sábado, dezembro 21, 2019

FRITJOF CAPRA, CHLOÉ TREVOR, MAURÍCIO MELO JÚNIOR, PAMELA FACCO, RUTE COSTA & CARTA DE DEZEMBRO



CARTA DE DEZEMBRO - O que fiz da vida resta o que sou: um menino da beira do rio aos mil e tantos quantos olhos dos dias e noites, nada mais. Sou inconcluso e não me atormentam os devires. Ademais, não tenho mais que desejos, tudo o mais se desfez, sobraram rugas e males que são agudos na madrugada. Daqui a cidade é repleta de monstros esqueléticos inertes com suas vísceras desbotadas à mostra e morro abaixo, terror à vista: as garras parabólicas segurando o entardecer sem demoras, já outra escuridão de inferno em pleno verão. Das matas só lembranças: seus resquícios no matagal carregado de murmúrios, a gritaria de todos na minha boca feita de apócrifo e proscrito, nunca me vi apto para julgar, tudo me ocorre de duas maneiras: verdadeira, se oriundas do coração; falsas, se do cérebro, afinal, não são minhas, mas dos outros que li e estudei. Não lembro mais o primeiro verso escrito na página extraviada, muito menos a estreante canção juvenil esquecida com ar de quem seria feliz como recompensa pela fogueira dos meus tormentos. Muitos morreram há tempos entre o concreto armado e um nó na garganta, como se padecesse de janeiro a dezembro, vou só até chegar a minha hora. Dizem que quem não fez jamais fará, e eu que nunca prevariquei digo que nunca é tarde e ainda nem acabou de chover os anos acinzentados, o tempo indestrutível na nódoa dos telhados: um inferno em festa com plangentes acordes, dolências, langores que garantem erosões, corrosões, esvanecimentos. Eu voo entre os que não dizem mais que amam e se perderam do amor nas bocas secas homiziadas cobertas do ridículo e a se afrontarem hostis e inclementes, a se exibirem às minhas custas. Só me resta ganir e ronronar sílabas indizíveis como um deserdado na brisa amena de um céu carregado de nuvens. A vida é tão breve e não descobri por inteiro nem sei meus pecados. Peco porque foi dia e mais ainda porque a noite chega e não sei onde estou, estrangeiro de tudo. Não tenho mais nenhum verso, perdi todos os acordes e tons, desafino e corrijo, ainda não sei ao certo, peço perdão a quem me feriu por alguma razão, fiz o que pude e nunca é demais. Nenhum milagre, um sequer pude ver, sou quem vai só e órfão, a mim me basta o inútil, qualquer coisa como um sorriso ou uma lágrima nos desvãos da alma. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] a forma atual do capitalismo global é insustentável dos pontos de vista social e ecológico. O chamado “mercado global” nada mais é do que uma rede de máquinas programadas para atender a um único princípio fundamental: o de que ganhar dinheiro deve ter precedência sobre os direitos humanos, a democracia, a proteção ambiental e qualquer outro valor. [...] O grande desafio do século XXI é da mudança do sistema de valores que está por trás da economia global, de modo a torná-lo compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. [...] É verdade que a transição para um mundo sustentável não será fácil. Mudanças graduais não serão suficientes para virar o jogo; vamos precisar também de algumas grandes revoluções. A tarefa parece sobre-humana, mas, na verdade, não é impossível. Nossa nova concepção dos sistemas biológicos e sociais complexos nos mostrou que perturbações significativas podem desencadear múltiplos processos de realimentação que podem produzir rapidamente o surgimento de uma nova ordem. [...]. Trechos extraídos da obra As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável (Cultrix/Amana-Key, 2005), do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

DESCOBRINDO HERMILOMuitas vezes contei essa crônica da descoberta. Para vencer o tédio anunciado de uma viagem, fui à única livraria da cidade. Um livro me chama a atenção pelo título, Os Ambulantes de Deus (1976), de um autor para mim desconhecido: Hermilo Borba Filho. A leitura me provocou um susto, eu tinha intimidade com as ruas descritas, desenhadas com tintas oníricas e reais. Senti-me irmão daqueles navegantes que atravessaram o rio Una. Descobri, encantado, que a literatura pode estar em meu quintal. Não sei a largura do rio Una, mas lembro bem da jangada num ancoradouro ao lado da prefeitura. Nos servia de transporte às terras do engenho Paul. Era uma travessia curta, não mais que cinco minutos. Li o livro surpreso e encantado com aqueles seis personagens – a prostituta Dulce Mil-Homens, o poeta cordelista Cachimbinho-de- Coco, o cego pedinte Nô-dos- Cegos, o bicheiro Amigo-Urso, o calunga de caminhão Recombelo e o barqueiro Cipoal – torrando cinco longos anos para fazer o mesmo caminho fluvial. Cada um dos cinco anos começa no carnaval e termina no Natal – o ciclo dos folguedos nordestino – e tem sua própria condicionante. [...]. Trecho da crônica Descobrindo Hermilo (Casa da Palavra de Hermilo, 2017), do escritor, jornalista e crítico literário Maurício Melo Júnior. Veja a entrevista que ele concedeu pra gente aqui & mais dele aqui, aqui & aqui.

A MÚSICA DE CHLOÉ TREVOR
A música é uma das melhores maneiras pelas quais você pode aprender e expandir sua mente; portanto, uma das melhores coisas que os humanos podem fazer é ouvir música ao vivo. Por isso, é muito importante que as novas gerações desenvolvam uma afinidade musical, pois através dela você pode comunicar sentimentos e expressões.
CHLOÉ TREVOR – A arte da violinista britânica Chloé Trevor, tendo se apresentado como solista para orquestra em todo mundo e vencedora do Grande Prêmio nos concursos Lynn Harrell de 2006 e Lennox de 2005. Dedicada à educação e divulgação musical, ela se conecta regularmente com alunos e professores através de apresentações interativas, masterclasses e palestras, pessoalmente e online. Em 2018 ela criou a Chloé Trevor Music Academy, um programa intensivo de duas semanas para músicos e pianistas que oferece instruções individuais, treinamento em música de câmara, masterclasses, treinamento de orquestra e orientação de carreira pelos principais solistas do mundo, professores e condutores. Veja mais aqui.

A ARTE DE PAMELA FACCO
Eu sou a fotógrafa do projeto Poesia com Elos [...] Meu projeto tem como objetivo inicial evitar a objetificação do nu e assim libertar o corpo da mulher do lugar de objeto. Carrega também uma discussão de fundo sobre padrões estéticos e a fragilidade masculina. Esse projeto teve início em novembro de 2016 e começou apenas fotografando mulheres. Minha ideia foi mostrar minha visão enquanto artista mulher, não erótica e empoderadora sobre o corpo feminino. [...] Até então eu usava meu Instagram pessoal para publicar todos meus trabalhos e os separava apenas pelas tags. Quando fui descolada da rede senti a necessidade de abrir um Instagram próprio para o projeto. [...] É uma vitória e tanto para toda a classe de artistas. Eu queria que essa história fosse apenas a primeira de muitas, eu queria servir de exemplo de teimosia e autovalorização: porque não tem nada mais importante do que a própria autora entender que lutar pelo seu trabalho e voz é se dar valor enquanto MULHER. Queria que todas as pessoas que sofrerem injustiça naquela plataforma e tiverem seus trabalhos prejudicados e interrompidos olhassem para essa história e acreditassem que faz sentido sim lutar. Porque a minha utopia pessoal não é apenas ter a minha conta livre, mas sim que a arte como um todo o seja, e para isso é preciso que essa política cruel e leviana mude, mas a gente sabe que as coisas nesse universo capitalista só mudam quando começam a dar prejuízo para as empresas. Gostaria muito que isso realmente se espalhasse para que uma mudança real acontecesse. Só eu ganhar não me basta. Minha luta sempre foi por algo maior.
PAMELA FACCO – A arte da fotógrafa, designer gráfica e ilustradora Pamela Facco, é criadora do projeto Poesia com Elos, o qual foi bloqueado e censurado pelo Instagram, fazendo com que a artista recorresse à Justiça, obtendo ganho de causa contra a rede social. A decisão judicial inédita abre precedente para ações similares com essa jurisprudência, obrigando a rede social não só devolver a sua conta, como também está proibida de bloquear ou deletar novas fotos da fotógrafa. Veja mais aqui.

RUTE COSTA: POEMAS, ENTREVISTA & LEITURA NA PRAÇA
Entrevista, Poemas & Leitura na Praça da escritora e professora Rute Costa aqui & aqui.
&
CRÔNICAS NATALINAS
&
Aprendendo com a lição do Natal aqui.
Renascendo das cinzas na véspera de natal aqui.
Então, é natal aqui.
Crônica natalina aqui.
PS: estou de férias até 13 de janeiro! Feliz Natal & Próspero Ano Novo.
 

sexta-feira, dezembro 06, 2019

STEVENSON & FANNY, MARIANNE MOORE, BETTY MEGGERS & HANNAH YATA


A ÚLTIMA CARTA PARA FANNY - O mundo está cheio de tantas coisas, os sonhos são maiores que as dores. O sangrento Jack me persegue desde a infância, mesmo quando as aventuras davam num débil inválido, enfermiço, era eu um acendedor de lampiões com o bicho-papão fungando nas sombras dos meus cabelos. Só me restava a noite solitária com o sopro dos ventos, calafrios e tempestades terríveis, as lembranças de Cumme e as suas histórias horripilantes. Sempre foi assim entre a espada heroica e a pena inglória, os mapas e histórias inventadas, os paladinos marinheiros marchando para salvar a humanidade indefesa na minha cabeça, me fazendo faroleiro das ondas, tormentas e naufrágios, a distinguir o que era e não era entre vagabundos e ilibados senhores da sociedade. Como fui reprovado pelos professores, já sabia que nunca seria um contador de história respeitável, só um plumitivo que nada mais era que uma alma perdida com passatempos mirabolantes na ideia. Nunca me vi levantando paredes para moradia, muito menos um rábula para fazer justiça ou dirimir desavenças. Mesmo assim, tive de estudar as leis para ter a constatação do quanto elas são casuísticas e injustas. O ar familiar inexoravelmente puritano sempre me fora coercitivo demais, um lar insuportável. Restava vagar solitário, errando por aí a rondar ruas, paragens, maravilhas por ermos e descobertas súbitas. Os sonhos acalentados abriram o caminho para a liberdade, naveguei os sete mares e encontrei a ilha do tesouro no coração da eleita amada que insistia em se não se mostrar, escondendo seu jeito moleca e cabelos escuros cacheados ao vento, artista de pintar e escrever em revistas suas próprias criações. Mesmo ausente e distante ela me encorajou e me inspirou a seguir seus passos, atravessei o mundo por todos continentes e oceanos, por trens morosos e que não chegavam nunca em paradeiro algum. Findei fraco e sem força, quase uma procura em vão, sem um tostão no bolso, uma poça de sangue e inconsciente no topo da montanha. Quando eu precisei ela estava ali e era a Fanny da minha paixão, a remissão de tudo, a redenção de minha alma atribulada. Fui muito feliz com a nossa lua de mel na mina abandonada, inesquecível. Guardei minha voz por vários dias e cada momento vivido, nenhuma palavra, a salvação na escrita. Refiz minha viagem interior e depois retomei o caminho com uma Beraba nas Cévennes, pelas novas noites da Arábia, o Silverado Champz, as fábulas dos homens alegres, a maré vazante e os entretenimentos das noites. Eu me encontrei a mim mesmo na ilha do tesouro, onde desvendei os mistérios e a emoção de raptado. Entre tantas outras insones, uma noite má de gemidos e pesadelo intranquilo, o médico se fez monstro que me levou por sanatórios, mares, tufões e perigo, ao convívio de freiras e de leprosos desgraçados. Estou só agora, como sempre estive, aventureiro narrador, diante da viagem sem regresso: a coragem é o pilar de todas as virtudes. Ao que me cabe, pelo menos a calmaria nos arrecifes, a alegria à sota-vento, a mente tranquila a barlavento. Escrevo o meu réquiem para a minha última morada no alto da colina que dá para o Pacífico: é ali que quero ficar só com este vasto e estrelado céu, porque fui feliz e assim eu vou, marinheiro que vai partir com um verso, feito caçador dos montes que segue para a mata infinita. Esse é o meu desejo no topo do Monte Vaea. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Uma das características mais surpreendentes da vida na Amazônia de hoje é a ausência de diferenciação regional. Ao longo de todos os rios principais e de alguns tributários menores, o povo come a mesma comida, veste roupas semelhantes, vive no mesmo tipo de casa e participa das mesmas crenças e aspirações. Tendo perdido a capacidade de satisfazer suas necessidades com os recursos da floresta, é obrigado a comprar não somente panos, potes e panelas, facas e espingardas, mas, também, muitos gêneros de subsistência básicos, tais como açúcar, sal, arroz, feijão e café. O pagamento deve ser feito segundo a procura do mercado exportador e não em termos do que a área poderia melhor produzir. As principais atividades são limitadas, por conseguinte, à coleta da borracha, frutas e castanhas, à pesca, à caça em busca de pele (especialmente de onça, jacaré e anta), à agricultura e à criação de gado. A distância em que se encontram os mercados, a alta dos preços provocada pela intermediação e uma organização comercial que impede o vendedor de procurar o melhor preço, todos esses são fatores que contribuem para restringir o lucro do produtor. Doenças, azares, mau tempo e outras circunstâncias atenuantes reduzem, muitas vezes, a produtividade do homem, deixando-a abaixo do mínimo necessário para suprir as necessidades da família. Diante disso, é levado a conseguir crédito com o comerciante local e, uma vez dado esse passo, torna-se escravo do sistema, sem qualquer esperança concreta de dele sair. Impossibilitado de conseguir os alimentos adequados e sem dispor de tempo para pescar ou cultivar um roçado, ele e seus filhos tendem a sofrer de carências alimentares, o que diminui sua resistência para os outros tipos de doença. O habitat sofreu uma degradação na mesma ordem. Uma superexploração da terra em torno das grandes concentrações provocou uma acentuada e provavelmente irreversível deterioração do solo e da vegetação, causando a extinção local de muitas espécies de aves e outros animais. A superexploração e outros distúrbios reduziram ainda a incrível densidade, anteriormente existente, de tartarugas, jacarés, aves aquáticas e outras modalidades de vida aquática a simples remanescentes que buscam esconderijos em lugares distantes e inacessíveis. Os caprichos dos compradores vindos de todas as partes do mundo, que querem animais de estimação exóticos, penas espetaculares, adornos estranhos ou comidas fora do comum, incentivam a dilapidação das espécies, dos grandes animais e mesmo dos insetos. Na medida em que aumenta a escassez, os preços sobem e os esforços para atender a procura têm que ser intensificados. Até recentemente, o pequeno tamanho da população aculturada e o alto custo do transporte mantiveram os danos ecológicos confinados à várzea e às margens dos tributários principais. Às vastas regiões do interior, que permaneceram despovoadas ou que têm somente remanescentes de grupos indígenas, pouco ou nenhum dano foi causado. [...]. Trecho extraído da obra Amazônia: a ilusão de um paraíso (Civilização Brasileira, 1977), da arqueóloga estadunidense Betty Meggers (1921-2012), especializada em cultura pré-colombiana e que pesquisou a Bacia Amazônica e que no seu estudo La Amazonía en vísperas del contacto europeo: perspectivas etnohistóricas, ecológicas y antropológicas (Instituto de Estudios Peruanos, 1997), expressou que: [...] Na América do Sul, as modernas divisões políticas correspondem mais de perto com as zonas ecológicas. O Brasil é principalmente floresta; a Argentina principalmente campo; o Chile principalmente costa do Pacífico; Colômbia e Venezuela são zona intermediária. Essa diferença é significativa. [...] Os acidentes da história são responsáveis por estas fronteiras modernas, mas se compreendermos seu significado ecológico, seremos capazes de lidar mais adequadamente com os problemas que eles suscitam. [...].

A POESIA DE MARIANNE MOORE
POEMA - Eu também a abomino: há coisas mais importantes do que todo esse desatino. / Lendo-a, todavia, com total desdém, é possível que se presuma / ali, afinal, um lugar para o genuíno. / Olhos dilatados, frio / nas mãos, arrepio, / nos cabelos, essas coisas não são importantes porque uma / interpretação altissonante as pode moldar, mas porque são / úteis. Quando elas se tornam tão derivativas a ponto de ficarem ininteligíveis, / o mesmo vale para todos nós, a gente / não sente / o que não entende; morcego de ponta- / cabeça à busca de alguma / janta, tranco de elefantes, pinote de potranca, lobo sem descanso à caça, o indefectível crítico a torcer / a pele como um cavalo com pulgas, o fã de beisebol, o estatístico, / nem é lícito / discriminar “os documentos comerciais e os / livros escolares”, todos esses fenômenos são importantes. Com uma distinção, / porém; quando enaltecidos por semipoetas, o resultado não é poesia, / nem até que os nossos poetas possam ser / “literalistas da / imaginação” – desistam da / insolência e da trivialidade e possam oferecer / para inspeção, “jardins imaginários com sapos reais”, chegaremos a obtê-la. Nesse ínterim, se você demandar, por uma via, / a matéria bruta da poesia em / toda a sua bruteza e, / … por outra via, o que é / genuíno, então você se interessa por poesia.
SILÊNCIO - Meu pai costumava dizer: / “As pessoas superiores nunca fazem visitas prolongadas”, / têm de a campa de Longfellow / ou as flores de vidro de Harvard. / Autossuficientes como o gato – / que, pendendo-lhe da boca a cauda do rato / como um atilho bamboleante, / leva a presa para a intimidade – / por vezes apreciam a solitude / e podem ser privadas do discurso / pelo discurso que as deliciara. / Os sentimentos mais profundos manifestam-se sempre / em silêncio; / em silêncio não, mas de novo comedido. / Tão pouco era insincero quando dizia: / “faça de minha casa a sua hospedaria”. / Hospedarias não são residências.
O QUE SÃO OS ANOS? – O que é nossa inocência, / nossa culpa? Frágeis, somos, / vulneráveis. E de onde vem a / coragem: a pergunta sem resposta, / a resoluta dúvida, — / muda chamando, surda ouvindo — que / no infortúnio, na morte mesmo, / encoraja outras ainda / e em sua derrota anima / a alma a ser forte? Compraz-se / e com perspicácia vê / quem a mortalidade abrace / e no confinamento contra si / mesmo se volte, assim / como o mar que no abismo intenta ser, / livre mas, incapaz de ser, / no ato de capitular / encontra seu perdurar. / Quem no sentimento espera / assim age. O próprio pássaro, / que ao cantar se engrandece, acera / o corpo aprumado. Embora cativo, / seu poderoso trino / diz: o contentamento é humilde; / quão puro é o regozijo. / Isto é mortalidade, / isto é eternidade.
MARIANNE MOORE – Extraídos da obra Poemas (Companhia das Letras, 1991), da premiada escritora, editora e professora modernista estadunidense Marianne Moore (1887-1972). Veja mais aqui & aqui.

A ARTE DE HANNAH YATA
A arte da artista japonesa Hannah Faith Yata, que graduou-se em Pintura pela Universidade da Geórgia, em 2012, e estudou feminismo, psicologia e arte, atuando na defesa do meio ambiente e seus efeitos sobre a psique o mundo dos vivos, entrelaçando os paralelos entre o inconsciente e a luta do ambiente natural. Veja mais aqui.

A OBRA DE ROBERT LOUIS STEVENSON
Sob o céu largo e estrelado, / Cavar a cova e me deixe mentir. / Ainda bem que eu vivi e morri de bom grado, / E eu me deitei com vontade. / Este é o versículo que você escreve para mim: / Aqui ele jaz onde desejava estar; / Lar é o marinheiro, lar do mar, / E o caçador em casa da colina.
ROBERT LOUIS STEVENSON – Réquiem do escritor humanista escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894), autor de obras clássicas como A Ilha do Tesouro (1884), O médico e o monstro – O caso estranho do Dr. Jekyll e Sr. Hyde (1886), As aventuras de David Balfour, Raptado (1884), O jardim poético da infância (1885), No vazio da onda (1894), Uma viagem interior (1878), Os homens alegres e outros contos e fábulas (1887) e Entretenimento das noites nas ilhas (1894), algumas da quais li durante minha adolescência. O seu grande amor foi a escritora de revistas estadunidenses, Fanny (Frances Matilda Van de Grift Osbourne Stevenson - 1840-1914), por quem ele atravessou o Oceano Atlântico e os Estados Unidos em busca da felicidade, tornando-se ela a defensora da obra do autor. Veja mais aqui & aqui.
&
O poeta e a poesia de Walter Benjamim, O inferno de Patrícia Melo, a poesia de Iracema Macedo, a Balança de Têmis, a música de Sandie Shaw & Julia Bond, Auto da feira de Maria Dias de Luís da Câmara Cascudo, a arte da atriz Marie Dorval, o cinema de José Roberto Torero, a arte de Ísis Nefelibata e o poemiuderótico Queima aqui.
PS: Férias do blog com retorno previsto para 13/01/2020. Boas Festas & Feliz Ano Novo paratodos! Beijabrações!!!!!!
 

quinta-feira, dezembro 05, 2019

EGBERTO GISMONTI, HANNAH ARENDT, SARAH BERNHARDT & ANJA MATKO


A ALMA DE GISMONTI - Os acordes do Palhaço de Circense trouxeram lembranças do primeiro contato na Dança das Cabeças: acordes de cordas e teclas, batidas de corpo e de alma. Outras memorações, como a do Nó Caipira ou Zig-Zag, tão similares às coisas de minha gente com suas quermesses cumprindo penitentes a sua obrigação para livrar das mandingas, enganando as dores do mundo às mungangas e saudando a vida nos parques de diversão, ou na saída da sessão do cinema, as rodas de conversa com adágios e licenciosidades nas lapadas da tirana com estalado dos dedos e caretas de mamulengo pras quatro festas do ano, no meio de loas com livusias e pinoias de Malasartes e Camonge. Ah, minha gente, como coisas de Carmo, a Cidade Coração e a herança ítalo-libanesa: a mãe que canta acalanto para ninar o futuro do seu filho ou como quem junta mão-de-milho a tomar da garapa ou do ponche, soltando lorotas e potocas para quem puxa moda de viola, parlendas e mnemonias das coisas do Monge de Ipanema ou de Conselheiro, a glosa do mote de quem ouviu Pai João e bate o pandeiro embolado no coco que é assim: quando não se sabe o começo, não sabe onde é que é o fim. Como alma ameríndia e de malungo, como mel de uruçu: Altura do Sol do Meio-Dia, Xingu dos Iaualapitis, Kuarup, Amazônia, a Árvore, A Viagem do Vaporzinho & o Dirigível Tereré e O Pai das Águas Luminosas e todas as trilhas, estradas de ferro desaparecidas e dos que mijavam na cova ou cortavam orelhas para o sangue dar no mocotó e na volta da canela mandarem ver no parraxaxá! A alma dos Corações Futuristas e a Janela de Ouro do Sonho 70: seguro os Sete Anéis que lá vem Lôro, Frevo, Maracatu e caboclinhos! E mais: a Sanfona, a Fantasia, o Mágico e o Orfeu Novo que saiu do Computador para Academia de Danças e eu coroado com meu poeminha no Jornal Caipira do Em Família. E lá vem mais Folk Songs, Meeting Point, El Viaje, Guitar From Live Works In Montreal, e isso com João Cabral, Ferreira, Amado, os Sonhos de Castro Alves, Villa-Lobos & Trem Caipira Num Feixe de Luz da Alma de Pessoa e Música de Sobrevivência. É vida de alma e corpo, Água & Vinho, Duas vozes e a Dança dos Escravos, O Pagador de Promessas desde a Infância na Casa das Andorinhas, com Saudações e tudo mais. Enfim, a alma é uma Carta de Amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir. [...]. Pensamento da filósofa política alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975), que, entre outras coisas atinentes à educação, expressou que: A escola não é de modo algum o mundo, nem deve ser tomada como tal; é antes a instituição que se interpõe entre o mundo e o domínio privado do lar. A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele, se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A ARTE DE SARAH BERNHARDT
Quando a cortina é levantada, o ator deixa de pertencer a si próprio. Ele pertence ao seu caráter, ao seu autor, ao seu público.
A vida é curta, mesmo para quem vive muito tempo, e devemos viver para os poucos que nos conhecem e nos apreciam, que nos julgam e nos absolvem e por quem temos o mesmo carinho e indulgência.
SARAH BERNHARDT - A arte da atriz francesa Sarah Bernhardt (1844-1923), a Divina Sarah, considerada a mais famosa atriz da história, por ter sido A dama das camélias de Dumas, a Iphigénie e Phèdre de Racine, a Valérie de Eugène Scribe, a Armande da Les Femmes Savantes de Molière, a Jeanne-Marie de Theuriet, a Dona Maira da Ruy Blas de Hugo, a Le Mariage de Figaro de Beaumarchais, a Cordélia do King Lear de Shakespeare, a Pelléas de Maeterlinck, Salomé de Oscar Wilde, entre outras, afora atuar em diversos filmes, tornando-se a pioneira do cinema entre os anos de 1908 a 1923. Também foi escultora e se envolveu com pintura e artes visuais, expondo suas obras em Paris entre os anos de 1874 e 1896. Posou para Antonio de La Gandara e Alphonse Mucha, escreveu três livros autobiográficos e foi condecorada com a Légion d’honneur pelo governo francês. Diversas publicações fazem o acervo de obras sobre sua vida, dando conta que em vida ela teve mais de 1.000 homens diferentes. Veja mais aqui e aqui.

A FOTOGRAFIA DE ANJA MATKO
A arte da premiada fotógrafa, artista e designer eslovena Anja Matko, que é forma em Tecnologia gráfica e de mídia em Ljubljana. Veja mais aqui.

A OBRA DE EGBERTO GISMONTI
Quero dizer que ninguém grava 60 discos porque sabe exatamente o que está fazendo. Quem grava 60 discos está procurando mais do que os outros. As pessoas confundem, pensam que é pelo motivo oposto. O João Gilberto sabe o que faz, por isso gravou meia dúzia de discos. Eu ainda não sei direito o que eu faço: toco violão e piano, escrevo para quarteto, sinfônica... A minha relação com música é geral. Tenho ligações com a música indígena, com o pop brasileiro e com o universo inteiro do jazz. Toco com qualquer pessoa. Eu só quero me divertir. Eu só faço música para fazer o outro feliz. Música não serve para outra coisa.
A obra do compositor, arranjador, cantor & multinstrumentista Egberto Gismonti aqui e aqui.


quarta-feira, dezembro 04, 2019

RILKE, CHRISTA WOLF, MARTHA LORBER, REGINALDO OLIVEIRA & SUMÉ DE CASCUDO


O MUNDO PARA QUEM VÊ & O NÃO VISTO! – Ao ler os originais desta obra, findei surpreendido. Da primeira à última página, uma interessantíssima viagem. Logo, influenciado, passei dias a meditar: ganhar o mundo! Quem não? Sujeito andejo como sou, sempre me questionei: a vida é outra coisa, muito diferente dessa que me coube e não me basta. Uma vontade medonha a remoer no âmago: abdicar de tudo e me livrar dos grilhões da rotina, do peso das responsabilidades assumidas. Ninguém merece. Cadê coragem? A libertária atitude de jogar tudo para o alto e seguir errático o rumo das ventas na direção do horizonte - como os antigos eremitas, só na cabeça de visionários, avalie. Cada qual, o mundo ao seu modo e jeito. Einstein mesmo preferiu a viagem vital do universo para dentro de si. Outros, com os olhos de Verne, ou do Barão de Münchausen; tantos, feito o quixotesco de Cervantes, do Gulliver de Swift, Walden de Thoureau; muitos outros, como Marco Polo, Andersen, Twain, Stenvenson, ou mesmo On the road de Kerouak. Afinal, a vida é uma viagem. Por isso Quintana dizia que viajar é mudar a roupa da alma. Eu mesmo vou cantarolando aquela da banda Alcano, humildemente. Enfim, a valia do axioma de Pompeu, que foi reiterado por Plutarco, Petrarca e Fernando Pessoa para os Argonautas de Caetano, o poético: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Contudo, nem só de aventura se vive – e quem está falando de aventura? Digo de vida: livrar-se das convenções, não é tão fácil quanto parece. Deixar casa, emprego, família e se atirar aos devires: se pensar duas vezes, ninguém sai do lugar – vai e volta: arrependimentos e culpas. A coragem de pegar a estrada, enfrentar surpresas e fantasmagorias, chuva e insolação, deitar-se pelas calçadas, esquinas ou embaixo de marquises; sujeitar-se ao inopinado: pessoas de bem ou sinistras, locais acolhedores ou hostis, tudo pode acontecer, imprevisível. O surpreendente é quando uma figura hirsuta, ocupando seu espaço na praça, as mãos ao artesanato, vestes comuns dos desapegados. Passantes de soslaios: não sabem que ali está aquele que escolheu o próprio modo de viver, um ser que é, ao seu modo, sua expressão verdadeira: um nômade, seus apetrechos de vagante, sua bicicleta e o cão amigo, nos olhos ruas e caminhos. Aproximar-se, hesitante, puxar uma conversa, coisa e tal, isso e aquilo, curiosidades. É aí que nasce a surpresa: o diálogo surpreende e inesperado. Converge o encontro: quem sabe o que quer e é. Ao final, uma lição: a coragem da liberdade, o aprendizado da vida. É isso. Não ouso dizer mais nada, leiam e verão. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] uma mulher que é rebelde só porque afirma a sua vontade [...] As mulheres dos Coríntios parecem-me animaizinhos domésticos cuidadosamente amansados, olham para mim como se eu fosse uma coisa do outro mundo, nós os três, os divertidos da ponta da mesa, atraíamos todos os olhares, todos os olhares invejosos e escandalizados dos convivas e os de Jasão, implorando [...] E ela não facilita nada as coisas a ninguém. Quase diria que brinca com fogo. Só a maneira como anda! Desafiadora, é o termo. A maior parte das mulheres da Cólquida anda assim. Eu até gosto. Mas, por outro lado, também se percebe que as mulheres dos Coríntios se queixam: porque é que as estrangeiras, refugiadas, haviam de poder andar na sua cidade com um porte mais seguro do que elas próprias? Houve sarilhos, esperava-se que eu acalmasse as coisas, Medeia mandou-me passear. [...] Muitas vezes tive de contar como subi à árvore, como agarrei o velo e com ele desci, e de cada vez que a contava mudava um pouco, para corresponder às expectativas dos ouvintes, para ficarem bem assustados e no fim poderem ter uma forte sensação de alívio. A coisa chegou ao ponto de eu próprio já não saber o que se passou realmente naquele bosque, junto do carvalho com a serpente, mas assim como assim já ninguém quer ouvir a história. A noite, à volta da fogueira, cantam os feitos de Jasão matador de dragões. [...] Uma vez Medeia ouviu comigo essas canções, e no fim disse: eles fizeram de cada um de nós aquele que mais lhe convém. De ti fizeram o herói, e de mim a mulher má. E assim conseguiram separar-nos. [...] Eu conheço os homens, acho que posso dizê-lo, conheço as suas estranhas e irreprimíveis necessidades, conheço a sua fantasia desmedida e a sua tendência para tomar por pura realidade as excrescências dessa fantasia, mas aquela mulher devia ter alguma coisa que incendiava as suas cabeças e não lhes saía delas. [...]. Trechos extraídos da obra Medeia vozes (Cotovia, 1996), da escritora, ensaísta e crítica literária alemã Christa Wolf (1929-2011). Veja mais aqui.

SUMÉ
Sumé. Personagem misteriosa, homem branco, de barba e cabelos longos, que, antes do descobrimento, apareceu entre os indígenas, ensinando-lhes o cultivo da terra e regras morais. Com sua ajuda os indígenas plantaram sementes variadas e viraram nascer a mandioca, o milho, o feijão. Dotado de poderes extraordinários, era capaz de abrandar chuvas e secas, dominar as ondas do mar e os animais ferozes. Mas os pajés, invejosos do seu poder, só queriam afastá-lo. Repelido, abandonou a região, caminhando sobre as águas do mar. Transpondo distâncias com uma única passada, Sumé livrava-se das flechas que lhe atiravam, fazendo-as voltar e atingir o inimigo. Sua passagem pelo litoral fluminense deixou relatos de feitos extraordinários. [...]
SUMÉ – Trecho extraído da obra Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), no qual trata sobre o verbete Sumé, referenciando a Zomé que é tido por São Tomé, dando conta de relatos ocorridos em 1549, uma personagem misteriosa para os indígenas, homem branco, surgido antes do descobrimento, que procurava inculcar os índios ensinamentos morais e a arte de cultivar a terra. Repelido por eles escapou de suas flechadas caminhando sobre as águas do mar. Antiga tradição reza que vindo São Tomé à Bahia, onde cultivou a mandioca e as bananas que tomaram seu santo nome e que, ao fugir da perseguição dos silvícolas, foi para as Índias, com enormes passadas, sobre as ondas do mar. Contudo segundo outras fontes Sumé era apenas o grande pajé, sem o menor vestígio alienígena, ou seja, nome de uma entidade da mitologia dos tupis da costa, que teria ensinado aos índios a agricultura: Pa’i, Sumé pypûera’angaba a’e. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A DANÇA DE MARTHA LORBER
A arte da dançarina, atriz, cantora e modelo estadunidense Martha Lorber (1900-1983), que começou ainda adolescente sua carreira na Broadway, participando do Ziegfeld Follies a partir de 1922, além de ser prestigiada personagem que foi fotografada por Edward Steichen, Nickolas Muray, Arnold Genthe, Alberto Vargas e do escultor Harriet Whitney Frishmuth, entre outros. Veja mais aqui e aqui.

A OBRA DE RAINER MARIA RILKE
Temos que aceitar a nossa existência em toda a sua plenitude possível. Tudo, inclusive o inaudito, deve ficar possível dentro dela. No fundo, só essa coragem nos é exigida: a de sermos corajosos em face do estranho, do maravilhoso e do inexplicável que se nos pode defrontar.
A obra do poeta alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
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ASSIM VEJO O MUNDO, DE REGINALDO OLIVEIRA
Conforme mencionado lá em cima, a obra Assim vejo mundo, do filósofo e historiador Reginaldo Oliveira, será lançada em breve. O autor já lançou a obra Sabedoria ou mediocridade? Diálogos no reino encantado das águias (Bagaço, 2013). Veja mais aqui.


terça-feira, dezembro 03, 2019

VIRGINIA WOOLF, PAIGE BRADLEY, WALTER LIMA JÚNIOR, INCLUSÃO & CARTA DE DEZEMBRO


CARTA DE DEZEMBRO - A cabeça vira o mundo, os olhos atentos a todos os lugares: quanto mau humor ao redor. Enquanto isso, o Sol brilha e sorri, nem nos damos conta. Aqui, ali acolá, os dentes rangem e acumulam tensões, resmungos, preocupações, nem percebemos que uma criança brinca às gaitadas, perdemos a inocência. Ao contrário disso, carrancudos, aos pontapés e palavrões demonstramos nossa fúria pelo que deu errado ou nem isso. Maldizemos da vida, esmurramos os ventos, basta qualquer contrariedade do que requer o umbigo e o egoísmo, e nada vale mais a pena, estouvados entre pugnas e estorvos. Quando não é isso, são as cenas e gritarias do noticiário, ilhados de informações e problemas globais que sobrecarregam a bagagem mental: feições sombrias nas ruas, violência e autodestruição vinte e quatro horas por dias, cinco dias por semana, doze meses por ano. Será mesmo que o mundo está acabando e não dará mais tempo para sermos felizes nem que seja por um momento, aproveitando já das liquidações relâmpagos do mercado ou das escusas informações privilegiadas de que amanhã vai tudo rebentar nas bolsas financeiras e tudo irá pro espaço, remediando já o que não deu para prevenir e tudo vai desembestado, seja lá como Deus quiser. Tudo muito lamentável, nem dá tempo para perceber o quanto sofremos, quanto mais para arrependimento. Por isso mesmo, findamos empanturrados, entupidos, exaustos, desencorajados, uma vida esburacada e poeirenta que enguiça nossas ideias sem sabermos lidar com isso, quantas guerras, vexames e discussões, que Deus nos acuda, afinal. Como tudo acabará ninguém sabe, nada é de repente nem de um dia para o outro, vem de dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios, quanto vício e simulacro. Em quantas situações nos pegamos irritados, nervosos, enraivecidos, devotados avarentos: isso lá é vida, ora! A sobrevivência, os compromissos assumidos, tudo se desajusta, são as decisões que valem a vaidade e a escravidão, o desequilíbrio, nem poderia ser de outro jeito, senão como é que seria acaso não tivesse feito na hora certa, era tudo ou nada. E passou, nem era para tanto. Como é que finda, o corpo aguenta ou estoura. E assim vai ou racha. Um sorriso apenas e tudo poderia ser bem diferente. De minha parte, não tenho nada a ver com isso. Como não sou o dono da verdade, sei dos devires, tudo muda, tudo passa. Tive que fundir os cinco elementos e liberei a energia para que o fogo queimasse brando dentro de mim. Assim faço para que meu sangue possa fluir: a água mantém acesa a chama, absorvendo os poderes que são da Terra que piso e me dá a força para caminhar, do brilho da emanação solar que me guia aonde vou, das forças aéreas que me enchem o pulmão e me fazem cada vez mais vivo, das águas que me inspiram e me encanto com a Natureza ao me dizer que viver vale a pena e sou grato, faço a minha parte, o que me cabe na vida. Diante de tudo isso e a qualquer momento respiro profundamente, controlo meu coração e fecho os sentidos: faço um em quatro e retorno ao etéreo para dominar minha vida e morte, gozo do céu e da serenidade necessária: apenas um sorriso, nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Shakespeare teve uma irmã; mas não procurem por ela na vida do poeta escrita por Sir Sidney Lee. Ela morreu jovem — ai de nós! Não escreveu uma só palavra. Está enterrada onde os ônibus param agora, em frente ao Elephant and Castle. Pois bem, minha crença é de que essa poetisa que nunca escreveu uma palavra e foi enterrada numa encruzilhada ainda vive. Ela vive em vocês e em mim, e em muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão lavando a louça e pondo os filhos para dormir. [...] Extraindo sua vida das vidas das desconhecidas que foram suas precursoras, como antes fez seu irmão, ela nascerá. Quanto a ela chegar sem essa preparação, sem esse esforço de nossa parte, sem essa certeza de que, quando nascer novamente, achará possível viver e escrever sua poesia, isso não podemos esperar, pois seria impossível. Mas afirmo que ela viria se trabalhássemos por ela, e que trabalhar assim, mesmo na pobreza e na obscuridade, vale a pena. Trechos extraídos da obra Um teto todo seu (A Room of One’s Own, 1929 - Nova Fronteira, 1985), da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Veja mais aqui e aqui.

O CINEMA DE WALTER LIMA JÚNIOR
Só me interessa um cinema humanista, da linhagem de Murnau, Sjostrom e Rosselini, um cinema que revitalize o cinema, essa coisa longe que se perdeu... Esse cinema supertecnizado, com incríveis efeitos especiais, só serve para acabar com nossa imaginação. Tanta é a liberdade que não nos sobra nada para sonhar. No duro, eu acho que cinema é para filmar a natureza e o desejo humano. Só.
WALTER LIMA JÚNIOR – O cinema do diretor Walter Lima Júnior que é bacharel em Direito pela UFF e também atuou na direção de diversos dicumentários para a televisão brasileira. Da sua obra cinematográfica destaco o drama/fantasia A Ostra e o Vento (1997), que conta a história de uma jovem que foi criada sem contato com o mundo, pelo pai viúvo e repressor que é o faroleiro de uma ilha distante, enquanto ela sufocada pela solidão, desabrochando de menina em mulher, o Vento se transformará na sua única companhia. (O trecho acima destacado foi retirado de A Ostra e o Vento revitaliza o novo cinema, de Arnaldo Jabor na Folha de São Paulo, 23 de setembro de 1997). Outro a ser destacado aqui é o premiado filme Brasil Ano 2000 (1969), que conta a história ocorrida um ano após a Terceira Guerra Mundial, acompanhando-se a odisseia de uma menina e sua mãe por um Brasil devastado. Também o drama A lira do delírio (1978), em que os participantes de um bloco de carnaval se cruzam num cabaré da Lapa carioca, ocasião em que o filho de uma dançarina é sequestrado e, para descobrir o assassino e as razões do crime, ela conta com a ajuda de um repórter policial, que ao mesmo tempo também investiga um homicídio contra um homossexual. Por fim, merece destaque o romance fantasia Ele, o boto (1987), baseado numa lenda amazônica do boto, que supostamente seduz e engravida mulheres em noite de lua cheia, quando ele vem à terra e se transforma em humano, para seduzir e ser amado pelas mulheres e odiado pelos homens. Veja mais aqui.

A ESCULTURA DE PAIGE BRADLEY
Muitas dessas pessoas acreditam que já não há mais nada a acrescentar a arte de fazer esculturas figurativas realistas, acham que tudo já foi feito. Segundo eles, a verdadeira arte agora é ser um "visionário" ao invés de apenas mostrar o talento e habilidade. Assim, as esculturas desapareceram de galerias, museus, coleções importantes, feiras de arte e outros espetáculos. Os poucos de nós que restaram, não temos mais lugar para expor e nossa voz deixou de ser ouvida. Muitos escultores passaram a lecionar por falta de oportunidades. Aí parei e pensei que se eu quisesse permanecer na área de belas artes, teria que me juntar aos contemporâneos e fazer arte contemporânea. Eu sabia que esta era hora de deixar para trás todas as habilidades refinadas que adquiri ao longo dos anos, e manter apenas a confiança no processo de fazer arte. O mundo da arte me dizia que eu tinha que quebrar os meus paradigmas, a minha base, deixar minhas paredes desmoronar, expor-me completamente, e somente assim eu encontraria a verdadeira essência do que eu precisava dizer.
PAIGE BRADLEY – A arte da escultora estadunidense Paige Bradley, conhecida por bronzes figurativos representativos. Ela se tornou popularmente conhecida por seu conceito de escultura, Expansion, uma obra de bronze e eletricidade. Veja mais aqui.

INCLUSÃO & DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Imagem: Operários de Tarsila do Amaral.
Reunião de textos e avaliações sobre inclusão aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.