sexta-feira, abril 24, 2015

CALVINO, COLE PORTER, MAUPASSANT, MAQUIAVEL, BIRKIN, KORYTOWSKI, REDON & QUASAR DANÇA.


PROJETO DE EXTENSÃO PSICOLOGIA, JORNALISMO & PUBLICIDADE – Em continuidade às atividades do Projeto de Extensão Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, realizado pelos graduandos dos cursos de Psicologia, Jornalismo e Publicidade do Centro Universitário Cesmac, sob a coordenação do Professor Ms Cláudio Jorge Gomes de Morais, realizou-se na última quinta-feira, dia 23 de abril, mais uma reunião regular para andamento das atividades. Estiveram presentes na reunião, o professor Cláudio Jorge Morais, Luiz Alberto Machado, Alessandra Matos, Fran Miranda, Luiz Gustavo, Fernanda Angélica, Williane Sotero e Gustavo Santos. Veja detalhes aqui.

Imagem: The Birth of Venus (1912), do pintor e artista gráfico francês Odilon Redon (1840-1916).

Curtindo De lovely (2004), um filme biográfico musical sobre a vida e amores do músico e compositor estadunidense Cole Porter (1891-1964), dirigido por Irwin Winkler e roteiro de Jay Cocks.

MADEMOISELLE FIFI – O conto Mademoiselle Fifi (Cultrix, 1958), do escritor francês Guy de Maupassant (1950-1893), narra a história de um oficial do exército prussiano que invade a França em 1870. Durante algum tempo a sua perversa brutalidade desfaz todos os obstáculos que lhe surgem no caminho. Mas um dia, em que partilha com outros oficiais a rotina dos vencedores, decide organizar uma festa com prostitutas normandas. E é então que lhe surge a inesperada resistência dos vencidos. Da obra destaco o texto a seguir: [...] As garrafas de conhaque e de licores passavam de mão em mão, e todos, recostados nas cadeiras, bebiam vagarosamente, em goles repetidos, conservando o cachimbo no canto da boca, longo tubo curvo rematado pelo ovo de faiança, sarapintado como para seduzir hotentotes. Mal os copos se esvaziavam, tornavam a enchê-los, com um gesto de resignada lassidão. Mlle. Fifi quebrava o seu, a toda hora, e imediatamente um soldado lhe apresentava outro. [...] Imediatamente um frêmito perpassou pelos espíritos, despertando-os. Os corpos languidamente recostados se aproximaram, animaram-se os rostos e todos se puseram a conversar. [...] Cinco mulheres desceram no patamar, cinco bonitas raparigas escolhidas a dedo por um companheiro do capitão. Não se tinham feito rogar, certas de que seriam bem pagas. Conheciam os prussianos, que há três meses agüentavam, e sabiam tirar partido tanto dos homens como das coisas. “São exigências da profissão” — explicavam, a caminho, sem dúvida para acalmar o secreto prurido de uns restos de consciência. Imediatamente entraram na sala de jantar. Iluminada, esta ainda parecia mais lúgubre, deixando perceber o lamentável estado a que fora reduzida. A mesa farta de carnes, com a rica baixela e a prataria encontrada na parede onde a escondera seu proprietário, conferia-lhe o aspecto de uma taverna, na qual bandidos fossem cear depois de uma pilhagem. Radiante, o capitão apossou-se das raparigas como de objetos familiares, aquilatando-as como dispensadoras de prazer. Como os três mais moços se apressavam em fazer sua escolha, opôs-se categoricamente, atribuindo-se a partilha, que seria feita dentro da maior eqüidade, tendo-se em conta as patentes, a fim de que a hierarquia fosse respeitada. Assim sendo, no propósito de evitar qualquer discussão, qualquer contestação, qualquer suspeita de parcialidade, alinhou-as pela estatura, e dirigindo-se à mais alta, indagou com voz de comando: — Seu nome? — Pamela. — Número um, a chamada Pamela, adjudicada ao comandante. Em seguida, depois de beijar em sinal de posse a Blondine, a segunda, ofereceu ao comandante Otto a rechonchuda Amanda, Eva ao subtenente Fritz, e Raquel, a mais baixa de todas, ao mais moço dos oficiais, o marquesinho Wilhem d’Eyrik. Raquel era morena muito jovem, de olhos negros como borrões de tinta, uma judia, cujo nariz adunco confirmava a regra que caracteriza sua raça, Todas eram gordas e bonitas, sem fisionomias muito marcadas, como se as práticas quotidianas e a vida comum nos prostíbulos as tivessem tornado parecidas de rosto e de porte. [...] Completamente bêbedos, subitamente dominados por um entusiasmo militar, um entusiasmo de brutos, os outros também empunharam os copos, vociferando: — Viva a Prússia! — e esvaziaram os copos de um só trago. As raparigas não protestavam, emudecidas e presas do medo. A própria Raquel calava-se, impotente para responder. Foi então que o marquesinho colocou sobre a cabeça da judia a taça de champanha que tornara a encher, e gritou: — A nós também todas as mulheres da França! Raquel se pôs de pé rapidamente, derramando sobre seus cabelos o cálice de champanhe, que em seguida caiu ao chão, espatifando-se. Com os lábios trêmulos, afrontava com o olhar o oficial, que continuava a rir-se. E balbuciou, com voz sufocada pela cólera: — Isso... isso não é verdade! Absolutamente vocês não terão as mulheres da França! Ele se sentou, para rir-se mais à vontade, e procurando imitar o sotaque parisiense: — Essa é pem poa, pem poa, enton que veiu facer aqui, pequena? Interdita, ela se calou, tão perturbada que não podia compreender bem o que ele dizia. Depois, assim que alcançou o sentido daquelas palavras, retorquiu, indignada e veemente: — Eu... eu... não sou mulher, sou prostituta. É o que serve para vocês, prussianos. Nem bem terminara, e ele já a esbofeteara com força. Ao vê-lo erguer a mão outra vez, enlouquecida pela raiva, Raquel apanhou na mesa uma faca, e bruscamente cravou-a no pescoço do marquesinho, bem no côncavo onde começa o peito. A palavra que articulava foi cortada na garganta, e ele se quedou de boca escancarada, com olhar terrível. Um bramido ergueu-se, e todos se levantaram em tumulto. Porém, depois de atirar sua cadeira às pernas do tenente Otto, que se estatelou no chão, Raquel correu à janela, abriu-a antes que conseguissem alcançá-la, e desapareceu na noite, sob a chuva que continuava a cair. [...]. Veja mais aqui e  aqui.

A MANDRÁGORA – A peça teatral A Mandrágora (1518), do historiador, poeta, diplomata e músico do Renascimento italiano, Nicolau Maquiavel (1469-1527), conta a história do jovem florentino Calímaco, que por conta de uma aposta, conhece e passa a desejar furiosamente uma mulher casada que não consegue ter filhos com seu marido. Para conquistá-la, com ajuda de um jovem embusteiro, de um frei sem escrúpulos e da mãe da recatada esposa, ele finge ser médico e receita um tratamento a base de mandrágora – a planta afrodisíaca. Com esse texto o autor narra a conquista amorosa, com suas urgências e exaltações, servem como pretexto para desenvolver um tratado prático e saboroso sobre estratégia política, sobre a arte de envolver, manipular, convencer e, por fim, conquistar um objetivo. Da obra destaco o trecho da canção de abertura: Posto que a vida é breve e muitas são as penas que vivendo e lidando se padecem, seguindo nossas ânsias vamos passando e consumindo os anos, pois do prazer privar-se, p’ra viver em afãs e aflições, é ignorar os enganos do mundo ou por quais males e estranhos casos sejam tiranizados todos os mortais. P’ra fugir desta angústia, Erma existência em bosques escolhemos E sempre em gáudio e festas Vivemos, belos jovens, ledas ninfas. Agora aqui viemos, Com a nossa harmonia, Só para honrarmos esta Tão bela festa e alegre companhia. Ainda aqui nos trouxe a fama do senhor que vos governa, cujo eterno semblante acolhe em si todos os bens da terra. Por tal supernal graça, por tão feliz estado, ufanar-vos podeis, gozando, e agradecer quem vo-lo deu. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A TRILHA DOS NINHOS DE ARANHA – O livro A trilha dos ninhos de aranha (Companhia das Letras, 2004), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985), é um tributo ao neorealismo que emergiu na Itália desolada depois da Segunda Guerra, com uma história pessoal para contar participação nos grupos de luta armada da Resistência, que combatiam as tropas alemãs e as violentas brigadas fascistas. Trata-se de um testemunho daqueles tempos duros, de guerrilheiros marcados pela incerteza, como Primo, ou pelo idealismo, como o comissário Kim. Da obra destaco os seguintes trechos: [...] Durante meses, depois do fim da guerra, tinha tentado contar a experiência partigiana em primeira pessoa, ou com um protagonista parecido comigo. Escrevi alguns contos que publiquei, outros que joguei no cesto de lixo; movia-me pouco à vontade; nunca conseguia abrandar totalmente as vibrações sentimentais e moralistas; sempre surgia alguma desafinação; minha história pessoal parecia-me humilde, mesquinha; eu era cheio de complexos, de inibições diante de tudo o que me era mais caro [...] Agora Pin vai entrar na taberna enfumaçada e roxa, e vai dizer coisas obscenas, impropérios que aqueles homens nunca ouviram, até deixá-los furiosos e apanhar, e cantará canções tocantes, consumindo-se até chorar e fazê-los chorar, e vai inventar brincadeiras e caretas tão novas até se embriagar de risadas, tudo só para aliviar a névoa de solidão que se adensa em seu peito em noites como esta [...] - Rapazes - começa a falar resignado, como se não quisesse desagradar ninguém, nem mesmo Canhoto - , cada um sabe por que é partagiano. Eu era funileiro e rodava pelos campos, meu grito era ouvido desde longe e as mulheres iam buscar as caçarolas furadas para eu consertar. Eu ia nas casas e brincava com as criadas e elas às vezes me davam ovos e copos de vinho. Punha-me a trabalhar nos recipientes com o flandres, na relva, e em volta sempre havia crianças que ficavam me observando. Agora não posso mais andar pelos campos porque eu seria preso e há bombardeios que arrebentam com tudo. Por isso somos partagiani: para voltarmos a ser funileiros, para que haja vinho e ovos a bom preço, e para que não nos prenda mais e não haja mais o alarme. E depois também queremos o comunismo. O comunismo é que não haja mais casas onde batam a porta na sua cara, para que não sejamos obrigados a entrar nos galinheiros, à noite. O comunismo é se você entrar numa casa e estiverem tomando sopa, eles lhe dão um pouco de sopa, mesmo se você for funileiro [...]. Veja mais aqui e aqui.

POEMAS DE AMOR – O poeta, lexicólogo, filósofo, fotógrafo e tradutor Ivo Korytowski, edita o excelente blog Literatura & Rio de Janeiro e, também, o extraordinário Sopa no Mel, no qual reúne seu trabalho literário e traduções, compilando, inclusive, a sua poesia e prosa poética, entre as quais, destaco o seu Amor Virtual: Serás meu absinto, meu ópio, meu nirvana, / A minha bússola, meu norte, meu caminho, / Minha fofinha, gostosinha, amorzinho. / De belas flores farás belas ikebanas! / Meu prelúdio, minha valsa, meu minueto, / Minha Vênus, meu afresco renascentista, / Meu trevo de quatro folhas, minha ametista, / Musa minha inspiradora de meus sonetos. / O seu sorriso me elevará ao alto astral. / Como serão sua voz, postura, olhar, / Seu perfume, fantasia de Carnaval? / São longos quilômetros a nos separar, / Porém, isso não tem importância. Afinal, / A Internet já fez de nós romântico par! Merece também destaque Amor Lunático: Desgostoso com as pessoas, enamorara-se da lua. – Bela é a lua, sobretudo quando cheia! E tem um rosto tão sereno... – Um rosto sereno, porém distante... – O amor não conhece distâncias. À noite, quando a tristeza me invade o coração, sua etérea beleza me conforta. Então, converso com ela! – Mas ela não te responde... – Não, minha amada não é tagarela; sua resposta, não a capta o ouvido, mas o coração! – Dormes com tua lua? – Não me fales de amor vulgar! – Amas a quem não compreendes... – Seu enigma é meu amor! – Quimeras... – O amor é uma quimera! Não, minhas palavras não o convenceram da impossibilidade de seu amor. Na noite seguinte, subiu uma montanha para se aproximar mais da Eleita. Chegando ao topo, amanhecera. Desesperado, atirou-se de altura de dois mil metros rumo ao Infinito! Como também o seu ótimo Masturbação: Na calada da noite eu me masturbo. De repente, vieram à tona todas as frustrações; quebraram-se as lentes cor-de-rosa que me interditavam a visão da realidade; vislumbrei a vida em toda sua crueza. De um mero jogo entre dois seres, aqui estou eu, estranho animal ora alegre, ora infeliz. Amanhã meus óculos ganharão novas lentes cor-de-rosa e só verei a praia, as ondas, a brisa... Mas hoje me masturbo para não repetir o erro de meu pai. Veja mais aqui, aqui e aqui.

JE T´AIME... MOI NON PLUS: PAIXÃO SELVAGEM - Je t'aime... moi non plus é uma polêmica canção que foi proibida em diversos países, do cantor e compositor francês Serge Gainsbourg (1928-1991). É tema do filme de mesmo nome (Paixão Selvagem, 1974), dirigido pelo autor da música e estrelado pela lindíssima atriz e cantora inglesa Jane Birkin. Em 2004, a atriz, cineasta e cantora portuguesa Maria de Medeiros, realiza um documentário com o mesmo título - Je t’aime... moi non plus: artistes et critiques -, abordando as relações entre a crítica cinematográfica e realizadores, com depoimentos de Manoel de Oliveira, Almodóvar, Cronenberg e Wenders, tendo por cenário a edição de 2002 do festival de Cannes. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Espetáculo Só tinha de ser com você (2005) da companhia goiana Quasar Cia de Dança.


Veja mais sobre:
Credibilidade da imprensa brasileira, a literatura de Cervantes, a História da imprensa de Nelson Werneck Sodré, a Imprensa de Millôr Fernandes, a música de Eduardo Gudin, Beijo no asfalto de Nelson Rodrigues & a arte da jornalista Enki Bracaj aqui.

E mais:
Todo dia o Sol se põe para uma nova alvorada..., O homem unidimensional de Herbert Marcuse, a literatura de Amos Oz & Machado de Assis, a poesia de Safo, a música de Händel & Caroline Dale, o cinema de Blake Edwards & Audrey Hepburn, a arte de Keith Haring, o humor de Ronald Golias, a pintura de Frederic Edwin Church & François Gerard aqui.
Matizes, a poesia de Luís Vaz de Camões, a literatura de Jean de La Fontaine, O cartesianismo científico de Paulo Cesar Sandler, A lenda do Cavalo sem cabeça de Luís da Câmara Cascudo, Hécuba de Eurípedes, a música de Villa-Lobos & Celine Imbert, Clítia & a escultura de Hiram Powers, a arte de Esther Góes, o cinema de Woody Allen, Tiradas do Doro, a pintura de Hans Hassenteufel & Gustave Courbet aqui.
Brincarte do Nitolino, a literatura de Nélida Piñon, a música de Igor Stravinski, a poesia de Augusto dos Anjos, O antiteatro de Eugène Ionesco, o cinema de Graeme Clifford & Jessica Lange, a arte de Frances Farmer, a pintura de Joan Miró, As emoções de Suely Ribella, Papel no Varal & Ricardo Cabus aqui.
Freyaravi & o circo dos prazeres, Cultura de consumo pós-moderna de Mike Featherstone, Os contos brasileiros de Julieta de Godoy Ladeira, O kama sutra de Vātsyāyana, a música de Marisa Monte, a fotografia de Ralf Mohr, a pintura de Crystal Barbre & Luciah Lopez aqui.
Lualmaluz, De segunda a um ano de John Cage, Técnica e ciência de Jürgen Habermas. a História da literatura de Nelson Werneck Sodré, a música de Sally Seltmann, a performance de Marni Kotak, a pintura de Théodore Géricault, a escultura de George Kurjanowicz, a arte de Moisés Finalé & Luciah Lopez aqui.
Quando tudo é manhã do dia pra noite, A agonia da noite de Jorge Amado, a música de Bizet & Adriana Damato, o Folclore musical de Wagner Ribeiro, a pintura de Aleksandr Fayvisovich, Postuman bodies de r Judith Halbertam & Ira Livingstone, a fotografia de Christian Coigny & Bryan Thompson, a arte de Mirai Mizue & Luciah Lopez aqui.
Uma coisa quando outra, o pensamento de Marshall Berman, a literatura de Adolfo Casais Monteiro, Arquiteturas líquidas de Marcos Novak, a música de Tom Jobim & Maucha Adnet, Adriana Garambone, a pintura de Renie Britenbucher, a arte de Alyssa Monk & Luciah Lopez aqui.
Feliz aniversário: resiliência, perspectivas & festas, o pensamento de Paulo Freire, a literatura de Octavio Paz, A resiliência de Makilim Nunes Baptista, a música de Midori Goto, a pintura de Luis Crump, Babi Xavier, a arte de Fabrice Du Welz & Luciah Lopez aqui.
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