sexta-feira, janeiro 24, 2020

CAMPBELL, PICABIA, NORMA DE SOUZA LOPES, VILMAR CARVALHO, AMANDA ARAÚJO, DAREL & ARTE PERNAMBUCANA


UMA CARTA ESQUECIDA – A dança do nascimento eu não sei, ao útero de minha mãe retornei a ser criança para crescer outra vez com a dor e disse sim. Não recusei meu destino, aceitei meu nascimento. Fui além do medo e do desejo, carreguei culpas invisíveis. Eu disse sim: sim ao meu não, ao meu nome, ao medo de fugir, à recusa do destino, à negação de tudo e me encontrei verdadeiro. Eu me afirmei ao me opor, do igual para o outro e fiz a aliança para me reconciliar com o passado. Eu me livrei da culpa e do horror, aceitei porque me vi maior que a minha doença: nunca fui escravo da emoção. Eu escolhi a minha vida, sou o vento que me carrega para a floração da primavera. O que meus pais esperavam de mim, não vinguei; e me tornei o que sou; e, certamente, os tenha decepcionado. Não poderia ser como eles; prevaleceu a impressão de que nem fui desejado, apenas aconteci para surpresa, sinto nos meus tornozelos. Provei do veneno e me curei. Desci ao inferno, enfrentei minhas sombras e os rancores no ventre. Sempre estive só e a palavra presa na garganta. Perdoei e pude digerir o peso do meu estômago. Teve uma hora tudo apodrecido ao meu redor, gente com cerviz dura e sem olhar, como se vissem nada, o vazio, e eu entre Erínias e as Eumênides, aprendendo que o guerreiro realizado não precisa de armas. Escutei meu corpo, ouvi histórias esquecidas, ignoradas. Colhi o inesquecível que olvidei de mim mesmo, o imperdoável: o inesquecível de cada momento vivido. Eu sequer sabia, nem lembrava. Fiz-me aspirante com os joelhos descobertos para a prece iniciática e o céu desceu à Terra. Vi todos os lados e direções: tudo é muito maior do que possa perceber. Tenho na mão o meu coração e todas as mudras para reencontrar a Estrela da Síntese. Sempre precisei dar um passo a mais, caminhar leve, pés alados e na viagem ao centro de mim, não era outra a descoberta senão a dor da Terra: tudo será decomposto. As minhas raízes eu sei, sou deste chão e levado, de argila sou feito; coxeio, na verdade danço, porque tenho em mim eu e meus irmãos, familiares e desconhecidos. Ao me encontrar com a minha vida escolhida, me tornei o rei de mim mesmo. O aprendizado com os terapeutas de Alexandria me trouxe a Árvore das Sephirot e a escada de Jacó, soube o que me foi dado e não recebi por completa inaptidão. Nada não, se perdi a razão encontrei Deus e o abrigo para o alheio. O que de mim restou, diante das provações da existência, ficarei de pé até o fim dos meus dias. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] O intelectual moderno não encontra dificuldades em admitir que o simbolismo da mitologia se reveste de um significado psicológico. Está fora de dúvidas, especialmente depois do trabalho dos psicanalistas, que tanto os mitos compartilham da natureza dos sonhos, quanto os sonhos são sintomáticos da dinâmica da psique. [...] As mitologias folclóricas tomam a história da criação apenas no ponto em que as emanações transcendentais irrompem em formas espaciais. Não obstante, em sua avaliação da circunstância humana, não diferem em nenhum ponto essencial das grandes mitologias. As personagens simbólicas que comparecem a essas histórias correspondem em importância e não raro em características e façanhas às personagens das iconografias mais sofisticadas, e o mundo maravilhoso em que se movem é precisamente o mundo das grandes revelações: o mundo e a época que se encontram entre o sono profundo e a consciência desperta, a zona em que o Uno se torna o múltiplo e os muitos se reconciliam com o Uno. [...]. Trechos extraídos da obra O herói das mil faces (Cultrix, 2015), do escritor, professor, mitologista e conferencista estadunidense Joseph Campbell (1904-1987). Veja mais aqui & aqui.

CRISE DA FORMAÇÃO DOCENTE: [...] A situação formação profissional do professor é invertidamente simétrica à situação de seu exercício profissional. Quando se prepara para ser professor ele vive o papel de aluno. O mesmo papel, com as devidas diferenças etárias, que seu aluno viverá tendo a ele como professor. [...] a formação do professor precisa tomar como ponto de referência a organização institucional e pedagógica dos cursos, a simetria invertida entre a situação de preparação profissional e o exercício futuro na profissão docente. A consciência da simetria invertida é, portanto, condição extremamente necesária. [...] Um profissional que acompanha os avanços de sua área de atuação, mediando formação inicial e continuada, buscando uma profissão docente mais preparada para lidar com o mundo contemporâneo. Não é excesso dizer que talvez estejamos formando professores como o foi no século XIX. Também, passando acríticos pela tecnocracia do século passado. Confrontados pela atualidade, estamos procurando inovar a ação docente para além das queixas da profissão. [...]. Trecho do artigo Prática pedagógica como componente curricular e crise da formação docente, extraído da obra História, educação e memória: coletânea de ensaios e palestras – 2008-2019 (Criaart, 2019), do poeta, historiador e professor Vilmar Carvalho. Veja mais do autor aqui, aqui & aqui, e sobre práticas pedagógicas contemporâneas aqui & aqui.

QUATRO POEMAS DE NORMA DE SOUZA LOPES
MAIS ALEM: disse por três vezes / nunca mas ambicionar validação alheia / olho no espelho e pisco / que bela senhora nos tornamos / tenho tempo e espaço para escrever / meu trabalho é uma beleza / e esses pássaros que me acordam / estão cheios de poesia / mas são tantas / as coisas sem serventia / que mantemos / uma roupa que não serve mais / um antigo CD / a coleção de garrafas vazias que sei / nunca vou usar / e esse olho latente / do Outro, a bradar / o que eu devo ser / não queria escrever poesia / como que faz filosofia / tantas palavras / quando bastava o silêncio
DIFERES: suspende tua sede / como quem / tem todo tempo / do mundo / ignora o agora inexorável / a triturar o tempo / entre os dentes
ALAVANCA: o que me mantém / suspensa no ar / é o amor e a morte / salto e queda / num abismo que arde / não se mira duas vezes / a inclassificável / substância da nudez / festa do corpo / deveria ser impossível / cair em si / dada a ausência / de ponto de apoio
EM CHAMAS: esta manhã eu fui uma mulher em chamas / e carreguei comigo o calor e as cores das chamas / por falta de um mapa de incêndios / e de companheiros incendiários / ardi em altas chamas / completamente desperdiçadas.
NORMA DE SOUZA LOPES - Poemas da poeta e professora Norma de Souza Lopes, autora dos livros De mim ninguém sai com fome (Patuá, 2017) e Borda (Patuá, 2014). Ela também edita o primoroso blog Norma Din, no qual ela expressa que: Escrever é essa costura cotidiana quando posso tecer e juntar as pontas soltas da memória.
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QUATRO POEMAS DE AMANDA ARAÚJO
RETORNO DOLORRISO: Sinto a solidez desse impasse / E carrego comigo o desgaste / Que é / Salvar amores / Sorrir dores / Torcer lençóis / Adiante o projeto desbota / Como alvos flamejantes / Se esvai num pestanejar / Resta os calos nos dedos / As alegrias amarelas / E o coração coral. / Venha tu / Vou-te a ti / Voltarei / Ao lençol desbotado / O flamejante e alvo sorriso.
PAISAGEM: À beira de um precipício / Pulando com uma asa só / Pendendo pro lado / Dando ponto sem nó / Deitado na rede / Ouvindo a seda remoer / Um passo de lá / De cá, lago de correr / Meia volta / Vou ver! / O frágil giz de cera / Rabiscava na pele / Sem pressa / Sem presa / Sem pesar.
CONTIGO, SEM TI: Fale de ti / Das notas da flauta / Dos acordes irracionais / Fale das cores nuas / Da lua lilás / Conte-me dos cantos / O lírico / E o sagaz / Mas leva-me contigo / Ou roube a minha paz / ... / Três pontos de luz me rondavam: / Ipê colorido / Pés descalços / Calçadas solitárias.
AMANDA ARAÚJO - Poemas da poeta e crítica literária Amanda Araújo, acadêmica de Letras pela UFPE (EaD), incluída nas antologias O futuro da poesia (2017) e Dezditos – Poemas Selecionados (2018), organizadas pelo poeta e professor Admmauro Gommes. Veja mais da Amanda aqui e mais poesia aqui.

A ARTE DE FRANCIS PICABIA
Os homens conseguem diplomas e perdem o seu instinto. A moral é a espinha dorsal dos imbecis. A melhor maneira de sermos seguidos é correr mais depressa do que os outros. Nossa cabeça é redonda para permitir ao pensamento mudar de direção.
FRANCIS PICABIA - A arte do pintor e poeta francês Francis Picabia (1879-1953), que foi vinculado ao cubusmo e foi membro do grupo Puteaux, publicou na Espanha o primeiro número da revista dadaísta 391, em 1916, além de ter criado com André Breton a revista 491 e ilustrar a obra Janela do caos, de Murilo Mendes. Veja mais aqui & aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
A arte do gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017) aqui, aqui & aqui.
A obra do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) aqui, aqui & aqui.
A literatura do escritor Pelópidas Soares (1922 – 2007) aqui, aqui & aqui.
A arte do escritor, artista visual, professor, pesquisador, arquiteto e urbanista Gentil Porto Filho aqui.
Cinema, Aspirinas e Urubus, filme de Marcelo Gomes aqui.
A arte do quadrinista, ilustrador, desenhista, publicitário e webdesigner Nel Angeiras aqui.
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O Museu do Caxiado de São Joaquim do Monte aqui & aqui.