VACILOU, LÁ VÃO TRÊS – UMA: LIVROS SÃO
TANTAS VIDAS – Cada
dia uma história, uma página virada de uma história inconclusa. Às ruas quantos
personagens na verdade são autores de narrativas e enredos inconcebíveis,
improváveis, inesquecíveis. Cada fala por mínima que seja tem um contexto,
mesmo que se pareça um parágrafo solto no ar. Guardo o sussurro de Pamela Lyndon Travers: Tudo que você precisa fazer é ler seus próprios livros. E escrever o que
passou por toda a vida, mesmo que André Gide grite: Se um jovem escritor
conseguir abster-se de escrever, não deveria hesitar em fazer isso. É que assim rascunhando a trajetória e percalços, possa
ter ótimas descobertas. Eu as tive e tenho, mais terei. Um provérbio árabe diz:
A coisa mais difícil para o
homem é o conhecimento próprio. Porque, como diz Galileu: A maior sabedoria
que existe é a de conhecer-se a si próprio. E o Código de Ética indígena: Procure conhecer-se, por si próprio. Não
permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua.
Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você. Sigo e
persevero. DUAS: O CHORO DA SAUDADE
- Lembro bem certa tardezinha de sábado de não sei quando mais, na sempre
aprazível Maceió, encontro o amigo Íbys Maceyoh numa Roda de Choro. Nada mais convidativo para apreciação. Lá pras
tantas, um desfile das inesquecíveis do mestre Pixinguinha. O coração chega se comovia com a tocada. Noite alta,
no meio da batucada lembrei-me duma de William Shakespeare: Choramos ao nascer
porque chegamos a este imenso cenário de dementes. Pelo menos o Choro lava
a alma e restaura para seguir na caminhada da vida. Vamos nessa. TRÊS: ENTRE DOIS
INIMIGOS – Ainda bem que existe a música pra gente aguentar a
recrucificação cotidiana, como se fôssemos o Jesus do Kazantzákis:
um emaranhado de descaso, cobiça, mediocridade, avareza, mesquinhez e a
putrefação moral. É o mesmo que dar de cara com o desfile de desfeitas dos
Coisomínios, empunhando dois inimigos implacáveis: o Coisonário e o
coronavírus, duas pragas para transição dessa década em pleno século XXI. Eles
expõem ódios e ressentimentos, se dizendo redentores cristãos da moralidade com
gritos de retroação incabível. É nessa que ouso Mark Twain: Se Jesus vivesse
hoje, há uma coisa que ele não seria: um cristão. Claro que não, pois Jesus resplandece: Ame seus inimigos, faça o bem para aqueles que te odeiam, abençoe
aqueles que te amaldiçoam, reze por aqueles que te maltratam. Se alguém te
bater no rosto, ofereça a outra face. Não sei, tomara possamos nos salvar
desse reinado de equívocos! E vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] E
a cada vez que eu lia, seu rosto assumia a mesma expressão de um profundo
triunfo religioso, e depois ele alisava meticulosamente o papel antes de
dobrá-lo e devolvê-lo ao saquinho. Em vez de diminuir, a importância do relato
só aumentava com o tempo, como se o mais incrível para Jogona fosse o fato
de ele nunca se alterar. O passado, que tanto lhe custara para recuperar, e que
antes provavelmente lhe parecia mudar toda vez que nele pensava, agora havia
sido capturado, conquistado e ficado para sempre diante de seus olhos. Ele
havia se tornado história: agora não sofria mais variações, nem era obscurecido
pela sombra das mudanças. [...] A
vizinhança da Reserva de Caça e a presença, além da divisa, de animais de
grande porte conferiam à fazenda um caráter peculiar, como se fôssemos vizinhos
de um grande soberano. Havia por lá seres muito orgulhosos e dava para sentir
sua proximidade. O bárbaro tem em alta conta o próprio orgulho, e odeia, ou vê
com desconfiança, o orgulho nos outros. Eu serei uma criatura civilizada, vou
amar o orgulho de meus adversários, de meus criados e de meu amante; e minha
casa será, com toda a humildade, um local civilizado no meio do deserto.
Orgulho é a fé na ideia que tinha Deus ao nos conceber. Um homem orgulhoso tem
consciência dessa ideia e procura realizá-la. Não luta para obter a felicidade
ou o conforto, talvez irrelevantes para a concepção que Deus tem a nosso
respeito. Seu êxito está na bem-sucedida realização da ideia divina e é alguém
apaixonado por seu destino. Assim como o bom cidadão encontra a felicidade no
cumprimento de seu dever para com a comunidade, do mesmo modo o homem orgulhoso
encontra a felicidade no cumprimento de seu destino. [...]. Trechos
extraídos da obra A fazenda
africana (Cosac Naify, 2005), da escritora Karen Blixen (pseudônimo
de Isak Dinesen
- 1885-1962). Veja mais aqui.
O TEATRO DE QORPO-SANTO
[...] porque não pode haver mundo,
nem haveria distinções se tudo fosse igual. Parece que as diversidades
constituem a harmonia na espécie humana. [...]
QORPO-SANTO – Trecho da peça
teatral O hóspede atrevido, ou O
brilhante escondido, extraído da obra Teatro Completo (UFRGS, 1969), do dramaturgo, escritor e
jornalista brasileiro José Joaquim de Campos Leão, mais conhecido como Qorpo
Santo (1829-1883). Veja mais aqui e aqui.
O MUNDO DAS IMAGENS
[...] A realidade enquanto tal é redefinida - como
um artigo para exposição, como um registo para exame, como um alvo para
vigilância. A exploração e a duplicação fotográfica do mundo fragmentam as
continuidades e inserem os fragmentos num dossiê interminável, fornecendo assim
possibilidades de controlo nunca imaginadas com o antigo sistema de registo de informação:
a escrita. [...] as fotografias são
uma forma de aprisionar a realidade [...], de a imobilizar. [...] Não podemos
possuir a realidade, podemos possuir (ou ser possuídos) por imagens [...] não podemos possuir o presente mas podemos
possuir o passado. [...] a fotografia
significa um acesso instantâneo ao real. Mas os resultados desta prática de
acesso instantâneo são outra maneira de criar distância. Possuir o mundo sob a
forma de imagens é, precisamente, reviver a irrealidade e o afastamento do real.
[...]
O MUNDO DAS IMAGENS - Trecho
extraído da obra O mundo das imagens
(Dom Quixote, 1986), da escritora, ensaísta, crítica social e ativista
estadunidense Susan Sontag
(1993-2004). Veja mais aqui & aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Pensei muito nessa coisa da materialidade da fotografia e quis fazer as
fotos passarem por experiências.
A arte do gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017)
aqui, aqui & aqui.
A poesia
de Lourdes Sarmento aqui.