre juntos. (Veja fotos e registros do
evento aqui). Até mais ver.
[...] É suficiente lembrar que ingressamos no terceiro milênio
com novas demandas de formação e de conhecimento requeridas pelas mudanças
sociais em curso., sem sequer termos assegurado direito à escolarização
fundamental de qualidade para a maioria da população, o que exemplifica tanto a
permanência como o agravamento dos níveis de desigualdade social historicamente
imperantes entre nós. Essas mudanças, elas próprias causadoras dos perversos
níveis de desigualdades, ao atingir toda a realidade social, fazem com que os
seus reflexos atinjam os processos de produção do conhecimento científico. [...].
Trechos
extraídos da obra A educação como política pública: polêmicas do nosso
tempo (Autores Associados, 2001), da professora Janete Maria Lins de Azevedo. Veja mais
Educação & Livroterapia aqui e aqui.