quarta-feira, junho 24, 2020

TARKOVSKI, SÁBATO, SUELI CARNEIRO, CECÍLIA BRENNAND, GENTIL PORTO, MILTON SANTOS, PHIOCLES DE ABDALLES & SAMWAAD RUA DO ENCONTRO



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA PROCURA DA POESIA - Houve um tempo em que o sorriso era a mata densa lá longe, com todas as abusões escurecidas para fantasias e presepadas. Hoje, telhados e arranha-céus escondem o azul do amanhã e os descampados de agora, antes ontens fantásticos. Poetar passos no asfalto entre corações duros e olhares minguantes no concreto respirando pelas frestas insalubres. Um verso de Arseny Tarkovski: Eu ergui todos os dias que fizeram o passado / Com uma cadeia de agrimensor, eu medi o tempo / E viajei através dele como se viajasse pelos Urais. Ainda tenho muitos sonhos de olhos abertos, sonhar ainda é possível noutro verso dele: Eu prontamente trocaria a vida / Por um lugar seguro e quente / Se a agulha veloz da vida / Não me puxasse pelo mundo como uma linha. Ademais, tudo é afinal para viver.

DUAS OU MAIS SOLIDÕES - Estou só com a festa dos pássaros nos amanheceres. Entre entardeceres, sou entre roncos de motores, gente apressada e rumores inauditos pelas esquinas. Comigo anoiteceres longínquos de espera. Ouço Ernesto Sábato: Estamos próximos, mas estamos a uma distância incomensurável, estamos próximos, mas estamos sós. Viver consiste em construir memórias futuras. Horas a fio, entre o cansaço e a insônia, me refaço e estou sempre pronto para viver.

TRÊS HUMILHAÇÕES POR DIA - Desapontamentos recheiam o dia nestes tempos de duplo flagelo. Para a pandemia, o isolamento e dor solidária; mas, para a babel coisonária é tudo muito vergonhoso. Nunca pensei que entre a minha gente houvesse tantos alheios desalmados. É tudo muito escatológico, talvez um OVNI apareça rasgando os céus em nosso socorro, quando na verdade é nossa a responsabilidade de levar a bom termo os destinos da humanidade. Bem disse Milton Santos para minha maior consternação: A má índole associada a falta de educação leva ao racismo, ao preconceito e até a marginalidade. A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une. Quem dera braços abertos e solidários numa só canção, mas não. Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] a unidade na luta das mulheres em nossas sociedades não depende apenas da nossa capacidade de superar as desigualdades geradas pela histórica hegemonia masculina, mas exige, também, a superação de ideologias complementares desse sistema de opressão, como é o caso do racismo. O racismo estabelece a inferioridade social dos segmentos negros da população em geral e das mulheres negras em particular, operando ademais como fator de divisão na luta das mulheres pelos privilégios que se instituem para as mulheres brancas. Nessa perspectiva, a luta das mulheres negras contra a opressão de gênero e de raça vem desenhando novos contornos para a ação política feminista e anti-racista, enriquecendo tanto a discussão da questão racial, como a questão de gênero na sociedade brasileira. Esse novo olhar feminista e antirracista, ao integrar em si tanto as tradições de luta do movimento negro como a tradição de luta do movimento de mulheres, afirma essa nova identidade política decorrente da condição específica do ser mulher negra. [...]. Trecho do artigo Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero (Portal Geledés, 2011), da filósofa, escritora e ativista antirracista Sueli Carneiro, fundadora e coordenadora-executiva do Geledés – Instituto da Mulher Negra - São Paulo SP, e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil.

DESTAQUE: À LUZ DE VELAS – [...] Fui chamado às pressas para atender um paciente em estado gravíssimo que estava se ultimando numa das enfermarias do hospital. Enquanto eu tentava manobras reanimatórias que se revelaram infrutíferas, o nosso herói correu à cozinha trazendo de lá uma vela acesa. Procurava a todo custo que fosse segurada pelo moribundo que não tinha mais forças para tal. Não conseguindo êxito, gritava: “segura na vela João, para não morrer feito jumento”. Concluído o desenlace, ele ostentava uma cara de tristeza, fracasso ou decepção por saber que apesar dos seus esforços o João partiu para outra sem o conforto da luz de vela a iluminar o seu caminho. Trecho da crônica extraída da obra E o tempo passou (Bagaço, 2010), do escritor e médico Gentil Porto (1940-2019), membro da Academia Recifense de Letras e Academia Pernambucana de Medicina.

PHIOCLES DE ABDALLES
[...] Diz a lenda que esse povo descende de Abdalles, filho do deus Sol, e Phiocles, a primeira mulher. Phiocles tem a reputação de ter sido concebida quando um raio de sol atingiu uma serpente e de ter sido criada por uma raposa depois que a serpente morreu. Phiocles também manteve relações com os irmãos de Abdalles [...]. Os costumes matrimoniais dos Abdalles dão grande importância ao Ab-Soc-Cor, o padrinho do noivo. No dia anterior ao casamento, ele visita a noiva; ao anoitecer, fecha-se com ela numa sala escura, onde lhe ensina os deveres físicos e sexuais de uma esposa e se assegura de que ela ainda é virgem. Ao amanhecer, ele vai até o noive, saudando-o com estas palavras: “A criança está dormindo”. O noivo responde: “Vamos acordá-la”. Somente então partem para o templo onde se realiza a cerimonia de casamento propriamente dita. [...].
PHIOCLES DE ABDALLES - Trecho da lenda extraída da obra Lamekis, ou les voyages extraordinaires d’um egyptien dans la terre intérieure avec la découverte de l’isle de Silphides, enrichi notes curieuses (Haia, 1735), de Charles Fieux de Mouhy, recolhida do Dicionário de lugares imaginários (Companhia das Letras, 2003), de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi. Veja mais aqui.

SAMWAAD RUA DO ENCONTRO
Introduzimos gestos e danças de outras culturas no método “cidadão dançante”, pois essas diferentes qualidades de movimento conduzem o aprendiz a outras lógicas e formas de raciocínio. O ser humano possui os mesmos padrões de movimento, seja a qual parte do globo pertença. Entretanto, desenvolveu modos muitos diferentes de dançar, mais uma prova de que, ao consolidar os padrões motores da espécie, o homem consegue também criar a diferenciação cultural.
SAMWAAD RUA DO ENCONTRO - Espetáculo de dança Samwaad - Rua do Encontro (Sesc-SP, 2004), concebido e dirigido pelo coreógrafo e educador do corpo, Ivaldo Bertazzo, com elenco constituído por 55 jovens de 7 ONGs de São Paulo, a maioria jovens com menos de vinte anos de idade que, durante os 8 meses de ensaios, os aspirantes passaram por consultas médicas e odontológicas e tiveram aulas de linguística, percussão e origami. Dele recolhemos Ivaldo Bertazzo: Arte também é educação (Comunicação & Educação, 2006) e Ivaldo Bertazzo: Além do movimento (UEP-Júlio de Mesquita Filho, 2014), de Mariama Silva Gouvêa Barreto. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Minha história com a dança começou desde muito menina. Seguindo essa vocação, me formei bailarina, mais tarde produtora, e nunca quis fazer outra coisa. Fundei o Aria Espaço de Dança e Arte em 1991, que funcionou comercialmente por 13 anos, em Jaboatão dos Guararapes, como escola de dança e importante galeria. No entanto, sempre sonhei com um espaço que integrasse as artes, a dança, a música, pinturas etc., ( durante 10 anos com Galeria de Arte). Assim, comecei desenvolvendo ações pontuais e voluntárias na área de dança e canto coral. Em 2004, fundamos a Oscip, nascendo assim o Aria Social, que já atendia, voluntariamente, quase 100 crianças e jovens. Foi necessária uma grande reforma em nosso espaço físico, pois, no ano seguinte, já dobramos este atendimento, que veio num crescente até atingirmos os 450 educandos que mantemos hoje, a partir dos cinco anos atuando na dança, iniciação musical, canto coral, aulas de português e matemática.
A arte da bailarina, produtora, curadora e empresária Cecília Brennand, fundadora da produtora Sopro do Zéfiro e do Ária Espaço de Dança e Arte, além de criar o projeto social, Casa de Maria, que reúne mães de crianças que participam do Ária Social.
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Casa-grande e senzala (Livros do Brasil, 1957), do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) aqui.
Orquestra Armorial & Quinteto Armorial aqui.
Guriatã: um cordel para menino, do poeta Marcus Accioly (1943-2017) aqui e aqui.
A obra da pintora, escultora e desenhista Maria Carmen (Maria Carmen de Queirós Bastos – 1935-2014) aqui.
Eles Voltam, de Marcelo Lordello aqui.
Aminta, da escritora Célia Labanca aqui.
Eu-poesias em vias, de Adriano Sales aqui.
Toada de peito aqui.
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Quipapá aqui & aqui.