sábado, abril 25, 2015

CIORAN, KADARÉ, FRIDHA, MEYERHOLD, BADI, CARLOTA, APPEL & CAIUBI.


EXERCÍCIO DE ADMIRAÇÃO – A obra Exercício de Admiração (1986), do filósofo romeno Emil Cioran (1911-1995) é constituída de dezesseis artigos, ensaios, prefácios e cartas, considerado pelo autor como “[...] uma espécie de autorrevelação através dos outros, um autorretrato camuflado”, expressando seu pensamento dotado de caráter orgânico, fisiológico e existencial, expresso por um estilo elíptico, lacônico e de sofisticada ironia: “Quantas angústias, quantas crises sinistras venci graças a esses remédios insubstanciais!”. Nesse livro o autor trata de política, história, a personalidade poética de Paul Valéry, Mallarmé, Poe, Leonardo da Vinci, Beckett, Mircea Eliade, Jorge Luís Borges, sobre a idolatria dos inícios e obsessão pelas origens que, segundo o autor, é a marca do pensamento reacionário, investido em uma visão estática do mundo, necessitando-se, segundo ele, “libertar o homem do culto das origens” a que o condena à metafísica e à religião: [...] É claro que, estabelecendo até aqui uma distinção tão nítida entre Revolução e Reação, nos submetemos necessariamente à ingenuidade ou à preguiça, ao conforto das definições. […] O concreto, vindo felizmente denunciar a comodidade das nossas explicações e dos nossos conceitos, nos ensina que uma revolução que teve êxito, que se estabeleceu, transformada no oposto de uma fermentação e de um nascimento, deixa de ser uma revolução, porque imita e tem que imitar as características, o aparato e até o funcionamento da ordem que derrubou. [...] Somos todos espíritos religiosos sem religião. Não se enraizar, não pertencer a nenhuma comunidadeessa foi e é a minha divisa. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem: Woman Nude, do pintor, designer, artista gráfico, escritor e escultor neerlandês, co-fundador do grupo CoBrA, Karel Appel (1921-2006)

Ouvindo Wonderland (eDGe music/ Universal, 2006), da cantora, compositora, violonista e percussionista brasileira Badi Assad.




CAIUBI 13 ANOS – Parece que foi ontem. No início dos anos 2000, a gente participando de uma rede música na internet, quando o parceiramigo Sonekka – Osmar Lazzarini, me fez um convite para participar do ClubeCaiubi de Compositores. Nem pestanejei e, na hora, fiz questão de atender ao pedido do parceiramigo que, como ele se portava na rede que participávamos, sempre teve essa do bloco de nós todos – contra o chatíssimo e predominante bloco do eu sozinho que tanto impera por aí. Hoje o clube reúne quase 8.500 caiubistas de todas as regiões do país e do exterior, integrando a maior diversidade da música na atualidade. Pra minha honra, tive a oportunidade de ser parceiro de Sonekka e de realizar uma entrevista com ele. Confira aqui e aqui.

ABRIL DESPEDAÇADO – O romance Abril despedaçado (Prilli i Thyer, 1978), do premiado escritor albanês Ismail Kadaré, foi escrito quando o autor esteve de visita ao norte da Albânia, contando a história de Kanun – a matança entre famílias por imposição do código moral albanês – e seus rituais sangrentos. A história se passa na localidade nos anos 1930, narrando a vingança de um matador. Da obra destaco: [...] Naquele mesmo instante Gjorg andava a grandes passadas pela Estrada dos Flamur, que alcançara uma hora antes. Sentiam-se no ar as primeiras friagens do crepúsculo quando ele ouviu um grito cortante de um lado do caminho: “Gjorg, lembrança a Zef Krye...” Seu braço fez um movimento brusco em busca da arma que trazia ao ombro, mas o ato de erguer o braço se confundiu com o grito “qyq”, a parte final do nome odiado, que mal chegou à sua consciência. Ele viu a terra se mover, em seguida o seu Rrafsh se erguer com fúria, atingindo-o na face. Caíra. De repente o mundo emudeceu por completo, depois ele ouviu passos em meio ao mutismo. Sentiu duas mãos que faziam alguma coisa com seu corpo. “Viraram-me para cima”, pensou. No mesmo momento algo frio, o cano do seu fuzil talvez, tocou sua face direta. “Ó Deus, tudo conforme as regras”. Tentou abrir os olhos. Não se deu conta se conseguira abri-los ou não. Deu-se conta apenas de que, no lugar do gjaks, enxengava alvos restos de neve que ainda não derreteu, e no meio deles um boi preto que não havia como vender. “Isso é tudo”, pensou, “e até que durou demais”. Ainda ouviu os passos se afastando e ficou a indagar de quem seriam. Pareciam-lhe familiares. Ah, claro, ele os conhecia bem, assim como conhecia as mãos que o tinham virado... “Eram as minhas”, disse. Em 17 de março, na estrada perto de Brezftoht... Por um instante perdeu a consciência, depois voltou a ouvir os passos e voltou a pensar que eram os seus, que era ele e ninguém mais quem fugia assim, deixando para trás, estendido no caminho, seu próprio cadáver que acabava de matar. Esta obra inspirou o drama homônimo lançado em 2001, dirigido por Walter Salles e adaptado por Karim Aïnouz, transportando-se da Albânia para o sertão do Brasil, no ano de 1910, com um time de primeira de atores brasileiros, contando a história de Tonho que é pressionar a vingar a morte do seu irmão, assassinado por uma família rival. Veja mais aqui.

O TEATRO DE ARTE DE MOSCOU – No texto A experiência do teatro estúdio (Estética teatral, 1980), do ator, diretor e téorico de teatro russo Vsevolod Emilevich Meyerhold (1874-1940), o autor porcurava com a estilização [...] evitar a reprodução precisa do estilo de uma época ou de um acontecimento determinado, próprio da fotografia. O conceito de estilização deve estar indissoluvelmente unido a idéia de convencionalismo, da generalização, do símbolo. Estilizar uma época ou um acontecimento significa colocar em relevo, com todos os meios expressivos a síntese de uma época ou de um acontecimento determinado; significa reproduzir os traços característicos escondidos, como resultam no estilo velado de fundo de certas obras de arte [...]. Refletia o autor a partir do entendimento de que: [...] O Teatro de Arte de Moscou tem duas facetas: por um lado é um teatro naturalista, por outro, um teatro dos estados de alma. Foi buscar o seu naturalismo ao Meininguer, com o seu princípio fundamental da reprodução exata da natureza: tanto quanto é possível, tudo o que se passa em cena é verdadeiro: textos, cornijas esculpidas, chaminés, papéis pintados, frigideiras, etc. Em cena cai uma cascata ou então uma chuva verdadeira [...] O teatro naturalista pede ao ator uma expressão clara, acabada, precisa; não admite um jogo alusivo, voluntariamente impreciso. É por isso que, mais frequentemente, este ator faz demasiadas coisas. Ora, ao interpretar uma personagem não é para nada necessário precisar rigorosamente os contornos para tornar a figura nítida. O espectador possui a faculdade de completar a alusão através da sua própria imaginação. Muitos, e muito justamente, são solicitados para o teatro pelo seu mistério e pelo desejo de nele penetrar. O teatro naturalista parece se recursar ao público este poder de sonhar e completar, poder que exerce ao ouvir a música. [...] Será necessário precisar o veredicto sugerido pelo próprio Tchekhov face ao teatro naturalista? Este teatro nunca deixou de procurar a grande parede, empurrando-o para o absurdo. Tornou-se prisioneiro do atelier. Queria que tudo fosse em cena como na vida, e assim se transformar numa loja de objetos de museu. Veja mais aqui.

A MEGERA DE QUELUZ: A FILHA DA LOUCA – A rainha consorte do reino unido de Portugal, Brasil e Algarve, Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbón e Bourbón (1775-1830), também Imperatriz do Brasil (1825-1826), era espanhola mandona e irascível que conspirou contra seu marido, tornando-se mais conhecida como A Megera de Queluz, filha da rainha D. Maria I, A Louca. A sua história foi contada jocosamente no filme histórico e satírico Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1994), com direção de Carla Camurati e estrelado pela atriz Marieta Severo, que expressou uma mulher arrogante, rude, grosseira, desbocada, desprezava o Brasil e traía o marido. Essa película conta parte da história da monarquia lusitana quando da elevação do Brasil de colônia para reino unido, por ocasião da fuga da corte portuguesa das tropas de napoleônicas que invadiam Portugal, transferida às pressas para um exílio de treze anos no Rio de Janeiro. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, a pintora mexicana Fridha Khalo (1907-1954).



Veja mais sobre:
O direito à informação e qual informação, A formação social da mente de Lev Vygotsky, O retrato do Dorian Gray de Oscar Wilde, a poesia de Manuel Bandeira, a pintura de Vincent van Gogh & a música de Gonzaguinha aqui.

E mais:
O desditoso amor de Tomé & Vitalina aqui, aqui, aqui e aqui.
As funduras profundas do coração de uma mulher, A arte de amar de Erich Fromm, a música de Claude Debussy & Isao Tomita, a poesia de Paul Verlaine & Ledo Ivo, a pintura de Fabius Lorenzi, a arte de Cornelia Schleime & Lula Queiroga aqui.
Fonte, Mal-estar na civilização de Sigmund Freud, O jardineiro do amor de Rabindranath Tagore, O homem que calculava de Malba Tahan, Escritos loucos de Antonin Artaud, Amem de Costa-Gavras, a música de Fátima Guedes, a pintura de Vincent van Gogh, Cia de Dança Lia Rodrigues & Brincarte do Nitolino aqui.
Mulheres de Charles Bukowski, a poesia de Konstantínos Kaváfis, O entendimento humano de David Hume, O sentido e a máscara de Gerd Bornheim, a literatura de Gonzalo Torrente Ballester, a música de Brahms & Viktoria Mullova, o cinema de Imanol Uribe, a pintura de Monica Fernandez, Academia Palmarense de Letras (APLE), Velta & Emir Ribeiro aqui.
A paixão avassaladora quando ela é a terrina do amor & a pintura de Julio Pomar aqui.
A síndica dos seios oníricos, a fotografia de Luis Mendonça & Tataritaritatá no Palco Aberto aqui.
Função das agências reguladoras aqui.
Fecamepa: quando a coisa se desarruma, até na descida é um deus nos acuda aqui.
A educação no positivismo de Auguste Comte aqui.
Aurora Nascente de Jacob Boehme, A teoria quântica de Max Planck, A megera domada de William Shakespeare, a música de Pixinguinha, a pintura de Marcel René Herrfeldt, Bowling for Columbine de Michael Moore, a arte de Brigitte Bardot, a Biopoesia de Silvia Mota & PEAPAZ aqui.
Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, A trilha dos ninhos de aranha de Ítalo Calvino, Mademoiselle Fifi de Guy de Maupassant, A mandrágora de Nicolau Maquiavel, A paixão selvagem de Serge Gainsbourg & Jane Birkin, a arte de Maria de Medeiros, a música de Cole Porter, a pintura de Odilon Redon, Quasar Cia de Dança & Sopa no Mel de Ivo Korytowski aqui.
A lenda do açúcar e do álcool, História da Filosofia de Wil Durant, Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, Não há estrelas no céu de r João Clímaco Bezerra, a música de Yasushi Akutagawa, a pintura de Madison Moore, o teatro da lenda da Cumade Fulôsinha & o espetáculo de dança Bem vinda Maria Flor aqui.
Cruzetas, os mandacarus de fogo, Concepção dialética da História de Antonio Gramsci, O escritor e seu fantasma de Ernesto Sábato, Sob o céu dos trópicos de Olavo Dantas, a pintura de Eliseo Visconti, a fotografia de Rita-Barreto, a ilustração de Benício & a música de Rosana Sabença aqui.
O passado escreveu o presente; o futuro, agora, Estudos sobre Teatro de Bertolt Brecht, A sociolingüística de Dino Preti, Nunca houve guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a música de Adriana Hölszky, a escultura de Antonio Frilli, a arte de Thomas Rowlandson, a pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko aqui.
O feitiço da naja, Sistema de comunicação popular de Joseph Luyten, Palmares e o coração de Hermilo Borba Filho, a poesia de Mário Quintana, o teatro de Liz Duffy Adams, a música de Vanessa Lann, a fotografia de Joerg Warda & Luciah Lopez aqui.
A rodagem de Badalejo, a bodega de Água Preta, O analista de Bagé de Luis Fernando Veríssimo, O enredo de Samira Nahid Mesquita, O teatro de Sábato Magaldi, a música de Meredith Monk, Pixote de Hector Babenco, a arte de Vanice Zimerman, a pintura de Robert Luciano & Vlaho Bukovac aqui.
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