segunda-feira, janeiro 02, 2023

SARAMAGO, SELVA ALMADA, JOSUA GREENE, OUIDA & MARIANA ENRÍQUEZ

 

Ao som do álbum Caminho de dentro (Tratore, 2012), da pianista, compositora, arranjadora e educadora Lis de Carvalho.

 

TRÍPTICO DQP: - As cores voltaram... - Quatranos, cinco, quase seis ou mais, nem sei direito, não perdi o esperançar, mesmo quando Selva Almada alertou logo no início da derrocada: Tá certo. Bem-vindos ao inferno...Ela simplesmente reiterava o que dissera Ouida: Afinal, são as ninharias da vida que são chatas... Felizmente as flores reapareceram e eu tive a chance de renascer, como se não mais tivesse que revidar 0 ódio tão recente e insistentemente apagando faces que sequer reconhecia e desaparecessem os monstros perfumados e bem-vestidos por golpes e mortes, gente da minha infância que não sabia do céu azul carregado de nuvens com outras luzes. Recolhi a primeira carta de janeiro que era nada mais que meu solilóquio matutino e que se perdera ao ser escrito na areia dos lamentos solidários. Outro era agora o mundo na janela da tarde domingueira, o que dava para esquecer por um momento do lado sombrio das memórias ou da tão repetida volta doída ao passado. Também podia reviver noutra carta, outro amanhã: pedra, ouro, coração. E mais me dava conta de quantas cartas esquecidas às reflexões de jornada à sombra da amendoeira, pois, sabia: um passo de cada vez na fogueira do mundo. Das lições da vida e ajuste de contas a gratidão de palhássaro voo nos caminhudos de fogáguas e terrares. Afinal, o Sol nasce paratodos...

 

 

Passando a limpo, mudança de pele...- Imagem da exposição Resquícios de nós, da escultora e artista visual Thina Cunha. – No meu quarto escuro tudo transitava por exoplanetas da estrela anã vermelha GJ1002, quando não mergulhava na galáxia Alcyoneus, como se fugasse dos horrores dagora, porque Josua Greene anunciava peremptório: Esse é o problema moral moderno, nós contra ele... Quando grupos discordam quanto ao que é certo, precisamos reduzir a velocidade e trocar as marchas de forma manual... Eu sabia quais algozes se arvoravam na esquina quando menos se esperava: passagens estreitas, outras intermediações de ventos e gestos. Sequer tive um pé atrás pro desconhecido, mesmo incapaz de urdir as mil e umas insônias. O que doía era a cegueira que Saramago narrara no meio de muitos: Há mil razões para que o cérebro se feche, só isto, e nada mais, como uma visita tardia que encontrasse cerrados os seus próprios umbrais... Hostilizar o que se ignorava não seria nada salutar, outras eram as desrazões: quanta agnosia propositalmente redibitória, amauroses de permeio pelas indiferenças e ruindades. Outra seria se soubesse o que virá. Na verdade, não teria graça alguma porque nunca fui de pisar em chão alheio, mesmo tido por estrangeiro em meu próprio solo. Jamais hostilizei dessemelhantes, sempre um sorriso em qualquer recepção. De nada adiantava por quantas vezes aprendi ao relento em minha própria casa. A vida & a sorte por dois tostões, apenas a solidão vespertina que perorava quase suicida entre caras e máscaras de perdidas fisionomias...

 


Desiderato... – Imagem da artista russa Sasha Robinson - O amor de passagem não morreu ontem, quase foi sepultado vivo e uma estrela foi totalmente devorada por um buraco negro nas proximidades do coração da Via Láctea. Foi nesta hora que ela apareceu como se fosse a sucuri gigante de Lagoa da Prata e nem deu tempo de atentar sobre o que dissera Paul Bourget: Há sempre, nas mais sinceras confissões das mulheres, um cantinho de silêncio... Um homem nunca fica curado de uma mulher senão quando chega o dia em que nem mesmo tem a curiosidade de saber com quem ela o esquece... Logo surpreendeu com suas feições transformadas de exuberante dama e a lua desceu aos seus pés de Afrodite que desfilava com o eflúvio de brugmansias – a flor-trompete – e trazia um molho de nogueira-do-Japão aos braços, porque as horas dançavam sobre as flores tenras de Creta. Eu queimava de amor enquanto ela me dizia que era uma das duas filhas de Loth, sobrevivente da tragédia de Sodoma e Gomorra... Fez-se amante com o passar do tempo e deitou-se comigo com um verso de Safo: O homem belo só o é quando o contemplam, mas o homem sábio é belo mesmo quando ninguém o vê... Em meu corpo se fez Hilda Furacão para motejar na alcova Mariana Enríquez: Às vezes penso que os malucos não são pessoas, não são reais. São como encarnações da loucura da cidade, como válvulas de escape. Se eles não estivessem aqui, todos nós nos mataríamos ou morreríamos de estresse... E gargalhamos entre lençóis de sonhos até retomar compenetrada seus olhos sobre mim e se aproximar confidente para ler a carta prelúdio - epílogo, a me dizer somente da esperança de amanhã diferente e que no fim do túnel visualizava: luz, vida e amor... Folguei em tê-la inteira noitedias desnudos aos abraços e chamegos, como se fizéssemos deste um país melhor paratodos&todas. Até mais ver.

 

Vem aí o PGM TTTTT. Veja mais aqui.