quarta-feira, dezembro 31, 2014

PAULA SIMONETTI, LAUREN KATE, MARIANNE WILLIAMSON, JORDAN PETERSON, BASUKI & LITERÓTICA


 


CAPÉI, A DEUSA SELENE – A noite saiu do coco de Tucumã e a moça das águas da cachoeira, sozinha no fundo dos bosques, acendeu os vaga-lumes e à beira do lago sua imagem influenciou a natureza e regulou as marés, a germinação das sementes, o fluxo das mulheres, o nascimento das crianças e dos bichos e o brilho de certas pedras de cor. E a moça branca das águas da cachoeira vivia sozinha no fundo dos bosques, o meu amor proibido. Sua lágrima se fez Amazonas e alumiou meus versos de ermitão. E eu a segui até o terminadouro, navegante solitário, seguindo seus passos até me envolver em seu breu para nunca mais raiar o dia. Nela eu virei tetéu e se fez eterna guardiã para cantá-la: quero-quero e pra vigiar a volta do sol. E cantando comigo me fez Selenito, andejo da noite em que a coruja segura o ponta do céu como se o meu amor tivesse ido e se foi, o meu amor já se foi, já foi, foi... Era ela nua aos meus pés pagãos, um discípulo que dela se apropriou: ela diz que sou seu amor, ninguém sabe, desde então ela sempre me amou. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aquiaqui e aqui.

  


DITOS & DESDITOS - Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente esperando resultados diferentes. Não há progresso sem mudança de atitude. É melhor se arrepender de algo que você fez do que se arrepender de algo que não fez. O que define você é o que você faz quando se sente mais entediado... Pensamento do psicólogo, escritor e professor canadense Jordan Peterson, autor da obra Maps of Meaning: The Architecture of Belief (Routledge, 2000). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: O amor é com o que nascemos. O medo é o que aprendemos. A jornada espiritual é o desaprendizado do medo e dos preconceitos e a aceitação do amor de volta em nossos corações. O amor é a realidade essencial e nosso propósito na terra. Estar consciente disso, experimentar o amor em nós mesmos e nos outros, é o sentido da vida. O significado não está nas coisas. O significado está em nós... Pensamento da escritora estadunidense Marianne Williamson. Veja mais aqui.

 

QUEDA - [...] A confiança é, na melhor das hipóteses, uma busca descuidada. Na pior das hipóteses, é uma boa maneira de morrer. [...] A única maneira de sobreviver à eternidade é poder apreciar cada momento [...] Você sabe que todo mundo adora odiar um casal feliz de pombinhos. [...]. Trechos extraídos da obra Fallen (Galera, 2010), da escritora estadunidense Lauren Kate, que na obra Torment (Ember, 2011), expressou que: [...] Às vezes, coisas bonitas surgem em nossas vidas do nada. Nem sempre conseguimos entendê-los, mas temos que confiar neles. Eu sei que você quer questionar tudo, mas às vezes vale a pena ter um pouco de fé. [...] O amor nunca morre [...] A solidão no meio de uma multidão era o pior tipo de solidão, mas ela não conseguia evitar. [...]. Já na obra Rapture (Delacorte, 2014), expressou que: [...] Quero que você saiba que eu faria tudo de novo. Eu escolherei você todas as vezes. [...]. E na Passion (Ember, 2012), expressou que: […] Amarei você de todo o coração, em cada vida, em cada morte. EU não estarei vinculado a nada além do meu amor por você [...]. Além disso é autora de frases como: A sabedoria segura uma vela para a experiência, mas você tem que pegar a vela e caminhar sozinho... O passado é importante por todas as informações e sabedoria que contém. Mas você pode se perder nisso. Você precisa aprender a manter o conhecimento do passado com você enquanto busca o presente...

 

EU NÃO VOU FALAR - vou falar sobre outra coisa \ nunca é isso \ não vou te falar \ Suficiente \ Eu vou te desenhar assim sutil \ paraíso de papel \ sem te contar sobre os piolhos ou os sonhos \ o olhar que se abre para uma breve infância \ vou falar \ sobre as redes \ os rosários \ talvez você não reze \ que você não balançou \ ontem \ Manhã \ nunca \ Não vou retomar a conta \ hematomas que desaparecem, mas para dentro \ explodir novamente no gesto das crianças \ de seus filhos e ad eternum \ Vou esquecer mais tarde quando estiver falando \ a ninguém \ por Picasso \ isso \ machuca \ não sua mão firme como \ a rigidez de um louco \ você virou o rosto e outro voltou \ de uma só vez, seu filho se tornou um homem \ Você não vai me dizer que eles são crianças \ vou falar sobre outra coisa \ embora eu volte \ para este alfabeto \ que só fala de você e da minha infância \ nada mais \ não diz o suficiente \ Não foi feito para dizer o suficiente \ Não vou falar do golpe e da marca \ a maneira como sua mão esmaga o gesto \ do seu filho como se ele fosse uma mosca de verão \ Vou falar sobre a maneira como sua mão \ surge de dentro do poema \ e desfaz. Poema extraído da obra En la boca de los tristes (Editorial Lo que Vendrá, 2014), da poeta e professora Paula Simonetti.

 

AS MULHERES DE BASUKI ABDULLAH

A arte do pintor e professor indonésio Fransiskus Xaverius Basuki Abdullah (Muhammad Basuki Abdullah - 1915- 1993), espancado até a morte por três agressores durante a invasão de sua casa em Jacarta.

 

SACADOUTRAS

 


Ouvindo Alô, Alô, Marciano, de Rita Lee (1947-2023), na voz da inesquecível Elis Regina.

Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down the high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
Alô, alô, marciano
A crise tá virando zona
Cada um por si todo mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria porque
Tá cada vez mais down the high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
Alô, alô, marciano
A coisa tá ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pichar
Tem sempre um aiatolá pra atola, Alá
Tá cada vez mais down the high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down the high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Ui, gente fina é outra coisa, entende?
Down, down, down
High society
Down, down, down, down, down
High society
Hoje não se fazem mais countries como antigamente, não é?
High society, high society, high society, high society
Down, down, down
High society
Down, down, down, down down
High society
Ai que chique é o jazz, meu Deus
Down, down, down
High society
Down, down, down
Ah, Deus
(Alô, Alô, Marciano, Rita Lee e Roberto de Carvalho), Veja mais aqui.


Imagem: Nu allongé, do pintor francês Henri Matisse (1869-1954)

O SENTIMENTO TRÁGICO DE UNAMUNONão basta pensar, é preciso sentir nosso destino [...] A filosofia é um produto humano de cada filósofo, e cada filósofo é um homem de carne e osso que se dirige a outros homens de carne e ossos como ele. Faça o que fizer, filosofa, não apenas com a razão, mas com a vontade, com o sentimento, com a carne e com os ossos, com toda a alma e todo o corpo. Filosofa o homem. [...] A fé, a vida e a razão se necessitam mutuamente. O anseio vital não é propriamente problema, não pode adquirir estado lógico, não pode formular-se em proposições racionalmente discutíveis, mas se coloca a nós, como a nós se coloca a fome. Um lobo que se lança sobre a sua presa para devorá-la ou sobre a loba para fecundá-la também não pode colocar-se racionalmente, e como problema lógico, seu impulso. [...] Por minha parte, não quero celebrar a paz entre meu coração e minha cabeça, entre minha fé e minha razão; quero que combatam entre si. [...] Não faltará a tudo isso quem diga que a vida deve submeter-se à razão, ao que responderemos que ninguém deve o que não pode, e a vida não pode submeter-se à razão. “Deve, logo pode”, replicará algum kantiano. E contra-replicaremos: “Não pode, logo não  deve.” E não pode porque a finalidade da vida é viver, não compreender. [...] Aumentando o amor, esta ânsia ardorosa de ir mais longe e mais fundo vai-se estendendo a tudo o que se vê, a tudo o que se vai compadecendo de tudo. À medida que vais penetrando em ti mesmo, e mais fundo desces em ti mesmo, vais descobrindo a tua própria futilidade, que não és tudo o que não és, que não és o que gostarias de ser, que, em suma, não és mais do que uma ninharia. E ao tocares no teu próprio nada, ao não sentires o teu fundo permanente, ao não atingires nem a tua própria infinitude nem, mesmo, a tua eternidade, tendo lástima de todo o coração a ti próprio, inflamas-te em doloroso amor por ti mesmo, matando o que se chama amor-próprio, e não é mais do que uma espécie de deleite sensual de ti mesmo, algo assim como a carne da tua alma a gozar-se a si mesma. O amor espiritual a si mesmo, a compaixão que uma pessoa adquire para consigo própria, poderá, porventura, chamar-se de egotismo; mas é o que de mais oposto existe ao vulgar egoísmo. Porque deste amor ou compaixão de ti próprio, deste intenso desespero, porque, do mesmo modo que não eras antes de nasceres, também depois de morreres não serás, passas a ter compaixão, isto é, a amar todos os teus semelhantes e irmãos, em aparência miseráveis sombras que desfilam do seu nada ao seu nada, chispas de consciência que brilham um momento nas infinitas e eternas trevas. E dos demais homens, teus semelhantes, passando pelos que são mais semelhantes a ti, pelos que contigo convivem, vais-te compadecer de todos os que vivem, e até daquilo que, porventura, não vive, mas existe. Aquela longínqua estrela que brilha durante a noite, lá no alto, há-de apagar-se algum dia, e tornar-se-á pó, e deixará de brilhar e de existir. E, como ela, todo o céu estrelado. Pobre céu! E se é doloroso ter de deixar de ser algum dia, mais doloroso seria, talvez, continuar a ser sempre o mesmo, e só o mesmo, sem poder ser outro ao mesmo tempo, sem poder ser ao mesmo tempo tudo o resto, sem poder ser tudo. Se olhares para o universo do modo mais próximo e profundo que puderes olhar, que é em ti próprio; se sentires, e não só comtemplares, todas as coisas na tua consciência, onde todas elas deixaram a sua dolorosa marca, atingirás as profundezas do tédio da existência, o poço da vaidade das vaidades. E é assim como chegarás, a compadecer-te de tudo, ao amor universal. Para amares tudo, para teres compaixão de tudo, do humano e extra-hunamo, do que vive e não vive, é necessário que sintas tudo dentro de ti mesmo, que personalizes tudo. Porque o amor personaliza tudo quanto ama, tudo aquilo de que se compadece. Só nos compadecemos, isto é, só amamos, o que se nos assemelha, e assim aumenta a nossa compaixão, e com ela o nosso amor pelas coisas, à medida que descobrimos as semelhanças que têm conosco. Ou, melhor, é o nosso próprio amor, que por si só tende a crescer, o que nos revela essas semelhanças. Se consigo compadecer-me e amar a pobre estrela que um dia desaparecerá do céu, é porque o amor, a compaixão, me faz sentir nela uma consciência, mais ou menos obscura, que a leva a sofrer por não ser mais do que uma estrela e por ter de deixar de o ser, um dia. Pois toda a consciência o é de morte e de dor. Consciência, conscientia, é conhecimento partilhado, é consentimento, e con-sentir é con-padecer. O amor personaliza tudo o que ama. Só é possível apaixonarmo-nos por uma ideia personalizando-a. E quando o amor é tão grande e tão vivo e tão forte e transbordante que tudo ama, então, ele tudo personaliza, e descobre que o Todo total, o Universo, também é Pessoa. Tem uma Consciência, Consciência que, por sua vez, sofre, se compadece e ama, isto é, é consciência. E esta Consciência do Universo, que o amor descobre personalizando tudo o que ama, é o que chamamos Deus. E assim a alma compadece-se de Deus e sente que Ele se compadece dela, ama-o e sente-se amada por Ele, dando abrigo à sua miséria no seio da miséria eterna e infinita, que é, ao eternizar-se e tornar-se infinita, a própria felicidade. Deus é, pois, a personalização do Todo, é a Consciência eterna e infinita do Universo. Consciência presa da matéria e esforçando-se por se libertar dela. Personalizamos o Todo para nos salvarmos do Nada, e o único mistério verdadeiramente misterioso é o mistério da dor. A dor é o caminho da consciência, e é por ela que os seres vivos atingem a consciência de si. Porque ter consciência de si mesmo, ter personalidade, é saber-se e sentir-se distinto dos outros seres, e só se consegue sentir essa distinção com o choque, com a dor maior ou menor, com a sensação do próprio limite. A consciência de si mesmo não é mais do que a consciência da própria limitação. Sinto-me eu mesmo ao sentir que não sou os outros; saber e sentir até onde sou é saber onde deixo de ser, e a partir de onde não sou. E como saber que se existe não sofrendo nem muito nem pouco? Como voltar sobre si, lograr consciência reflexa, senão através da dor? Quando se tem prazer, esquecemo-nos de nós próprios, de que existimos, entramos noutra coisa, alienamo-nos. E só nos ensimesmamos, voltamos a nós próprios, a sermos nós, na dor. (Miguel de Unamuno y Jugo [1864-1936], O sentimento trágico da vida. São Paulo: Martins Fontes, 1996). Veja mais aqui.


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terça-feira, dezembro 30, 2014

ESTHER DUFLO, NUSSBAUM, BYUNG-CHUL HAN, PAULO FREIRE, BRECHT & MARY ASTOR

 


O FASCÍNIO DA MAMA KILLA - Nasceu no Titicaca a filha do criador de todas as coisas, ela me vigiava e eu não sabia. Ali perto morava Ka-Ata-Killa, eu sabia, vez em quando a via e seus olhos refletiam uma luz magnífica além de toda imaginação, como se deles emergisse um metal huaca, um artefato letal e divino a iluminar o meu andino céu noturno. Pela luz dela eu navegava até bem longe e da janela dela ela me via pescador errante pelas noites e dias. Numa curva do rio, do nada, ela a mim se revelou. E veio com todo esplendor pra me fazer Endymion na sua nudez Selene de todos os céus e o reino de todas as águas. E na sua boca a delícia da felação de todas as mais gulosas apaixonadas, dos seus seios a oferta e amparo de todos os pomares e jardins, de suas pernas todos os caminhos pra seguir, de suas coxas todas as rotas dos prazeres e da felicidade. Estava assustado porque havia me levado pro templo nas profundezas da selva, mas dali não arredei nem dela quis fugir. Enganou-se comigo porque não resisti nem a rejeitei, ela assim pensou e me sequestrou. Em seu espelho mágico insistia em me perguntar: Você me ama? E não podia mentir nem esconder minha verdadeira natureza. Apesar de temeroso a desejava e temeu que mentisse e enlouquecesse, tão desesperada soltou seus raios e um cataclisma quase me fez sucumbir, como se fosse atacada por um ente celestial ou um espírito maligno e desmaiei. Ao despertar estava no alto do céu diante da Mãe da lua que me fez Inti, irmão e marido, na corte celestial, e compreendia todos os meus desejos e temores. A Tríplice deusa no Templo do Sol, deu-me amparo nas nevadas altitudes do Andes e se fez Mama Killa, a bela mulher, mãe do firmamento a dar-me toda prosperidade do Tawantinsuyu. E se fez Mama Ocllo toda lua cheia e do seu ventre o fervor de todas as mulheres casadas e virgens, viúvas e solitárias, que teciam o destino atravessando o tempo e todos os meus espaços no eclipse da nossa comunhão auspiciosa e temível no festival do meu sacrifício por todos os seus domínios e atributos. E se fez Mama Cocha, a ordem após o caos, e do seu gozo a grandeza dos orgasmos de todas as fiéis seguidoras no culto ao Sapa Inca pelos ciclos de destruição e renascimento do mundo. E feito Capéi me fez Selenito amparado indefeso em seu corpo nu. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui

 


FALEI EQUIDADE: A equidade é o reino do outro na heterogeneidade, porque o outro do outro sou eu, assim comungamos, assim vivermos (LAM). Já dizia Paulo Freire: Se nossa opção é progressista, \ se estamos a favor da vida e não da morte, \ da equidade e não da injustiça, \ do direito e não do arbítrio, \ da convivência com o diferente e não de sua negação, \ não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. \ (Nossas escolhas). Veja mais aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - A pobreza não é apenas uma condição econômica, mas também uma privação de oportunidades. A economia deve centrar-se na melhoria do bem-estar das pessoas e não apenas no crescimento do PIB. A igualdade de gênero é crucial para o desenvolvimento e o progresso económico. A pobreza não é inevitável nem imutável, pode ser erradicada. A educação é a arma mais poderosa para quebrar o ciclo da pobreza. Pensamento da economista francesa Esther Duflo, co-fundadora e diretora do Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel e professora de Economia da Alívio à Pobreza e Desenvolvimento no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Empatia e compaixão são a base de uma sociedade justa e equitativa. O respeito pelos outros é essencial para uma coexistência pacífica e harmoniosa. O amor e a amizade são elementos fundamentais na vida humana e devemos cuidar deles e cultivá-los. A arte e a literatura nos ajudam a desenvolver nossa imaginação e compreensão dos outros. A educação é o motor do progresso social e pessoal. Pensamento da filósofa estadunidense Martha Nussbaum.

 

SOCIEDADE DO CANSAÇO - [...] A reclamação do indivíduo depressivo “Nada é possível” só pode ocorrer numa sociedade que pensa: “Nada é impossível”. [...] A aceleração da vida contemporânea também desempenha um papel nesta falta de ser. A sociedade do trabalho e da realização não é uma sociedade livre. Gera novas restrições. Em última análise, a dialética entre senhor e escravo não produz uma sociedade onde todos sejam livres e também capazes de lazer. Pelo contrário, conduz a uma sociedade de trabalho em que o próprio senhor se tornou um escravo trabalhador. Nesta sociedade de compulsão, todos carregam dentro de si um campo de trabalho. Este campo de trabalho é definido pelo facto de se ser simultaneamente prisioneiro e guarda, vítima e perpetrador. A pessoa se explora. Significa que a exploração é possível mesmo sem dominação. [...] A sociedade de hoje não é mais o mundo disciplinar de Hospitais, hospícios, prisões, quartéis e fábricas de Foucault. Há muito que foi substituído por outro regime, nomeadamente uma sociedade de estúdios de fitness, torres de escritórios, bancos, aeroportos, centros comerciais e laboratórios genéticos. A sociedade do século XXI já não é uma sociedade disciplinar, mas sim uma sociedade de realizações [Leistungsgesellschaft]. Além disso, seus habitantes não são mais “sujeitos de obediência”, mas “sujeitos de realização”. Eles são empreendedores de si mesmos. [...] Nas redes sociais, a função dos “amigos” é principalmente aumentar o narcisismo, concedendo atenção, como consumidores, ao ego exibido como uma mercadoria. [...] Se o sono representa o ponto alto do relaxamento corporal, o tédio profundo é o auge do relaxamento mental. Um Rush puramente agitado não produz nada de novo. Reproduz e acelera o que já está disponível. [...] A violência da positividade não priva, ela satura; não exclui, esgota [...] A depressão – que muitas vezes culmina em esgotamento – decorre de uma autorreferência excessiva, superexcitada e excessiva que assumiu características destrutivas. O sujeito exausto e depressivo da realização se desgasta, por assim dizer. Está cansado, exausto por si mesmo e em guerra consigo mesmo. Totalmente incapaz de dar um passo para fora, de ficar fora de si mesmo, de confiar no Outro, no mundo, ele trava suas mandíbulas sobre si mesmo; paradoxalmente, isso leva o eu ao vazio e ao esvaziamento. Ele se desgasta em uma corrida desenfreada que corre contra si mesmo. [...]. Trechos extraídos da obra Müdigkeitsgesellschaft - The Burnout Society (Matthes & Seitz Berlin, 2010), do filósofo e ensaísta sul-coreano Byung-Chul Han. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

UMA VIDA NO CINEMA - [...] Admiro a nudez e gosto de sexo, assim como muitas pessoas na década de trinta. Mas, para mim, a superexposição embota a diversão... O sexo como algo belo pode desaparecer em breve. Uma vez que era uma faca tão finamente afiada, o fio ficava invisível até ser tocado e então cortar profundamente. Agora é tão rombudo que apenas machuca e deixa marcas feias. A nudez é aceitável na privacidade do meu quarto com o parceiro apropriado. Ou para um modelo em aula de vida na escola de artes. Ou conforme retratado em pedra e tinta. Mas não gosto que seja usado como piada ou para excitar. Ou seja tão franco sobre isso. [...]. Trecho extraído da obra A Life On Film (Bantam Doubleday Dell, 1972), da atriz estadunidense Mary Astor (Lucile Vasconcellos Laghanke - 1906-1987), que também se expressa: Nunca admita nada para ninguém. Honestidade não é a melhor política... Veja mais aqui e aqui.

 

É PRECISO AGIR - Primeiro levaram os negros \ Mas não me importei com isso\ Eu não era negro\ Em seguida levaram alguns operários\ Mas não me importei com isso\ Eu também não era operário\ Depois prenderam os miseráveis\ Mas não me importei com isso\ Porque eu não sou miserável\ Depois agarraram uns desempregados\ Mas como tenho meu emprego\ Também não me importei\ Agora estão me levando\ Mas já é tarde.\ Como eu não me importei com ninguém\ Ninguém se importa comigo. Poema do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

SACADOUTRAS

 

A LIÇÃO DO OLHAR DE NIETZSCHE – [...] Eu apresento a partir de agora, para não perder o meu jeito afirmativo, este jeito que só tem a ver mediada e involuntariamente com a contradição e a crítica, as três tarefas em virtude das quais se precisa de educadores. Tem-se de aprender a ver, tem-se de aprender a pensar, tem-se de aprender a falar e escrever: o alvo em todas as três é uma cultura nobre. Aprender a ver: acostumar os olhos à quietude, à paciência, a aguardar atentamente as coisas; protelar os juízos, aprender a circundar e envolver o caso singular por todos os lados. Esta é a primeira preparação para a espiritualidade: não reagir imediatamente a um estímulo, mas saber acolher os instintos que entravam e isolam. Aprender a ver, assim como eu o entendo, é quase isso que o modo de falar não-filosófico chama de a vontade forte: o essencial nisso é precisamente o fato de poder não "querer", de poder suspender a decisão. Toda ação sem espiritualidade, bem como toda vulgaridade repousa sobre a incapacidade de sustentar uma oposição a um estímulo - o "precisa-se reagir" segue-se a cada impulso. Em muitos casos, uma tal necessidade já é prova de um caráter doentio, de decadência, de um sintoma de esgotamento. – Quase tudo que a rudeza não-filosófica denomina com o nome de "vício" é meramente aquela incapacidade fisiológica de não reagir. Uma aplicação do ter-aprendido-a-ver: à medida que nos tornamos um destes que aprende, nos tornamos em geral lentos, desconfiados e resistentes. Deixa-se inicialmente advir todo tipo de coisa estranha e nova com uma quietude hostil - se retirará a mão daí. O ter todas as portas abertas, o deitar de bruços submisso diante de todo e qualquer pequeno fato, o inserir-se e o lançar-se sempre pronto para o salto no diverso, em resumo a célebre "objetividade moderna" é de mau gosto, é não-nobre par excellence. (Friedrich Nietzsche, Crepúsculo dos ídolos). Veja mais aqui, aqui e aqui.

Imagem: A seated female nude, possibly Mademoiselle Marie-Gabrielle Capet, 1815, do pintor francês François-André Vincent (1746-1816).



Ouvindo Concerto nº 1 para piano, do compositor russo Dmitriy Borisovich Kabalevskiy (1904-1987).

PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiogo mais, a partir das 21hs, acontecerá mais uma edição do programa Tataritaritatá Especial de Ano Novo com muita festa e a apresentação da querida Meimei Corrêa. E com as seguintes atrações na programação: Egberto Gismonti, Pat Metheny, Quinteto Armorial, Sonia Mello, Clara Redig, Meimei Corrêa, Rosana Simpson, Katya Chamma, Tatiana Cobbett & Marcoliva, Ricardo Machado, João Pinheiro & Hermila Guedes, Auri Viola, Lyara Velloso, Dery Nascimento & Paulinho Pedra Azul, Alex Rios, Wilson Monteiro, Mazinho, Cikó, Zé Linaldo, Ozi dos Palmares, Paulinho Natureza & Sandra Regina Alves Moura, JB, Tirso Florence de Biasi & muito mais! Veja mais aqui.

SERVIÇO:
O que? Programa Tataritaritatá Especial de Ano Novo
Quando? Hoje, terça, 30 de dezembro, a partir das 21hs (horário de Brasília)
Onde? No MCLAM -
Apresentação: Meimei Corrêa



SACADAS DO CASCUDO – O historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), além de uma personalidade das mais maravilhosas da cultura brasileira, também tirava das suas: “O Brasil não tem problemas, só soluções adiadas”, “Não se assombre, em Natal eu sou o único pecador profissional. Os outros são amadores” e mais essa: “Não me interessei por nada no mundo. Daí a minha fidelidade mental ao meu trabalho. Sou um brasileiro feliz, diz Diógenes. Vivia minha vida e não a vida indicada pelos outros. Não fui o que quiseram, fui o que senti, a volição de ser. Hoje, sou um resto de idade, estou fora do ar, tenhos dias eufóricos, compreendeu? O trabalho para mim não era maldição. Era como o trabalho gostoso de fazer um filho. Prazer”. E vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! Veja mais aqui.


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