CARTA DE DEZEMBRO - O que fiz da vida resta o que sou: um menino
da beira do rio aos mil e tantos quantos olhos dos dias e noites, nada mais. Sou
inconcluso e não me atormentam os devires. Ademais, não tenho mais que desejos,
tudo o mais se desfez, sobraram rugas e males que são agudos na madrugada. Daqui
a cidade é repleta de monstros esqueléticos inertes com suas vísceras desbotadas
à mostra e morro abaixo, terror à vista: as garras parabólicas segurando o
entardecer sem demoras, já outra escuridão de inferno em pleno verão. Das matas
só lembranças: seus resquícios no matagal carregado de murmúrios, a gritaria de
todos na minha boca feita de apócrifo e proscrito, nunca me vi apto para
julgar, tudo me ocorre de duas maneiras: verdadeira, se oriundas do coração;
falsas, se do cérebro, afinal, não são minhas, mas dos outros que li e estudei.
Não lembro mais o primeiro verso escrito na página extraviada, muito menos a
estreante canção juvenil esquecida com ar de quem seria feliz como recompensa pela
fogueira dos meus tormentos. Muitos morreram há tempos entre o concreto armado
e um nó na garganta, como se padecesse de janeiro a dezembro, vou só até chegar
a minha hora. Dizem que quem não fez jamais fará, e eu que nunca prevariquei digo
que nunca é tarde e ainda nem acabou de chover os anos acinzentados, o tempo
indestrutível na nódoa dos telhados: um inferno em festa com plangentes acordes,
dolências, langores que garantem erosões, corrosões, esvanecimentos. Eu voo entre
os que não dizem mais que amam e se perderam do amor nas bocas secas homiziadas
cobertas do ridículo e a se afrontarem hostis e inclementes, a se exibirem às
minhas custas. Só me resta ganir e ronronar sílabas indizíveis como um deserdado
na brisa amena de um céu carregado de nuvens. A vida é tão breve e não descobri
por inteiro nem sei meus pecados. Peco porque foi dia e mais ainda porque a
noite chega e não sei onde estou, estrangeiro de tudo. Não tenho mais nenhum
verso, perdi todos os acordes e tons, desafino e corrijo, ainda não sei ao
certo, peço perdão a quem me feriu por alguma razão, fiz o que pude e nunca é
demais. Nenhum milagre, um sequer pude ver, sou quem vai só e órfão, a mim me
basta o inútil, qualquer coisa como um sorriso ou uma lágrima nos desvãos da
alma. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
& aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] a
forma atual do capitalismo global é insustentável dos pontos de vista social e ecológico.
O chamado “mercado global” nada mais é do que uma rede de máquinas programadas
para atender a um único princípio fundamental: o de que ganhar dinheiro deve
ter precedência sobre os direitos humanos, a democracia, a proteção ambiental e
qualquer outro valor. [...] O grande
desafio do século XXI é da mudança do sistema de valores que está por trás da
economia global, de modo a torná-lo compatível com as exigências da dignidade
humana e da sustentabilidade ecológica. [...] É verdade que a transição para um mundo sustentável não será fácil. Mudanças
graduais não serão suficientes para virar o jogo; vamos precisar também de
algumas grandes revoluções. A tarefa parece sobre-humana, mas, na verdade, não
é impossível. Nossa nova concepção dos sistemas biológicos e sociais complexos
nos mostrou que perturbações significativas podem desencadear múltiplos
processos de realimentação que podem produzir rapidamente o surgimento de uma
nova ordem. [...]. Trechos extraídos da obra As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável
(Cultrix/Amana-Key, 2005), do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
DESCOBRINDO HERMILO – Muitas
vezes contei essa crônica da descoberta. Para vencer o tédio anunciado de uma
viagem, fui à única livraria da cidade. Um livro me chama a atenção pelo
título, Os Ambulantes de Deus
(1976), de um autor para mim desconhecido: Hermilo Borba Filho. A leitura me
provocou um susto, eu tinha intimidade com as ruas descritas, desenhadas com
tintas oníricas e reais. Senti-me irmão daqueles navegantes que atravessaram o
rio Una. Descobri, encantado, que a literatura pode estar em meu quintal. Não
sei a largura do rio Una, mas lembro bem da jangada num ancoradouro ao lado da
prefeitura. Nos servia de transporte às terras do engenho Paul. Era uma
travessia curta, não mais que cinco minutos. Li o livro surpreso e encantado
com aqueles seis personagens – a prostituta Dulce Mil-Homens, o poeta
cordelista Cachimbinho-de- Coco, o cego pedinte Nô-dos- Cegos, o bicheiro
Amigo-Urso, o calunga de caminhão Recombelo e o barqueiro Cipoal – torrando
cinco longos anos para fazer o mesmo caminho fluvial. Cada um dos cinco anos
começa no carnaval e termina no Natal – o ciclo dos folguedos nordestino – e
tem sua própria condicionante. [...]. Trecho da crônica Descobrindo Hermilo
(Casa da Palavra de Hermilo, 2017), do escritor, jornalista e crítico literário
Maurício Melo Júnior. Veja a
entrevista que ele concedeu pra gente aqui & mais dele aqui, aqui &
aqui.
A MÚSICA
DE CHLOÉ TREVOR
A música é uma das melhores maneiras pelas quais você
pode aprender e expandir sua mente; portanto, uma das melhores coisas que os
humanos podem fazer é ouvir música ao vivo. Por isso, é
muito importante que as novas gerações desenvolvam uma afinidade musical, pois
através dela você pode comunicar sentimentos e expressões.
CHLOÉ TREVOR – A arte da violinista britânica Chloé Trevor, tendo se apresentado como
solista para orquestra em todo mundo e vencedora do Grande Prêmio nos
concursos Lynn Harrell de 2006 e Lennox de 2005. Dedicada à educação e
divulgação musical, ela se conecta regularmente com alunos e professores
através de apresentações interativas, masterclasses e palestras, pessoalmente e
online. Em 2018 ela criou a Chloé Trevor Music Academy, um programa intensivo
de duas semanas para músicos e pianistas que oferece instruções individuais,
treinamento em música de câmara, masterclasses, treinamento de orquestra e
orientação de carreira pelos principais solistas do mundo, professores e
condutores. Veja mais aqui.
A ARTE DE PAMELA FACCO
Eu sou a
fotógrafa do projeto Poesia com Elos [...] Meu projeto tem como
objetivo inicial evitar a objetificação do nu e assim libertar o corpo da
mulher do lugar de objeto. Carrega também uma discussão de fundo sobre padrões
estéticos e a fragilidade masculina. Esse projeto teve início em novembro de
2016 e começou apenas fotografando mulheres. Minha ideia foi mostrar minha
visão enquanto artista mulher, não erótica e empoderadora sobre o corpo
feminino. [...]
Até então eu usava meu Instagram pessoal para publicar
todos meus trabalhos e os separava apenas pelas tags. Quando fui descolada da
rede senti a necessidade de abrir um Instagram próprio para o projeto. [...] É uma vitória e tanto para toda a classe de
artistas. Eu queria que essa história fosse apenas a primeira de muitas, eu
queria servir de exemplo de teimosia e autovalorização: porque não tem nada
mais importante do que a própria autora entender que lutar pelo seu trabalho e
voz é se dar valor enquanto MULHER. Queria que todas as pessoas
que sofrerem injustiça naquela plataforma e tiverem seus trabalhos prejudicados
e interrompidos olhassem para essa história e acreditassem que faz sentido sim
lutar. Porque a minha utopia pessoal não é apenas ter a minha conta livre, mas
sim que a arte como um todo o seja, e para isso é preciso que essa política
cruel e leviana mude, mas a gente sabe que as coisas nesse universo capitalista
só mudam quando começam a dar prejuízo para as empresas. Gostaria muito que
isso realmente se espalhasse para que uma mudança real acontecesse. Só eu
ganhar não me basta. Minha luta sempre foi por algo maior.
PAMELA FACCO – A arte da fotógrafa, designer gráfica e ilustradora Pamela Facco, é
criadora do projeto Poesia com Elos, o qual foi bloqueado e censurado pelo
Instagram, fazendo com que a artista recorresse à Justiça, obtendo ganho de
causa contra a rede social. A decisão judicial inédita abre precedente para
ações similares com essa jurisprudência, obrigando a rede social não só devolver
a sua conta, como também está proibida de bloquear ou deletar novas fotos da
fotógrafa. Veja mais aqui.
RUTE COSTA: POEMAS, ENTREVISTA & LEITURA NA PRAÇA
&
CRÔNICAS NATALINAS
&
Aprendendo
com a lição do Natal aqui.
Renascendo
das cinzas na véspera de natal aqui.
Crônica
natalina aqui.
PS: estou de férias até 13 de janeiro! Feliz Natal &
Próspero Ano Novo.