segunda-feira, fevereiro 22, 2016

NÉLIDA PIÑON, ODUVALDO VIANNA FILHO & JÚLIO POMAR



FUNDADOR – No livro Fundador (Labor, 1976), da escritora Nélida Piñon, destaco o trecho: [...] – Por que, em vez de mulher, não nasceu homem? disse ele algumas vezes. E cedeu ante a rainha porque Eleanora o exigira. Logo que a conheceu, pernoitando ali, numa das suas rápidas viahens. Olhou a filha e disse: - Então, na floresta encontra-se a taça de vinho raro! Eleanora pediu-lhe o nome. Outras informações, a que a filha cedia segundo a própria vontade. Sem que a sua rebeldia, aquele jeito de se perder em abismos como quem se afina com a superfície da terra, incomodasse a rainha. Talvez a tivesse encantado. E conferiu-lhe a honra que o pai teria dispensado. Se a rainha o consultasse, declinaria do convite, sua filha partir para a corte, viver entre dissolutos e formadores de uma outra época. Temia Eleanora e seu riso de pássaro alterando a filha que nem ele dominava, mas que sempre fora seu orgulho. Ele que lhe dizia boa noite recebendo em troca um longo olhar, um toque delicado em suas mãos e se viam no dia seguinte com a brevidade de um inseto [...]. Veja mais aqui e aqui.


DE UMA CENA DE PAPA HIGHIRTE, DE ODUVALDO VIANA FILHO - [...] Papa Highirte – É. Você tem bom gosto menina... Graziela –Que é isso, Papa, eu não... Papa Highirte – Tenho vinte séculos, menina, completos em março, não pense que me engana... É justo. Eu preciso de ajuda mesmo para amar você. (Senta-se. Bate nas pernas. Graziela senta-se no colo dele). Papa Highirte – Agora beijos. Graziela sorri. Encosta-se nele. Beija-o). Papa Highirte – Por que não veio ontem? Graziela – Assim... não vim... fiquei assim... Papa Highirte – Boa explicação, menina, boa explicação.... (Riem. Ficam abraçados. Muda a luz. Papa continua com Graziela no colo) [...] Papa Highirte – Tem belas coxas a Graziela... é a putinha mais bem conservada que conheço, a putinha... um seio pequeno, a putinha tem um seio pequeno de donzela... hein? Você não acha bonita a coxa de Graziela?... Hein, Mariz?..... hum.... o rapaz tem seus orgulhos... [...] Mariz - Falou do seu peito, da sua coxa, da sua anca, anca de égua de Grande Prêmio.... me contou como beija seu peito, peito de menina debutante, que ele beija seu peito até ficar roxo o bico do seio...  (Graziela ri). Graziela - ...sabe? E ele senta numa cadeira e pede pra mim andar, primeiro vestida, assim toda coberta, eu fico andando, aí ele pede pra tirar o soutien, fico só de vestido o seio balançando, acho que andei um dia a tarde toda, parecia uma exaustão, ele fica olhando, fuma, bebe pulque, sabe o que ele mais gosta que eu faça? Vou andando assim de costas, a blusa fechada, aí eu pego chego bem de longe e assim de repente viro assim com a blusa aberta, fico um instante, zapt, ai viro de novo, ai ele pede pra mim dançar como eu danço na boite... PAPA HIGHIRTE – peça teatral do autor e ator Oduvaldo Viana Filho (1936-1974), participante ativo do Teatro de Arena, fundador do Centro Popular de Cultura e do Grupo Opinião. Teve sua trajetória personificada pela luta contra o imperialismo cultural. Sua dramaturgia coloca em cena a realidade brasileira através do homem simples e trabalhador, sendo unanimemente considerada a mais profícua de sua geração, com textos como Chapetuba Futebol Clube, Papa Highirte e Rasga Coração. Papa Highirte foi escrita em 1968, relata ocaso de um ditador latino-americano, no exílio, amargando suas obsessões e seus fantasmas do passado. Por mais que ele se veja como um bom homem, sua ação ou omissão causou um injusto aglomerado de vítimas. O texto se tece e constrói em torno desse ajuste de contas fatal, quando o personagem cogita o regresso ao seu País. Esse texto, assim como Rasga Coração, foram duas obras-primas de Vianinha, ambas premiadas em concursos promovidos na época, pelo Serviço Nacional de Teatro. Veja mais aqui, aqui e aqui.

REFERÊNCIA
VIANA FILHO, Oduvaldo. O melhor teatro Oduvaldo Viana Filho. São Paulo: Global, 1984.


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