Ao som dos álbuns The Reign of Her (Frameworks
Records, 2025) & Beyond Reach (Frameworks Records, 2023), da premiada
violonista italiana-estadunidense Marisa Sardo.
A mulher
do livro & a farra dos eunucos... - Quem é aquela, hem? Rapaz, eu soube que é uma
ET que escapou daquelas FRBs quando o Oumuamua deu as caras e se
passando por gente humana, para preparar o terreno pruma invasão do planeta e aterrorizar
acabando com tudo! Valei-me! Não sabia não? Ô compadres, eu mesmo, soube doutra
coisa diferente sobre ela: Dona Oblatedilta me disse que o nome dela é Resusci
Anne, uma robô criada por IA, feita daquela morta desconhecida de Paris, que
ficou famosa como a mulher mais beijada do mundo. E quais as intenções dela? Investigar
a gente tudo para depois escravizar e matar. ChaosGPT? Pior! É mesmo? Que fatalidade!
Olha lá, dona Jubilosita tá vindo aí: A senhora sabe quem é aquela, mesmo? Apurei
e descobri que é a maldosa viking morta que ressuscitou depois dos testes de
DNA da que foi achada lá em Beach Head, sabe, dos restos mortuários de East
Sussex, na Inglaterra, e que veio pra cá esculhambar com a vida da gente! Uma assombração?
Veio transformar isso aqui num inferno de Dante! Benzodeus! Vocês não
sabem? Não, dona Esmaragda. Ah! Averiguei que é a tal da Malèna de Tornatore,
a viúva daquele zé-ruela que se alistou voluntariamente para defender a Ucrânia
e foi morto pelos russos! Nunca tinha visto e nem ouvido falar do casal. Ah, foi
ela que mandou o marido pra morrer na guerra e quer só arranjar um outro abobado pra sustentá-la,
por isso que anda toda reboculosa, não sabem a carniceira que ela é. Num diga! Aquela
bonitona? Isso mesmo! Ô, dona Clarivaldícia, não será a sádica viúva Brynhild Sorenson
Gunness, aquela Belle que já matou não sei quantos maridos e não deixou vivo
nenhum namorado das suas filhas? É mesmo! Oxe, vocês estão todas equivocadas: É
a perigosa Leanan Sidhe, que seduz para roubar a vitalidade do amante. Pela santa
saúde que eu não tenho! Vamos apedrejá-la! Veja, ela para toda vez e fica diante
daquela Espada-de-Iansã, toda vez, tá vendo? E num é! Ô, dona Margarildita, não
é língua-de-sogra, não? A mesma coisa de rabo-de-lagarto, de sanseviéria, tudo
uma coisa só, ZéBocó; o certo é que ela é catimbozeira devota de Oyá e das
tamposas de sasanha e abô, de deixar a vítima ressequida e morrer na hora, pode
crer! Danou-se! Nunca soube! O que a gente vai fazer? Oxe! É nada: é o fantasma misterioso
duma tal de Jennifer Fairgate, que foi encontrada morta num hotel da Noruega e
veio praqui pra atormentar as noites da gente. Um espectro ameaçador? Piorou! Vamos
exorcizá-la logo! Dizem mesmo que ela é a condessa sangrenta que fugiu da
Hungria pra não ser presa e o nome dela é uma tal de Isabel num sei que lá
Báthory, cometeu uma série de crimes hediondos e não saciou de matar gente. U-lalala! Chama a polícia! Pelamordedeus! Soube que é a perversa nazista Ilse Koch,
aquela Cadela-Bruxa de Buchenwald, que coleciona pedaço de peles de seus
prisioneiros, para confeccionar seus souvenirs. Como é? Santa crueldade! Vamos
estropiá-la! Cochicham mesmo que ela é a cruel socialite assassina, chamada de
uma tal de Delphine LaLaurie que torturou, mutilou e matou não sei quantos escravos
negros e fugiu para caçar mais. Cadê, todo mundo tá armado com seu cacete pra lascá-la
toda? Pro araque-de-polícia, ZéCadeia, ela é a crudelíssima assassina Mary Ann
Cotton que atrai o macho para envenená-lo com arsênio e depois ficar com toda
herança do cabra. Vigarista duma figa! Vamos escorraçá-la! Nada, é aquela escravocrata
foragida do FBI, uma tal de Margarida Bonetti, que vivia escondida numa mansão
arruinada de São Paulo e, agora, veio atuar aqui caçando os pretos todos,
lembram? Que rapina! Queremos justiça! Se ela correr, a gente pega; se ela
ficar, a gente estraçalha ela toda! Ô dona Zefinha-Pesão, espie: o seu
Gervasildo tá todo embecado com manemolências pras bandas dela, mire! Vou
estropiar aquele cafajeste! É preciso cuidar, ela é a traiçoeira encantada
Morgan Le Fay, a Fada Morgana, que aprisiona qualquer um que dela se aproxima
para levá-lo escravo pro seu palácio de cristal no Estreito de Messina. Que gatuna
duma figa! Vamos logo dar uma sarrabulhada boa nessa puta! Tem que pegar logo aquela
falsa Mulher de Torenza, viúva do homem de Taured, ninguém sabe o nome dela,
mas ela só quer enganar todo mundo pra surrupiar o que você tiver. Que mulher
mais picareta! Vocês estão falando da mesma pessoa? Vamos amarrá-la e
arrastá-la pelas ruas pra ela ver o que é bom pra tosse! É isso mesmo, ela é
uma Qarinah, uma ruindade islâmica que persegue as pessoas. Isso tudo? Tem muito
mais escondido dela por aí. Vocês não estão enganadas? Ora! Ela num pode ser tudo
isso não! Quem mandou ela mexer com a gente? Aquela ali é a ninfa Ondina, que
saiu das águas procurando homens casados para humanizar-se roubando a alma do
coitado, que resta mortinho. Pronto! Ah, a gente tem que dar cabo dessa
destruidora de lar! Se não fizermos logo, a sinistra mulher da neve, a Yuki-onna,
veja a palidez e os lábios roxos, ela basta olhar pro homem que ele vira
estátua de gelo na hora. Vixe! Que safada! Vamos esquartejá-la! Vamos logo estuporar
aquela ardilosa alvenha, que saiu do rio para enfeitiçar incautos para depois afogá-los.
Que bandida! É um sacrilégio! É uma súcubus, tenho certeza! Vamos tocar fogo
nessa coisa ruim! Ela é capaz de ser a múmia da Senhora Dourada que saiu do sarcófago
e está sem a touca para enganar os homens, vejam! Essa mulher é a heresia em
pessoa, vamos sacrificá-la! Num pode! E se for uma das holandesas desaparecidas
no Panamá, ninguém sabe ao certo qual delas, se é a Kris Kremers ou Lisanne
Froon, qual delas? E o que viriam fazer aqui, seu beócio? Oxe, assombrar a
gente, ora! Vamos rasgá-la toda de porrada! Só pode ser a Alamoa! Desde quando?
É uma galega falsa, veja! Que miséria! Vamos rachá-la em bandas, simbora! Aquilo
é o demônio Hannya, aposto! Isso é um estrupício! O padre disse na missa que ela
deve ser a demoníaca Jahi da luxúria! Por isso mesmo, vamos esfaqueá-la toda! É
uma jorogumo, uma traiçoeira aranha que vira mulher para enredar qualquer um, pode
ir ver, na batata! Cruz-credo! O pastor disse no culto que ela é a devoradora Ammit
camuflada: tem cabeça de crocodilo, corpo de leão e bunda de hipopótamo, só pra
comer o coração do desavisado. Isso é um desmantelo! E prefeito não faz nada!
Oxe, tá ele, o delegado, os vereadores, o juiz, toda autoridade tá lá apaixonado
por ela! Tudinho? Ora, se. Por isso digo: é a fingida bruxa Empusa, vá ver, foi o bispo que disse!
Olha o ZéSitonho lá, chega tá de queixo caído! Vou pegar aquele velho desgramado
e lascar as gaias dele, marido meu não se enrabicha pra sirigaita nenhuma!
Convoca a multidão! Danou-se tudo! É a Lilith que foi banida do Jardim do Éden
para atanazar os homens. Vamos acabar logo com isso, avante! Uma quenga de Caravaggio!
Calma, que hestória mais escabrosa, gente! Sai da frente! Ela pode ser
enigmática, parece sim, mas não tão diabólica! Vá e se iluda! Não me segura
não! Dona Clessivalda, a senhora não acha que todas vocês não estão exagerando na
dose demais não? A gente vai caçá-la agorinha mesmo, antes que a macharia toda seja
aprisionada, a gente não quer enviuvar assim! O seu marido tá lá todo de farol
baixo e arreado por ela, já viu? Vamos capturá-la já! Calma, gente! Olhe seu TóZeca,
se o senhor ficar na frente e atrapalhar a gente, vai morrer da maior camada de
pau com ela junto, viu? A senhora tá invocada! Eu só não, todas daqui; porque eu
mesmo já estou fervendo pelas tampas com essa rameira! Ela não é o que vocês
estão pensando. A gente sabe bem quem ela é e não sairá viva hoje dessa praça! Ela
veio só falar comigo, mora num livro e escapole das páginas de lá da biblioteca,
todo dia de tarde, porque a praça é o sonho dela. Um fantasma da biblioteca? Agora mesmo ela está toda Lulu de Almudena, vestida como
se fosse a Francesca Neri na cena de Bigas Luna. Num sei do que o senhor
está falando, acho que tá enrolando a gente para protegê-la. Vamos logo tascar
fogo! O senhor vai apanhar por defendê-la, seu TóZeca. Capa ele logo! Vaza!
Olhem vocês que eu viro a desgraça e não sobra uma só pra fuxicar depois! Saia
da frente! Pisa ele! Olhe só: o seu esposo, dona Quartuda, tá lá! Aquele gaiúdo
me paga, fio-duma-égua! Passa por cima dele! Também o de dona Maria-Banguela, o
da dona Sula-Arrepeada, o da dona Maria-Boqueira, o da Sinhá-Peituda, o de dona
Gracivalda, vejam, todos estão lá, babando! Filhos da puta, vou lascar o quengo
dele! Que babãos mais safados! Isso, vão é tomar satisfação dos seus e deixem a
moça em paz preu namorar! Vamos pegar os salafrários! Isso, vão-se embora,
peguem seus maridos abiscoitados, sigam pras suas casas e danem uma pisa boa e
bem dada no toitiço deles lá, arrochem neles, que é o que eles merecem. Vou
castrar aquele corno! Isso, mandem ver nas caçaroladas, nas cabadas de
vassoura, os penicos nas fuças, as paneladas no juízo, peixeiradas no bucho,
cortem as asas e o pingolim, arranquem um dos ovos pra ficarem rancolhos, deem
umas lamboradas boas nesses apaideguados preles aprenderem! Vamos deixar esses
marmanjos tudo emasculados! Eita, que o trupé vai comer e o pencó vai pegar! Vão
virar tudo eunuco! Toca! Ora, ora. Bem feito. Ih! Esse o povinho pacato de Alagoinhanduba!
Foi. Até mais ver.
Joan Didion: Não estou dizendo para você tornar o mundo melhor, porque não acho que o progresso faça parte necessariamente disso. Estou apenas dizendo para você viver nele. Não apenas suportá-lo, não apenas sofrê-lo, não apenas atravessá-lo, mas vivê-lo. Observá-lo. Tentar compreendê-lo. Viver sem medo. Arriscar. Criar seu próprio trabalho e se orgulhar dele. Aproveitar o momento... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
Elena
Ferrante:
A vida toda é assim: numa vez você apanha, noutra, recebe beijos... toda
escolha tem sua história, muitos momentos de nossa vida estão espremidos num
canto só esperando uma brecha, e no final essa brecha aparece... Veja mais
aqui, aqui, aqui & aqui.
Rita
Lino: Passei muitos anos trabalhando com minha própria identidade, minha própria
vida, minhas diferentes personas, então quero fazer algo diferente, mas ainda
assim permanecer fiel a mim mesma... Veja mais aqui.
EL ÁNGEL NEGRO DE COPLEY SQUARE (RILKE)
Imagem: Acervo ArtLAM.
Para
onde voou o anjo que me prometeste? \ Onde se escondem suas asas fuliginosas?
Em que \ paraíso ela se refugiou? Por que \ deixei de ser sua protegida? \ Quais
os efeitos das minhas \ palavras ruins? \ que outra heroína ele escolheu? para
quem \ ele está cavando entre as pedras hoje? \ de quem \ são essas inúmeras
quedas? Que obstáculo cotidiano se abriu como um \ precipício? Que obsessão
sombria se dissolveu \ entre suas asas? Sob que poder ela curva a cabeça hoje? \
Em que pescoço subjugado ela ergue suas garras? \ Por que o fizeste descer a
escada? \ Para onde o levarão seus desejos? \ De que posição temporal não
confessada \ ele retorna? \ Quem ele liberta da pestilência? \ Diga-me,
diga-me, diga-me, \ que música toca sua harpa? Que \ costas congelam seus
anseios? \ Que caminho ela começa a percorrer às apalpadelas? \ E eu não te
ouvi. \ E você tinha me avisado: \ Todo anjo é terrível.
Poema da escritora, acadêmica, ativista e
jornalista peruana Rocío Silva-Santisteban (Rocío Yolanda Angélica
Silva-Santisteban Manrique), que representa a Frente Ampla como membro do
Congresso pelo distrito de Lima e autora das obras poéticas Asuntos
circunstanciales (1984), Ese oficio no me gusta (1987), Mariposa
negra (1993), Condenado amor (1995), Maternidad (1996), Turbulencia
(2005), Las hijas del terror (2007) e La máquina de limpiar la nieve
(2024).
A CARNE -
[...] A vida é um pequeno espaço de luz entre dois anseios: o anseio por aquilo
que você ainda não experimentou e o anseio por aquilo que você jamais
experimentará. E o momento preciso da ação é tão confuso, tão fugaz e tão
efêmero que você o desperdiça olhando ao redor atordoado. [...] Ser amaldiçoado é saber que suas palavras não encontram eco,
porque não há ouvidos que possam compreendê-las. Nisso, assemelha-se à loucura
— Soledad exclamou de repente. Ser amaldiçoado é estar fora de sintonia com seu
tempo, sua classe social, seu ambiente, sua língua, a cultura à qual você
deveria pertencer. Ser amaldiçoado é querer ser como todos os outros, mas não
conseguir. E querer ser amado, mas inspirar apenas medo ou talvez riso. Ser
amaldiçoado é ser incapaz de suportar a vida e, acima de tudo, ser incapaz de
suportar a si mesmo. [...]
Ah, aquelas outras infinitas vidas possíveis que se
abriram como a cauda de um pavão ao redor da nossa existência, todas aquelas
modificações do nosso destino que poderiam ter ocorrido simplesmente variando
um pequeno detalhe. [...] Às vezes, o destino,
ironicamente, diverte-se emparelhando fenômenos semelhantes. Quando alguém tem
azar, os infortúnios parecem se acumular e acabam caindo sobre essa pessoa como
um dilúvio. [...]
A vida é um pequeno espaço de luz entre dois anseios: o
anseio por aquilo que você ainda não experimentou e o anseio por aquilo que
você jamais experimentará. E o momento preciso da ação é tão confuso, tão fugaz
e tão efêmero que você o desperdiça olhando ao redor atordoado. [...].
Trechos extraídos da obra La carne
(Alfaguara, 2016), da escritora e jornalista Rosa Montero. Veja mais
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
ARTE
& MENTE AGUÇADA
- A matemática é o único campo onde verdade e beleza
significam a mesma coisa... A matemática é como ir à academia para o cérebro.
Ela aguça a mente... Pensamento da atriz, escritora e matemática
estadunidense Danica McKellar, que explicou que: Eu fiz uma pausa na
atuação por quatro anos para obter um diploma em matemática na UCLA, e durante
esse tempo eu tive a rara oportunidade de realmente fazer pesquisa como
estudante de graduação. E eu e duas outras pessoas foram co-autoras de um novo
teorema: Percolation e Gibbs States Multiplicity for Ferromagnetic
Ashkin-Teller Models on Two Dimensions, ou Z2. Ela ainda expressa: Encontre seu amor-próprio agora. Não se rebaixem. Pensem em si mesmas como
capazes e merecedoras de encontrar um cara que também as respeite. É tão
importante, quero dizer, e a confiança que vocês ganham ao se sentirem
inteligentes e enfrentarem algo como matemática, que é um desafio, certo?
Matemática é difícil... Veja mais aqui.
UMA ATIVISTA & AMOR DE SARTRE
[...] seremos nós, mulheres em luta, cidadãs que haveremos de
escrever na Constituinte plena liberdade e contra a discriminação. [...]
Pensamento da jornalista e ativista deputada Cristina Tavares (Maria
Cristina de Lima Tavares Correia – 1934-1992), extraído da dissertação de
mestrado cuja temática está definida como A trajetória política de Cristina
Tavares: a redemocratização e os direitos das mulheres na Constituição Cidadã 1978
– 1988 (Unicap, 2021), do professor e pesquisador Edvaldo dos Santos
Silva. Ela é autora de obras como Atuação parlamentar (Coordenação
de Publicações, 1980), Eleições em Pernambuco (Centro Teotônio Vilela, 1987)
e A Última Célula (Paz e Terra, 1989), entre outros. Ela conheceu o
casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, que passou pelo Recife, na década
de 1960. Consta que o filósofo teve uma paixão por ela, tendo sido, inclusive,
o romance entre ambos assinalado pela própria Beauvoir, conforme registrado no
livro Tête-à-tête (Objetiva, 2006), da escritora e biógrafa australiana,
Hazel Rowley. Veja mais aqui.
&
GUARANGA,
DE PAZ SOLÍS DURIGO
Guaranda (Caburé Libros, 2024) é a
primeira novela da escritora, professora e musicista argentina, Paz Solís
Durigo, que também é autora do livro Contra todos los males
(Avagata, 2023) com letras de suas canções em guarani e castelhano. Ela é
cofundadora e codirige a revista digital e popular La Lechiguana e
anuncia para 2026, o lançamento de sua novela infanto-juvenil Los gatos de
la abuela Queché (Boris Ediciones). Veja mais aqui & aqui.
ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:
Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte
& Amigos da Biblioteca aqui.






