quinta-feira, abril 23, 2020

KAREN BLIXEN, QORPO SANTO, SUSAN SONTAG & CLÁUDIA JACOBOVITZ


VACILOU, LÁ VÃO TRÊS – UMA: LIVROS SÃO TANTAS VIDAS – Cada dia uma história, uma página virada de uma história inconclusa. Às ruas quantos personagens na verdade são autores de narrativas e enredos inconcebíveis, improváveis, inesquecíveis. Cada fala por mínima que seja tem um contexto, mesmo que se pareça um parágrafo solto no ar. Guardo o sussurro de Pamela Lyndon Travers: Tudo que você precisa fazer é ler seus próprios livros. E escrever o que passou por toda a vida, mesmo que André Gide grite: Se um jovem escritor conseguir abster-se de escrever, não deveria hesitar em fazer isso. É que assim rascunhando a trajetória e percalços, possa ter ótimas descobertas. Eu as tive e tenho, mais terei. Um provérbio árabe diz: A coisa mais difícil para o homem é o conhecimento próprio. Porque, como diz Galileu: A maior sabedoria que existe é a de conhecer-se a si próprio. E o Código de Ética indígena: Procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você. Sigo e persevero. DUAS: O CHORO DA SAUDADE - Lembro bem certa tardezinha de sábado de não sei quando mais, na sempre aprazível Maceió, encontro o amigo Íbys Maceyoh numa Roda de Choro. Nada mais convidativo para apreciação. Lá pras tantas, um desfile das inesquecíveis do mestre Pixinguinha. O coração chega se comovia com a tocada. Noite alta, no meio da batucada lembrei-me duma de William Shakespeare: Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes. Pelo menos o Choro lava a alma e restaura para seguir na caminhada da vida. Vamos nessa. TRÊS: ENTRE DOIS INIMIGOS – Ainda bem que existe a música pra gente aguentar a recrucificação cotidiana, como se fôssemos o Jesus do Kazantzákis: um emaranhado de descaso, cobiça, mediocridade, avareza, mesquinhez e a putrefação moral. É o mesmo que dar de cara com o desfile de desfeitas dos Coisomínios, empunhando dois inimigos implacáveis: o Coisonário e o coronavírus, duas pragas para transição dessa década em pleno século XXI. Eles expõem ódios e ressentimentos, se dizendo redentores cristãos da moralidade com gritos de retroação incabível. É nessa que ouso Mark Twain: Se Jesus vivesse hoje, há uma coisa que ele não seria: um cristão. Claro que não, pois Jesus resplandece: Ame seus inimigos, faça o bem para aqueles que te odeiam, abençoe aqueles que te amaldiçoam, reze por aqueles que te maltratam. Se alguém te bater no rosto, ofereça a outra face. Não sei, tomara possamos nos salvar desse reinado de equívocos! E vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] E a cada vez que eu lia, seu rosto assumia a mesma expressão de um profundo triunfo religioso, e depois ele alisava meticulosamente o papel antes de dobrá-lo e devolvê-lo ao saquinho. Em vez de diminuir, a importância do relato só aumentava com o tempo, como se o mais incrível para Jogona fosse o fato de ele nunca se alterar. O passado, que tanto lhe custara para recuperar, e que antes provavelmente lhe parecia mudar toda vez que nele pensava, agora havia sido capturado, conquistado e ficado para sempre diante de seus olhos. Ele havia se tornado história: agora não sofria mais variações, nem era obscurecido pela sombra das mudanças. [...] A vizinhança da Reserva de Caça e a presença, além da divisa, de animais de grande porte conferiam à fazenda um caráter peculiar, como se fôssemos vizinhos de um grande soberano. Havia por lá seres muito orgulhosos e dava para sentir sua proximidade. O bárbaro tem em alta conta o próprio orgulho, e odeia, ou vê com desconfiança, o orgulho nos outros. Eu serei uma criatura civilizada, vou amar o orgulho de meus adversários, de meus criados e de meu amante; e minha casa será, com toda a humildade, um local civilizado no meio do deserto. Orgulho é a fé na ideia que tinha Deus ao nos conceber. Um homem orgulhoso tem consciência dessa ideia e procura realizá-la. Não luta para obter a felicidade ou o conforto, talvez irrelevantes para a concepção que Deus tem a nosso respeito. Seu êxito está na bem-sucedida realização da ideia divina e é alguém apaixonado por seu destino. Assim como o bom cidadão encontra a felicidade no cumprimento de seu dever para com a comunidade, do mesmo modo o homem orgulhoso encontra a felicidade no cumprimento de seu destino. [...]. Trechos extraídos da obra A fazenda africana (Cosac Naify, 2005), da escritora Karen Blixen (pseudônimo de Isak Dinesen - 1885-1962). Veja mais aqui.

O TEATRO DE QORPO-SANTO
[...] porque não pode haver mundo, nem haveria distinções se tudo fosse igual. Parece que as diversidades constituem a harmonia na espécie humana. [...]
QORPO-SANTO – Trecho da peça teatral O hóspede atrevido, ou O brilhante escondido, extraído da obra Teatro Completo (UFRGS, 1969), do dramaturgo, escritor e jornalista brasileiro José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido como Qorpo Santo (1829-1883). Veja mais aqui e aqui.

O MUNDO DAS IMAGENS
[...] A realidade enquanto tal é redefinida - como um artigo para exposição, como um registo para exame, como um alvo para vigilância. A exploração e a duplicação fotográfica do mundo fragmentam as continuidades e inserem os fragmentos num dossiê interminável, fornecendo assim possibilidades de controlo nunca imaginadas com o antigo sistema de registo de informação: a escrita. [...] as fotografias são uma forma de aprisionar a realidade [...], de a imobilizar. [...] Não podemos possuir a realidade, podemos possuir (ou ser possuídos) por imagens [...] não podemos possuir o presente mas podemos possuir o passado. [...] a fotografia significa um acesso instantâneo ao real. Mas os resultados desta prática de acesso instantâneo são outra maneira de criar distância. Possuir o mundo sob a forma de imagens é, precisamente, reviver a irrealidade e o afastamento do real. [...]
O MUNDO DAS IMAGENS - Trecho extraído da obra O mundo das imagens (Dom Quixote, 1986), da escritora, ensaísta, crítica social e ativista estadunidense Susan Sontag (1993-2004). Veja mais aqui & aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Pensei muito nessa coisa da materialidade da fotografia e quis fazer as fotos passarem por experiências.
A arte da fotógrafa Cláudia Jacobovitz aqui & aqui.
A arte do gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017) aqui, aqui & aqui.
A literatura do escritor e dramaturgo Osman Lins (1924-1978) aqui & aqui.
A música de Geraldo Azevedo aqui, aqui & aqui.
A poesia de Lourdes Sarmento aqui.
Una dos Ambulantes de Deus aqui, aqui, aqui & aqui.
Venturosa aqui & aqui.