quinta-feira, janeiro 23, 2020

ACUÑA & ROSARIO, DAVID LYNCH, FRANCES BURNETT, GOTTHOLD LESSING & ARTE PERNAMBUCANA


NOTURNO À ROSARIO - Esta carta é o meu último poema, Rosario, porque é dezembro e para mim não sei que dia ou mês e ano, tanto faz, apenas o frio chuvoso aumenta a escuridão. Ante um cadáver atormentado, sempre fui afligido pela premência e mendicidade. Assim a minha vida desastrada, apenas um alento: você, a bela filha da rica mansão do fórum literário, com sua voz melodiosa e o tom apropriado para dizer as mais belas palavras, o fascínio de deusa na minha alma e poesia, que recita admiravelmente todos os versos. Sou para você transbordantes louvores pelo monumento da beleza de seus encantos físicos, musa inspiradora e imortal do sangue espanhol, da pele morena, alta, ereta, ideal majestade reinante com seus cabelos negros, olhos brilhantes de inequívoca realeza, lábios rubros estreitos, grandiosa maravilha, soberanamente bela. Eu lhe dediquei todos os meus dias e a minha vida. Eu declarei meu amor e me joguei aos seus pés com o Noturno escrito no álbum de madrepérola. Não havia de esperar mais nada da minha família desequilibrada, eu desequilibrado, que mais poderia eu no meu silencioso desespero de sentimentos difusos e hiperestesia. Era o amor na minha insônia de gritos angustiados e horrorosos. Se não durmo, errâncias demais; se pálido esmoreço nas minhas noites sombrias, seus olhos brilham na minha vida porque seus beijos não são meus na minha loucura de ardentes delírios. É você que eu adoro, que sinceramente amo, sofro e choro na minha última ilusão. Meus caminhos se perderam, não há mais futuro na minha esperança morta. Todas as manhãs lhe visito, hoje sou um amante com cheiro de amêndoas amargas nos lábios, a redenção no cianeto. Pode parecer um aranzel qualquer todo esse desaarrazoado, mas não é. Não sei se amanheço, tenho a doença do amor e um segredo irrevelável. Eu abençoei seu desdém e desvios na minha vida extremamente noturna, só posso presentear o meu eterno adeus. Pela última vez, para você, dedico a minha morte. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Havia algum mistério no ar naquela manhã. Nada estava sendo feito na ordem habitual, e Mary tinha a impressão de que havia muito menos criados que de costume na casa. Além disso, os poucos criados que ela viu estavam se esgueirando pelos cantos ou andando às pressas de um lado para o outro, com rostos pálidos e apavorados. Mas nenhum deles lhe disse nada e sua aia não apareceu. Mary, na verdade, ficou abandonada durante boa parte da manhã e, por fim, acabou decidindo ir para o jardim e brincar sozinha debaixo de uma árvore, perto da varanda. Fingiu que estava fazendo um canteiro de flores e espetou grandes botões vermelhos de hibisco em montinhos de terra. E o tempo todo, enquanto brincava, ia ficando cada vez mais zangada, resmungando consigo mesma o que iria dizer para Saidie quando ela aparecesse e os nomes feios de que iria chamá-la. [...] Depois disso, coisas terríveis aconteceram, e o mistério daquela manhã foi explicado a Mary. A cidade tinha sido atingida pelo cólera em sua forma mais fatal e as pessoas estavam morrendo feito moscas. A aia havia adoecido durante a noite, e foi porque tinha acabado de morrer que os criados haviam começado a berrar e a chorar nas cabanas. Antes que o dia seguinte raiasse, três outros criados morreram e vários fugiram, apavorados. Havia pânico por toda parte e pessoas morrendo em todas as casas. [...]. Trechos extraídos da obra O jardim secreto (Penguin, 2013), da escritora e dramaturga inglesa Frances Hodgson Burnett (1849-1924).

MANUEL ACUÑA & ROSARIO DE LA PEÑA - O poeta mexicano Manuel Acuña (1849-1873), um dos maiores representantes da literatura mexicana do período romântico. Ele alcançou renome com uma produção melancólica e filosófica, com poemas como Noite, Ante um cadáver & Nocturno a Rosario, entre outros, e o seu drama El posado que estreou em 1872. Ao se apaixonar pela belíssima Rosario de la Peña y Llerena (1847-1924) que se tornou musa de um amor impossível, levando-o ao suicídio por envenenamento com cianeto de potássio. Ela desempenhou um papel muito importante na literatura mexicana, mas não por suas produções, mas por sua animação ao grupo que liderou a cultura mexicana no final do século XIX. Quanto ao formal, é a musa do poema Nocturno de Acuña, um favorito tradicional dos leitores de poesia. Ao terminar os últimos detalhes de sua última composição literária, Manuel Acuña ingeriu uma dose de cianeto de potássio e foi encontrado morto com o poema, quando tinha apenas 24 anos e publicou duas peças e poemas famosos. Sobre a história deste amor, o filme Nocturno a Rosario (1992), do diretor Matilde Landeta, retratando os anos de estudante no Colegio de San Ildefonso, onde conheceu vários intelectuais da época, além de mostrar como ele decidiu tirar a vida por causa da rejeição amorosa de Rosario, que pertencia à corte do imperador Maximiliano de Habsburgo. O casal foi interpretado pelos atores Simón Guevara e Ofelia Medina. Veja mais aqui  e aqui.

O FAUSTO DE LESSING
FAUSTO E OS SETE ESPÍRITOS - ATO II - CENA IIII- [...] FAUSTO: Vocês? São vocês os espíritos mais rápidos do inferno? TODOS OS ESPÍRITOS: Nós.  FAUSTO: Vocês sete são igualmente rápidos? TODOS OS ESPÍRITOS: Não. FAUSTO: E qual de vocês é o mais rápido? TODOS OS ESPÍRITOS: Sou eu! FAUSTO: Que milagre! Entre os sete diabos só seis são mentirosos – eu preciso conhecê-los melhor. PRIMEIRO ESPÍRITO: Você vai! Um dia! FAUSTO: Um dia? O que você está pensando? Os diabos também pregam penitência? PRIMEIRO ESPÍRITO: É, aos renitentes. – Mas não nos atrase. FAUSTO: Como você chama? E quão rápido você é? PRIMEIRO ESPÍRITO: Você poderia ter uma prova antes de ter uma resposta. FAUSTO: Então tá. Olhe aqui; o que estou fazendo? PRIMEIRO ESPÍRITO: Passando seu dedo rapidamente na chama da luz. – FAUSTO: E não me queimo. Então vai e passe sete vezes bem rápido pelas chamas do inferno sem se queimar também. – Ficou mudo? Está aí? Assim que os diabos se gabam? Sim, sim; nenhum pecado é tão pequeno que vocês deixem passar. – Segundo, como você chama? SEGUNDO ESPÍRITO: Chil, em sua enfadonha língua: flecha da peste. FAUSTO: E quão rápido você é? SEGUNDO ESPÍRITO: Você pensa que eu carrego meu nome em vão? – como a flecha da peste. FAUSTO: Pois que vá servir a um médico! Para mim você é muito devagar. – Ei, terceiro, como você chama? TERCEIRO ESPÍRITO: Chamo Dilla; pois a asa do vento me carrega. FAUSTO: E você, quarto? – QUARTO ESPÍRITO: Meu nome é Jutta, pois eu viajo nos raios da luz. FAUSTO: Ó, vocês, que exprimem sua rapidez em números finitos, seus coitados – QUINTO ESPÍRITO: Não os digne de seu mau-humor. Eles são só mensageiros de Satanás no mundo físico. Nós o somos no mundo dos espíritos; você nos achará mais rápidos. FAUSTO: E quão rápido você é? QUINTO ESPÍRITO: Tão rápido quanto o pensamento do homem. FAUSTO: Isso lá é alguma coisa! – Mas nem sempre os pensamentos do homem são rápidos. Não quando exigem verdade e virtude. Como eles são lerdos então! – Você pode ser rápido quando quiser ser rápido; mas quem me garante que você vai querer o tempo todo? Não, em você eu poderia confiar tão pouco quanto em mim mesmo. Ah! – (para o sexto espírito) Diga, quão rápido você é? – SEXTO ESPÍRITO: Tão rápido quanto a vingança do vingador. FAUSTO: Do vingador? De qual vingador? SEXTO ESPÍRITO: Do violento, do terrível, aquele que reserva a vingança só para si, pois a vingança lhe compraz. – FAUSTO: Diabo! Blasfemando, pois eu vejo que você está tremendo. – Rápido, você diz, como a vingança do – breve teria eu o nomeado! Não, ele não é nomeado entre nós! – Rápida seria sua vingança? Rápida? – E eu ainda estou vivo? E ainda pecando? – SEXTO ESPÍRITO: Que ele ainda o deixe pecar já é vingança! FAUSTO: E que um Diabo tenha de me ensinar isso! – Mas só hoje mesmo! Não, sua vingança não é rápida, e se você não é mais rápido que sua vingança, então agora vá. – (para o sétimo espírito) – Quão rápido você é? SÉTIMO ESPÍRITO: Desprezivelmente mortífero até quando não sou rápido o bastante para você. – FAUSTO: Então diga; quão rápido?  SÉTIMO ESPÍRITO: Nem mais e nem menos que a passagem do bem ao mal. – FAUSTO: Aha! Você é o meu diabo! Tão rápido como a passagem do bem ao mal! Sim, essa é rápida; nada é mais rápido que isso! – Fora daqui, suas lesmas de Orcus! Fora! – Como a passagem do bem ao mal! Eu descobri o quanto ele é rápido! Descobri! [...].
FAUSTO DE LESSING – O drama O Fausto (1760), do poeta, dramaturgo, fiósofo e crítico de arte alemão, Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), considerado um dos maiores representantes do Iluminismo, famoso por sua crítica ao anti-semitismo e defesa do livre pensamento e tolerância religiosa, trata sobre a encarnação do heroísmo do intelecto humano, capaz, por si mesmo, de triunfar sobre o mal, personificado no diabo. Suas peças e seus escritos teóricos exerceram uma influência decisiva no desenvolvimento da Literatura Alemã moderna, da qual é considerado fundador. Veja mais aqui.

A FOTOGRAFIA DE DAVID LYNCH
Eu gosto de fotografar mulheres nuas. A variedade infinita do corpo humano é fascinante: é incrível e mágico ver como as mulheres são diferentes.
DAVID LYNCH – Imagens recolhidas da obra David Lynch: Nudes (Fundation Cartier Pour L’Art Contemporain, 2018), reunindo o trabalho fotográfico do cineasta, roteirista, músico, ator e artista visual estadunidense, David Lynch, reunindo o resultado da exposição de fotografia e pintura, O ar está pegando fogo,  com mais de cem imagens coloridas e em preto e branco, muitas inéditas, de nus femininos capturadas pelo artista icônico, carregadas de eroticidade e abstração, com visões caleidoscópicas da mulher e da variedade do corpo humano. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
A arte de Silvio Hansen aqui, aqui & aqui.
Estamira – Beira do Mundo, monólogo da atriz Dani Barros aqui.
O fim do nordeste e outros mitos, do professor e filósofo Michel Zaidan Filho aqui.
A poesia de Selma Ratis aqui.
A literatura de Reginaldo Oliveira aqui & aqui.
A fotografia de Chico Ludermir aqui.
A música de Marquinhos Cabral aqui, aqui & aqui
&
O município de Xexéu aqui & aqui.